EUA advertem Bolsonaro: “não terá permissão para destruir a democracia”

 

Em 14 de maio de 2019, em Dallas, no Texas, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro bate continência à bandeira dos EUA (Foto: Reporudução de vídeo)

 

“As democracias dos Estados Unidos e da América Latina devem prestar atenção à medida que as eleições do próximo ano se aproximam — e deixar claro para Bolsonaro que uma interrupção da democracia seria intolerável. O presidente brasileiro já contribuiu muito para o agravamento da pandemia covid-19 em seu próprio país e, por meio da disseminação da variante brasileira, pelo mundo. Ele não deve ter permissão para destruir uma das maiores democracias do mundo também”. Foi a advertência feita ontem (02) ao presidente brasileiro no editorial de um dos principais jornais dos EUA, o Washington Post.

O “sinal amarelo” a Bolsonaro, que já havia sido acendido internamente no último dia 24, em pronunciamento do presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira (PP/AL), é agora ecoado pelo mundo. O texto é intitulado “Brasil de Bolsonaro falhou em parar a Covid-19. Agora ele pode estar mirando a democracia”. Logo ao primeiro parágrafo do editorial, o jornal que já foi responsável pela queda de Richard Nixon da presidência dos EUA, em 1974, constatou sobre o Brasil de 47 anos depois:

— Graças à espantosa incompetência do presidente Jair Bolsonaro e de seu governo, apenas 2% dos brasileiros foram totalmente vacinados, e as medidas de bloqueio necessárias para retardar novas infecções, inclusive de uma variante virulenta que surgiu no Brasil, são virtualmente inexistentes.

Como o blog advertiu (relembre aqui) em 30 de março, a demissão do ministro da defesa, general Fernando de Azevedo e Silva, seguida da exoneração dos comandantes do Exército, general Edson Pujol; da Marinha, almirante Ilques Barbosa; e da Aeronáutica, brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez; provocou uma cisão entre a alta cúpula das Forças Armadas Brasileiras e Bolsonaro. E criou a maior crise militar da República desde a redemocratização do Brasil em 1985, ironicamente provocada agora por um militar da reserva no Palácio do Planalto. O editorial do Washington Post faz menção ao mesmo fato:

— Não foram dadas explicações, mas o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, era conhecido por tratar um presidente que se referiu às Forças Armadas no mês passado como “meus militares”. O Sr. Bolsonaro escolheu seu ex-chefe de gabinete (o general da reserva Walter Braga Netto) para substituir o Sr. Azevedo e Silva (…) “O claro plano de apoio do Bolsonaro”, escreveu o editor-chefe Brian Winter no Americas Quarterly, “é ter tantos homens armados do seu lado quanto possível no caso de um impeachment ou um resultado adverso na eleição de 2022”.

Em 10 de novembro, com a eleição de Joe Biden a presidente dos EUA confirmada oficialmente três dias antes, mas ainda não admitida por Bolsonaro, este disse sobre as ameaças do democrata de sanções comerciais ao Brasil por conta das queimadas criminosas da Amazônia: “Quando acabar a saliva, tem que ter pólvora”. E fez a bravata se dirigindo nominalmente ao seu então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Que, como Bolsonaro, tinha como “mito” Donald Trump, presidente dos EUA derrotado por Biden no colégio eleitoral e no voto popular do pleito de 3 de novembro.

 

 

Abandonado pela alta cúpula das Forças Armadas Brasileiras, com o “sinal amarelo” aceso pelos próprios aliados no Congresso, que pediram e tiveram a cabeça bitolada de Araújo, e com Trump defenestrado pelas urnas da Casa Branca, Bolsonaro deveria mesmo começar a estocar pólvora. E rezar para que ela surta mais efeito do que a sua cloroquina contra a Covid, caso se meta à besta de tentar levar suas bravatas golpistas à ação.

Aqui, na publicação original em inglês, e na sua tradução abaixo em português, confira o “sinal amarelo” aceso pelos EUA contra as ameaças de Bolsonaro à democracia do Brasil, no editorial do Washington Post:

 

 

Brasil de Bolsonaro falhou em parar a Covid-19. Agora ele pode estar mirando a democracia

 

O Brasil está vivendo um dos piores picos de infecções por Covid-19 que o mundo já viu. Na quarta-feira, ele registrou 3.869 mortes, um recorde que representou quase um terço de todas as mortes por coronavírus no mundo naquele dia. Não há fim para a onda à vista: graças à impressionante incompetência do presidente Jair Bolsonaro e seu governo, apenas 2% dos brasileiros foram totalmente vacinados e as medidas de bloqueio necessárias para retardar novas infecções, incluindo de uma variante virulenta que surgiu no Brasil, são praticamente inexistentes.

Em vez de lutar contra o coronavírus, Bolsonaro parece estar preparando as bases para outro desastre: um golpe político contra os legisladores e eleitores que poderiam removê-lo do cargo. Com alguns no Congresso ameaçando impeachment, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva emergindo como um potente adversário nas eleições do ano que vem, Bolsonaro despediu o ministro da Defesa nesta semana e os principais comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica saíram juntos das suas posições.

Não foram dadas explicações, mas o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, era conhecido por seu tratamento à distância de um presidente que se referiu às Forças Armadas no mês passado como “meus militares”. O Sr. Bolsonaro escolheu seu ex-chefe de gabinete para substituir o Sr. Azevedo e Silva e nomeou um policial próximo à sua família como o novo ministro da Justiça. As medidas foram suficientes para levar seis prováveis ​​candidatos à presidência a emitir uma declaração conjunta alertando que “a democracia do Brasil está ameaçada”. “O claro plano de apoio do Bolsonaro”, escreveu o editor-chefe Brian Winter no Americas Quarterly, “é ter tantos homens armados do seu lado quanto possível no caso de um impeachment ou um resultado adverso na eleição de 2022”.

Embora as instituições democráticas do Brasil sejam relativamente fortes após mais de três décadas de consolidação, há motivos para preocupação. Bolsonaro expressou abertamente sua admiração pela ditadura militar que governou o país nas décadas de 1960 e 1970. Admirador de Donald Trump, ele adotou a tática do ex-presidente dos EUA de alertar sobre fraude nas próximas eleições e exigir que os sistemas de votação eletrônica sejam substituídos por cédulas de papel. Ele apoiou as alegações de Trump sobre fraude eleitoral, e seu filho, um legislador que visitou Washington na véspera de 6 de janeiro, expressou consternação porque o ataque ao Capitólio não teve sucesso.

O Congresso no Brasil pode propor o impeachment de Bolsonaro por sua péssima gestão da pandemia, incluindo minimizar sua gravidade, resistir às medidas de saúde pública e promover curas charlatanescas. Mas as democracias dos Estados Unidos e da América Latina devem prestar atenção à medida que as eleições do próximo ano se aproximam — e deixar claro para Bolsonaro que uma interrupção da democracia seria intolerável. O presidente brasileiro já contribuiu muito para o agravamento da pandemia covid-19 em seu próprio país e, por meio da disseminação da variante brasileira, pelo mundo. Ele não deve ter permissão para destruir uma das maiores democracias do mundo também.

 

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