A vida não é um ato de justiça. Conheço o promotor de Justiça Marcelo Lessa, titular da 2ª Promotoria de Tutela Coletiva de Campos, há alguns anos. E, pelo convívio que por vezes excede a relação profissional entre repórter e fonte, nos tornamos amigos. Foi por ele que soube hoje da morte de sua mãe ontem, a dona de casa Vera Lúcia Lessa de Lima, de 70 anos, por complicações da Covid-19, na cidade do Rio de Janeiro, onde residia. Ela aniversariou no último dia 19, no Hospital Rio D’Or, em Jacarepaguá, onde ficou internada por cerca de 40 dias, desde antes do Natal. Deixa três filhos e três netos.
Não conheci a mãe de Marcelo, mas não posso deixar de registrar que a morte dela, por Covid, foi diametralmente oposta à atuação profissional do filho. Que foi decisiva no enfrentamento ao negacionismo e à primeira onda da pandemia da Covid-19 em Campos e outros municípios da região, entre março e abril de 2020. Quem dúvida tiver que confira as matérias nos links aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Profissional do Direito dedicado à afirmação institucional e cidadã do Ministério Público, Marcelo acabou se revoltando pessoalmente com o descaso das pessoas com a pandemia. E, em 20 de abril, deu uma declaração polêmica à InterTV (relembre aqui e aqui), quando sugeriu a adoção de critérios médicos que privilegiassem o tratamento dos doentes de Covid que cumpriam as regras de isolamento social, em detrimento de quem as quebrou e questionou. A grande repercussão, até nacional, acabaria lhe tirando da linha de frente do enfrentamento à doença. Que ora vive a sua segunda onda, fruto do mesmo descaso que o promotor denunciou há mais de nove meses.
Difícil saber o que dizer a quem perdeu a mãe. A não ser que palavra nenhuma preencherá um vazio que apenas o tempo pode arrefecer. Mais difícil ainda a quem perdeu a mãe, que havia lutado e sobrevivido a dois cânceres, por uma doença e o descaso contra os quais o filho lutou. Que Marcelo continue se mirando no exemplo de quem o deu à luz para seguir na luta contra as sombras.
A partir das 7h da manhã desta sexta (29), quem fecha a semana do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é o economista Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras entre 2005 e 2012, nos governos petistas Lula e Dilma Rousseff, e professor licenciado da Universidade Federal da Bahia. Ele falará sobre as denúncias de desmonte da cadeia de óleo e gás da Petrobras na Bacia de Campos.
Gabrielli também analisará a decadência financeira dos municípios petrorrentistas, exemplificada em Campos, que pela primeira vez na sua história (confira aqui e aqui) teve duas Participações Especiais (PEs) zeradas, E dará sua projeção sobre a partilha dos royalties aprovada no Congresso Nacional desde 2012, e desde 2013 segura por uma liminar e até hoje (confira aqui) sem data de julgamento pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF).
Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta sexta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
Jair Bolsonaro (sem partido) e o leite condensado são uma piada pronta. Que, dado o gosto do presidente pelo alimento açucarado, explorado em sua campanha presidencial de 2018 para se vender como homem do povo, desde ontem viralizou nas redes sociais. Foi após o site Metrópoles divulgar que o governo federal gastou (confira aqui) R$ 15,6 milhões com leite condensado em 2020. Que foi comprado da empresa de uma residente em Campos dos Goytacazes, como revelou desde ontem (confira aqui) o blog do Gilberto Gomes, hospedado no Folha1.
Alvo das fake news que tem o hábito de propagar pelo seu “gabinete do ódio”, mesmo contra a vida humana, como no caso da Covid-19, o governo respondeu dizendo que a maior parte da aquisição de leite condensado foi para as Forças Armadas Brasileiras. De fato, pelo menos desde a II Guerra (1939/1945), leite condensado faz parte da alimentação dos soldados pelo mundo. Mas o presidente, também ontem, jogou qualquer explicação racional pelo ralo, com a sua habitual retórica de esgoto:
— Vai pra puta que pariu, porra. Essa imprensa de merda, é pra enfiar no rabo de vocês, de vocês da imprensa, essas latas de leite condensado aí.
