A cultura de Campos pode não ter uma torcida proporcionalmente tão numerosa quanto às dos clubes cariocas Flamengo e Vasco. Mas, como as do Fluminense e Botafogo, compensa qualquer inferioridade numérica com a paixão e o compromisso na defesa da sua bandeira. Foi o que evidenciou o Folha no Ar do início da manhã de hoje (14), com a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Cristina Lima. Através do WhatsApp e de comentários pelo streaming do programa no Facebook, a interatividade dos ouvintes e telespectadores foi intensa. Todos na defesa do Museu Histórico e do Arquivo Público de Campos, que tiveram atividades e RPAs suspensos em decreto municipal, por conta da pandemia da Covid-19, em decreto municipal de 6 de maio.
— O primeiro decreto, estabelecendo um atendimento não presencial e trabalho interno e home working, data de 18 de março. Para todos os equipamentos culturais. Nós temos o Teatro Trianon, o Teatro de Bolso Procópio Ferreira, a Casa de Cultura José Cândido de Carvalho em Goitacazes, a Casa de Cultura Poeta Antônio Silva em Conselheiro Josino, nós temos o Museu e o Arquivo. Os equipamentos culturais começaram a cumprir o primeiro decreto. E como temos neles a presença do servidor em regime de recebimento de pagamento a autônomo (RPA), o último decreto do prefeito (de 6 de maio) estabeleceu o plano de suspensão emergencial, naturalmente atingiu todas essas instituições que eu acabei de citar. Mas nunca, em momento nenhum desse processo, nós tivemos a a intenção de não voltar com esses equipamentos. O tempo todo foi dito que seria temporário. Não foi corte, foi suspensão. Que trouxe essa ansiedade muito grande, essa preocupação, até bastante compreensível e legítima. Mas em momento algum foi aventada a hipótese de não reabrir ao fim dessa pandemia — disse Cristina em sua primeira participação no programa.
Dando início à participação dos leitores e ouvintes, a diretora do Museu Histórico de Campos, Graziela Escocard, perguntou por WhatsApp:
— Como será feita a manutenção dos espaços do Museu, do Arquivo e do Trianon, lembrando que os funcionários públicos concursados, são em sua maioria da educação, cedidos e sem conhecimento técnico?
— É uma situação que nós estamos analisando, buscando uma alternativa. Porque na verdade, na rede, nós temos os DAS, que permaneceram. Então se essa preservação do acervo não puder ser feita por essas pessoas que ficaram, que não sofreram os efeitos do plano emergencial de suspensão, nós já estamos desde ontem (13) analisando a questão. E vendo qual atitude nós vamos poder tomar (…) Estamos analisando, junto com a professora Rafaela (Machado, diretora do Arquivo Público), inclusive. E pensando numa alternativa que atenda à necessidade de manutenção do acervo. Toda essa situação é muito nova para todos nós, é muito inusitada. Nunca tínhamos experimentado uma coisa parecida com isso. É preciso que agora a gente se junte, com espírito coletivo. E busque através do diálogo, com serenidade e equilíbrio, para que se possa pensar numa alternativa para atender a essa questão, que é muito preocupante. A gente sabe que uma casa fechada se deteriora mais rápida que com ela aberta — respondeu a presidente da FCJOL.
Citada por Cristina, Rafaela Machado também se manifestou no streaming do programa. E pontuou à entrevistada do Folha no Ar:
— As demandas da cultura são legítimas e durante muito tempo não foram ouvidas ou não foram consideradas importantes. Acho que é hora de entendermos que essa questão, a manutenção e sobrevivência desses espaços, é também pauta essencial de discussão hoje — disse a diretora do Arquivo Público.
— Na verdade, as demandas hoje da cultura em Campos são muito grandes. Nós temos vários prédios municipais carentes de manutenção, como é o caso do Arquivo, da Casa de Cultura em Goitacazes, que demandam um investimento muito alto. O grande desafio do prefeito Rafael Diniz é atender às demandas mais urgentes, relacionadas ao servidor, à saúde, à educação. Então, essas demandas vindas da cultura são muito altas. A gente já fez um levantamento. Por exemplo, o Teatro de Bolso, são todos equipamentos que têm muito tempo de vida. O mais novo aí, seria o Trianon, com 21 anos, já requerendo uma série de manutenções no seu maquinário. Eu vejo hoje que nós estamos caminhando para uma situação em que as questões culturais vão ter que recorrer às parcerias público-privadas (PPPs) e às leis de incentivo. O que está acontecendo é que as prefeituras estão cada vez mais inadimplentes para suportar essa demanda. A Prefeitura vai ter que buscar essas parcerias, como já viemos buscando na cultura com a secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, na questão da economia criativa, na questão de projetos vindos de alunos bolsistas, que focaram inclusive na questão do patrimônio histórico e cultural, no prédio do Arquivo. As prefeituras vão se tornando cada vez mais sem condições de bancar toda essa necessidade e carência.
Com trechos da matéria extraídos do primeiro e segundo blocos da entrevista, confira abaixo em vídeo todos os três do Folha no Ar de hoje com Cristina Lima. Em sua maior parte ditado democraticamente pelas intervenções dos ouvintes e telespectadores. Como provaram hoje seus defensores, em atuação de time grande, a cultura de Campos é capaz de gerar tanta audiência e interesse quanto jogo de futebol: