Campos tem poucas heranças boas dos quase R$ 25 bilhões, em valores corrigidos, das receitas petrolíferas dos royalties e Participações Especiais (PEs) que recebeu nos últimos 20 anos. Uma delas, certamente, é a condição de polo universitário da cidade. Em um país onde as universidades públicas, a despeito dos ataques sofridos pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) e seus apoiadores, ainda mantêm uma grande diferença de qualidade sobre as privadas, a Folha FM 98,3 ouviu cinco representantes da Uenf, da UFF-Campos e do IFF na última semana antes do pleito a prefeito de hoje. E através deles, buscou entender melhor o processo eleitoral que determinará o governo dos mais de 507 mil campistas, como os 11 nomes que se candidataram à missão. Que é particularmente difícil pela grave crise financeira do município, que teve suas duas últimas PEs zeradas, fato inédito nesses últimos 20 anos.
No programa Folha no Ar, carro-chefe da rádio mais ouvida de Campos e região, a Folha FM ouviu o cientista político Hamilton Garcia, professor da Uenf, no início da manhã de segunda (09); o professor Raul Palacio, reitor da Uenf, na terça (10); o cientista político e sociólogo George Gomes Coutinho, professor da UFF-Campos, na quarta (11); o sociólogo Roberto Dutra, professor da Uenf, na quinta (12); e o professor Jefferson Manhães de Azevedo, reitor do IFF, na sexta (13). E, após analisar a eleição a prefeito de Campos, onde quase todos apostaram em um segundo turno entre Wladimir Garotinho (PSD) e Caio Vianna (PDT), eles se dispuseram a analisar individualmente cada um dos 11 candidatos. Homens da ciência, sendo que Raul e Jefferson acrescem sua bagagem teórica da experiência administrativa das duas maiores instituições de ensino da região, eles não pretenderam ditar verdades. Mas suas opiniões têm o valor do que de melhor a cidade produziu em pensamento nos últimos 20 anos. E podem ajudar o cidadão comum a formar sua opinião, nem que seja para discordar:
Wladimir Garotinho — “É o desafio da mudança geracional. Nem sempre a gente tem bons sinais disso”, advertiu Hamilton Garcia. “Está no segundo turno. Tem grande possibilidade de ser o prefeito de Campos”, apostou Raul Palacio. “Wladimir Garotinho é o herdeiro do maior capital político que Campos conseguiu gerar pós-1988”, historicizou George Gomes Coutinho. “É um jovem político promissor que tenta se descolar da imagem de filho de um grupo político”, analisou Roberto Dutra. “É um jovem que vai ter que mostrar que tem identidade própria, se ele quiser construir um futuro diferente”, projetou Jefferson Manhães de Azevedo.
Caio Vianna — “Wladimir teve a experiência parlamentar (como deputado federal), está mais apetrechado que o Caio Vianna, que me parece muito arrogante”, comparou criticamente Hamilton. “É o candidato que eu acho que pode somar todas as outras forças. Caio, no caso de ir para o segundo turno, vai se colocar como o candidato que pode somar todas aquelas forças”, projetou Raul. “Para a imaginação política local, ele representa as boas memórias que eu acho que parte da população tem do governo Arnaldo Vianna”, destacou George. “Um jovem político promissor também, mas ainda muito inexperiente e que não faz um esforço tão grande de se descolar da imagem de filho de um grupo político”, apontou Roberto. “Uma pessoa que tem, pelo menos, consciência das questões. Mas também precisa da experiência prática para verificar se a fala, o discurso, e o fazer são coerentes”, cobrou Jefferson.
Dr. Bruno Calil — “Acho que ele não se preparou adequadamente para essa eleição”, questionou Hamilton. “Talvez não seja este o seu momento, mas é uma pessoa que tem futuro na política”, analisou Raul. “Agente político que se apresenta neste pleito com bastante ambições. Mas, politicamente, me parece um artefato muito recente ainda”, ressalvou George. “Um jovem político sem experiência, mas que representa algo muito promissor no município de Campos, que é a diversidade regional”, destacou Roberto. “Não foi ao debate do Fidesc (em 5 de novembro) e a nenhum outro. O que é uma postura, para mim, muito ruim para um jovem que se coloca para os desafios da sociedade”, criticou Jefferson.