As metáforas sexuais parecem ser outra obsessão do presidente. Sobretudo quando envolvem a homossexualidade e outras vertentes mais, digamos, heterodoxas. Como fez no carnaval brasileiro de 2019, quando postou no Twitter o vídeo de um homem urinando sobre o outro. E perguntou:
— O que é golden shower?
Com apoio ostensivo de Bolsonaro, é bem provável que Arthur Lira (PP/AL) vença a eleição à presidência da Câmara Federal na próxima segunda, 1º de fevereiro. O que tornaria pouco provável um dos mais de 60 pedidos de impeachment do presidente da República, dormitando no Legislativo, ser apreciado até 2022. Mas, até lá, com o abandono da pauta liberal pelo governo federal que com ela se elegeu, seria providencial se pensar em outros gastos para 2021.
Muito além da largura de qualquer recipiente conhecido de leite condensado, talvez a aquisição de lubrificante tonasse menos doloroso o que o Centrão de Arthur Lira, ao qual Bolsonaro sempre pertenceu em seus 30 anos de vida parlamentar opaca, fará com o seu governo: devorá-lo pelas entranhas até o bagaço.
A partir das 7h da manhã desta quinta (28), o convidado do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é o defensor público Lúcio Campinho. Ele analisará aos olhos da Defensoria Pública da comarca o combate à pandemia em Campos e a oferta de leitos na rede de saúde do para os doentes, os critérios adotados para a vacinação contra a Covid no município e falará também do planejamento para retomada das aulas, ainda que virtualmente.
Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quinta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
Dois mestres do jornalismo brasileiro, Zuenir Ventura e Elio Gaspari hoje publicaram artigos, no jornal O Globo, que se complementam. Ambos tratam da grave crise no Brasil gerada pela pandemia da Covid-19 e pela absoluta incompetência do presidente Jair Bolsonaro (em partido) em lidar com ela.
No primeiro artigo, Zuenir não tem dúvida ao afirmar que “o responsável” pela gravidade da crise da Covid no Brasil “é o presidente Jair Bolsonaro” (sem partido). Que enfrentou no último final de semana manifestações de rua (confira aqui) por seu impeachment “em 18 capitais” do país, reflexo direto do derretimento (confira aqui) da sua popularidade. Também registrado no texto do Gaspari, esse enfraquecimento é visto com pragmatismo: “O ‘Fora Bolsonaro’ exige um apenso: ‘Para quê?’”.
Confira abaixo os dois textos necessários:
A crise e o culpado
Por Zuenir Ventura
Pouco antes de o procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitar ao STF — e conseguir — a abertura de inquérito para apurar a conduta de Eduardo Pazuello durante a crise da saúde no Amazonas, o próprio ministro da Saúde embarcava para Manaus para “ficar o tempo que for necessário”, sem previsão de “voo de volta”.
Enquanto isso, movimentos de direita e esquerda saíam às ruas de 18 capitais, apoiando a vacinação e pedindo o impeachment de Bolsonaro, que respondeu com ironia: “Vi uma carreata monstro de uns dez carros”. Na verdade, ele viu mal. Em São Paulo, a fila de carros na Avenida Paulista era de perder de vista e, no Rio, a carreata formava uma fila de quatro quilômetros de automóveis, motos e bicicletas.
Os protestos aconteceram num momento desfavorável para Bolsonaro, em que a sua popularidade está em queda. Duas recentes pesquisas do Datafolha justificam o mau humor que atrapalhou sua visão. Uma aponta o aumento dos descontentes: 40% da população avaliam sua atuação como ruim ou péssima, ao contrário dos 32% da edição anterior da sondagem, no começo de dezembro.
Outra indica que 46% acham que João Doria fez mais contra a pandemia que Bolsonaro. Aliás, o principal inimigo político de Bolsonaro soube faturar a aprovação do uso emergencial da CoronaVac, a vacina que ele sempre defendeu, e Bolsonaro rejeitou, pelo menos até a embaixada chinesa informar que estava enviando os 5.400 litros de insumos.
