Nota 7 para os 100 dias do governo Wladimir Garotinho (PSD), mas com ressalvas. O prefeito de Campos estaria atrás de outras novas administrações da região, como o governo de Werberth Rezende (Cidadania) no município vizinho de Macaé. E demonstraria “fragilidade” a pressões, como as do comércio campista pela reabertura de suas atividades não essenciais, quando a cidade chegou a esta semana ainda com 30 doentes de Covid na fila de espera por leito. A mesma nota 7 também foi atribuída aos 100 primeiros dias ao novo Legislativo goitacá. Cuja nota 9,5 dada em entrevista à Folha publicada (confira aqui) no último sábado, pelo presidente da Casa, vereador Fábio Ribeiro (PSD), foi considerada “muito ambiciosa”. O limite a essa ambição foi individualizado com um aviso ao edil Anderson de Matos (Republicanos), na insistência do projeto deste para a redução da faixa de proteção no entorno da Lagoa de Cima: “A gente vai se encontrar mais adiante”. Foi o que o professor e eco-historiador Arthur Soffiati disse no início da manhã de hoje ao Folha no Ar, na Folha FM 98,3.
— Nota 7 (ao governo Wladimir). Primeiro porque ainda são 100 dias (hoje, 126 de gestão), avaliação que não garante que os rumos tomados continuem na mesma direção até o final do mandato. Segundo, essas hesitações do prefeito em relação à pandemia. Terceiro, pensar que se governa ainda no período das “vacas gordas”, quando as vacas já estão emagrecendo. É preciso saber como fazer essa transição de um período em que os royalties não foram aproveitados para o desenvolvimento com sustentação do município. Agora fica reclamando que não tem recurso. Eu sei que a culpa não é de Wladimir, mas ele está ligado a isso pela sua família. Quarto, eu não estou pedindo que Campos seja a liderança regional, mas a gente vê que o prefeito de Macaé (Welberth Rezende, confira aqui) de uma certa maneira está; com relação à pandemia, pelo menos. Eu sei que ele (Wladimir) está lutando: empreguismo, não (confira aqui, na entrevista do prefeito sobre os seus 100 dias ao Folha no Ar)! Há pressões em cima e ele tem que saber lidar com elas. A essas pressões que os comerciantes fazem e acho que está no direito deles; é difícil também eles compreenderem a importância dos lockdowns. E há a fragilidade do prefeito em levar adiante uma postura mais firme, com relação ao lockdown e em atender tanto a esses empresários, quanto à população campista (com programas como o Refis do IPTU de 2020 e de assistência social adotados em Macaé) — apontou Soffiati ao Folha no Ar.
O professor aposentado da UFF-Campos e eco-historiador também estendeu sua análise crítica, na mesma nota 7 aos primeiros 100 dias, à Câmara Municipal. Dada pelo seu presidente à Folha, a nota 9,5 foi questionada por Soffiati. Que personalizou esses questionamentos, na sua área de meio ambiente, ao vereador Anderson de Matos, em projeto que este lidera para diminuir a faixa de proteção da margem da Lagoa de Cima:
— Eu dou a mesma nota 7,5 ao Executivo e à Câmara de Campos. Eu acho que a nota 9,5, dada pelo presidente da Câmara à própria Câmara, foi muito ambiciosa. Eu acho que ele não teve a capacidade de sair de si mesmo e olhar de fora. Existe neste momento um projeto na Câmara Municipal, por um vereador ou de mais, de grupos interessados em reduzir o limite de proteção da margem da Lagoa de Cima, alegando-se que ela é muito bonita e tem que ser explorada turisticamente. Tudo bem, explora turisticamente a partir dessa linha, que é de 300 metros. Querem reduzir para 50 metros? É 1/6 da área de proteção da lagoa. A gente sabe que se tiver uma cheia, acaba tudo quanto é hotel à margem, acaba com tudo que é casa. Eu sei que existem muitas, e não só de pobres; de ricos também. E vão perder tudo no caso de uma nova cheia. Se fosse na década de 30 (do século 20), como o Iate Clube que está lá dentro da lagoa, tudo bem; é o que era permitido. Hoje não é mais. A gente tem que considerar que os tempos mudaram, que a gente está numa crise ambiental global e que a Lagoa de Cima, até onde eu saiba, não está em Marte. O vereador é o Anderson de Matos. Eu tive uma conversa com ele, em seu gabinete, muito afável, muito educada, mas quando ele firmou posição nessa defesa da diminuição dessa margem de proteção, eu falei: “Está certo. A gente vai se encontrar mais adiante”.
Na esfera nacional, Sofffiati também teceu pesadas críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Que, para o historiador, agiu e age dolosamente em relação ao povo brasileiro durante a pandemia, na busca da suposta imunidade de rebanho, com uma crueldade que não é observada na natureza em babuínos, primatas africanos, assim como o homem.
— Bolsonaro entendeu que essa imunidade de rebanho seria conseguida com a contaminação das pessoas. E quem morreu, morreu. Quem viveu é o forte. É um darwinismo social bastante primário, que nem certas espécies animais adotam em termos de comportamento. Quando a gente vê, por exemplo, os babuínos saindo de um ponto elevado, atravessando uma planície para um outro ponto elevado, os machos foram duas colunas e as fêmeas e os filhotes vão no centro, protegidas. Então, até entre eles, existe um espírito de corpo de proteção. Agora, essa de tentar conseguir uma imunidade de rebanho sem vacina, jogando as pessoas em aglomerações, jogando as pessoas na rua, no trabalho, e deixar que se contaminem, é aquilo que ele falou: “e daí?”; “eu não sou coveiro”. E mostrou que, de fato, ele despreza muito a vida. O que Bolsonaro defende nessa questão de direito de ir e de vir, que é um direito constitucional, é o direito de ir para o hospital e o direito de vir para o cemitério.
Confira abaixo, em três blocos, os vídeos da entrevista do professor e eco-historiador Arthur Soffiati ao Folha no Ar, na Folha FM 98,3, no início da manhã de hoje: