Comércio, Código Tributário e fim do lockdown no Folha no Ar de 2ª

 

(Arte: Joseli Mathias)

 

A partir das 7h da manhã desta segunda (21), quem abre a semana do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, é o empresário Edvar Júnior, vice-presidente da CDL-Campos. Ele falará sobre o papel protagonista do setor produtivo goitacá na não aprovação (confira aqui) da proposta do novo Código Tributário pela Câmara Municipal, assim como no fim do lockdown do comércio em abril (confira aqui), que havia sido decretado em março (confira aqui) para tentar conter a segunda onda da pandemia da Covid-19.

Por fim, o líder lojista falará também sobre alternativas à crise financeira de Campos (confira a série de 11 painéis da Folha sobre o tema, de julho a setembro de 2020, publicada aquiaquiaquiaquiaqui, aquiaqui, aqui, aquiaqui e aqui).

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta segunda pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Artigo do final de semana — Deus conosco?

 

Acompanhado dos filhos Flávio e Carlos, Jair Bolsonaro é batizado no rio Jordão, em Israel, em 12 de maio de 2016, pelo pastor Everaldo, preso por corrupção desde 28 de agosto de 2020 (Foto: Reprodução)

 

 

Deus conosco?

 

“Deus está morto”. Polêmica, a sentença foi proferida em “Assim falou Zaratustra”, livro lançado pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche em 1883. De lá para cá, foi tirada de contexto para ser muito mal usada e interpretada, inclusive pela maioria que nunca leu a obra. Que, embora de filosofia, foi escrita em linguagem profética.

Antes de terminar a vida falando com cavalo, Nietzsche retomou a figura do profeta persa Zaratustra. Que viveu no séc. VII a.C. e foi primeiro a fundamentar um sistema de valores e crença baseado nos conceitos de bem e mal. Sendo por isso chamado pelo grego Platão de “o primeiro filósofo”.

Primeiro império do mundo, a Pérsia enraizou seu pensamento na religião judaica e, depois, em suas variações cristã e islâmica. O filósofo alemão reconhecia essa contribuição à humanidade. Mas pregou que só a partir da superação do bem e do mal, o homem se faria super-homem, indivíduo adequado às novas prerrogativas morais da civilização industrial.

 

Atentado às Torre Gêmeas do Word Trade Center em 11 de setembro de 2001 (Foto: Reprodução)

 

Após o 11 de setembro de 2001, quando militantes islâmicos da Al Qaeda sequestraram e atiraram jatos comerciais contra as Torres Gêmeas do World Trade Center, levando-as abaixo, e o Pentágono, o cineasta e jornalista Arnaldo Jabor escreveu um artigo. Que finalizou em diálogo com o Zaratustra de Nietzsche: “Deus está vivo. E se chama Alá”.

O presidente dos EUA naquele episódio era George W. Bush. Trazia o apoio político dos neopentecostais, outro grupo fundamentalista religioso, ao qual se convertera após anos de uso abusivo de álcool e cocaína. De cara limpa, liderou uma suposta nova Cruzada entre Ocidente e Oriente, cristianismo x islamismo, com as invasões do Iraque e do Afeganistão.

 

Acossado na Casa Branca pelos protestos do “Black Lives Metter”, o então presidente dos EUA Donald Trump saiu às ruas de Washington, em 1º de junho de 2020, para posar uma Bíblia nas mãos, em frente a Igreja Episcopal St. John (Foto: Tom Brenner/Reuters)

 

Donald Trump nunca foi religioso. Mas também soube apostar no fundamentalismo cristão dos neopentecostais para fazer deles importantes aliados políticos nos EUA. Em nova roupagem à Cruzada entre Ocidente e Oriente, deixou o fundamentalismo islâmico em segundo plano para eleger como novo “Grande Satã” o capitalismo de Estado ateu da China.

Católico praticante, Joe Biden também assumiu o antagonismo com Pequim. Mas, em moldes laicos, o fez resgatando esta semana os laços entre EUA e Europa na Organização do Atlântico Norte (Otan). Que tinham sido abandonados por Trump, a mando do presidente vitalício da Rússia, Vladimir Putin. Este, popular em seu país pela reaproximação do Kremlin com a Igreja Ortodoxa Russa.

 

Patriarca Cirilo I, líder da Igreja Ortdoxa Russa, com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ex-agente da KGB na União Soviética comunista e ateia (Foto: Reprodução)

 

No Brasil, Jair Bolsonaro trocou sua formação católica pelo filão eleitoral neopentecostal, ao ser batizado no rio Jordão, em 2016, pelo Pastor Everaldo. Que foi preso por corrupção em agosto de 2020. No meio do caminho, o batizado se elegeu presidente em 2018, reduzindo Deus a slogan de campanha: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

Com apoio da irmã de Nietzsche, o nazismo chegou ao poder pelo voto na Alemanha e, depois, pelas armas na Europa, nos anos 30 e 40 do séc. 20. E corrompeu racialmente o conceito de super-homem do filósofo morto em 1900, creditando-o ao ariano puro. Mesmo que a maioria dos alemães se mantivesse luterana e católica romana.

