Após três meses e uma dúzia de finais de semana envolvido em muito trabalho, por conta da pandemia da Covid-19, ser recebido em Atafona por um grupo de botos refresca a alma para além da brisa marinha. E traz duas certezas.
A primeira? Apesar de tantas mortes e obscurantismo, a vida sempre emergirá à luz do sol real. A segunda, no dorso do mamífero rasgando ondas, é melhor descrita nos versos de Pessoa. E vale ao mar português e ao brasileiro:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”