“Nós poucos, nós felizes e poucos, nós, bando de irmãos”
(“Henry V”, ato IV, cena III, William Shakespeare)
O soldado de bronze da estátua da Praça do Santíssimo Salvador homenageia os campistas que atravessaram o Oceano Atlântico para lutar contra a Alemanha nazista na II Guerra Mundial (1939/1945). Que foi lembrada pela atual chanceler alemã, Angela Merkel, como a mais grave crise vivida pela humanidade nos últimos 75 anos, até a pandemia da Covid-19. Nela, o inimigo não se anuncia com uma suástica. Invisível aos olhos que pode fechar para sempre, o Sars-Cov-2, mais conhecido como novo coronavírus, veio da China e depois da Europa. E atravessou oceanos para chegar a nós, mais rápido que qualquer exército invasor. Contra ele, os soldados na linha de frente também são outros: os profissionais da saúde. Mas, diferente da idealização do bronze das estátuas, quem são essas mulheres e homens de carne e osso que arriscam as próprias vidas para salvar outras, no combate à Covid-19 em Campos? Como veem o inimigo e a si mesmos? Têm medo? O que os motiva a seguir em frente?
— Vejo, a nós, profissionais de saúde, como soldados escolhidos pra lutar contra um inimigo invisível. Para mim, o momento mais marcante até agora foi quando participei da primeira intubação do primeiro paciente com o diagnóstico de Covid-19 confirmado na nossa UTI. Naquele momento o paciente estava segurando a minha mão. Eu falei com ele que íamos fazer um procedimento e ele me perguntou se isso iria aliviar as dores. E até a sedação fazer efeito, ele ficou segurando na minha mão. É um momento de tensão, porque ao mesmo tempo que temos que tomar decisões importantes, temos que manter a calma para que tudo ocorra bem e passar essa tranquilidade também ao paciente. E não o ver como fonte de contaminação. É uma pessoa necessitando dos seus cuidados. Minha família, no primeiro momento, ficou em pânico. Chegaram até a pedir para que eu me demitisse do hospital. Mas hoje eles compreendem e me dão força pra passar por esse momento — testemunhou Jaqueline Santos, de 38 anos, fisioterapeuta da UTI do Centro de Controle e Combate ao Corononavírus (CCC) de Campos, no Hospital Beneficência Portuguesa.
— O desejo de ajudar é mais forte que o medo de me contaminar. Fiz medicina para cuidar do próximo. Não me ocorreu em nenhum momento “fugir” do front. As outras patologias continuam a existir e temos que nos atentar a elas. Nem tudo é Covid-19, mas ela ainda é um desafio para todos da saúde no mundo, ainda sem muita clareza de conduta protocolada mundialmente. Muita informação chega até nós a todo minuto. Estamos em constante estudo. Há por parte da maioria dos colegas um sentimento de união para tentar não chegar ao caos como em outros países. Todos somos de igual importância para que tudo flua corretamente e que não haja perda de paciente nem “baixas” nas equipes por contaminação. Um médico não consegue trabalhar sozinho. É imprescindível a segurança, a recepção, o maqueiro, a limpeza, a administração, a enfermagem, a epidemiologia, a fisioterapia, a equipe da nutrição, o serviço social pra familiares. Não me vejo nem um pouco como heroína. Nem pretendo ser — ressalvou Sara Lucas, 32 anos, médica clínica e radiologista do CCC de Campos, Hospital Ferreira Machado (HFM) e de emergência em São João da Barra.