Rafael Diniz — “Um prefeito que enfrentou a crise, não foi bem sucedido, mas pelo menos ele sabe o tamanho do pepino que ele tem que administrar”, frisou Hamilton. “O prefeito que eu acho que todo mundo deveria avaliar o que ele fez. E realmente, em algum momento, entender a situação (financeira) em que está a cidade. Hoje, certamente, é o cara que melhor conhece a cidade”, avaliou Raul. “Ele assumiu demais uma postura gerencialista, demasiadamente gerencialista. Que, sem dúvida alguma, é pauta de parte da classe média e dos grupos empresariais de Campos, mas não é pauta majoritária da população”, questionou George. “Rafael Diniz é uma pessoa respeitável, honesta, honrada. Mas que, infelizmente, eu votei nele, fracassou na gestão política das expectativas que ele criou e que se criaram em torno dele”, lamentou Roberto. “Teve uma gestão que não conseguiu superar, dentro dos limites; ou não comunicar a complexidade para que as pessoas pudessem compreender. Então, isso talvez seja o indicador da rejeição que ele vem trazendo”, ponderou Jefferson.
Professora Natália — “É uma promessa interessante, mas que ainda não galgou o lugar de uma alternativa política”, definiu Hamilton. “A Natália talvez seja a melhor candidata que tem neste momento. Vai ter um futuro político tremendo dentro da cidade. Não vai ser nesta eleição, infelizmente, mas ela vai ter um bom resultado nas próximas eleições”, apostou Raul. “Tive o prazer e a honra de ter Natália como estudante na UFF, na graduação; eu fui professor dela. Primeiro, ela é uma excelente estudante, aplicadíssima, apaixonada pelo conhecimento. Ela me parece uma liderança ascendente, uma liderança popular sensível e ascendente”, testemunhou George. “Acho que é uma liderança promissora, mas que, em algum momento, se quiser se tornar uma liderança popular, vai ter que enfrentar os problemas do seu partido e do seu entorno político universitário, que não é popular, mas acha que é”, questionou Roberto. “Fiquei muito impressionado com essa jovem. Não sei se ela vai ter êxito, não me parece. Mas o êxito na política não se dá no momento, se dá na história. É uma pessoa que está alavancando esperanças”, registrou Jefferson.
Odisséia — “Não sei naturalmente nos números (de intenções de voto nas pesquisas), me parece que não vai ter êxito. Mas é uma pessoa que tem uma história de vida muito importante”, disse Jefferson. “Representa a irrelevância que o PT sempre teve em Campos. Inclusive, ela teve participação com o PT em governos (municipais) anteriores, apoiou, e representa o fracasso do PT no Estado do Rio”, criticou Roberto. “É uma mulher que tem longa tradição sindical no Sepe, ela conhece as questões, os desafios da educação regional”, elogiou George. “Ela representa o PT e talvez, no meu ponto de vista, o que o pessoal denomina como a ‘política velha’. Eu a considero uma professora muito boa, uma candidata boa, mas eu teria gostado que o PT trouxesse nomes novos”, questionou Raul. “Ainda muito presa à pauta sindicalista e também pouco projetada numa candidatura política ampla da cidade”, avaliou Hamilton.
Tadeu Tô Contigo — “Respeito profundamente porque me parece ser uma pessoa que representa um campo, seja como ele diz, conservador, mas de muitos valores, de muitas tradições importantes e necessárias”, pontuou Jefferson. “Um candidato com cara moderada de um projeto de uma igreja aliada a um projeto político, aliado a um projeto político nacional do bolsonarismo, que graças a Deus não tem chance de prosperar”, profetizou Roberto. “Parece que ele faz um pouco da linha dos comunicadores que se lançam, que têm um apelo popular importante e se lançam como nome político. Como o Celso Russomano, por exemplo, em São Paulo, mas com menos capital político que ele”, comparou George. “Tadeu representa o grupo da Record. Embora ele tenha as suas propostas, eu acho que não tem um futuro político. E acho, sinceramente, que ele já foi vereador e não conseguiu se reeleger”, lembrou Raul. “Pode vir a surfar ondas como comunicador, com as suas promessas. Mas acho que está distante de entender o que está acontecendo com a cidade”, ressalvou Hamilton.
