Primeiro, o presidente Jair Bolsonaro soprou na segunda (7) seu berrante (confira aqui) e reuniu seu gado no cercadinho do Alvorada para distribuir sal no coxo. “Em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU)”, regurgitou ele. E foi exclamado pelo mugido das suas reses, daquelas que caminham em manada alegre e saltitante ao precipício: “Eu sabia!”
Daí, horas depois, na mesma segunda, o TCU desmentiu (confira aqui) mais uma fake news do presidente: “não há informações em relatórios do Tribunal que apontem que ‘em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid’, conforme afirmação do presidente Jair Bolsonaro. O documento refere-se a uma análise pessoal de um servidor do Tribunal compartilhada para discussão e não consta de quaisquer processos oficiais desta Casa. Ressalta-se, ainda, que as questões veiculadas no referido documento não encontram respaldo em nenhuma fiscalização do TCU. Será instaurado procedimento interno para apurar se houve alguma inadequação de conduta funcional no caso”.
Na terça (08), Bolsonaro foi obrigado a se desmentir (confira aqui) diante do mesmo cercadinho do Alvorada: “o TCU está certo. Eu errei, quando falei tabela (com o número de mortes que não seriam por Covid). O certo é acórdão”. Quem não se reúne em cercadinho para “discutir de que borda da Terra Plana vamos pular”, como definiu na CPI da Covid (confira aqui) a médica infectologista Luana Araújo, pensou consigo sem alarde: “Eu sabia!”
Na mesma terça, o TCU identificou (confira aqui) o autor da tentativa de fraude: o auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques. Ele é amigo dos filhos de Jair Bolsonaro. Quando começou a pandemia, passou a elaborar seu “estudo paralelo”. Ao apresentar os resultados de sua tese foi veemente repreendido pelos próprios colegas de trabalho, que denunciaram o caso aos ministros do TCU. Nenhum outro auditor do Tribunal endossou o “estudo” por considerá-lo uma farsa. Alexandre é conhecido por difundir fake news bolsonaristas sobre a Covid em suas redes sociais.
Hoje, na quarta (09), o corregedor do TCU, ministro Bruno Dantas, pediu (confira aqui) à presidente do Tribunal, Ana Arraes, que determine à Polícia Federal a abertura de um inquérito criminal para investigar o auditor Alexandre Marques. E, para evitar novas tentativas bolsonaristas de fraude no órgão de fiscalização federal, ele foi afastado do cargo.
Mesmo diante dos fatos, em amostra grátis do que espera o Brasil em 2022, houve entre os muares da baixa bolsonaria quem ainda tentasse defender o presidente em mais esse episódio lamentável. Para, como o auditor fraudador do TCU, ser desmentido pelos próprios colegas de trabalho: “Defender uma postura presidencial, na qual o próprio presidente teve de desmentir, é abdução demais”.
Infelizmente nada parece ser demais a quem, mesmo abençoado pela sorte de ter sobrevivido à Covid, padece de patologia congênita ainda pior: anemia de caráter.