— Definitivamente não estávamos preparados para lidar com uma pandemia, lidamos com o desconhecido. Apesar dos testes em andamento com vários remédios, ainda não existe um tratamento oficial contra a Covid-19. A enfermagem está na linha de frente no atendimento à pacientes suspeitos ou confirmados dessa nova doença; esta é uma realidade. O dever de atualização de protocolos junto à gestão de enfermagem, realizar treinamentos constantes e garantir que os funcionários estejam preparados para prestar atendimento a esses pacientes. A disponibilidade de equipamentos de proteção individual (EPIs) é nossa aliada, sendo primordial seu uso correto. Os maiores índices de contaminação em todo o mundo são durante a retirada dos EPIs. O risco de contaminação existe e é constante para todos nós. Questionamentos diários acontecem, pois estamos cercados de informações verdadeiras e falsas a todo o tempo na web. Estamos expostos diariamente. A equipe de enfermagem deve estar segura para realizar a assistência — advertiu Aline Sinffitelle, 37 anos, enfermeira coordenadora da UTI da Santa Casa de Misericórdia de Campos e plantonista da UTI do CCC.
— Tento sempre me colocar no lugar daqueles que estão deitados no leito. Mas tentamos transformar esse receio em forma de nos precaver e ter mais cautela, tomando todos cuidados possíveis para que não nos contaminemos também. A Covid-19 gera medo, pois se trata de um vírus facilmente transmissível. No início fui muito questionado pela família, por conta dessa tarefa que assumimos. Mas, graças a Deus, eles compreenderam e hoje vivo cheio de conselhos, para me proteger corretamente com os EPIs indicados. Tomo todo o cuidado também ao chegar à minha casa. Vejo os professionais da saúde, no meio dessa turbulência mundial, como agentes iluminados por Deus para ajudar aqueles que precisam. Para mim, marcou aquele paciente que veio a óbito. Assim como o colega de trabalho afastado, com a suspeita do coronavírus. É aí que nosso psicológico começar a questionar “poderia ser eu”, pois não estamos livres disso acontecer. Estamos “caminhando sobre um campo minado” — comparou Arlan Alteres, 38 anos, da administração e serviços gerais da Beneficência Portuguesa, onde está instalado o CCC de Campos.
— É um misto de sentimentos saber que a minha ação enquanto fisioterapeuta intensivista é determinante para a vida do meu paciente. Minha família procura compreender e muitas vezes preciso estar ausente para protegê-los. No início da pandemia, a falta de informações e as fakes news desestabilizavam a equipe e todos ao redor. A partir de treinamento, protocolos e acesso aos EPIs, adquirimos equilíbrio emocional. Não somos heróis; quem dera se pudéssemos salvar a todos. Precisamos de condições adequadas, remuneração digna e de mais profissionais. Fui chamada na madrugada para avaliar um paciente que testou negativo para Covid-19. Assim que entrei na ambulância encontrei um homem jovem, forte, com muita falta de ar, que olhou nos meus olhos e pediu para que eu não o deixasse morrer, porque ele tinha filhos pequenos. Ele foi encaminhado à emergência, onde realizamos os procedimentos necessários. Ao amanhecer veio o resultado de um novo teste positivando Covid-19. Em uma semana perdemos nosso paciente para esse inimigo invisível — contou Andreia Azevedo, 40 anos, fisioterapeuta das UTIs do CCC de São João da Barra e da Santa Casa de Campos.
— O desconhecido causa insegurança, mesmo que existam vários estudos sobre a doença, ainda não sabemos a dimensão dela. Devemos considerar que os sinais e sintomas variam muito de um indivíduo ao outro, enquanto em outras enfermidades o diagnóstico é mais rápido. Apesar do medo da maioria dos nossos familiares, tenho o apoio hoje de todos. Porém, no começo, tivemos alguns que entraram em desespero. Eu, como profissional de saúde, comecei a educá-los com os cuidados com roupas e sapatos, idas à rua, uso de máscaras e a coisa funcionou. Nos locais que trabalho, estamos todos em prol da qualidade de assistência aos pacientes, sendo eles Covid-19 ou não. Sabemos que passamos por uma época de instabilidade emocional e econômica no nosso país. E se nós, profissionais, não nos apoiarmos, não terá estabilidade que aguentará. Sobre o isolamento social e o fato de não cumprirem, vai gerar um grande colapso nos sistemas de saúde, já que a quantidade de pessoas que precisarão de tratamento será maior do que a demanda de leitos em hospitais — alertou Bruna Lucas, de 36 anos, gerente de enfermagem da Santa Casa e enfermeira supervisora da Beneficência Portuguesa.
