Covid-19 — Campista na Alemanha: “nenhuma medida de isolamento é exagerada”

 

A campista Claudya Ribeiro, de 51 anos, é psicóloga, pedagoga e há 27 anos mora e trabalha na Alemanha. País que, ao lado da Coréia do Sul, foi o que melhor lidou até agora com a contenção da pandemia da Covid-19, a partir de testes em massa da população e isolamento dos contaminados. Pela complexidade, tamanho territorial e da população do Brasil, ela não vê, no entanto, como comparar a situação do seu país natal com a da Alemanha.

Ainda assim, em contato telefônico por WhatsApp e já ciente da intenção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de flexibilizar o isolamento da população brasileira, contrário às orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), Claudya disse: “Acho muito precoce tomar uma decisão dessas. A realidade econômica é importante, mas não mais que a realidade social da saúde pública”. A campista trabalha para o ministério da Educação e Cultura na cidade de Stuttgart, capital do estado Baden Württemberg, no sudoeste da Alemanha.

Por coincidência, Claudya escreveu um artigo no dia 19 em que analisou as estatísticas das mortes em países europeus como Alemanha e Itália, até agora o mais afetado pela Covid-19, antes e depois da pandemia, para responder à pergunta proposta por um velho dito popular brasileiro: “prevenir é melhor que remediar?”. E concluiu: “Analisando estes dados posso concluir que até agora nenhuma destas medidas drásticas de isolamento podem ser consideradas exageradas ou tampouco histéricas. Irresponsável seria não responder adequadamente a esta situação”.

Confira abaixo:

 

Trabalhadores carregam corpos de vítimas da Covid-19 na cidade de Bérgamo, na Itália (Foto:
Trabalhadores carregam corpos de vítimas da Covid-19 na cidade de Bérgamo, na Itália (Foto: Fotogramma / EFE-EPA)

 

Claudyia Ribeiro, campista, piscóloga e pedagoga do ministério da Educação e Cultura da Alemanha

Covid 19 – um alarme exagerado???

Por Claudya Ribeiro

 

Há alguns dias temos vivenciado aqui na Alemanha um movimento “conspirativo“ e crítico em relação aos conhecimentos e medidas de cautela mediante a pandemia do coronavírus.

Estas teses críticas são defendidas por cientistas e médicos alemães, principalmente representados pelo Dr. Wolfgang Wodarg e pelo Dr. Sucharit Bhakdi. Suas entrevistas estão disponíveis via Youtube e são realmente muito acessadas.

Eu acredito que a variedade de pontos de vista e perspectivas fazem parte da qualidade de uma informação. Por isso resolvi me dedicar a estas teses.

Os dois cientistas nos alertam contra uma histeria virulenta. Também contra pânico desnecessário. Nos alertam sobre o perigo de perdermos nossa liberdade democrática.

Tanto o Dr. Wodarg quanto o Dr. Bhakdi defendem a tese que a Covid-19 é somente uma variação gripal de outros tipos de gripe causados pelo coronavírus. Não mais nem menos mórbido que outro vírus até agora.

Também o aumento da mortalidade na Itália eles referem a outras (co)morbidades e doenças anteriores. Porém desvinculam categoricamente uma relação com o coronavírus.

Mas quão perigoso é o coronavírus realmente? A OMS nos dá uma estimativa de 3,4% de mortalidade através do coronavírus. Na Alemanha temos atualmente uma estimativa otimista de 0,4%. Porém a crise na Itália nos revela o triste saldo de 7,7%.

Quem tem razão? E principalmente: o que esta divergência de informações, teses e especulações causam em nossa sociedade?

Para entender melhor esta controvérsia vejamos primeiro dados de uma outra pandemia declarada pela OMS: a gripe suína de 2009/10. Esta epidemia não se desenvolveu conforme a prognose. Pelo contrário, estes anos relataram uma das mais baixas taxas de mortalidade por causa da gripe suína. Então o alarde todo foi à toa?

Ou vale aqui o velho dito popular: prevenir é melhor que remediar?

