A defesa seletiva do jornalismo no ataque de Jean Wyllys a Vera Magalhães

 

 

 

Jean Wyllys disse ontem (28) que a jornalista Vera Magalhães, alvo da baixa bolsonaria após revelar que o presidente enviou vídeo convocando para manifestação dia 15 contra o Congresso, “tem parcela de responsabilidade nos ataques que vem sofrendo”. Por quê? Para defender Lula, claro!

Quem defende a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, alvo recente do próprio Bolsonaro, mas agora se cala diante do ataque do ex-BBB à jornalista do Estado de S. Paulo, precisa repensar sua defesa do jornalismo. Que não pode depender do lado político de quem ataca.

 

 

Ataques contra o bispo de Campos revelam metástase do bolsonarismo no país

 

(Foto: Paulo Whitaker – Reuters)

 

Após escrever (aqui) sobre a conquista da Recopa Sul-Americana pelo Flamengo, no final da noite de ontem, fiquei sem acessar internet até o meio da tarde de hoje. E só agora há pouco vi os comentários gerados, sobretudo na página do Folha1 no Facebook, sobre a postagem neste blog do que o bispo diocesano de Campos, Dom Roberto Ferrería Paz, disse ontem (relembre aqui) sobre o governo Jair Bolsonaro (sem partido), no grupo de WhatsApp do programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3.

Realmente, é de impressionar a agressividade e ausência de qualquer nível de civilidade por parte de boa parte dos defensores, reais ou fake, do bolsonarismo. Todos os comentaristas que ultrapassaram limites mínimos de respeito, foram moderados. Se alguma dessas manifestações ofensivas chegaram a ficar expostas em rede, foi por absoluta falta de critério de edição do Folha1, que será imediatamente revisto. E pela qual peço desculpas de público a Dom Roberto.

Mas muito do que vi e li, antes de excluir, provocou uma profunda desesperança no país. E na minha cidade, já que a imensa maioria dos comentários ofensivos foi gerada em Campos. Como alguém que já perdeu entes queridos para o câncer — e foi chamado de “coxinha” por ter sido favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, assim como ao fim do ciclo do PT no poder — confesso: a imagem que ficou é a da metástase de um tumor maligno espalhado no tecido social do Brasil.

 

E vapo! Campeão também da Recopa Sul-Americana, Flamengo espera Libertadores

 

Em um erro da defesa do valente Independiente del Valle, do Equador, Gabigol estava na lugar e momentos certos para abrir o placar para o Flamengo (Foto: Bruna Prado – Getty Images)

 

Um time campeão se conhece sobretudo quando as coisas parecem dar errado. Após Gabigol abrir o placar da final da Recopa Sul-Americana, aos 19’ do 1º tempo, contra o equatoriano Independiente del Valle, tudo indicava que o Flamengo teria um jogo fácil. Até William Arão ser expulso quatro minutos depois. E, com um homem a menos, o Rubro-Negro foi obrigado a se fechar atrás.

Mais conhecido pelas suas virtudes ofensivas, o time do treinador português Jorge Jesus mostrou a consistência também do seu setor defensivo. A inervenção mais difícil do goleiro Diego Alves se deu aos 10’ do 2º tempo. Foi a senha para que a torcida se acendesse no Maracanã para compensar o jogador que faltava em campo. Funcionou. Sete minutos depois, em jogada de Gabigol, o meia Gérson ampliou o placar.

Aos 44’ do 2º tempo, após uma expulsão do corajoso time do Equador igualar os números em campo, Gérson mais uma vez apareceu como homem surpresa no ataque. E vapo! Deu números finais à partida: 3 a 0. Após um ano histórico em 2019, em menos de dois meses de 2020, o Flamengo já levantou hoje seu terceiro título. Foi o primeiro internacional que o clube conquistou dentro do Maracanã.

