Com 15 casos suspeitos da Covid-19 em Campos, atritos entre médicos e governo

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Sem nenhum caso confirmado oficialmente, já são 15 os suspeitos de infecção por Covid-19 em Campos. Todos, segundo o poder público municipal, submetidos a testes e esperando resultado. Cinco deles estão em estado grave, inclusive o mais recente: uma jovem de 19 anos que deu entrada ontem (21) na UPH de Ururaí e foi internada na UTI do Hospital Ferreira Machado (HFM). Lá já estava mais um paciente suspeito de infecção pelo novo coronavírus. Na rede particular, outros dois estão na UTI do Hospital da Unimed, incluindo uma criança, enquanto o quinto caso suspeito está na UTI do Hospital Dr. Beda.

 

Áudios com denúncias

Em uma série de áudios viralizados também na noite de ontem nas redes sociais, a médica dermatologista Ana Maria Pellegrini Nahn denunciou que a jovem internada na UTI do HFM seria um caso confirmado de Covid-19.  E que o poder público municipal não teria kits para fazer o exame. Chefe da Vigilância de Saúde, a médica epidemiologista Andreya Moreira reafirmou que todos os casos suspeitos foram testados e aguardam resultado. Inclusive a da jovem internada como 15º suspeita, embora o seu caso, segundo Andreya, indique uma pneumonia de origem bacteriana, não de coronavírus.

 

Kits de teste e hospitais de campanha

A chefe de Vigilância da Saúde também informou que o município ainda tem 20 dos 30 kits de teste enviados pelo Governo do Estado. Em seus áudios no WhatsApp, a médica Ana Maria Pellegrini sugeriu ainda que fossem montados dois hospitais de campanha para atender aos casos suspeitos e confirmados da Covid-19. Na verdade, a ideia é do presidente do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), José Roberto Crespo, divulgada pelo blog (confira aqui) desde quinta (19).

 

Reunião com MP

Segundo Andreya, a ideia dos hospitais de campanha não pode ir à frente, nem teria acolhida do ministério da Saúde, enquanto Campos não tiver nenhum caso confirmado de coronavírus. Profissionais de saúde alegam, no entanto, que os pacientes com suspeita da Covid-19 internados nos hospitais da rede pública e privada poderiam contaminar outros pacientes, internados por outras enfermidades. Ana Maria Pellegrini, com outros dois médicos, representando colegas da categoria reunidos em grupo de WhatsApp, se reuniram no início da madrugada de hoje com o promotor de Tutela Coletiva Marcelo Lessa. Procurado, o membro do Ministério Público confirmou, nem negou o encontro.

 

Proteção aos profissionais

Outro ponto bastante questionado é o equipamento de proteção individual (EPI) aos profissionais da Saúde Pública de Campos. Tanto Andreya, quanto o secretário municipal de Saúde, Abdu Neme, garantem que há máscaras e luvas disponíveis, assim como óculos e máscaras de proteção. E que o restante destes itens, assim como os aventais impermeáveis, já teriam sido adquiridos e devem chegar na próxima semana. Vereador de oposição e egresso de uma família de médicos, Álvaro Oliveira (SD) tem feito cobranças neste sentido ao governo Rafael Diniz (Cidadania).

 

Temor de infecção

Na sexta (20), o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) publicou uma resolução que determina que médicos não atendam pacientes suspeitos de coronavírus, se não tiverem seus EPI à disposição. Estudos da pandemia da Covid-19 na China e na Itália indicam que a infecção dos médicos e enfermeiros que lidam com pacientes da Covid-19 pode chegar a até 40%. Embora ninguém admita publicamente, isso vem gerando temor na categoria. Que, em Campos, trava desde o ano passado uma queda de braço com o governo municipal.

 

TJ determinou volta ao trabalho

Antes da ameaça do coronavírus, os médicos da Saúde Pública de Campos alegaram descumprimento do acordo que acabou com a greve da categoria (relembre aqui) em agosto do ano passado, para retomar a paralisação em 18 de fevereiro deste ano, na semana do carnaval. E só voltaram ao trabalho (aqui) em assembleia na última segunda (16), por conta da pandemia da Covid-19,  véspera do presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), desembargador Cláudio de Mello Tavares, determinar que o fizessem, pelo mesmo motivo.

 

“Muita gente vai morrer”

Em um dos seus áudios viralizados ontem no WhatsApp, a médica Ana Maria Pellegrini, que não é servidora municipal, afirmou:

— É muito tarde já, essas medidas tinham que ser tomadas muito antes. Mas o prefeito não se sensibilizou. E fica aí o recado a vocês, para na próxima eleição vocês pensarem bem em quem vocês vão aí estar dando apoio. E valorizem os médicos porque a gente vai estar conseguindo diminuir aí o número de mortos. Mas muita gente vai morrer. Os hospitais particulares vão ter falta de leito também. Eles não vão conseguir atender nem a demanda deles.

Ouça o aúdio da médica:

 

 

 

“Muito áudio irresponsável”

No final da noite de ontem, o prefeito Rafael Diniz gravou e veiculou nas redes sociais um vídeo, no qual acusou “muita fake news acontecendo, muito áudio irresponsável”:

 

 

 

Oposição cobra Abdu Neme e Fred Machado

Hoje de manhã, o vereador de oposição Álvaro Oliveira gravou e veiculou um vídeo nas redes sociais sobre o caso. Nele, cobrou uma posição pública do secretário de Saúde de Campos, Abdu Neme, e do presidente da Câmara Municipal, vereador Fred Machado (Cidadania), a quem solicitou a manutenção virtual dos trabalhos do Legislativo, fechado aqui na sexta (20). Assista abaixo:

 

 

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