Debate da Folha — Caio e Wladimir ficam no “papai e mamãe”

 

Debate de quinta do Grupo Folha, entre os prefeitáveis Caio Vianna e Wladimir Garotinho, teve como destaque o mediador Cláudio Nogueira, que não é candidato (Foto: Rodrigo Silveira – Folha da Manhã)

 

 

O pai de quem ganhou? Foi a pergunta que ficou do debate promovido às 20h da noite de quinta (26) pelo Grupo Folha (confira aqui, na matéria do jornalista Aldir Sales) entre os candidatos Wladimir Garotinho (PSD) e Caio Vianna (PDT), que disputarão neste domingo (29) a Prefeitura de Campos. Em um debate dinâmico, mediado com maestria pelo radialista Cláudio Nogueira, gerente da Folha FM 98,3, o primeiro bloco foi dedicado à apresentação dos candidatos, onde as coisas caminharam em relativa paz.

 

Rafael apanha

Só quem apanhou, dos dois, foi o atual prefeito Rafael Diniz (Cidadania). “Pior governo da história” para Wladimir e “pior prefeito da história da cidade de Campos”, para Caio. Que, na sequência, deu a deixa do que viria: “Mas também precisamos lembrar que vários problemas que a cidade de Campos enfrenta começaram no passado, começaram na gestão da família do candidato Garotinho”, complementou Caio, que chamaria Wladimir pelo nome político do pai, adotado por toda a família que já foi aliada da sua, várias vezes durante o debate.

 

Transporte

Foi a partir do segundo bloco, com pergunta, resposta, réplica e tréplica entre os candidatos, sobre os temas transporte, crise financeira, educação e saúde, que os ânimos se acirraram. Após ser perguntado por Caio sobre o sistema tronco-alimentador implantado por Rafael, Wladimir prometeu acabar com ele na primeira semana de janeiro, chamando Rafael de “atual ex-prefeito”. E teve como réplica de Caio as lembranças às greves dos rodoviários no governo Rosinha, em 2012 e 2013. Na tréplica, Wladimir respondeu ao adversário: “como o candidato não mora na cidade, não conhece a realidade e não lembra dela”.

 

Crise financeira e túnel do tempo

Na sua vez de perguntar, com a crise financeira como tema (confira a série da Folha aquiaquiaquiaquiaqui, aquiaqui, aqui, aquiaqui e aqui), Wladimir tentou uma “pegadinha”, lembrando o que seu pai fez com Lula em debate pelo primeiro turno da eleição presidencial de 2002, quando indagou ao petista sobre a Cide. Na mesma “sopa de letrinhas”, o filho indagou a Caio sobre IPM, Declans e ICMS. E teve como resposta do pedetista: “toda a crise financeira hoje que o município enfrenta, tem dedo da sua família”. Como Garotinho com Lula há 18 anos, Wladimir ressaltou que sua pergunta técnica não tinha sido respondida, questionando o preparo do adversário. Caio contra-atacou: “O candidato Garotinho sabe tanto, que eles tiveram oito anos à frente da Prefeitura de Campos (com Rosinha, sem somar os anos do governo Garotinho/Arnaldo) e não soube responder a esse problema”.

 

Educação

Sobre o tema educação, Caio começou falando da gestão Rosinha, perguntando sobre suas notas baixas no Ideb. Wladimir investiu sobre a questão do preparo do adversário, perguntando a ele quais seriam as consequências para Campos de ter ficado sem nota no Ideb este ano, que o governo Rafael atribuiu a “falha humana”. O deputado federal disse já ter estado em Brasília para saber quais as consequências da falta da nota do Ideb. Ao perguntar se Caio sabia, este usou a réplica para retrucar na questão da ausência física da planície: “Talvez você tenha ficado tanto em Brasília, que você não conhece a realidade de Campos”. Na tréplica, Wladimir outra vez ressaltou que o adversário ignorava a resposta à sua pergunta.

 

Saúde

Com o tema saúde, Wladimir falou sobre seu projeto de criar uma central de referência pediátrica no PU de Guarus. E indagou a Caio a sua opinião. Que respondeu: “Lamentável que vocês optaram por construir uma Cidade da Criança, ao invés de construir um Hospital da Criança”. Na réplica, Wladimir lembrou que “a eleição é entre Wladimir e Caio”. Mas lembrou que o ex-prefeito Arnaldo Vianna (PDT) responde a 116 processos. Caio deu o troco na mesma moeda jurídica: “A diferença é que meu pai nunca foi preso, o seu foi preso cinco vezes; o seu pai e a sua mãe”.

 

Agricultura

No terceiro bloco, com as perguntas de tema livre, a coisa até pareceu que iria arrefecer quando Wladimir escolheu a agricultura para perguntar a Caio, lembrando seu projeto como deputado federal para mudança da classificação do clima do Norte Fluminense para semiárido, o que facilitaria crédito aos produtores rurais. Caio respondeu “na bola”, lembrando que o Fundecana, criado no governo Arnaldo serviu para auxiliar Frederico Paes, candidato a vice na chapa dos Garotinho, para manter funcionando a usina da Coagro. Na réplica, Wladimir acusou o adversário de florear e falou em criar uma central de abastecimento na antiga Ceasa, para reunir e escoar a produção do campo. Na tréplica, Caio disse que também projeta a central de abastecimento, mas lembrou que Rosinha teve dinheiro para fazer e não fez.

