Ainda mais acostumado à lida de juiz da Infância e Adolescência, da qual se aposentou recentemente, do que a de político, o campista Pedro Henrique Alves deixou claro nesta entrevista feita por e-mail que está pensando seriamente na possibilidade de ser pré-candidato a prefeito de Campos. Ele recebeu o convite do deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD) em almoço na última segunda (09), reforçado no mesmo dia pelo presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado André Ceciliano (PT). Pedro Henrique deixou claro seu alinhamento com outro ex-juiz, o governador Wilson Witzel (PSC). E se esquivou de responder sobre a atuação de Sérgio Moro enquanto magistrado no caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), antes de aceitar ser ministro da Justiça e Segurança do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Econômico na maioria das respostas, ele só se alongou ao falar sobre sua experiência na defesa dos direitos das crianças, adolescentes e gestantes.
Folha da Manhã – Como reagiu ao convite feito (aqui) na última segunda (09) pelo deputado estadual Rodrigo Bacellar, endossado no mesmo dia pelo presidente da Alerj, André Ceciliano, para se candidatar a prefeito de Campos pelo SD?
Pedro Henrique Alves – Senti-me lisonjeado e surpreso porque nunca tinha imaginado, nem sequer cogitado, me candidatar a prefeito da cidade onde nasci.
Folha – Política não é magistratura. Como acordos políticos não envolvem, necessariamente, nada ilegal ou imoral. Caso aceitasse o convite e se elegesse prefeito, o que Rodrigo e Ceciliano poderiam esperar do apoio deles a você?
Pedro Henrique – De fato, política não pode envolver nada de ilegal ou imoral. O político tem a obrigação de servir à sua comunidade. Se eleito fosse, tenho certeza que o Rodrigo Bacellar e o André Ceciliano poderiam esperar exatamente isso: um trabalho em prol da nossa comunidade. E, tenho certeza, eles adeririam de forma plena, porque todos nós queremos a mesma coisa: o bem da nossa sociedade.
Folha – Você disse (aqui) na terça (10) que ficou “surpreso” e “lisonjeado” com o convite. Mas que precisava conversar com sua família antes de decidir. Já conversou? Quando tomará sua decisão?
Pedro Henrique – Como já respondi à primeira pergunta, fiquei surpreso e lisonjeado pelo convite. Tenho conversado muito com a minha família. A decisão é muito difícil, porque envolve muitas questões. Inclusive porque envolve a mudança de todos nós, eu, minha esposa e meu filho para Campos dos Goytacazes. Porque quem exercer o cargo de prefeito precisa estar full time, todo o tempo, envolvido nas questões do município, que não são poucas. É, portanto, uma decisão difícil, que ainda não foi tomada.
Folha – Até pouco tempo, Rodrigo era considerado o principal articulador do pré-candidato a prefeito Caio Vianna (PDT). A ruptura se deu por conta da disputa por nomes para as nominatas a vereador entre SD e PDT. O convite a você foi consequência disso?
Pedro Henrique – Não tenho conhecimento. E, portanto, não há como expressar qualquer opinião.
Folha – No mesmo dia em que Rodrigo o convidou, a assessoria de Caio divulgou fake news afirmando que você não era candidato, antes mesmo da sua decisão. Sua eventual entrada no jogo bagunçaria o tabuleiro eleitoral de Campos?
Pedro Henrique – É difícil prever fatos futuros e incertos. Mas, por certo, se nós entrarmos na disputa do pleito político, será mais um dado a ser levado em consideração pelo eleitor campista para a sua escolha em outubro.
Folha – Além do SD, Rodrigo está montando uma aliança eleitoral para outubro, que poderia abarcar também o DEM, o PTC, o PV e o MDB. Você também já disse “não sou dado a aventuras”. Se esse apoio partidário se confirmar, não deixaria de ser aventura?
Pedro Henrique – Todos os dados, inclusive possibilidades de aliança partidária, estão sendo levados em consideração para que cheguemos a uma conclusão no que tange à pré-candidatura, ou não, ao governo municipal de Campos dos Goytacazes.
Folha – O juiz federal Marcelo Bretas tem sido cogitado para concorrer a prefeito do Rio. Assim como o ex-juiz federal e hoje ministro da Justiça Sérgio Moro, à eleição presidencial de 2022. Isso sem contar outro ex-juiz federal, o governador Wilson Witzel (PSC). Isso o beneficia?
Pedro Henrique – Não posso afirmar se uma candidatura com o meu nome se beneficiaria, ou não. O que posso afirmar é que tenho estado muito satisfeito com o governo empreendido pelo nosso governador Wilson Witzel. Quem tem se mostrado um excelente governador no nosso Estado do Rio de Janeiro.
Folha – Desde que Montesquieu publicou seu “Do Espírito das Leis”, em 1748, a separação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário é a regra do estado de direito. Até que ponto esse protagonismo do Judiciário no Brasil não desequilibra a democracia?
Pedro Henrique – Não creio que haja um protagonismo do Judiciário. Até porque, quem está no Judiciário, é impedido de participar de qualquer pleito eleitoral. O que há de verdade são pessoas, nomes, que eventualmente permearam o quadro do Judiciário e que hoje se habilitam na política. E que, eventualmente, tem na pessoa, no indivíduo, capacidade, know how e credibilidade para concorrer.
Folha – Embora populares, Bretas e Moro também sofrem críticas. O segundo, sobretudo após os diálogos revelados na Vaza Jato, que indicam a ruptura da sua condição de imparcialidade como juiz. E por ter aceito ser ministro do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), após ter condenado o ex-presidente Lula (PT), impedindo-o de concorrer em 2018. Como você vê?
Pedro Henrique – Prefiro não responder. Não estou no caso, não conheço nada em detalhe para opinar.
Folha – Mesmo residindo no Rio nos últimos anos, qual a sua avaliação do governo Rafael Diniz (Cidadania)? E o do seu ex-colega Witzel?
Pedro Henrique – Tenho pouco conhecimento do governo do prefeito Rafael Diniz, pessoa por quem tenho imenso carinho. Mas não posso opinar sobre o seu governo porque estive distante da nossa cidade. Quanto ao governo do nosso governador Witzel, por ter uma aproximação e conhecimento maior, mormente porque, morando no Rio de Janeiro, posso afirmar que ele revolucionou a política no nosso Estado. Em especial no que se refere à Segurança Pública, cuja mudança é visível para qualquer pessoa que resida ou que transita no nosso Estado do Rio de Janeiro.
Folha – Em que a experiência de anos em Varas da Infância e Juventude, em Campos e no Rio de Janeiro, poderia auxiliar à frente de um cargo de chefia no Executivo?
Pedro Henrique – Os anos em que passei na magistratura e também como empresário, tenho certeza, me trouxeram condições e o discernimento necessário, que me auxiliarão à frente de um cargo de tanta importância quanto é a chefia do Executivo do município onde nasci.
Folha – Atuando no Rio, você ganhou notoriedade nacional quando interditou os alojamentos do Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo, depois que um incêndio chocou o país ao matar 10 jovens atletas e ferir outros três, em 8 de fevereiro de 2019. Como magistrado, homem e pai de um menino de 8 anos, como o caso o marcou?
Pedro Henrique – Enquanto juiz da Infância e diante de todos os casos difíceis que sempre me foram apresentados, seja de uma criança abusada, seja de uma criança que estava em necessidade ou precisando de uma nova família, em um projeto de adoção, ou até mesmo desse caso específico do Ninho do Urubu, a minha postura sempre foi a de defender; de defender as nossas crianças, a de defender os nossos adolescentes. Eu sempre tive a consciência de que o meu salário enquanto magistrado da Infância e da Juventude, meu salário sempre foi pago para que eu defendesse com todo o ardor, com toda a determinação, com toda a minha objetividade, os direitos das nossas crianças e dos nossos adolescentes. Que, aliás, precisam, de uma maneira geral, de uma atenção maior. Nós precisamos de uma atenção maior à primeira infância, à gestante; enquanto ainda gesta aquela criança que vai nascer e que, portanto, precisa de um cuidado médico, de alimentação, para que aquela criança nasça sadia, com todas as suas sinapses formadas. Para que amanhã essa mesma criança seja colocada numa creche, numa escola, e que ela consiga se desenvolver. Porque nossas crianças são o futuro da nossa nação. E eu fiz esse trabalho durante anos na Infância e na Juventude. E pretendo continuar esse trabalho de defesa desse ser, que merece todo o nosso respeito para que ele cresça e se torne um cidadão de bem.