— Todos os dias estou em unidades de terapia intensiva examinando e realizando procedimentos em pacientes que precisam de hemodiálise. Já é uma rotina que exige cuidados contra contaminação bacteriana e viral. Diante de uma doença com alto potencial de contágio, os cuidados devem ser maiores. Mas sabendo que a minha atuação pode fazer diferença entre o paciente viver e morrer, a vontade de ajudar pessoas prevalece sobre o medo. Há diferença por se tratar de uma doença nova, ainda sem respaldo científico robusto sobre o tratamento ideal. Recuperar um paciente de qualquer enfermidade gera satisfação. Mas, de fato, em casos mais desafiadores a sensação é diferente. Na minha vida profissional o momento mais marcante foi quando perdi meu primeiro paciente. Foi triste, mas aprendi muito ali. No atual contexto, o que me marcou até aqui foi a união das pessoas envolvidas na montagem do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus. Espero que seja o mais marcante — projetou Luiz Otávio Barreto, 37 anos, médico clínico e nefrologista que trabalha com hemodiálise nas UTIs do CCC e dos hospitais Geral de Guarus (HGG), Santa Casa, Álvaro Alvim e Plantadores de Cana.
— Não podemos ser afoitos, temos que nos paramentar primeiro. Não adianta eu ajudar ao paciente e me contaminar. Em relação a outras doenças, se forem contagiosas, os cuidados devem ser os mesmos. Por minha família eu não trabalharia de jeito nenhum. Porém eu estudei para isso e tenho dever como profissional da saúde de ajudar ao próximo, principalmente nesse momento. Somos uma equipe bem treinada e tentamos cuidar uns dos outros. Isso é muito importante já que se uma colega se contamina, ela pode contaminar os demais do plantão. Além de ter muito cuidado com a minha paramentação, tento sempre ajudar ao colega e ver se ele está paramentado da maneira correta. Para mim, o momento mais marcante foi quando entrei no leito de um paciente jovem com Covid-19 positivo, ele estava com cateter de O2 e com máscara de procedimento para que não tossisse em cima de ninguém. Apesar de estar totalmente paramentada, o paciente retirou a máscara e começou a tossir em cima de mim. Fiquei muito nervosa — lembrou Ana Paula Abido, fisioterapeuta intensivista do CCC de Campos e do hospital de campanha de Quissamã.
— O momento mais marcante até aqui foi ver um paciente jovem de 39 anos não conseguir resistir ao Covid-19, deixando sua família e dois filhos pequenos. Tento fazer todos os procedimentos dentro das normas de segurança, não me afobando para exercer minha atuação. Pelo fato de ser uma doença com alta capacidade de infecção, há necessidade de haver maior cuidado e precaução no manejo dos pacientes em relação a toda equipe de atendimento. Tenho total apoio dos meus familiares, mesmo que eles e amigos fiquem apreensivos. A relação com a equipe de trabalho tem sido de muita compreensão e cooperação, onde todos sabem dos riscos que correm. E da necessidade de se prevenirem para que não se contaminem e nem aos próprios colegas da equipe. Como eles, me vejo como um ser humano querendo ajudar o próximo, não como herói. Todos devem fazer sua parte, seja quem estiver na linha de frente, seja quem estiver em casa cumprindo o isolamento social —cobrou Júlio César Nogueira, de 34 anos, fisioterapeuta das UTIs do CCC de Campos e do HFM.
