No dorso do boto à luz, reencontro com Atafona e Pessoa em tempos de Covid

 

Mar de Atafona, manhã de 14/06/20 (Foto: Ícaro Barbosa)

Após três meses e uma dúzia de finais de semana envolvido em muito trabalho, por conta da pandemia da Covid-19, ser recebido em Atafona por um grupo de botos refresca a alma para além da brisa marinha. E traz duas certezas.

A primeira? Apesar de tantas mortes e obscurantismo, a vida sempre emergirá à luz do sol real. A segunda, no dorso do mamífero rasgando ondas, é melhor descrita nos versos de Pessoa. E vale ao mar português e ao brasileiro:

 

“Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

 

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.”

 

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