Em comparação morrem todos os dias somente na Alemanha, por volta de 2.500 pessoas. Repito, todos os dias. E no inverno mais rigoroso temos uma onda de gripe mais forte que nos causam  40 mil vítimas a mais.

E atualmente com o coronavírus? Até agora (19/03/20) temos na Europa 4.000 mortes registradas causadas pelo vírus. Estatisticamente falando são grãos de areia.

Com base nestes dados, de até agora termos tão baixa mortalidade, é que a tese de histeria e pânico se fundamentam. Puro exagero, propagam os autores. Isso sem comentar a conspiração de quebra sistemática da economia mundial…

Façamos um exercício estatístico:

Estamos na Itália com uma população estimada em 60 milhões de habitantes. Taxa de mortalidade diária: 2.000 pessoas (com uma variação estatística normal de acordo com a estação do ano).

No dia 18.03.2020 foram registrados 475 mortos a mais – além dos 2000/dia.

Um aumento relevante de cerca de 20%!

Um dado estatístico que não pode passar despercebido para uma relação exponencial.

Vejamos um exemplo ainda mais concreto: a cidade italiana de Bergamo com 120 mil habitantes. Geralmente esta cidade conta com uma mortalidade de 10 pessoas por dia. E agora, constantemente desde o mês de fevereiro/2020, passou a contar com uma média de 20 mortes por dia.

Através deste pequeno exemplo matemático podemos dizer no dia de hoje, 19.03.2020 que a tese do exagero e pânico divulgada pelos autores não pode ser confirmada.

Na teoria das ciências aprendemos que hipóteses empíricas devem ser testadas, avaliadas e possuem a característica de falharem na experiência fenomenológica. Pois exatamente esta tese do exagero considero como falha, mediante o exemplo de Bergamo.

Uma outra tese que foi colocada em questionamento, é a da legitimação das medidas de higiene sanitária tomadas por diferentes governos até agora (principalmente o isolamento social, fechamento de escolas, comércio…). Precisa de tudo isso?

Em que ponto as estatísticas sobre a taxa de mortalidade nos ajudam a responder a esta pergunta?

Consideremos que na Alemanha morrem normalmente 2500 pessoas por dia. Assim, “normalmente“.

Agora consideremos este cenário: acontece um ataque a tiros numa escola e morrem 10 pessoas a mais. Pode-se argumentar que estas 10 pessoas não fazem diferença? Só porque elas não aparecem na estatística?

É claro que nao!!!

Da mesma forma que não é aceitável o impedimento de medidas de precaução para salvarmos nosso sistema de saúde!

Estas 10 mortes a mais fazem tanta diferença quanto as 475 a mais na Itália.

E isso é argumento suficiente sim, para tomarmos todas as medidas até agora propagadas pelos profissionais de saúde pública.

Pelo contrário, não tomando estas medidas corremos o risco de chegarmos a uma fase de triagem de pacientes. Quer dizer, de seleção entre aqueles que deverão receber atendimento intensivo e aqueles outros que serão destinados a morrer sem aparelho respiratório.

Outros dados numéricos exemplares:

  • Prognose: por volta de 5% de todos os pacientes covid-19 positivo devem necessitar de tratamento intensivo
  • Na Alemanha temos 28 mil leitos intensivos com os aparelhos respiratórios. Destes leitos 80% estão Com a transferência de cirurgias, agendamento posterior de tratamentos… restam no total a metade , ou seja 14 mil leitos intensivos.
  • Sabemos que a média de internação e tratamento destes pacientes intensivos dura até uma semana
  • No exemplo aqui na Alemanha isso significa que nosso sistema de saúde atual (considerado um dos melhores do mundo) comporta por dia até 2 mil novos pacientes covid-19
  • Agora vejamos a evolução exponencial dos casos segundo os dados das autoridades de saúde:
    • 03.20 3000 novos casos de contagio
    • 03.20 2000
    • 03.20 1200
    • 03.20   900
  • Isso nos dá uma relação de ¼ a 1/3 de aumento de contágios de um dia pro outro. Projetando estes dados com um aumento proporcional de 1/3 a mais por dia chegamos em 8 dias ao número de 39 mil novos contágios!!! Isso se não tomarmos nenhuma medida de isolamento!
  • Neste ponto, quer dizer em 8 dias teríamos atingido nossa capacidade de atendimento intensivo (5% de 39 mil = cerca de 2000).
  • Estudos mostram que, mesmo com estas medidas de higiene sanitária e isolamento, a necessidade de leitos intensivos – mundialmente falando – será 8 vezes maior que sem o vírus.