— O medo é uma constante, assim como a fé. O que move é a consciência de estar ajudando a maior quantidade de pessoas possível, pacientes e profissionais da equipe, tomando todas as precauções possíveis. E com a certeza que Deus também olha por mim e minha família. Não poderia me dar ao luxo de cruzar os braços e simplesmente não fazer nada nesse período. Sem falar na comoção gerada por ver pacientes acometidos de maneira grave e sendo submetidos a procedimentos invasivos mesmo em seu vigor físico prévio, o que tem mudado muito o perfil de ocupação das unidades de terapia intensiva. Entre família e amigos questionam quais serão os meus planos B, C, D e E para um contágio. Que, ao meu ver, infelizmente irá ocorrer cedo ou tarde. É nesse ponto que os pensamentos ruins vêm: se serei um dos pacientes graves, se minha e esposa, pais irmãos, familiares e amigos serão; quem de nós vai partir. Sou grato a Deus e a todos que saem de casa dando o melhor de si pelo próximo independente da profissão. O mundo mudou e provavelmente não voltará a ser o mesmo — projetou Eduardo Abi-Kair, 34 anos, médico cardiologista e coordenador da UTI do Hospital Dr. Beda II.
— Lido diretamente com pacientes de Covid-19, dentro de uma unidade de tratamento intensivo. O equilíbrio entre a necessidade de ajudar e o medo, é ter em mente que poderia ser um familiar meu ali, ou mesmo eu. Isso me dá força para levar adiante a profissão que escolhi, já sabendo que poderia lidar com todo tipo de doença. Mas é um vírus novo, todos estamos aprendendo como lidar com determinada situação, e nos atualizando a cada dia. Recebo todo apoio de familiares e amigos, mesmo que só por telefone já que temos que manter distância por precaução. Estamos trabalhando unidos e com um único propósito: a cura dos pacientes, buscando sempre novos conhecimentos. Vejo os que estão na linha de frente como guerreiros. Quando decidimos entrar nessa profissão juramos o bem estar do paciente em primeiro lugar. E todos estão firmes fazendo de tudo para salvar vidas. O momento mais marcante foi na perda do nosso primeiro paciente vítima de Covid-19 — lembrou Mário Borges, 32 anos, enfermeiro da UTI do CCC de Campos.
— Não há diferença entre a recuperação de um paciente com Covid-19 e outra doença transmissível. A satisfação pessoal é proporcional à letalidade da moléstia e existem doenças mais graves. Família e amigos questionam sempre sobre a história natural da pandemia, se está acabando ou ainda vai piorar. A relação com a equipe multidisciplinar é quase sempre muito boa, todos estão muito empenhados em prestar a melhor assistência. Inicialmente o medo se abateu em alguns, mas com treinamentos e o conhecimento do inimigo os profissionais de saúde estão mais tranquilos. Não acho que sejamos heróis. Somos uma classe trabalhadora, pensante e essencial para o bem estar coletivo. Logo no início da pandemia dei o diagnóstico da infecção a um profissional de saúde. Apesar de ser atuante na área, o colega ficou desesperado a despeito de seu quadro ser classificado como “leve”. O medo existe, mas é controlado. Claro que os EPIs adequados devem estar disponíveis para utilização. O que não podemos, em hipótese alguma, é deixar de prestar assistência — pontuou Rodrigo Carneiro, médico infectologista do HGG e do Hospital São José do Avaí, de Itaperuna.
— Neste momento não nos cabe o heroísmo, e sim cautela e atenção consigo e depois com os demais. A Covid atingiu toda população, com todas as mídias dando atenção, onde tudo é novo. Mas não deve ser tratada como mais grave ou menos grave que as demais doenças, que ainda possuem uma grande incidência de mortalidade e comorbidades. É gratificante ver o reconhecimento que recebemos nesse momento tão difícil que o mundo passa. Mas ao mesmo tempo lamento, pois precisamos passar por uma pandemia pra que se lembrem que nos hospitais existem pessoas que correm risco 24h por dia, que precisaram se afastar das suas famílias para que outras famílias estejam juntas. Esse reconhecimento deveria ser na mesma proporção que nos expomos, com salários justos, melhores condições de trabalho e respeito. Todos os dias são marcantes, todos os dias somos confrontados. Mas quando me vi em uma situação onde eu poderia vir a ser o paciente, sem dúvidas foi onde me marcou. É você fechar os olhos e tentar ver onde errou e não encontrar resposta — ponderou Roseane da Silva, 26 anos, fisioterapeuta intensivista do CCC de Campos e do hospital de campanha de Quissamã.
— Embora não trabalhe no CCC, não posso negar meu interesse profissional de responder a esta entrevista, uma vez que pelas características epidemiológicas do novo coronavírus. Por trabalhar em uma emergência, acabo lidando diretamente com pacientes suspeitos e confirmados de Covid-19. E pela primeira vez existe um conflito entre a execução do cuidado médico e o medo declarado, ou não, da própria contaminação. E da possibilidade de contaminação dos nossos familiares através de nós. Talvez a maior lição diária da pandemia está sendo perceber que subitamente os profissionais em todas as áreas, e não somente na saúde, perceberam que frente à ameaça comum, estar ao lado um do outro não soma, mas multiplica forças. É uma potencialização jamais antes vista. É compreensível a mitificação do profissional de saúde ocorrer de forma espontânea e generalizada na sociedade, se espalhando nas redes sociais através de textos e cenas emocionantes. Mas acreditem: não há deuses. Há pais, filhos, noivos, namorados; há parentes distantes — esclareceu Luís Alberto Tavares, 60 anos, médico pediatra do Hospital da Unimed de Campos.
— Colocar em prática a experiência e o conhecimento da fisioterapia neste novo contexto de pandemia é um misto de emoções. Do medo ao encorajamento de saber que estou contribuindo em um momento tão delicado. Existe diferença, sim, a Covid-19 é algo novo para todos nós e não sabemos como será o amanhã, não sabemos se o que estamos pensando ser realmente é. O que temos certeza é com relação à sua forma de contaminação, para isso redobramos os cuidados. Enquanto fisioterapeutas, ainda são poucos os que reconhecem o nosso trabalho e dedicação. Muitos não sabem o quanto somos fundamentais, principalmente para que os pacientes voltem a respirar sem aparelhos. O momento mais marcante foi quando perdemos o nosso primeiro de Covid. Lembrar que o recebi andando, respirando sozinho, com pequena falta de ar. E, em poucos dias, sem que ao menos pudesse se despedir de seus familiares, evoluiu a óbito. Isso me marcou tanto que só pude imaginar que poderia ser outra pessoa qualquer, como por exemplo a que mais amo — refletiu Pedro Henrique Monteiro, 26 anos, fisioterapeuta das UTIs do CCC de Campos e do hospital de campanha de Quissamã.
— Em tempo de pandemia redobramos os cuidados com EPIs e seguimos em frente para ajudar o próximo como se fosse um familiar nosso. O receio em lidar com doenças infecciosas é o mesmo. Não há diferença entre tratar meningite, tuberculose ou Covid-19. Fazem parte do mesmo grupo de cuidados redobrados que temos que ter com EPIs. Trata-se de uma doença nova e desafiadora, onde existem muitas interrogações. Mas não há heroísmo! Estamos cumprindo nosso papel como médicos e colocando em prática o juramento que fizemos. A medicina vinha caminhando em uma curva descendente de não reconhecimento pela sociedade atual. É gratificante resgatarmos um pouco do reconhecimento que veio se perdendo ao longo dos anos. Quando estamos em uma guerra onde o inimigo é invisível, o coletivo faz toda a diferença e as equipes dos hospitais onde trabalho são coesas e bem articuladas. Todos cumprem seu papel com maestria. Cada um tem sua função e todos fazem a diferença no desfecho — testemunhou Helena Mantovanelli, 39 anos, médica clínica e endocrinologista das UTIs do CCC e do HFM.
Usada sem que muitos se liguem ao seu significado, a palavra pandemia designa uma endemia, uma doença de caráter global. Seu prefixo grego “pan” abarca cada um e a todos. Até a Covid-19, a última que a humanidade enfrentou tinha sido a gripe espanhola. Hoje mais conhecida como Influenza H1N1 e imunizada por vacina, se estima ter matado até 100 milhões de pessoas no mundo, inclusive em Campos, entre 1918 e 1920. A partir do final da I Guerra Mundial (1914/1918), matou mais que ela, antes de saírem da planície goitacá os combatentes de carne e osso contra o nazifascismo na II Guerra, cujo bronze da estátua da Praça do Santíssimo homenageia como heróis. Esta classificação, como seria de se esperar, é negada pelos 16 combatentes da guerra de hoje, ouvidos pela Folha.