Quanto a Pazuello, espera-se que nessa sua volta a Manaus ele não tenha levado para distribuir a hidroxicloroquina, o famoso medicamento ineficaz que Bolsonaro costuma receitar. Quem melhor desvendou o seu papel na trama foi Merval Pereira, ao revelar que ele tem tudo para ser o “bode expiatório”.
Pressionado pelos procuradores para tomar alguma providência, Augusto Aras tratou de proteger quem o protegeu. É claro que o general Eduardo Pazuello tem culpa. Mas o responsável é quem o escolheu e o mantém num cargo para o qual não tem a menor condição de ocupar. É o presidente Jair Bolsonaro.
Fora Bolsonaro, para quê?
Por Elio Gaspari
Por estranho que pareça, o grito de guerra “Fora Bolsonaro” é falta de agenda, como era falta de agenda o “Fora Temer”. O governo do capitão é desastroso no varejo e no atacado. Diante de uma pandemia, todas as suas ideias e iniciativas estavam erradas. Sua “nova política” aninhou-se no Centrão, o Brasil virou um pária. A tragédia do Amazonas mostrou que o pelotão palaciano gosta de ficar zangado; com João Doria, com a Pfizer, com a China e com quem disser que eles não sabem trabalhar. Mesmo assim, o capitão chegou ao Planalto pela vontade de 57,8 milhões de eleitores, e a Constituição diz que pode ficar lá até o dia 1º de janeiro de 2023.
O grito de “Fora Bolsonaro” é falta de agenda porque não tem base nem propósito. Não tem base parlamentar, e isso foi informado pela senadora Simone Tebet. Não tem base popular porque 28% dos entrevistados pelo Datafolha ainda acham que ele está fazendo o certo no combate à Covid. Sua popularidade está derretendo. O capitão é rejeitado por 40%, mas ainda tem o apoio de 31%. Admitindo que a velocidade desse desgaste prossiga, em um mês ele ainda terá 25% de admiradores.
No mundo dos sonhos de quem grita “Fora Bolsonaro”, se ele for embora, as coisas melhoram. Se isso acontecer, para a cadeira vai o general Hamilton Mourão. Ele é um vice singular. Nada tem a ver com seus antecessores que foram catapultados à cadeira de presidente. Michel Temer e Itamar Franco tinham identidades políticas. Mourão é apenas vinho da mesma pipa da safra de 2018. Foi escolhido numa reunião matutina porque o príncipe de Orleans e Bragança achou que ainda se vivia no Império. Itamar fez discretos acenos à oposição. Temer chegou a anunciar um plano de governo. Para o bem ou para o mal, o general tem sido um fiel comandado do capitão.
Itamar e Temer mudaram o curso das administrações de Fernando Collor e de Dilma Rousseff. Ganha uma fritada de morcego do mercado de Wuhan quem for capaz de desenhar mudanças possíveis com Mourão.
Admita-se que elas podem acontecer. Aconteceram em 1946, quando elegeu-se presidente o general germanófilo Eurico Dutra, um marquês da ditadura de Getúlio Vargas. Em primeiro lugar, Dutra elegeu-se. Além disso, empalmou a essência da plataforma da oposição democrática. Se o “Fora Bolsonaro” tivesse propostas além do “Fora”, o grito de guerra teria um conteúdo. Não só ele lhe falta, como a oposição ao presidente ainda não tem propósito. Olhando para o fim da ditadura, vê-se que Tancredo Neves encarnava uma proposta.
Bolsonaro meteu o andar de cima e suas Forças Armadas na ruína que hoje está personificada no general Eduardo Pazuello. Ele foi para o lugar de Luiz Henrique Mandetta, que tinha um plano, e de Nelson Teich, que não cumpria ordens de leigos. A pandemia era uma “gripezinha”, que em dezembro estava no “finalzinho”, pois a segunda onda era uma “conversinha”.
O capitão ainda tem quase dois anos de mandato, e sua capacidade de produzir crises desnecessárias é infinita. Como disse o senador Tasso Jereissati, será preciso “trincar os dentes” para atravessá-los. O “Fora Bolsonaro” exige um apenso: “Para quê?”.
