Museu e Arquivo no Folha no Ar — Soffiati, Rafael, Cristina, Conselho e Anpuh

 

Questões levantadas hoje pelo historiador Aristides Soffiati no Folha no Ar, sobre o Museu Histórico e o Arquivo Público de Campos, foram respondidas depois do programa pelo prefeito Rafael Diniz e a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Cristina Lima (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

“Nós passamos quatro anos sem Biblioteca Municipal. E agora estamos sem Museu e sem Arquivo. Eu não sei se isso é de fato um fechamento definitivo disfarçado de algo relativo à crise econômica e crise causada pelo vírus, que eu acho perfeitamente justificável, ou se é uma coisa que vai passar e essas pessoas vão voltar a trabalhar. Agora pergunto: vai voltar? Acho que caberia não só à gestora de cultura do município se pronunciar publicamente, mas ao prefeito dar uma garantia para nós de que Arquivo e Museu são instituições muito importantes à cultura de um município da estatura de Campos. Como é que fica isso?” Foi o que indagou no início da manhã de hoje historiador Arthur Soffiati, no programa Folha no Ar, na Folha FM 98,3. Que dedicou seu último bloco à questão do Museu Histórico e do Arquivo Público Municipal. com a suspensão dos RPAs que trabalhavam nas duas instituições. Após o programa, o blog ouviu o prefeito: “Por óbvio é temporário”, garantiu Rafael Diniz. E foi reforçado pela presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima: “Nunca houve a possibilidade de não voltar”, confirmou Cristina Lima.

— No caso de Rafael, que é (pré-)candidato também, o que ele teria que dizer em um momento como esse. (Acha que seria:) “Olha, eu fechei temporariamente o Arquivo, porque faltam recursos, a gente está vivendo um momento difícil, mas eu vou voltar e vou chamar esse pessoal todo”. O pessoal que trabalha nas instituições (Museu e Arquivo) não pode ser qualquer um, é um pessoal treinado, tem que ter experiência. E não pode ser mandado embora, nem trocado por outro assim, da noite para o dia. Eu vi ontem a manifestação de Dom Roberto (Ferrería Paz), o bispo de Campos, a favor do Arquivo e a favor do Museu. Eu também estou a favor do Arquivo e a favor do Museu — frisou Soffiati. E foi respondido pelo prefeito:

— A gente está devendo a esses RPAs. Essa reivindicação deles é justa. Só que, como as atividades do Museu e do Arquivo foram suspensas, por conta da pandemia da Covid-19, e esses RPAs não estão trabalhando, não tenho como pagar a eles durante o período de paralisação. Por óbvio é temporário. Assim que a pandemia passar e a vida voltar ao normal, no que será considerado normal após a Covid, as atividades voltarão. Não tem como a gente fechar definitivamente o Arquivo e o Museu. Prova da importância que damos a essas instituições está na dedetização promovida recentemente no Arquivo, assim como o sistema contra incêndio que estamos instalando no prédio (Solar do Colégio, erguido pelos padres jesuítas em meados do séc. XVII) — lembrou Rafael Diniz, em resposta às questões levantadas no Folha no Ar.

— Em 18 de março, as atividades do Museu e do Arquivo foram suspensas por conta da pandemia. Os RPAs recebem por serviços prestados. Se os serviços deixaram de ser prestados, pela necessidade de isolamento social, continuar pagando poderia até configurar improbidade. Por conta da crise econômica, os RPAs já estavam estão com quatro meses de salários atrasados. Como os DAS, estão com dois meses e meio de atraso. Eles estão certos em reivindicar o recebimento. Assim como é legítima a preocupação dos historiadores e pesquisadores com a a retomada dos trabalhos dessas duas instituições. Mas nunca houve a possibilidade de não voltar. A manutenção, que já não vinha sendo feita por conta do atraso nos salários, é que vai permanecer temporariamente suspensa. Mas não é nada que vá comprometer a estrutura e o acervo. E é bom lembrar que, além da dedetização feita no Arquivo ano passado, estamos instalando nele um sistema contra incêndio. No governo Rosinha, sem nenhuma pandemia, o Arquivo passou alguns anos fechado e foi reaberto — comparou Cristina Lima.

