Por que Wladimir vencerá a eleição?
Na noite de sexta (27), se deu o último debate da Inter TV (reveja aqui), afiliada à Rede Globo, entre os dois candidatos que disputarão neste domingo (29) a Prefeitura de Campos: Wladimir Garotinho (PSD) e Caio Vianna (PDT). E com base no que havia ocorrido no debate do Grupo Folha da noite anterior (26), onde os dois prefeitáveis não saíram (confira aqui) do “papai e mamãe” em ataques às famílias um do outro, que já foram aliadas políticas, o da Inter TV foi aberto com o pedido expresso da emissora: “Este é um espaço para discussão de propostas, não é um espaço para ataques. Não estamos aqui para discutir o passado de famílias”. A advertência arrefeceu o (des)nível trumpiano apresentado no debate do Grupo Folha, mas não de todo.
Na Inter TV, os dois candidatos voltaram a trocar acusações. Wladimir reeditou a tática da “sopa de letrinhas”, como seu pai fez com Lula em debate presidencial do primeiro turno de 2002. No lugar da Cide usada por Garotinho contra o petista há 18 anos, seu filho fustigou Caio com as AIHs na questão da saúde, além de indagar o papel da lei federal complementar 175/2020 na arrecadação própria do município, para tentar evidenciar o despreparo técnico do adversário. Sem saber as respostas, Caio partiu para o ataque, recebendo o troco. Mas foi com um deles que o pedetista desferiu o golpe mais contundente da noite de sexta. Wladimir perguntou: “Como você vai fazer para acabar com a corrupção na Prefeitura?”. Ao que Caio respondeu: “Primeiro, não deixando você ser eleito”. Não foi um nocaute, mas talvez tenha lhe garantido a vitória por pontos numa luta de muita agressividade e pouca técnica.
Um tema tratado na Inter TV e ocorrido, horas antes, foi a operação na mesma noite (confira aqui) do Ministério Público da 76ª Zona Eleitoral (ZE), que apreendeu celulares, computadores e materiais eletrônicos, e conduziu quatro pessoas à 134ª DP, onde assinaram termo e foram liberadas. A investigação envolve a campanha de Wladimir com os sites Click Campos, Muda Campos e Notícias Campos na divulgação de fake news contra Caio. E gerou o pedido do MP Eleitoral, junto ao juízo da 76ª ZE, para ajuizar uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), que denuncia Wladimir e seu vice, Frederico Paes (MDB), por abuso de poder econômico. E pede a condenação de ambos à inelegibilidade por oito anos.
É mais um problema jurídico à chapa dos Garotinho. Que já tinha a expectativa do julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do recurso ao indeferimento da candidatura a vice de Frederico (confira aqui e aqui) pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). O motivo é técnico, a desincompatibilização fora do prazo da direção do Hospital Plantadores de Cana (HPC), em ação movida pelo grupo político do deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD). Já com parecer desfavorável (confira aqui) da Procuradoria Geral Eleitoral, pode impugnar o vice, mesmo se eleito. E gerar consequências ao próprio Wladimir, pelo princípio da unicidade da chapa. Que, se vencedora no domingo, terá como peso ao seu favor a vontade popular expressa nas urnas.
Como pau que bate em Chico, bate em Francisco, Caio também foi alvo da fiscalização eleitoral por divulgação de fake news. O juiz Elias Sader Neto, da 75ª ZE, determinou que o prefeitável do PDT retirasse das redes sociais a postagem em que veiculou notícias inverídicas sobre a impugnação da candidatura do adversário, que cabe apenas ao TSE determinar, por conta dos problemas do vice.
Das investigações e decisões judiciais à política real, como o blogueiro Christiano Abreu Barbosa antecipou desde a tarde do dia seguinte à eleição do primeiro turno, a partir dos cálculos e projeções que têm feito dele um dos melhores analistas eleitorais de Campos, o resumo da ópera está (confira aqui) no que as urnas de 15 de novembro revelaram: “Wladimir está com um pé no Cesec”. Analista ainda superior e prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT) entrou no campo goitacá ao ver a imensa dificuldade que seu correligionário iria enfrentar no segundo turno. Que só existiu por conta da força da campanha que Rodrigo Bacellar comandou para Dr. Bruno Calil (SD), terceiro colocado no primeiro turno, com 13,17% dos votos válidos. Caio ficou à sua frente, com 27,71%, enquanto Wladimir passou os dois adversários, mesmo se somados, para fazer 42,94%, vencendo nas quatro ZEs de Campos.
Após eleger seu sucessor em Niterói ainda no primeiro turno, Rodrigo Neves, saindo de um quadro pessoal de Covid, passou a se dividir entre Campos e outros municípios fluminenses onde aliados passaram ao segundo turno. E que serão importantes, caso ele consiga levar a cabo sua pretensão de se candidatar a governador do Estado do Rio em 2022. No segundo turno campista de 2020, a tática de Neves para tentar a virada de Caio está correta. Na 98ª ZE, na chamada “pedra”, onde Wladimir teve a vitória mais apertada sobre o pedetista, 28,35% a 28,32% em 15 de novembro, é simplesmente reforçar a tradição do maior bastião do antigarotismo desde 1988. É a ZE que Caio mais tem chances de virar, muito embora sua atuação agressiva nos debates talvez não tenha ajudado nisso.