Pelo andar da carruagem, essa pergunta precisa entrar na agenda. Ela poderá ser respondida no ano que vem.
A partir das 7h da manhã desta quarta (27), a convidada do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é a promotora de Justiça Maristela Naurath, titular da 3ª Promotoria de Tutela Coletiva de Campos e responsável pelo Ministério Público Estadual pela fiscalização das ações de saúde na comarca. Ela analisará a política de combate à Covid em Campos do governo Rafael Diniz (Cidadania) ao Wladimir Garotinho (PSD), assim como a questão de oferta de leito aos doentes.
A promotora falará também das dificuldades alegadas pelo poder público municipal para montar novas equipes médicas aos novos leitos de UTI destinados à pandemia no Centro de Controle e Combate ao Coronavírus em Campos (CCC). E dos critérios de vacinação adotados no município, bem como dos usados para se decretar e suspender o lockdown do comércio.
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A partir das 7h da manhã desta terça (26), o convidado do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é o médico Peterson Gonçalves Teixeira, presidente do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec). Ele falará sobre o pagamento dos salários atrasados de dezembro aos servidores, incluindo médicos e profissionais, anunciado (confira aqui) para esta quarta (27), mas ainda sem previsão para o 13º.
Peterson também falará sobre o fato da Saúde Pública de Campos ter 980 médicos concursados na ativa, segundo levantamento revelado ao Folha no Ar (confira aqui) pelo vice-prefeito Frederico Paes (MDB), mas ainda assim ter dificuldades para montar equipes aos novos leitos de UTI para doentes de Covid (confira aqui) no Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCC). E analisará o combate à pandemia em Campos, os questionamentos aos critérios adotados à fase inicial de vacinação (confira aqui) e os primeiros dias do governo Wladimir Garotinho (PSD).
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Respeitando as regras de distanciamento por conta da pandemia da Covid, este final de semana marcou a volta da população brasileira às ruas para pedir o impeachment de um presidente, como aconteceu em 1992 e 2016. Ontem (23) foi o dia de militantes de esquerda saírem em carreata em várias cidades do Brasil para pedirem a saída do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do poder. Hoje foi a vez de movimentos de direita, como MBL e Vem Pra Rua, também pedirem o impeachment de Bolsonaro e a saída do general Eduardo Pazuello no ministério da Saúde, em carreata organizada nas ruas de São Paulo.
Ainda não é algo que pareça ameaçar a permanência de Bolsonaro no cargo ao qual foi eleito em 2018. Mas, diferente do que ocorreu com os ex-presidentes também eleitos Fernando Collor de Mello (hoje, Pros), em 1992, e Dilma Rousseff (PT), em 2016, a pandemia em 2021 não permite adesão em massa. Ademais, Collor e Dilma só caíram quando a aprovação popular aos seus governos ficou abaixo dos 10%. Mesmo em queda, por sua desastrosa condução do combate à Covid, Bolsonaro ainda tem 31% de bom ou ótimo, segundo a pesquisa Datafolha (confira aqui) feita na quarta (20) e quinta (21), e divulgada na sexta (22).
Todavia, como a Datafolha também mostrou que Bolsonaro tem seu governo hoje reprovado por 40% da população, 9 pontos a mais que a sua aprovação, cautela, canja de galinha e senso de ridículo não fariam mal ao capitão. Mesmo que a pesquisa tenha mostrado uma maioria de 53% dos brasileiros hoje contrária ao seu impeachment, também revelou uma substancial minoria de 42% que o querem fora do Palácio do Planalto antes de 2022. E que se manifesta neste sentido tanto com a cor vermelha das esquerdas, quanto no verde e amarelo da direita que levaram o presidente ao poder.
Em Macaé, uma carreata pelo impeachment de Bolsonaro também foi promovida na tarde de ontem, como em outras cidades do país. Mas não em Campos dos Goytacazes. Confira abaixo a convocação para a manifestação, veiculado nas redes sociais macaenses, e o vídeo da sua realização na cidade vizinha: