A pouco mais de três meses da eleição a prefeito de Campos, esquentam as movimentações políticas para composição das candidaturas (confira aqui) que serão definidas nas convenções partidárias, entre 31 deste mês e 16 de setembro. Mas o debate do principal problema de Campos, por enquanto, é ignorada: como administrar um município com orçamento para 2021 projetado entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,6 bilhão, com R$ 1,1 bilhão já comprometido só com folha de pagamento de servidor? No programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, todos os pré-candidatos a prefeito da cidade têm sido ouvidos. Mas nenhum deles, até aqui, soube dar uma resposta precisa. Seja porque a solução aritmética, na equação entre despesa fixa e projeção de receitas, é praticamente impossível. Seja porque a única alternativa implicaria em redução da máquina pública, tema radioativo em período eleitoral.
Após buscar os acadêmicos (confira aqui), a Folha foi atrás de respostas também de quem tem experiência em gestão. Não no setor público, mas no privado. Foram ouvidos os empresários Joilson Barcelos, do Grupo Barcelos, do ramo atacadista e varejista da cidade; Renato Abreu, do Grupo MPE, que atua nacionalmente em engenharia, petróleo e energia, além de usina de açúcar em Campos; e Ricardo Paes Teixeira, da Melo Teixeira, arquiteto do setor da construção e incorporação, termômetro da economia local. Referências em suas áreas, os três reprovaram a aplicação pelos governos passados dos recursos do petróleo. Com estes em queda, apontaram a retomada da vocação agropecuária como alternativa. Que rejeitaram no aumento da carga tributária ou na nova tomada de empréstimos. Cobraram clareza dos pré-candidatos a prefeito e capacidade de decisão em que for eleito. Também reconheceram a dificuldade para transpor soluções do mundo empresarial ao público. Sobretudo para impor produtividade e cortes a servidores concursados. Mas todos afirmam que a redução da máquina municipal é necessária, inclusive em pessoal. Que, admitem, não será fácil, mas teria que ser buscada em pacto negociado com as categorias afetadas.
Folha da Manhã – Você assumiria uma empresa com faturamento projetado entre R$ 1,5 bilhão e R 1,7 bilhão, e gasto só com funcionários já comprometido em R$ 1,1 bilhão? Como esta é a situação do município de Campos para 2021, que não pode simplesmente fechar, vislumbra alguma solução como gestor e cidadão?
Joilson Barcelos – Eu não sou político, sou empresário. O orçamento que nós temos de despesas, que é para bancar um custo operacional, ele é determinado para aquilo que é produção. Então, eu olharia para o poder público como gestão. E iria eliminar e cortar tudo que não tivesse necessidade, para ter resultado positivo na gestão.
Renato Abreu – Já tive essa experiencia em duas oportunidades assumindo empresas com bastante história; uma criada em 1913 (Empresa Brasileira de Soldas Elétricas, EBSE) e outra em 1939 (Empresa Brasileira de Engenharia, EBE), em setores distintos. O trabalho não é fácil, a acomodação é geral e o custo de demissão é enorme. A solução existente é o aumento do faturamento, a redução de custos e a demissão dos funcionários em excesso.
Ricardo Paes Teixeira – Como empresa, haveria possibilidade de recuperação. Daria para sanar grande parte do desequilíbrio financeiro, mas são muito evidentes os gastos excessivos com funcionários de baixa produtividade. Se estamos falando de Prefeitura, sabemos que a solução seria a mesma, mas com as dificuldades inerentes à coisa pública. A solução está sempre em planejar antecipadamente com todos os levantamentos da situação atual e uma equipe técnica com experiência.
Folha – Para decidir, investir, demitir e contratar pessoas e serviços, a iniciativa privada tem muito mais liberdade que o setor público. Respeitadas essas diferenças, que experiências da sua área entende como aplicáveis à Prefeitura de Campos neste momento de grave crise financeira? Como enxugar custos e crescer receitas? Neste último caso, o aumento de impostos municipais é uma alternativa?
Joilson – Não, o aumento de impostos não é uma alternativa. Eu acho que tem que cortar despesas. Eu usaria o que a CLT permite na iniciativa privada. Na gestão pública, talvez fosse mais difícil. Mas eu levaria isso até as últimas consequências nas esferas administrativa e judicial, para enxugar os custos; ou faria com que as pessoas operassem de maneira positiva.
