Campos dos Goytacazes tem solução
No último sábado (26), a Folha publicou seu último painel sobre a principal questão real de Campos: sua grave crise financeira. Dedicados não só à discussão do problema, como à busca de alternativas, o jornal promoveu 11 entrevistas coletivas (confira a série sobre o tema aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) com servidores, sindicalistas, empresários, juristas, jornalistas, gestores universitários e especialistas nas áreas de economia, finanças, ciência política, antropologia e sociologia. A despeito das várias diferenças de formação e visão, todos foram unânimes ao reconhecer a gravidade da situação econômica do município. Que já afeta e continuará a afetar diretamente a vida dos mais de 507 mil campistas.
Como principal jornal e grupo de comunicação da região, coube à Folha reunir e ecoar essas vozes embasadas, relevantes e múltiplas da aldeia goitacá. E elevá-las sobre os tambores de guerra das eleições de novembro, a todos os 11 candidatos a prefeito de Campos. Aos quais a sociedade não permitirá se fazerem de surdos. Com suas muitas variantes, a questão central é: como administrar um município com orçamento para 2021 estimado entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,7 bilhão, com um total de gastos projetado em R$ 2 bilhões, entre os quais R$ 1,1 bilhão já comprometido só com folha de pagamento de servidor? Quem não souber responder à pergunta, que não é simples, não merece governar a cidade. E, se eleito, agravará o problema.
Para quem a ficha ainda não caiu, vale a advertência: os meses de atraso no pagamento dos RPAs, os prédios públicos municipais às escuras por contas de luz vencidas, a falta de dinheiro até para tapar os buracos que se multiplicam nas ruas, e os adiamentos no pagamento dos servidores aposentados e pensionistas, podem ser só a ponta do iceberg. Com o R$ 0,00 de participação especial de petróleo em agosto, fato inédito na maior fonte de receita de Campos nos últimos 20 anos; com a partilha dos royalties já aprovada no Congresso e com julgamento marcado no Supremo Tribunal Federal (STF) para 3 de dezembro; com o Estado do Rio acéfalo pelos sucessivos escândalos de corrupção; e com a crise econômica nacional da pandemia da Covid-19, que se espera chegar com força em 2021; o que já está ruim pode se tornar pior.
Como frisaram vários dos entrevistados nos painéis promovidos pela Folha: “Não há solução mágica para Campos. E quem disse o contrário, estará mentindo”. Neste sentido, nas páginas 2 e 3 desta edição, o jornal abriu sua série de sabatinas com os 11 candidatos a prefeito da cidade. Que serão também entrevistados ao vivo no programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, em duas rodadas quase consecutivas. A ordem das entrevistas foi definida por sorteio (confira aqui) na última segunda (28), diante do acompanhamento virtual dos representantes das 11 candidaturas. Hoje (03), coube à candidata Professora Natália (Psol) estrear (confira aqui) a série no jornal. Ela analisou a crise financeira, tentou explicar aparentes contradições e apresentou suas propostas de governo. Como será feito a partir das 7h15 da manhã desta segunda (05), quando o candidato Dr. Bruno Calil (SD) estreará a série da Folha FM.
Em um ano que a InterTV não promoverá seu tradicional debate eleitoral no primeiro turno, essas sabatinas individuais com os candidatos, em jornal, rádio e pelo streaming no Facebook, terão importância redobrada. Serão fundamentais na escolha consciente dos mais de 360 mil eleitores de Campos aptos a votar em 15 de novembro. Como a série de painéis sobre a crise financeira do município, promovida pela Folha antes da campanha eleitoral começar, com o peso dos representantes da sociedade ouvidos, tem sido até aqui fundamental para que “soluções mágicas” não sejam apresentadas, na tentativa de enganar o eleitor.
Como frisa hoje Natália: “Não nos enganemos, a crise é bem profunda, não existem soluções mágicas”. Por isso mesmo, é mais difícil acreditar quando ela disse ser possível retomar programas sociais como o Cheque Cidadão e a Passagem Social. A despeito do uso eleitoreiro e até criminoso de alguns desses programas em passado recente, retomá-los em critérios republicanos é um desejo legítimo. Sobretudo em uma candidata de esquerda. E de qualquer um, independente de ideologia política, que não seja cego às gritantes diferenças sociais de Campos como “espelho do Brasil”, na analogia atribuída ao ex-presidente Getúlio Vargas.
A questão de Campos não é de desejo, mas aritmética. E ela não se resolverá com uma canetada, como pretendido por Natália: “temos uma proposta de garantir 3% do orçamento para a política de Assistência”. Que também disse: “Campos é uma cidade enraizada com aspectos políticos muito conservadores, patronais e patriarcais. A nossa candidatura representa um rompimento (…) garantirmos um maior espaço para as nossas vozes”. E, se ela está certa, sua contradição entre desejo social e realidade financeira não gera maiores consequências. Mas se repetidas por candidatos a prefeito considerados competitivos, como Wladimir Garotinho (PSD) ou Caio Vianna (PDT), será necessário afirmar: Estão mentindo!
Como o prefeito Rafael Diniz (Cidadania), a despeito da situação falimentar em que herdou o município após 27 anos de desperdício dos royalties, hoje paga o preço por ter prometido em 2016 o que ninguém poderia cumprir. Contrário ao slogan vencedor de quatro anos atrás, além da gestão, o problema também era dinheiro. E ele se agravou de lá para cá.
Assim que as eleições forem concluídas, ou em 15 de novembro, ou, mais provavelmente, no segundo turno do dia 29 do mesmo mês, vencedores e vencidos, candidatos e eleitores, terão três obrigações intransferíveis. Que serão muito mais importantes que o resultado das urnas: curar as feridas da campanha, sentar e conversar.
Campos tem solução. Mas não será “mágica”. Como não será rápida, simples ou indolor. Com união, franqueza, diálogo, firmeza e coragem, será difícil. Sem, os bravos índios goitacá, se vivos, não aceitariam devolução.
Publicado hoje (03) na Folha da Manhã
Parabéns Aluysio!
Mais um belo texto!
Ansiosa pelas entrevistas dos prefeitáveis e suas propostas milagreiras, pra tirar Campos do buraco negro que se encontra.
Abs.
Basta ser politico pra ser mentiroso, todo mundo sabe que a prefeitura de campos, abriga sob o manto de emprego milhares e milhares de pessoas a pedido, o que consome um percentual enorme no seu orçamento e como diminuir esse contingente, se são a eles prometidos de continuarem, a alguns que nao fazem absolutamente nada. Tudo balela.
Na minha opinião para haver mudança tem que sair o prefeito e todos os 25 vereadores, que foram eleitos pelo povo e nada fizeram em beneficio do povo nesses 4 anos.