Só que Campos, ao contrário do que pensa “a alta burguesia da cidade”, felizmente não se resume à sua “pedra”. Aliás, com seus 91.662 eleitores aptos a votar (64.915 presentes em 15 de novembro), a 98ª é apenas a terceira força entre as quatro ZEs do município. A menos densa eleitoralmente é a 129ª ZE: 61.965 eleitores, 47.592 presentes ao primeiro turno. E foi nela que Wladimir obteve sua maior vantagem sobre Caio em 15 de novembro: 53,98% a 25,37%. A tática da conexão pedetista Niterói/Campos é apostar na diminuição dessa grande diferença nos bairros de Ururaí e Ponta da Lama, além do distrito de Dores de Macabu.
Segunda força eleitoral de Campos, com seus 96.574 eleitores aptos a votar (73.816 presentes em 15 de novembro), a 76ª ZE é quase toda Guarus, oposta à 98ª na condição de tradicional bastião do garotismo. Lá, Wladimir também levaria desde o primeiro turno: 50,37% a 25,39% de Caio. E a tática operada por Neves é reforçar a popularidade que o ex-prefeito Arnaldo Vianna (PDT) também ainda mantém, por conta do Hospital Geral de Guarus (HGG), para tentar diminuir a diferença sobretudo nas classes média e média baixa, junto à franja direita do rio Paraíba do Sul.
Por fim, a 75ª ZE, da “Baixada da Égua” de coronéis e lobisomens, imortalizada ao Brasil na prosa de José Cândido de Carvalho. Com seus 110.425 eleitores (84.430 presentes em 15 de novembro) tem quase o dobro da 129ª e é a principal potência eleitoral de Campos. E lá Wladimir bateu Caio por 41,24% a 30,62% no primeiro turno. A tática pedetista no segundo, que conta com um dos cabos eleitorais da região mais respeitados no meio político, é tentar virar essa considerável diferença de 10,62 pontos. É muito difícil, mas, sem isso, Caio não tem chance de se eleger prefeito. Como antecipado (confira aqui) em outro artigo de análise, neste mesmo espaço, desde 21 de novembro: “a ZE da mítica ‘Baixada da Égua’ deve definir a eleição”.
Segundo um passarinho que entrou pela janela da mais famosa “casinha da Lapa”, o ex-governador Anthony Garotinho (sem partido) projeta que seu filho se elegerá prefeito de Campos, fazendo entre 130 mil e 140 mil votos, contra 80 mil a 90 mil de Caio. Outro passarinho que sobrevoou a terra de Arariboia, contou que Rodrigo Neves projeta uma votação bem mais apertada, com Wladimir entre 100 mil e 115 mil votos, e Caio entre 100 mil e 120 mil. Como o filho do casal de ex-governadores já fez 106.526 votos só no primeiro turno, a projeção de Garotinho parece mais próxima do pássaro pousado ao chão. A tática eleitoral do prefeito de Niterói para Campos, embora correta, talvez demandasse ser posta em prática 20 dias antes do que foi, para surtir o efeito final desejado.
De quem antecipou a confirmação da eleição presidencial de Joe Biden nos EUA (confira aqui) um dia antes do mundo considerá-la oficial, e antecipou também (confira aqui) a existência do segundo turno a prefeito de Campos com apenas 43,37% das urnas apuradas pelo TSE, quando muitos ainda apostavam na definição no primeiro turno, Wladimir se elegerá no domingo com uma vantagem mínima de 7,1 pontos percentuais dos votos válidos sobre Caio. Contabilizados os votos dados aos 11 candidatos a prefeito no primeiro turno, inclusive os sub judice de Wladimir e Jonathan Paes (PMB), isso daria uma diferença mínima no segundo, podendo ser mais, de 17.613 eleitores pela volta dos Garotinho ao poder em Campos.
A projeção não é fruto de torcida, achismo ou bola de cristal, mas da soma dos 3,5 pontos para mais e menos da pesquisa Paraná, que foi acusada nas eleições a prefeito de Campos, tanto no primeiro, quanto no segundo turno, de parcialidade aos interesses de Rodrigo Neves. Sem juízo de valor sobre essas suspeições, o fato é que uma última pesquisa Paraná estava programada para ser divulgada na última quinta-feira (26), a três dias da eleição deste domingo. Como não o foi, tudo leva a crer que a diferença de Wladimir para Caio será, no mínimo, dos 7,1 pontos que extrapolam a margem de erro de um instituto com nome nacional a zelar.
Publicado hoje (29) na Folha da Manhã
A folha da manhã teve um papel importantíssimo nessa eleição em Campos, em divulgar todos os resultados em tempo recorde com total transparência. Merece total confiança toda equipe de jornalismo estão de parabéns.