O Flamengo não é o time a ser batido no Brasil. Assumiu esta condição na América do Sul. E terá pela frente a incerteza eliminatória de outra Libertadores, na qual estreia na fase de grupos já no próximo dia 4. Para tentar defender seu campeonato de 2019 e galgar outro patamar também no futebol do mundo.

 

 

Bispo de Campos: “Deus sabe do Brasil de volta à barbárie e à cultura da morte!”

 

Do bispo diocesano de Campos, Dom Roberto Ferrería Paz, sobre o avanço e o recuo do governo Jair Bolsonaro contra o Congresso Nacional (entenda aqui), entre a terça gorda de carnaval e a quarta de cinzas:

 

Dom Roberto, bispo diocesano de Campos, e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro

 

“Nesta quarta-feira (26) imporemos cinzas como sinal de humildade e conversão e de compromisso com a vida, da democracia, dos pobres e da justiça social. Deus sabe do Brasil de volta à barbárie e à cultura da morte!”

 

Acabou o carnaval. Difícil agora é arrancar a máscara da esquerda e direita brasileiras

 

 

De um lado da avenida, a esquerda lacradora vende gato por lebre (aqui) com uma “índia” branca, pós-moderna e cosmopolita. Simulando choro no Baixo Augusta pelo “cocar do ‘meu povo’”. Até o cacique Raoni assumir seu lugar de fala em Salvador para (aqui) despir de qualquer fantasia o estelionato identitário. Que, na iluminação do neopentecostalismo do Leblon, pretendia censurar até o tradicional carnaval da periferia carioca do Cacique de Ramos.

 

 

Do outro lado, os tios e tias do WhatsApp. Que não cabem mais nas fantasias em que deitaram e rolaram em outros carnavais. Embora muitos, na surdina faladeira do resto do ano, insistam. Mas agora todos posers da moral, dos bons costumes e dos valores cristãos. Porque Bolsonaro foi retratado como palhaço pela Vigário Geral, ridicularizado nas suas “flexões de braço” pela São Clemente e questionado como “Messias de arma na mão”, pela Mangueira.

 

 

Acabou o carnaval. O difícil agora é arrancar a máscara da cara dessa gente.

 

Carlos Augusto Souto de Alencar — “Não se pode ser tolerante com o intolerante”

 

 

Eventualmente, um comentário no blog ou nas redes sociais acaba sendo tão ou mais interessante do que a postagem que o gerou. Entre os seis feitos ao artigo do último domingo (23) publicado na Folha da Manhã, intitulado “Cinema e vida real na capital do carnaval” e postado aqui, foi o caso do comentário do geógrafo e poeta Carlos Augusto Souto de Alencar, da Academia Pedralva Letras e Artes de Campos.

Ao autor, o blog pede licença para republicar abaixo, com a evidência maior de postagem. Não sem o endosso à necessidade de se assistir a filmes como os alemães “A Onda” (2005), de Dennis Gansel; e “A Vida dos Outros” (2006), de Florian Henckel von Donnersmarck; ou o polonês “Ida” (2013), de Paweł Pawlikowski; para se entender o totalitarismo dos governos de direita e esquerda, de ontem e hoje, no Brasil e no mundo:

“Perfeito na análise e nas críticas aos grupos que, para mim, são aliados na tentativa de suprimir a democracia. Não é por acaso que Putin, que influiu para eleger Trump, agora busca influir na indicação de Sanders. Cito três filmes que mostram que todos os autoritarismos na verdade são irmãos. ‘Ida’, ‘A Onda’ e ‘A Vida dos Outros’. Os radicais ‘opostos’ buscam a limitação da livre expressão e a imposição de seu pensamento desprezando a busca de diálogo ou mediação. Em meu conto ‘Cor’, publicado na Folha da Manhã, abordo isso de forma figurada. Desculpe o texto longo para padrões de redes antissociais. Mas confesso que ando precisando desabafar. Infelizmente Karl Popper estava certo. Pelo bem da tolerância não se pode ser tolerante com o intolerante. Parabéns mais uma vez. Saudações fraternas”.