Analisando estes dados posso concluir que até agora nenhuma destas medidas drásticas de isolamento podem ser consideradas exageradas ou tampouco histéricas. Irresponsável seria não responder adequadamente a esta situação.

Trata-se de saúde humana.

E essa não tem preço.

 

Links e Fontes:

– Einwohnerzahl Italiens: Nationales Institut für Statistik, Italien: https://www.istat.it/en/ – Todesfälle im Mittel pro Tag in Italien: Plausibilitäts-Abschätzung ist die Bevölkerungszahl geteilt durch die Lebenserwartung geteilt durch Tage im Jahr (verfälscht durch Alterskurve und Dynamik in der Lebenserwartung) Factfish zitiert UN-Daten, die bei 10,6 pro 1000 Einwohner pro Jahr landen: http://www.factfish.com/de/statistik-… Für eine möglichst konservative Abschätzung und um die höhere Wintersterblichkeit abzubilden haben wir auf 2000 aufgerundet. – Aktuelle Todeszahl Italien: Datenbank der Johns Hopkins University, auf die auch das Robert-Koch-Institut verweist, wenn es um internationale Zahlen geht: https://gisanddata.maps.arcgis.com/ap… (die Github-Datenbank findet man in einem Link weiter unten) – Region Bergamo: Laut Wikipedia leben hier etwa 120.000 Menschen. Da die zentralen Krankenhäuser vermutlich auch die umliegenden kleineren Gemeinden bedienen, haben wir die Zahl verdoppelt. Bei einer Mortalitätsrate von 10,6 pro 1000 (s.o.) pro Jahr würde man hier 7 Tote pro Tag erwarten, zur Sicherheit auf 10 aufgerundet, um nicht von saisonalen Effekten überrascht zu werden. Diese Zahl ist also eine sehr großzügige Abschätzung wenn es um die Frage geht, ob man eine Übersterblichkeit bemerkt. Zum Zeitpunkt der Erstellung des Videos meldete die FR 400 Tote in Bergamo, der erste Tote vor etwa einem Monat, macht konservativ gerechnet 10 Tote pro Tag: https://www.fr.de/panorama/corona-pan… Laut BNN gibt es übrigens Stand 23.3. 1000 Tote, was die statistische Relevanz ungleich verschärft. – Die Verfügbarkeit der Intensivstationsbetten beruhen auf eigenen Gesprächen mit Krankenhäusern und dem Statement von Prof. Dr. Reinhard Busse aus dem Briefing des Science Media Center: https://www.sciencemediacenter.de/all… – Anzahl der Beatmungspflichtigen Patienten: In einem Ärzteblatt-Interview spricht Prof. Dr. Reinhard Busse von 10% beatmungspflichtigen Patienten, andere Studien weisen auf deutlich geringere Zahlen hin, daher haben wir uns an 5% orientiert. https://www.aerzteblatt.de/nachrichte… Die Frankfurter Rundschau berichtet von 6% beatmungspflichtigen Patienten: https://www.fr.de/wissen/coronavirus-… – Das RKI schreibt im Corona-Steckbrief vom 23.3.: Es gibt verschiedene Quellen mit einer weiten Spannweite zur Beatmungshäufigkeit, dabei scheint der Anteil innerhalb Hubeis mit ca. 20–25 % deutlich höher zu sein als für ganz China (2–6 %). – Neuere Zahlen sprechen allerdings von durchschnittlichen Aufenthaltsdauern von mehr als einer Woche, was die Verfügbarkeit der Beatmungsplätze senken würde. – Imperial College Studie: https://www.imperial.ac.uk/media/impe…

 

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