 

Servidores e PreviCampos

Na sua primeira pergunta com tema livre, Caio mirou nos servidores e no desvio de R$ 400 milhões da PreviCampos, no governo Rosinha, denunciado em CPI da Câmara Municipal. Wladimir negou, acusou a CPI de condução política pelo grupo de Rafael, que afirmou hoje apoiar o pedetista. Disse que sua mãe sempre pagou os servidores em dia e prometeu fazer eleição direta entre eles para escolher o presidente da PreviCampos. Na réplica, Caio insistiu: “Você vai recuperar o dinheiro da PreviCampos e correr o risco de colocar a sua mãe presa, ou vai penalizar os aposentados e pensionistas?”. Na tréplica, Wladimir advertiu: “Vocês viram que o candidato está nervoso, né? Inclusive, falando coisas aqui que nem deveria”.

 

Assistência social

Com o tema livre à sua escolha, Wladimir falou de população de rua e assistência social, prometendo reabrir o Restaurante Popular. Caio lembrou que o programa Vale-Alimentação do governo Arnaldo teve o nome mudado por Rosinha para Cheque-Cidadão “e todo mundo viu no que deu (…) comprar voto no período eleitoral (…) colocou o pai, a mãe dele, na cadeia”. Na réplica, Wladimir contra-atacou: “foi o Vale-Alimentação que deixou o candidato (eleito prefeito em 2004) que eles apoiaram, (Carlos Alberto) Campista, inelegível, e anulou uma eleição por compra de voto (gerando o pleito suplementar de 2006, vencido por Alexandre Mocaiber)”. Na tréplica, Caio parafraseou: “Ele tenta reforçar, como o pai dele deve ter ensinado, que uma mentira repetida várias vezes vira verdade” (máxima de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler). E prometeu retomar o Vale-Alimentação e também reabrir o Restaurante Popular.

 

O último round

No último round do debate, Caio partiu como o lutador que sabe estar perdendo por pontos e só resta tentar nocautear para vencer. Disse que Wladimir não o respondeu: “Sobre a PreviCampos, você não disse se vai recuperar o dinheiro aos cofres e correr o risco de colocar sua mãe presa, ou se vai penalizar os aposentados e pensionistas”. E perguntou qual o papel Garotinho tem na campanha e teria no governo do adversário. Wladimir voltou a negar o rombo na PreviCampos e também partiu para o combate franco: “Vou honrar o meu pai e a minha mãe, sempre. Diferente de você, que diz que respeita seu pai, mas que muitas vezes esteve no apartamento onde os meus pais moram, no Rio, para falar mal do seu pai. E foram Garotinho e Rosinha que te aconselharam a se reaproximar do seu pai, que nem com você ele falava”.

 

Como os nossos pais

Na réplica, Caio negou os conselhos e disse: “Eu nunca deixei de falar com meu pai, eu amo meu pai (…) Nem meu pai, nem minha mãe foram presos por roubar dinheiro do povo (…) em várias interceptações da operação Chequinho, Wladimir se referia ao pai dele, sempre como quem comandava o governo da mãe. Tudo ele falava: ‘Tem que perguntar para papai’ (…) Qual será a participação dele no seu governo? Tem que perguntar para papai, né, Wladimir?”. Que respondeu na última tréplica: “Lamentável ter que assistir a um candidato a prefeito sem maturidade, vindo aqui falar para você, eleitor, para você, ouvinte, em papai e mamãe (…) Eu, Caio, em diversas vezes, na minha vida pública e pessoal, já discordei do meu pai (…) Ele (Caio) não tem nem humildade para reconhecer que diversas vezes foi ao apartamento dos meus pais, no Rio de Janeiro, para se aconselhar. Inclusive, foram o Garotinho e a Rosinha que pediram para ele: ‘Rapaz, esquece a política, ele (Arnaldo) é seu pai’”.

 

Considerações finais

No último bloco, reservado às considerações finais, os dois candidatos lamentaram que o debate, em sua 1h24 de duração, teve menos tempo para apresentar propostas ao destino dos mais de 507 mil campistas, do que aos ataques que voltaram a fazer um ao outro. Ainda assim, nenhum pedido de direito de resposta foi gerado à equipe de avaliação do debate, composta dos advogados Andral Tavares Filho e João Paulo Granja, e do jornalista Ricardo André Vasconcelos. Mas se os 11% de eleitores indecisos que a pesquisa espontânea Ibope (confira aqui) registrou dependessem do debate do Grupo Folha para se definirem, talvez chegassem à conclusão que o melhor desempenho da noite foi do mediador Cláudio Nogueira, que não é candidato.

Que o debate de hoje à noite da Inter TV, após a novela das 21h da Globo, tenha melhor sorte. Embora nada na polarização familiar entre os candidatos pareça indicar isso. Em 5 de novembro, ao transmitir ao vivo (confira aqui) o debate do Fórum Institucional de Dirigentes do Ensino Superior de Campos (Fidesc), a parceria do Grupo Folha com o polo universitário da cidade já havia gerado o debate mais prestigiado da eleição de primeiro turno a prefeito. No segundo turno, daqui a apenas dois dias, ao reunir ontem em debate as duas partes que disputam o governo de Campos, o Grupo Folha fez a sua.

A decisão, soberana, agora é entre você e a urna.

 

Confira abaixo o vídeo com a íntegra do debate:

 

 

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