(Carlos Augusto Souto de Alencar)

 

Venezuela é aqui? Clã Bolsonaro, generais e milícias da PM contra Congresso e STF

 

Convocado em nome dos generais de Bolsonaro, protesto do dia 15 contra o Congresso pode ser passo à venezuelização do Brasil, em chavismo de direita

 

 

Jornalista Vera Magalhães

Bolsochavismo

Por Vera Magalhães

 

A semana pré-Carnaval foi marcada pelo violento motim da Polícia Militar do Ceará, que ameaça se espalhar por outros Estados, desafia a autoridade dos governadores, conta com a simpatia e o incentivo declarados do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos e asseclas nas redes sociais e pode ser, caso se alastre, o embrião da criação de uma milícia paraestatal bolsonarista inspirada na criada por Hugo Chávez e inchada por Nicolás Maduro na Venezuela.

Não é de hoje que o bolsolavismo bebe na fonte da criação bolivariana, replicando seus métodos de organização e lhes dando uma roupagem ideológica de extrema direita.

A proliferação de escolas cívico-militares, impostas a partir de Brasília aos Estados, a militarização total do Palácio do Planalto, a convocação, feita por um desses militares do gabinete, o general Augusto Heleno, de manifestações de rua em apoio ao presidente e para emparedar o Congresso são todos movimentos combinados que têm clara inspiração na escalada chavista a partir de 2005.

O movimento dos policiais militares é o mais ousado e controverso desses movimentos, porque inclui o incentivo, que era tácito e vai se tornando cada vez mais implícito, a motins já classificados como inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e cuja ilegalidade foi reiterada pela Justiça, no caso do Ceará.

Bolsonaro e os filhos oscilam entre a brincadeira simpática e o apoio escancarado ao movimento dos amotinados cearenses, que perpetraram na última quarta-feira a tentativa de homicídio do senador Cid Gomes – que, em outro ato tresloucado muito representativo dessa polarização patológica da política brasileira, havia investido com uma retroescavadeira contra um grupo que tomava um batalhão da PM em Sobral.

Não se ouviu do presidente da República, do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e de nenhum dos militares do governo, que deveriam ser os primeiros a serem intransigentes na defesa da hierarquia e da disciplina militares, nenhum pio condenando o movimento ilegal dos PMs cearenses, cobrando o imediato desligamento dos amotinados nem a investigação e prisão dos autores dos disparos que alvejaram um senador da República.

No lugar disso, Bolsonaro estendeu sua fanfarronice, demonstrada dias antes na piada sexual de botequim com uma repórter, ao brincar que Cid Gomes não tinha habilitação para dirigir retroescavadeira, na sua última live. Flávio Bolsonaro foi mais explícito, ao chamar os amotinados que fazem uma greve ilegal de pessoas em busca de “melhores salários”, mais parecendo um sindicalista petista.

O movimento dos PMs não começou agora. Teve uma primeira onda em 2017, quando o levante violento no Espírito Santo teve incentivo explícito do então deputado Bolsonaro. Agora, os líderes da greve ilegal no Ceará são todos políticos com patentes militares – outra onda que veio na esteira do bolsonarismo em 2018.

A Milícia Nacional Bolivariana da Venezuela foi criada por Hugo Chávez em 2007, e hoje conta com mais de 1 milhão de cadastrados. Maduro quer chegar a 2 milhões. Seus homens e mulheres armados recebem salários de fome e uniformes cáqui para defender o governo, encher comícios, espionar a oposição e evitar a deposição do ditador.

Insuflar em policiais militares um sentimento de louvor político, passando por cima dos governadores e usando pressão salarial como combustível coloca o Brasil no caminho da criação de uma milícia paraestatal. Cabe ao Congresso, ao STF e aos governos estaduais cortar o mal pela raiz, punindo e reprimindo os movimentos dos PMs, sem ceder a chantagens por reajustes nem negociar anistias a criminosos.

 

Publicado aqui no Estadão