Morte de Guto Leite, aos 50, se resume à sua arte: “Você é parte na nossa história”

 

Publicitário e surfista Guto Leite e sua maior paixão: o mar (Foto: Facebook)

 

Na manhã de hoje morreu precocemente o publicitário Guto Leite. Como informaram aqui e aqui o site Folha 1 e o blog Ponto de Vista, do Christiano Abreu Barbosa, ele pegava onda na praia de Barra do Furado, em Quissamã, quando se embolou em uma rede de pesca, ficou submerso e se afogou. Conseguiram libertá-lo, mas não o reanimar. Ele tinha 50 anos, deixa viúva a esposa Bárbara e três filhos: Lysandra e Thiago, do primeiro casamento com Edenice, e Noah, de apenas 4 anos. Com sua arte na publicidade, deixou também outros filhos.

 

(Arte: Guto Leite)

 

Soube da notícia através do grupo de WhatsApp deste blog e do programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3. Seu gerente, o radialista Cláudio Nogueira foi o primeiro a informar. Vi quase em tempo real após deitar sob o sol no piso da área de lazer da minha casa em Atafona. Voltava de uma caminhada à beira-mar, até as ruínas do antigo prédio do Julinho. E buscava aquecer do corpo ainda molhado de mar.

 

(Arte: Guto Leite)

 

Irônico agora constatar que, ao sair para caminhar, assim que avistamos o mar eu, meu filho, mais seu fiel escudeiro Zidane, buldogue francês tigrado, atentamos aos vários surfistas na água. E comentei com Ícaro que as ondas hoje estavam melhores para a prática do esporte, por grandes e contínuas, do que nos dois dias anteriores, quando estavam irregulares pela ressaca. No retorno do Julinho, antes dos surfistas, entrei no mar e arrisquei uns “jacarés”.

 

Guto Leite (Foto: Facebook)

 

Última arte de Guto Leite para o Grupo Folha, já na pandemia da Covid-19

Ainda molhado das ondas daquele mar, que matariam Guto poucos quilômetros ao sul do mesmo litoral, pensei numa memória afetiva. Muito cara a mim e comum a ambos. Era o final dos anos 1970, quando estudávamos no antigo Jardim e Escola Lobinhos, na Rua Formosa.

Criança de apartamento, foi na companhia de Guto, dois anos mais velho, que me lembro de ter subido a primeira vez em uma árvore. Era um pé de carambola do Lobinhos, de cujos frutos nos servíamos como macacos embrenhados em seus galhos. Pode ter sido por horas. Se não foram, pareceram. O fato é que só descemos após muita insistência das professoras.

Não sei se aquela árvore e seus frutos tiveram a mesma importância para Guto. Nunca conversei com ele sobre isso. Aliás, a primeira vez que falei com alguém sobre o fato talvez tenha sido hoje, com meu filho, para explicar o motivo da minha tristeza súbita. Ainda que Guto e eu nunca tenhamos nos tornado amigos. Adultos, nossos contatos foram só profissionais, já que ele fez, como publicitário, várias campanhas para o Grupo Folha.

Em outra coincidência, com a confissão paternal pelo motivo da tristeza após o mar de hoje, se deu meu único contato mais pessoal com Guto na vida madura. Era 2015, no Teatro do Sesi. Ele estava prestigiando a exposição do seu filho Thiago, artista plástico, à época com 20 anos. Impressionado com a qualidade precoce da obra do garoto, conversei com ele e seu pai coruja. E no brilho dos olhos deste, durante o papo, percebi que o amor e o orgulho pelos filhos talvez tivessem sido frutos comuns daquele pé de carambola.

 

Guto e Thiago Leite (Foto: Arquivo do Sesi)

 

Como publicitário, Guto ganhou o concurso promovido pela Folha para criar a logomarca oficial dos 40 anos do jornal, em 2018. E foi com ela que abrimos o caderno comemorativo da data, que organizei, editei e escrevi o artigo da capa. Talvez tenha sido nosso melhor trabalho conjunto.

 

 

O texto que abriu o caderno, relendo agora (confira aqui), ao lado do preto sobre o branco da arte de Guto, assim como do traço do Marco Antônio Rodrigues, parece outra estranha coincidência. Mas emblemática neste momento em a questão do racismo, que eclodiu dos EUA para o mundo, repercute também em Campos (confira aqui).

 

Capa do caderno de 40 anos da Folha, publicado em 7 de janeiro de 2018, com as artes de Guto Leite e Marco Antônio Rodrigues

 

Sobre o que Guto foi como publicitário, deixo a impressão de outro, Thiago Bellotti, superintendente de Comunicação de Campos. Que enviou após comungarmos por telefone a consternação com a perda: “Foi como um roteiro de filme publicitário, rápido, intenso, bonito e feliz. Assim, para mim, foi a vida do melhor publicitário da região. No mar, se desligava do mundo e criava o surpreendente”.

 

(Foto; Facebook)

 

Na impressão deixada pelo homem, fica o slogan que ele criou aos 42 anos da Folha, completos este ano e abertos mais ou menos quando nos conhecemos: “Você é parte da nossa história”.

 

(Arte: Guto Leite)

 

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Este post tem 3 comentários

  1. Ana Celina A R de Azevedo

    A precoce e lamentável partida, do talentoso publicitário Guto Leite, dignamente registrada nesse texto encantador !
    Parabéns Aloísio!

  2. Carlos Eduardo ferraz

    Amigo,
    Aluysio.
    Parabéns pela homenagem a este grande amigo que nos deixou.
    Eduardo Ferraz

  3. Felipe Ferreira de Oliveira.

    Pais apaixonados, nos víamos toda quinta no CENSA infantil pegando nossos filhos.
    Bela lembrança da caramboleira do saudoso Lobinhos, Aluysio.
    Descanse em paz Guto.

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