Renato – Vou responder de trás para frente, isto é, o aumento de impostos deve sempre ser a última alternativa, senão estaremos matando a galinha dos ovos de ouro. Começaremos com a rigidez orçamentária, controle das receitas e despesas, modernização dos sistemas de cobrança de impostos, redução do quadro de funcionários dentro do possível. Já trabalhei para estatais (Petrobras, Infraero) que na maioria delas precisaria de 1/3 de funcionários para cumprir as tarefas necessárias.
Ricardo – São muitas as diferenças quando comparamos a administração do setor privado com o público. O que é comum é a necessidade de se ter sempre um planejamento estratégico como norte das ações, principalmente em momentos de dificuldades financeiras. É lógico que a solução tem que passar de imediato por redução de despesas no que não é imprescindível; ações têm que ser reduzidas ou paralisadas, ainda que haja um custo político. Na minha visão, aumento de impostos é a antítese da estratégia para aumento de arrecadação em momento de crise. Todos os esforços devem se voltar para aumento de arrecadação através de incentivo à produtividade do setor privado.
Folha – A partir de 1632, Campos deu início ao plantio de cana de açúcar e sua colonização contínua. A cana foi a principal atividade econômica do município até o clico do petróleo, que teve o primeiro carregamento comercial na Bacia de Campos em 1977. Repórter que o revelou (confira aqui), em furo jornalístico internacional, Aluysio Barbosa sempre defendeu que era uma fonte finita e que o município não poderia abandonar sua vocação agrícola. Com a queda das receitas petrolíferas, ela é uma saída? Entende que foi e é subestimada?
Joilson – Então, eu concordo com ele. O que o Aluysio Barbosa defendia estava certo. Não poderíamos ter perdido a nossa vocação agrícola, principalmente a cultura da cana. Eu acho que agora é momento de voltar. Eu não sei como fazer com as usinas que estão sucateadas, se algumas que podem ser voltar a ser operadas. Mas, eu tenho a certeza que a nossa saída vai ser o agronegócio. Que seja com a cana de açúcar, com a pecuária ou com outras lavouras que a nossa região tenha vocação. Nós temos uma região propícia para o agronegócio com muita baixada, água e terra produtiva.
Renato – Algumas vezes tive oportunidade de conversas com o Aluysio Barbosa sobre o tema. Apesar de ser finito, o petróleo continuará durante anos, a principal fonte de receita da região. Mário Henrique Simonsen (economista, professor, banqueiro e ex-ministro da Fazenda, falecido em 1997) costumava dizer que sempre depois de um “oba-oba” vem um “epa-epa”. Foi o que aconteceu no início das receitas de royalties. Com certeza o agronegócio, tanto na cana como na pecuária, continuará tendo importância para a região. Contudo, as indústrias de 2ª e 3ª geração derivadas do petróleo, a meu ver, terão crescimento enorme, bem como a geração de energia.
Ricardo – Vivenciei ativamente o período do início do ciclo do petróleo na bacia de Campos, e está muito viva na minha memória a projeção que fazia Aluysio Barbosa em seus comentários, em várias oportunidades, sobre o manancial finito que é o petróleo. Foi a partir daí, que houve uma queda da atividade da monocultura da cana de açúcar. Acho que, embora reduzida, a vocação agrícola ainda está viva, necessitando de incentivos para a retomada dentro dos padrões atuais de tecnologias e diversificações.
Folha – Em entrevistas ao programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, quase todos os pré-candidatos a prefeito de Campos entrevistados falaram em necessidade de redução da máquina municipal. Até a ex-vereadora Odisséia Carvalho, do PT, partido tradicionalmente ligado aos servidores públicos. Mas nenhum deles deu detalhes de como e onde. Qual a sua visão?
Joilson – Eu acho que já respondi essa pergunta. Eu faria o que falei antes. Eu enxugaria a máquina com quem não estivesse produzindo. Quem não estivesse produzindo, eu iria demitir como faço em minha empresa. Eu chego lá e vejo o setor que está improdutivo e vou tirando as pessoas que não querem produzir. Em alguns casos até encerro as atividades do setor que não tem necessidade.
Renato – Uma coisa é o discurso de campanha, a outra é a efetiva execução. Acho muito difícil e será muito problemático o corte de pessoal, porém, não vejo outra alternativa. Começando pela não contratação da enorme quantidade de assessores que sempre fazem após a posse. Isso nada mais é do que uma forma indevida de pagamento pelo apoio na campanha.
