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Em 10 de outubro, antes da divulgação de qualquer pesquisa a prefeito de Campos, foi registrado aqui, neste mesmo espaço, em outro artigo de análise: “se o encontro entre eleitor e urna fosse hoje, um segundo turno entre Wladimir Garotinho (PSD) e Caio Vianna (PDT) não pagaria muito nas casas de aposta”. O encontro foi ontem, 36 dias depois, quando as urnas revelaram: Wladimir e Caio disputarão o segundo turno em 29 de novembro. A certeza foi antecipada (confira aqui) às 22h15 de ontem, no blog Opiniões e no site Folha1, quando havia só 43,47% das urnas apuradas, por conta da divulgação lenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E só seria oficialmente confirmada meia hora depois.
Com 42,94% dos votos de ontem, Wladimir ficou e continua muito perto de ganhar a Prefeitura de Campos. Terá que fazê-lo em uma nova eleição contra Caio, que sai de 27,71% do eleitorado. Se o filho do ex-prefeito Arnaldo Vianna (PDT) conquistar, em 14 dias, os outros 22 pontos percentuais que precisa para se eleger, será um feito talvez sem precendentes. Mais que seu adversário nas urnas do segundo turno, o principal obstáculo que separa Wladimir do governo municipal é o TSE. Que ontem contabilizou seus votos como “Anulado Sub Judice”. O filho dos ex-governadores Anthony (sem partido) e Rosinha Garotinho (Pros) terá que tentar reverter no TSE o indeferimento do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ao seu vice (confira aqui), o industrial Frederico Paes (MDB). Ou, caso contrário, impedir que a condição do vice contamine toda a chapa.
Se a questão eleitoral de Campos não tivesse que ser definida na Justiça, infelizmente, não seria Campos.
Naquele mesmo artigo publicado em 10 de outubro, foi também registrada a força da campanha de Dr. Bruno Calil (SD). Comandada pelo deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD), eles fizeram ontem 13,17% dos votos. Se não ficaram nem perto de ameaçar a segunda posição de Caio, foi o suficiente para evitar que Wladimir ganhasse no primeiro turno. Também foi da candidatura de Bruno que, articulada por Rodrigo, saiu a ação contra Frederico, vice de Wladimir, por desincompatibilização fora do prazo da direção do Hospital Plantadores de Cana (HPC).
Justiça Eleitoral à parte, democracia só se constrói com debate. E um candidato como Bruno, que não foi a nenhum debate, cometeu um erro que nenhuma força de campanha pode ou deve superar na democracia. Ainda que Wladimir e Caio também tenham faltado a alguns, foram ao principal: o do Fórum Institucional de Dirigentes do Ensino Superior de Campos (Fidesc), em 5 de novembro, com transmissão ao vivo pela Folha FM 98,3 e pela PlenaTV. Presidente do Fidesc e reitor do IFF, o professor Jefferson Manhães de Azevedo, disse sobre Bruno, em entrevista (confira aqui) no Folha no Ar de sexta (13):
— Não foi ao debate do Fidesc e a nenhum outro. O que é uma postura, para mim, muito ruim para um jovem que se coloca para os desafios da sociedade, que precisa de diálogo, que precisa de discussão. Eu acho isso uma postura muito ruim.
O atual prefeito Rafael Diniz (Cidadania), presente a todos os debates, foi o grande perdedor da eleição. Eleito no primeiro turno de 2016, com uma votação consagradora de 151.462 votos (55,19% dos válidos naquele pleito), ele só conseguiu manter 13.350 eleitores (5,45%) quatro anos depois. Chegou a prefeito como vereador de oposição com brilho que nenhum edil teve na atual Legislatura. E mesmo que esta não lhe tenha feito oposição relevante em seus quase três primeiros anos de gestão, sairá dela como governante ensimesmado na Prefeitura e em seu pequeno círculo de colaboradores. Que não foram capazes de compreender que nunca foram donos dos votos que os levaram ao poder. Ou de acabar de perdê-los dentro dos incontáveis buracos das ruas de Campos, que não conseguiram tapar nem nos meses da campanha eleitoral.
Além de Rafael, o grande derrotado da eleição municipal de Campos, como em tantas outras cidades maiores e mais importantes do Brasil, foi o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Três candidatos pretendiam abocanhar ontem uma fatia dos campistas que deram ao capitão 147.437 votos (64,87%) no segundo turno presidencial de 2018. Dois anos depois, os prefeitáveis Tadeu Tô Contigo (Republicanos), Jonathan Paes (PMB) e Cláudio Rangel da Boa Viagem (PMN), juntos, não foram além dos 7.702 votos (3,11%). Somados, os representantes do bolsonarismo ficaram bem atrás da grande revelação da eleição majoritária de Campos, Professora Natália, do “comunista” Psol. Ela teve 11.622 votos (4,68%), pouco menos que Rafael.
“Campos é o espelho do Brasil”. A frase atribuída ao ex-presidente Getúlio Vargas foi confirmada pelas urnas da cidade, em reflexo às do país. Se Rafael foi fruto em 2016 da esperança no novo, ele antecipou o fenômeno nacional que alcançaria seu ápice em 2018, quando o “novo” foi encarnado em um parlamentar do baixo-clero há mais de 30 anos. Como, em 2020, Campos reflete o Brasil no retorno à aparente segurança dos grupos políticos tradicionais, ainda que representado por rostos novos. Na incerteza de um Brasil governado por um ex-militar, em disputas internas com militares, após ameaçar os EUA com pólvora, Campos afia a ponta das suas flechas goitacá para onde estava desde 2004. E reviverá outro segundo turno entre o garotismo e o arnaldismo.
A despeito do TSE e das urnas de 29 de novembro, a grande questão do município continua sendo a mesma colocada desde a abertura daquele mesmo artigo de 10 de outubro, que antecipou o resultado eleitoral de ontem:
— Após os 11 painéis promovidos pela Folha sobre a grave crise financeira de Campos (confira-os aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) publicados de 18 de julho a 26 de setembro, ouvindo 34 representantes da sociedade civil organizada, entre especialistas de economia, finanças, ciência política, antropologia e sociologia, além de juristas, jornalistas, gestores universitários, empresários e sindicalistas, restou pouca dúvida racional. Muito mais importante que saber o vencedor das eleições a prefeito de novembro está a necessidade de resposta à principal questão aos mais de 507 mil campistas: com um orçamento para 2021 projetado entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,7 bilhão e gasto previsto de quase R$ 2 bilhões, entre os quais R$ 1,1 bilhão já comprometido só com folha de pagamento de servidor, como Campos pode fechar essa conta?
Diria o poeta: “o tempo não para”.
Publicado hoje na Folha da Manhã
Quando vcs citam o servidor público, deveriam lembrar que de nós foi tirado plano de saúde e que estamos a 6 anos sem aumento dentro da inflação, portanto senso governantes entopem a máquina pública de siglas, não é culpa dos concursados.
Parabéns Aluysio e a Folha da Manhã, que deu total transparência aos eleitores, de fazerem sua escolha dos candidatos a prefeito nesse primeiro turno.