“Nos Tempos do Trianon” — Homem, teatro e cidade na história goitacá

 

Historiadores Juliana Carneiro e Victor Andrade de Souza, professores, respectivamente, da UFF e UFRJ, e autores do livro “Nos Tempos do Trianon” (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr,)

 

Capa do livro lançado virtualmente no último dia 18 e com previsão de lançamento impresso no segundo semestre do ano

“Em 2001, 2002, eu estava começando o doutorado na UFF, sobre o Trianon. Antes, durante o mestrado, naquela época não tinha biblioteca digital, e eu ficava no Palácio da Cultura pesquisando jornais antigos de Campos. E o tempo inteiro me deparava com anúncios e matérias que falavam da importância do Trianon na cena cultural de Campos. Nessas coisas da vida, numa visita à cada do meu avô, achei um material inédito, que estava lá como acervo de família, que era toda a folheteria do Trianon do período em que o teatro foi propriedade do meu bisavô (o Capitão Carneirinho, como era conhecido Francisco de Paula Carneiro, que batiza o Boulevard de Campos), de 1921 a 1931. E pensei que era um material familiar que precisava se tornar público. Acabei não dando seguimento a essa pesquisa e agora, no final de 2020, com o centenário no Trianon, chamei o Victor (Andrade de Melo, historiador e professor da UFRJ), meu ex-orientador, para essa parceria”. Segundo a historiadora campista Juliana Carneiro, professora da UFF, contou no início da manhã de hoje ao Folha no Ar, na Folha FM 98,3, essa foi a gênese do livro “Nos Tempos do Trianon — Campos se diverte!” (confira aqui). Cuja autoria ela divide com Victor, que também participou do programa. Lançado virtualmente no último dia 18, pela Numa Editora, a versão impressa deve sair no segundo semestre do ano.

— Inicialmente o livro era para ser sobre o teatro, sobre as 209 programações do Trianon nesses 10 anos (1921/1931), que estavam na folheteria. E, no processo de pesquisa, esses outros personagens começaram a ganhar protagonismo, seja pela riqueza da biografia do Carneirinho, seja porque a gente foi entendendo que o Trianon só era possível na década de 1920 porque Campos era uma cidade que construía sua modernidade nesse binômio rural e urbano. E só foi possível porque tinha uma figura como o Carneirinho, que foi capaz de apostar no ramo do entretenimento. Porque ele já tinha um teatro, o Orion, e construiu o novo teatro, o Trianon, arrendou o Coliseu, numa aposta de que isso colocaria Campos nesse cenário da modernidade — contou Juliana sobre a grande obra do bisavô. Construído por ele a partir de 1919, inaugurado em 1921 e vendido em 1931, fruto da grande crise econômica internacional de 1929, o antigo cine teatro Trianon passaria por outros donos até ser demolido em 1975, para dar lugar a uma agência bancária. O novo Trianon, com o mesmo nome e ainda hoje o maior teatro de Campos, seria construído em outro local e inaugurado em 1998.

— Eu estudo a cidade, o que me interessa é a cidade. Eu acho que a diversão é uma das maneiras mais usuais para a gente usar a cidade. Cidade sem cidadão não é cidade. E o cidadão usa a cidade no entretenimento.  Meu trabalho é sempre tentar ver como a gente lança um olhar para as cidades, a partir desses momentos de diversão. Então, quando a Juliana me chamou para o projeto, eu fiquei bastante empolgado com a possibilidade de tentar entender mais uma cidade. É lógico que o Trianon merece um, dois, três livros só sobre o Trianon. Mas era importante entender a rede de relações na qual o Trianon pode se realizar. Porque, em certa medida, é inusitado, um teatro do porte do Trianon em uma cidade do interior. Eu trabalho muito atento às questões econômicas. Eu até brinco: “follow the money” (“siga o dinheiro”, frase que ficou famosa no filme “Todos os Homens do Presidente”, de 1976, dirigido por Alan J. Pakulla, que narra os fatos reais que levaram à renúncia de Richard Nixon da presidência dos EUA, em 1974). Porque a gente às vezes investe muito só na questão da aspiração cultural, mas se você não tem uma economia, se você não tem mercado consumidor, as intenções culturais não se manifestam — ressalvou Victor de Melo.

— O livro começou para ser só a história do Trianon. Mas acho que esse tripé (o homem, a cidade e o teatro como os três protagonistas do livro) era necessário. Nenhum existiria sem o outro. Eles só se justificam nesse processo — explicou Juliana.

— A gente começou a pensar também na formação do Capitão Carneirinho. Que personagem é esse que surge? Como é que ele pode fazer um teatro com recursos próprios? Não houve recursos públicos nessa jogada. Então, foi daí que a gente montou esse tripé, entendendo que há uma relação inextricável entre os três. O Trianon só é possível porque a gente tem um personagem como Carneirinho e porque tem um personagem como Campos. Acho que isso é uma coisa que a gente procurou enfatizar no livro: Campos não é uma ambiência. A cidade é, em si, um personagem que condiciona as nossas possibilidades — elencou Victor.

 

Confira abaixo, em três blocos, os vídeos da entrevista dos historiadores Juliana Carneiro e Victor Andrade de Melo, autores do livro “Nos Tempos do Trianon — Campos se diverte”, ao Folha no Ar na manhã de hoje:

 

 

 

 

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