Ricardo – Não basta apresentar as dificuldades sem apresentar estratégias de como superá-las. Na verdade, é o que temos vivenciado. É necessária a clareza nas intenções e na apresentação de soluções. Quem não as tem, não está preparado para o comprometimento, e não deveria se propor ao cargo. Soluções mágicas após assumir não acontecem. O que se vê são exemplos dos que assumem e passam todo mandato a lamentar e acusar erros anteriores, que não foram poucos, mas que nada contribuem para o momento.
Folha – Sempre mais visível em quem está no poder, a contradição entre o discurso de campanha e a realidade do governo é realçada na pré-candidatura à reeleição do prefeito Rafael Diniz (Cidadania). Que, em 2016, prometeu manter programas sociais, valorizar o servidor e, em 2020, enfrenta a rejeição por não ter cumprido. Em que o prefeito errou? Como ele ou qualquer outro adversário de novembro poderiam acertar entre discurso e realidade?
Joilson – Isso é uma questão de gestão. Prometer e não cumprir geralmente acontece por falta de planejamento ou conhecimento da máquina pública. Se fizer um discurso que não possa cumprir, qualquer pessoa ou pré-candidato que fizer isso estará mentindo. Mais importante que acertar o discurso é acertar na gestão, buscar o menor custo com o orçamento que se tem nas mãos.
Renato – Valorizar os servidores, criar programas sociais tipo: saúde, transporte, educação e investir em infraestrutura. Isso nada mais é que governar. Quanto mais se valoriza um servidor, maior retorno ele traz para a estrutura. Imagine um setor, com três funcionários e somente um que trabalha. Que motivação pode ter esse trabalhador?
Ricardo – O erro é sempre o desequilíbrio entre o interesse político e a realidade, que induz a assumir como comprometimento as impossibilidades. É necessário sinceridade nas intenções, não prometer o que não está fundamentado em dados relevantes, que devem ser analisados e discutidos com a equipe técnica que irá compor a administração. Tem que ter compromisso com a verdade. Fatos novos podem ocorrer, como estamos vivenciando com a pandemia, que obrigam a mudanças de estratégias, mas são claramente identificáveis pela população.
Folha – Outro pré-candidato a prefeito de Campos no Folha no Ar, Roberto Henriques (PC do B) classificou de “modelo perdulário” o que teria sido instalado no município a partir do governo Arnaldo Vianna (PDT), com inchaço da máquina pública custeado pelo incremento substancial das receitas do petróleo. Para Henriques, isso foi mantido nas gestões Alexandre Mocaiber (sem partido), da qual foi vice, e Rosinha Garotinho (hoje, Pros). Concorda?
Joilson – Todos têm o direito de expressão e eu respeito isso. Mas eu não sei dizer se eles acertaram ou erraram. Naquela época havia recursos para isso, pode ter sido uma medida para utilizar os royalties do petróleo. Não estou dizendo que concordo com esse modelo, estou dizendo que talvez tenha sido isso. Mas do jeito que está hoje tem que se cortar isso tudo, não tem jeito. É uma questão de decisão.
Renato – Ninguém em sã consciência pode concordar com o inchaço da máquina administrativa. Todos prometem cortar, mas o corporativismo é muito grande e o desgaste político no primeiro momento também. Caso tenha coragem, fazer um trabalho de redução de pessoal de forma organizada é de suma importância, não com o paternalismo barato. Com certeza o desgaste inicial se tornará um grande sucesso.
Ricardo – Prefiro fazer uma analogia como se estivéssemos numa UTI em estado grave, como é a situação do município. Precisaríamos da cura naquele momento, não nos ajudaria saber o que ocasionou o acidente. Por isso, até mesmo por não participar de política, prefiro deixar esse foco e pedir empenho para as soluções atuais.
Folha – Campos tem 14 mil servidores concursados na ativa, ao custo de R$ 60 milhões/mês. A reforma administrativa, que ninguém cogita entrar na pauta do Congresso antes de 2021, não deve mexer em direitos adquiridos. Presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ) frisa que a estabilidade só seria alterada em concursos futuros. Concorda que os acordos já feitos têm que ser respeitados, como com as empresas? Ponto biométrico rigoroso, suspensão de benefícios e programas de demissão voluntária são válidos para tentar enxugar a folha?
Joilson – Volta novamente na questão de gestão. Isso tudo tem um comportamento de negociação. Quando a gente parte para uma gestão que está com turbulência, com custo alto, com deficiências na máquina que não funciona porque está pesada, você vai para uma negociação para enxugar tudo isso. Você vai para negociar com as pessoas e achar um melhor caminho. Não adianta você ficar com a máquina pesada demais e um custo muito alto, porque você vai estar sacrificando as pessoas que produzem. Isso pode ser negociado com os sindicatos, as lideranças, ou com quem quer que seja, para mudar o resultado.
Renato – Temos esses 14.000 funcionários, sem contabilizar os inativos (4,5 mil, ao custo de R$ 15,5 milhões/mês). Existe na Constituição a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que obriga os administradores a manter o limite para gastos com pessoal. Normalmente, a forma de estourar esse limite é por exemplo contratando ONGs ou empresas fornecedoras de mão de obra, isto faz com que ultrapasse a receita não sobrando dinheiro para investimentos. Precisamos com urgência de uma reforma administrativa.
Ricardo – Com certeza que acordos já realizados têm que ser respeitados. Mas todos os demais mecanismos, como rigor em pontos biométricos, suspensão de benefícios e programa de demissão voluntária devem ser aplicados, como têm sido utilizados em empresas estatais. O foco, tem que ser redução de custos e aumento da produtividade.
Folha – Os dois maiores gargalos da folha são Saúde e Educação. E professores e médicos estão entre as categorias mais mobilizadas, ruidosas e importantes em qualquer sociedade. No lugar do confronto, a solução não seria propor um grande pacto?
Joilson – Eu concordo com isso, tem que negociar. Tem que se chamar todo mundo para perto e negociar. Utilizar das melhores práticas de negociação para ambas a partes. Tem que ter ação, ter atitude e não pode ficar no conflito com um de cada lado. Tem que chamar para a negociação. E eu tenho certeza que essas pessoas, principalmente os educadores e os médicos, tenham sensibilidade e saibam o que pode ser feito e o que não pode. São pessoas inteligentes, que com o diálogo vão entender o que precisa ser feito, basta mostrar o caminho.
Renato – As categorias mais mobilizadas citadas, deveriam ser melhores remuneradas e mais cobradas. Certamente, alguns fingem que trabalham e os governantes fingem que pagam e cobram. Precisamos de maior produtividade com maior salário. Com isso, podemos reduzir fortemente o quadro de pessoal, sem afetar o resultado final.
Ricardo – Realmente Saúde e Educação trazem um maior peso, pela relevância das suas atividades em qualquer sociedade. Por isto, seus movimentos repercutem de forma intensa, dando a eles condição de inflexibilidade nas negociações. Soma-se a isso que a condição de trabalho, que lhes é oferecida, tem estado sempre aquém do ideal, tanto na Saúde, como na Educação. Confronto não é a solução, há de se pactuar.
Folha – Além dos servidores concursados, Campos tem cerca de mil DAS, ao custo de R$ 3,2 milhões/mês, e 4 mil RPAs, ao custo de R$ 6 milhões/mês. Que hoje estariam reduzidos a 1,5 mil RPAs ativos, ao custo de 2,5 milhões/mês, por conta do fechamento de equipamentos pela pandemia. Eventuais cortes teriam que passar antes por esses DAS e RPAs?
Joilson – Então, isso é outro conflito. É gestão, tem que se tomar uma decisão. Não tenho nem o que responder sobre isso.
Renato – Essa pergunta foi respondida de forma en passant em outro item. Contudo, agora vendo os números fico em dúvida se não são os RPAs e os DAS os que realmente trabalham no lugar da maioria dos 14 mil concursados.
Ricardo – É imprescindível a redução de despesas do orçamento. E RPAs e DAS representam prestadores de serviços; portanto, têm que ser analisados sem paternalismo, na relação custos e benefícios de cada um. Através de um levantamento poderia ser determinada a redução do que não é primordial.
Folha – Por outro lado, é a grande folha de servidores que garante mensalmente circulação substancial de dinheiro no comércio. Até que ponto a eventual redução do setor público não implicaria em redução nas vendas da iniciativa privada local?
Joilson – Essa é outra questão com a qual o gestor precisa se preocupar muito; ele tem que sair de um modelo e entrar em outro. Nós já falamos anteriormente da potência que era a nossa região com a cana de açúcar. Por que entrou o petróleo e saiu a cana de açúcar? Porque houve uma decisão naquele momento, entraram os royalties do petróleo, não deram mais valor ao agronegócio e à indústria açucareira. Agora, talvez, voltando o agronegócio, você vai substituir uma coisa pela outra. Mas isso para mim não é o certo. O certo seria a nossa economia contar com as duas fontes de renda. Como, no momento, não será possível, é preciso buscar alternativas com a iniciativa privada para que os recursos voltem a girar.
Renato – Com certeza a folha dos servidores ajuda com a circulação do dinheiro no setor privado, porém, caso parte da folha com a redução dos servidores fosse transferida, por exemplo, para a infraestrutura, o resultado seria bem maior e produtivo, e o dinheiro circularia do mesmo jeito, de forma mais eficaz. O excesso de funcionários é sempre um vetor contrário à capacidade de investimentos, pois o gasto excessivo reduz tal capacidade.
Ricardo – Quando se mantem uma alta folha de pagamento com um grande peso de ociosidade, como justificativa para circulação de recursos no comércio, estamos quebrando todas as regras de produtividade. Melhor seria que os recursos resultantes da redução da folha fossem carreados para incentivo ao crescimento da iniciativa privada, que teria como consequência aumento de arrecadação.
Folha – Com 240 creches e escolas, cerca de 100 unidades de saúde, 13 Centros de Referência de Assistência Social (Cras), oito Vilas Olímpicas, além de um Cepop e uma Cidade da Criança considerados monumentos ao desperdício de dinheiro público, outra tentativa de enxugamento não seriam os equipamentos municipais? Como fazer isso sem prejudicar os serviços ao cidadão, sobretudo o mais pobre?
Joilson – Eu vejo o seguinte, não podemos ignorar essas obras que foram feitas, aí sim, seria desperdício do dinheiro público. Acho que elas devem ser utilizadas, já estão prontas. Tem muitas emendas parlamentares que podem ser destinadas para esses setores. Tem que utilizar da gestão e do poder político para criar projetos e buscar essas emendas. Só assim poderia se manter esses órgãos tão importantes para a sociedade, sem o custo sair da máquina da Prefeitura.
Renato – Sinceramente, não tenho conhecimento suficiente para responder a esta questão. Para responder precisaria conhecer os referidos projetos, que não é o meu caso.
Ricardo – Com relação aos equipamentos da parte assistencial, poderiam ser reduzidos através de adensamento das unidades, com melhor equipamento e atendimento, ainda que houvesse um maior afastamento entre eles, com relação aos equipamentos comunitários. Vilas Olímpicas, Cepop e Cidade da Criança são situações já instaladas. Tem-se que estabelecer metas que mantenham o sentido social, mas que também possam ter um sentido financeiro.
Folha – A conta do desperdício dos royalties começou a chegar a partir do final de 2014, com a queda do preço do barril de petróleo. Não por acaso, a partir dali o governo Rosinha realizou suas três “vendas do futuro”. Os garotistas tentam minimizar seu impacto, que comprometeram as receitas do petróleo de Campos até julho 2026. Como avalia o que foi feito, suas consequências e a alternativa do município recorrer a novos empréstimos?
Joilson – Por isso que às vezes eu falo que os poderes precisam estar descolados. Precisam ter as próprias decisões. Eu acho que Executivo e Legislativo têm muita culpa nisso. Venderam algo que eles não tinham. Venderam uma receita futura, isso não poderia ter acontecido.
Renato – Vender o jantar para comprar o almoço é sempre uma forma de esperar que, com certeza, no futuro a conta virá. O endividamento nunca foi nem será com raríssimas exceções uma forma de resolver problemas e, sim, postergá-los.
Ricardo – Já à época dos empréstimos, poderia se vislumbrar claramente o estrago que a iniciativa provocaria no futuro. Entendo que parte poderia ter sido uma necessidade à época, pela queda do valor do barril de petróleo. O que é inaceitável é má utilização dos recursos com ações desnecessárias de cunho eleitoreiro. Não vejo como contrair novos empréstimos na situação atual.