Em seu livro “Heróis”, a historiadora cultural, biógrafa e escritora inglesa Lucy Hughes-Hallett dá algumas definições de herói. “Associa-se à coragem, à integridade e ao desdém pelas mesquinhas concessões que permitem à maioria não-heroica ir levando a vida” diz ela no prólogo. Adiante, questiona e justifica o fenômeno social que hoje ocorre com os profissionais de saúde: “Afirmar que a maioria dos ídolos tem pés de barro é uma banalidade; o que é interessante é perguntar por que, sabendo disso, ainda somos fascinados por eles (…) A natureza e a função do herói modificam-se juntamente com a mentalidade da cultura que o produz, bem como as qualidades atribuídas ao herói, os feitos que se esperam deles e seu lugar na estrutura social e política como um todo”. E conclui: “Assim como os heróis são moldados pelo passado, eles, por sua vez, moldam o futuro”.
A Covid-19 não é o primeiro enfrentamento capital da humanidade. E, apesar dos cerca de 200 mil mortos que já deixou no planeta, com o Brasil e Campos em curva ascendente, não será o último. Como é certo que as perdas finais só não serão maiores por conta dos profissionais de saúde que assumem seu papel, com o risco da própria vida, em defesa da vida alheia. Do passado em que foram moldados as mulheres e homens de carne e osso de hoje, para moldar o mundo dos que sobreviverão, o soldado da praça do Santíssimo Salvador lança seu olhar de bronze ao presente. Do tempo dele e lutando do mesmo lado naquela grande crise vencida há 75 anos, Richard D. Winters foi comandante de uma companhia militar dos EUA na Europa, retratada no seriado “Band of Brothers” (“Bando de Irmãos”). Nele, o testemunho real do veterano da II Guerra, morto em 2011, dialoga com um futuro possível aos 16 personagens ouvidos nesta reportagem e seus colegas: “Um dia meu neto me perguntou: ‘Vovô, você foi um herói na guerra?’ E eu respondi: ‘Não, mas lutei em uma companhia de heróis’”.
Quando vocês falam em Heróis que estão na ljnha de frente com o COVID-19 esqueceram dos que estão mais na linha de frente do que qualquee pessoa, os TÉCNICOS EM ENFERMAGEM. Pois são os que estão ali no cuidado direto com os infectados, entrando no paciente de hora em hora , medicando os pacientes infectados, os trocando, entrando em contato direto com secreções, são eles!!! Muitas vezes quando os pacientes estão desequilibrados emocionalmente no tratamento isolado da doença nao é a medicação forte prescritas por ninguem que o tranquiliza, mas sim o toque e uma palavra de esperança de um Técnico de enfermagem!!!!
Os valorizem, vcs podem precisar dos cuidados deles!!!!!
Caro Iago José,
Vc está certo. Faltaram não só técnicos de enfermagem, como nuturiocinistas, pessoal da limpeza, recepção e segurança. Todos nós podemos precisar deles, durante e depois da pandemia da Covid-19. Mas, creia, não foi falta de tentativa. Limitada pela questão do isolamento social.
Abç e grato pela crítica!
Aluysio
Excelente artigo… Só faltou citar aqueles profissionais que passam a maior parte do tempo com os pacientes… os técnicos(as) de enfermagem…
Caro João,
A observação já havia sido feito e a resposta dada nos dois comentários acima.
Abç e grato pelo reforço e a generosidade!
Aluysio
Isso aí.
Todo o conjunto deve ser valorizado!
Sim uma crítica constitutiva!
Esse assunto merece atenção, parabéns pela abordagem.