Roberto Henriques — “Acho que ele é um nome importante da nossa cidade. E mostrou isso ao longo do tempo, a sua coerência”, elogiou Jefferson. “Ele representa alguma coisa que Campos já teve, é um candidato que vem do Muda Campos (movimento político que levou Garotinho à Prefeitura pela primeira vez, em 1989), mas é irrelevante também, sem nenhuma chance no jogo”, avaliou Roberto, o Dutra. “É um político experiente, tem uma trajetória de ter circulado em diversos partidos. É um homem que conhece a política local e, assim como eu falei no caso da Odisséia, eu acho que ele seria um interlocutor importante em qualquer governo”, avaliou George. “Eu diria que é o ‘camaleão’ entre todos os candidatos. É uma pessoa excelente de conversa, eu já tive muito relacionamento com ele. Mas, talvez, já tenha passado o tempo dele”, ressalvou Raul. “Talvez seja o único candidato com uma consciência muito clara, essa visão; eu não vejo nos outros”, destacou Hamilton.
Cláudio Rangel da Boa Viagem — “Desconheço completamente. Também não esteve no debate nosso (do Fidesc), eu não tive essa oportunidade. Não posso falar nada, porque realmente não o conheço”, registrou Jefferson. “Considero um candidato irrelevante politicamente, não o conheço como pessoa”, disse Roberto. “Eu acho que ele também é um sintoma desse movimento da direita brasileira. Você criou os comunicadores, você criou a ideia do empresário/político. Às vezes o cara pode ser muito bem sucedido no âmbito privado e ser um desastre na vida pública”, analisou George. “Como empresário, eu acho que ele demonstra capacidade. Mas, como político, eu acho que ele não se preparou”, questionou Raul. “Ele me surpreendeu nas entrevistas com vocês (no Folha no Ar). Porque apesar do pouco preparo escolar, de expressão, de mídia, ele surpreendeu pelas boas ideias, pelo entendimento que ele tem da realidade”, elogiou Hamilton.
Jonathan Paes — “Acho que ele ainda precisa amadurecer um pouco nas reflexões e na abordagem, na forma que fala. As pessoas públicas, os líderes, têm que ser firmes, mas têm que ser muito cautelosos no formato, na sua ênfase e nas palavras que usam”, aconselhou Jefferson. “Ele até me surpreendeu, é uma pessoa articulada retoricamente, representa bem essa verve agressiva do bolsonarismo, mas mostra também como as eleições municipais são municipais. Campos é uma cidade conhecidamente bolsonarista, que elegeu Bolsonaro, que deu muito voto a Bolsonaro e nem por isso colocou um candidato de Bolsonaro em condições de ganhar, ou de disputar a prefeito agora”, ressaltou Roberto. “Parece um pouco o representante do bolsonarismo avant la léttre (“antes do estado definitivo”). Porque é o tipo de nome que poderia acontecer mesmo, para surfar uma onda. Mas me parece que não colou, não vingou”, endossou George. “Representa, talvez, o pior candidato de todos. É o candidato do ódio, o candidato da agressividade e ele se esforça para poder colocar isso”, criticou Raul. “É muito impetuoso, mas talvez não tenha condições de assumir responsabilidades maiores”, resumiu Hamilton.
Dra. Carla Waleska — “Eu realmente não a conheço. Sei que é uma médica, uma pessoa que tem uma formação, me parece, de bastante densidade”, disse Jefferson. “Acho que o PSDB em Campos não tem uma candidatura ainda à altura do que o partido buscou ser aqui. E já foi até, como por exemplo com Paulo Feijó (ex-deputado federal e 3º colocado a prefeito de Campos na eleição disputada de 2004)”, lembrou Roberto. “A Carla é um nome muito recente. Mas eu acho que o PSDB e o PT local têm desafios que ainda não conseguiram responder totalmente, dado o tamanho dos dois partidos nacionalmente”, analisou George. “Foi muito conturbado o processo do PSDB: primeiro não tinha (candidato a prefeito), depois tinha, depois não tem mais e, agora, colocaram a Carla Waleska. Não se faz uma imagem política assim, aos 45 minutos do segundo tempo”, avaliou Raul. “Eu não tenho grandes informações, não saberia dizer. Entrou no final do segundo tempo e não fez aquecimento”, concordou Hamilton.