Durante o Folha no Ar da manhã de hoje, o presidente do Conselho Municipal de Cultura, Marcelo Sampaio, também professor de História, enviou uma nota de repúdio. Que foi aprovada no sábado (09), em teleconferência, por todos os 13 integrantes do Conselho. E foi lida na abertura do último bloco da entrevista com Soffiati:

— O Conselho Municipal de Cultura de Campos dos Goytacazes em sua última reunião ordinária, realizada no dia 9 de maio através de uma webconferência, decidiu por 13 votos a zero publicar esta nota de repúdio ao desligamento de RPAs e estagiários remunerados lotados no Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, Museu Histórico de Campos, Teatro de Bolso Procópio Ferreira e Teatro Municipal Trianon assim como ao corte dos contratos dos professores substitutos. Apesar de terem conhecimento da difícil situação financeira vivida atualmente pela Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes, os conselheiros decidiram por unanimidade tornar pública a não aceitação destas decisões governamentais, por entenderem que nestes tempos de crise na saúde, economia e política estas medidas só pioram ainda mais o quadro em nosso município. Com o objetivo de tentar minimizar as danosas consequências das referidas decisões, o Conselho Municipal de Cultura de Campos dos Goytacazes também decidiu convidar para prestarem maiores esclarecimentos sobre os respectivos assuntos as gestoras responsáveis pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima e secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esporte.

Hoje, depois da entrevista com Soffiati no Folha no Ar, A Associação Nacional de História, Anpuh Brasil, também se manifestou sobre o que classificou como “desmonte do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho e do Museus Histórico de Campos dos Goytacazes”. Confira abaixo:

 

 

ANPUH-BRASIL CONTRA O DESMONTE DO ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL WALDIR PINTO DE CARVALHO E DO MUSEU HISTÓRICO DE CAMPOS DO GOYTACAZES

 

A Associação Nacional de História, ANPUH-Brasil, se une às demais instituições de Campos de Goytacazes e Rio de Janeiro na denúncia e no protesto contra o desmonte do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho e do Museu Histórico de Campos do Goytacazes. Ambas as instituições sofreram recentemente um corte de pessoal em suas equipes, prejudicando enormemente a rotina de trabalho do Arquivo e do Museu da Cidade.

Criado há 18 anos, o Arquivo Púbico Municipal foi eleito no ano passado como um dos cinco melhores do país, pela Câmara Setorial de Paleografia e Diplomática, órgão atrelado ao Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), após reunião dos Arquivos Públicos do Brasil. Em 2017, o Arquivo já havia colhido os frutos do trabalho de sua equipe, ao vencerem na categoria de Preservação de Bens Móveis e Imóveis; premiação chancelada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

O Museu Histórico de Campos de Goytacazes, por sua vez, tem sido marcado por vários desafios, desde a sua territorialização até a conquista da visibilidade que lhe é devida. Nos últimos anos, se firmou como um notável espaço de memória da cidade, com exposições que despojam algumas das questões centrais do passado da cidade, como a recente exposição sobre o Dia da Consciência Negra.

O desmonte perpetrado naquelas instituições inviabiliza a continuidade dos importantes serviços prestados à sociedade de Campos de Goytacazes. Apesar da indispensável quarentena recomendada pelas autoridades sanitárias, os trabalhadores das referidas instituições estavam ativos em espaços online, mantendo contato com a comunidade, na certeza da relevância de suas atividades a nível regional e nacional. Além disso, a desarticulação das atividades realizadas implica também a preocupação com a manutenção e preservação dos acervos ali acolhidos; patrimônios públicos da cidade e do país.

Pelas razões aqui expostas, solicitamos que sejam tomadas providências para a manutenção do funcionamento destas instituições. Estamos solidários e compromissados com toda a equipe de trabalhadores instalados no Arquivo e no Museu de Campos de Goytacazes; exemplos de funcionários, compromissados com a organização, preservação e divulgação de bens históricos, pertencentes – portanto – a todos nós.

 

Para saber mais da polêmica sobre o Museu Histórico e o Arquivo Publico de Campos, bem como as reações à suspensão das suas atividades e dos RPAs que lá trabalhavam, que o prefeito e a presidente da Fundação Cultural garantiram ser temporária, confira aqui e aqui as postagens do Blog do Edmundo Siqueira, hospedado no Folha1. Para conferir os três blocos do Folha no Ar de hoje com o historiador Arthur Soffiati, que tratou do assunto no último, confira os vídeos abaixo:

 

 

 

 

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Este post tem um comentário

  1. Marcos Caldeira

    Será q vcs sabem o que é Arquivologia e seus profissionais ?
    Sou bacharel em Arquivologia desde 1988 pela Uni Rio e nunca vi uma contratação/um concurso para a área aqui em Campos.
    Fica a dica aí invés de ficarem fazendo gambiarra no arquivo.
    Somos administradores de arquivos, não curiosos.

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