Folha – Marcadas para agosto e setembro, se as convenções fossem hoje, o candidato garotista a prefeito do PSD talvez fosse o ex-vereador Fábio Ribeiro, não o deputado federal Wladimir Garotinho, como a Folha divulgou em primeira mão (confira aqui). Isso deve ser encarado como a confissão política de que o quadro financeiro da Prefeitura é financeiramente insolúvel?
Joilson – Essa é uma questão política, não tenho como responder. Prefiro não comentar sobre nomes, até porque é uma questão interna de um partido.
Renato – Essa é mais uma resposta que vou ficar devendo à Folha da Manhã. Acho que não existe problema insolúvel e, sim, falta de criatividade.
Ricardo – É muito claro que as dificuldades para o próximo mandato serão enormes, ainda que seja uma gestão comprometida com uma administração séria, com novos conceitos, baseados em técnicas administrativas de alto nível, estará sofrendo consequências de atos anteriores. Isto com certeza é motivo para o desinteresse daqueles que querem utilizar o mandato para projeção pessoal.
Folha – Em valores corrigidos pelo INPC, Campos recebeu de royalties e participações especiais (PEs) R$ 4,67 bilhões de 1999 a 2004, com Arnaldo; 6,94 bilhões de 2005 a 2008, com Mocaiber; e 12,06 bilhões de 2009 a 2016, com Rosinha. Em conta que desce a ladeira para 2021, Rafael teve, até 2020, R$ 1,84 bilhão. Juntos, os três prefeitos anteriores tiveram 23,67 bilhões. Acredita que os quase 600 mil campistas tenham a noção da chance histórica que a cidade desperdiçou? Qual seu legado, além de uma máquina inchada e insustentável?
Joilson – Você observa que existe um conflito de pensamento. Com a quantidade de recursos que tivemos, se fosse pensado de forma empresarial, com visão de resultado a longo prazo, a nossa situação hoje seria bem diferente. Houve um desperdício muito grande porque não pensaram a nossa cidade a longo prazo.
Renato – Se é que eu entendi bem os números, de 1999 a 2004, a média foi de 1,6 bilhões/ano. De 2005 a 2008, de 1,77 bilhões/ano. De 2009 a 2016, de 1,7 bilhões/ano. A grande queda foi no governo Rafael, que caiu para menos da metade da média anterior. Não sei se foi somente pela queda do petróleo que flutuou bastante durante o período ou se foram as antecipações.
Ricardo – Muitos poucos campistas têm noção dos valores que poderiam nos ter colocado como cidade numa condição de destaque no cenário nacional, com a correta destinação dos royalties em infraestrutura urbana. E o que fizemos de plausível em infraestrutura? Absolutamente nada que promovesse desenvolvimento. Os valores foram gastos na sua grande maioria em ações de interesses próprios.
Folha – Entrevistado neste painel, Joilson Barcelos cogitou (confira aqui) se lançar à Prefeitura, mas recuou (confira aqui). Pesquisas qualitativas indicam que um empreendedor de sucesso e experiente, como o governador mineiro Romeu Zema (Novo), teria simpatia de parte do eleitor campista. Mas quase nenhum prefeitável tem esse perfil. Talvez o único, o empresário Marcelo Mérida teve votação a deputado federal aquém do esperado em 2018 e tem sua pré-candidatura pelo PSC esvaziada pela situação difícil do governador Wilson Witzel. Vê esse espaço?
Joilson – Então, não basta querer e nem poder. A definição de um nome para se candidatar à Prefeitura de Campos depende de uma série de quesitos. Já disse anteriormente que prefiro evitar fazer juízo de valor sobre nomes. Quanto à sondagem do meu nome, só posso me sentir honrado, agradecer e dizer que o futuro a Deus pertence.
Renato – Acho política uma atividade muito nobre, isto é, quando se faz a boa política, não vejo com bons olhos um empresário bem sucedido participando de política partidária como candidato. Como exemplo, cito o grande empresário paulista Antônio Ermírio de Moraes (falecido em 2014) que, em todas as investidas como candidato, sacrificou suas empresas sem nenhuma contribuição para a política nacional. Este é o conselho que sempre dou aos meus amigos empresários.
Ricardo – Acho necessário que o prefeito seja um empreendedor por formação ou por vocação, que saiba manter um perfeito equilíbrio entre a técnica administrativa e a política.
Publicado hoje (08) na Folha da Manhã
CRIATIVIDADE foi a palavra mais importante da entrevista.