 

Na fivela do cinto, soldados alemães da SS que exterminaram 6 milhões de judeus na Europa, levavam inscrito: “Gott mi uns” (“Deus conosco”)

 

Eram, portanto, cristãos todos os nazistas que assassinaram em escala industrial 6 milhões de judeus em campos de extermínio durante a II Guerra (1939/1945) na Europa. Sufocando-os com gás e depois queimando seus corpos em fornos. Semelhante ao slogan bolsonarista, os soldados da SS que praticaram o Holocausto levavam escrito nas fivelas do seu cinto um antigo dito prussiano: “Gott mit uns” (“Deus conosco”).

“Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” é um conselho do Cristo em três dos quatro Evangelhos: Marcos 12:13-17, Mateus 22:15-22 e Lucas 20:20-26. Que pareceu ser seguido pelo bispo católico auxiliar de Belo Horizonte, Dom Vicente de Paula Ferreira. No último domingo (13), dia santo aos cristãos, ele usou sua conta no Twitter (confira aqui) para clamar a Deus:

— Senhor, tu que fugiste de jegue para o Egito, mostra-nos um meio de nos livrar desse fascista brasileiro. Tu que entraste em Jerusalém montado num jumento, dá-nos a coragem de enfrentar o tirano que mata nossa gente. Livra-nos, Senhor, do desgoverno da morte. Está pesado demais.

Conhecido pelo seu trabalho em Brumadinho, palco de outra tragédia brasileira, Dom Vicente é doutor em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com estágio pós-doutoral em Teologia, na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje). É graduado em Filosofia pela UFJF e em Teologia pela Faje e integrante da Sociedade de Estudos Psicanalíticos de Juiz de Fora.

Poeta maior do nosso Romantismo, não é difícil supor como Castro Alves (1847/1871) seria hoje tratado por escrever: “Quebre-se o cetro do Papa./ Faça-se dele — uma cruz!/ A púrpura sirva ao povo/ P’ra cobrir os ombros nus”. Ou por seus versos ecoados à beira dos 500 mil mortos por Covid no Brasil: “Senhor Deus dos desgraçados!/ Dizei-me vós, Senhor Deus!/ Se é loucura… se é verdade/ Tanto horror perante os céus…”

 

Publicado originalmente aqui e republicado hoje (19), na Folha da Manhã

 

Código Tributário — Ligação de Bacellar definiu posição de Maicon

 

Vereador Maicon Cruz e secretário estadual Rodrigo Bacellar (Montagem: Joseli Mathias)

 

Uma ligação na tarde de ontem (16), do secretário estadual de Governo, Rodrigo Bacellar (SD), ao vereador Maicon Cruz (PSC), definiu a posição deste contrária à aprovação do Código Tributário. Isso e a ausência do vereador Marcione da Farmácia (DEM) definiram o adiamento da votação ontem do Código na Câmara (confira aqui), que agora fica na gaveta do presidente Fábio Ribeiro (PSD), junto com as contas de 2016 da ex-prefeita Rosinha Garotinho (Pros).

Marcione já tinha se ausentado da polêmica sessão de 25 de maio, que se estendeu à madrugada do dia 26, em que foram aprovados (confira aqui) 12 dos 13 projetos do pacote de austeridade de Wladimir — o 13º era justamente a proposta no novo Código. O vereador da Baixada Campista ontem (16) pediu (confira aqui) a renovação de sua licença, alegando questão de saúde, por mais 15 dias.

Por sua vez, na manhã de ontem, Maicon estava (confira aqui) em dúvida da sua posição. O blog gerou demanda a ele às 11h04 e 11h36. Ele visualizou, mas não retornou, reforçando a dúvida, que foi confirmada por fontes do próprio grupo de Rodrigo. Até que este ligou ao vereador à tarde. Maicon chegou a se queixar, dizendo que o secretário não atendia ou retornava suas ligações. Mas fez o que Bacellar determinou. E depois postou vídeo nas redes sociais dizendo que sua posição era em defesa do setor produtivo, contrário ao novo Código.

Sem Maicon e Marcione, o governo só tinha 12 votos, um a menos que o necessário para aprovação do Códito Tributário, forçando sua retirada de pauta. Curiosamente, oposição e situação votaram juntos para tirar o regime de urgência da proposta. Que seria o principal alvo da arguição da sua inconstitucionalidade na Justiça, caso fosse aprovada.

Após a postagem, nova demanda foi gerada ao vereador Maicon Cruz, que desta vez retornou ao blog. Ele negou a influência de Bacellar em sua posição. Em respeito ao contraditório, confira abaixo:

— Diferente da narrativa da matéria, meu posicionamento já era claro desde quando a matéria chegou à Casa, e, inclusive, me pronunciei dias antes em uma entrevista de rádio. Com as alterações feitas no projeto que foi reencaminhado para a pauta, fiz uma nova avaliação para que meu voto pudesse ser com base no texto da PL complementar 00097/2021 e nos anseios da população, de forma consciente, sem qualquer interferência política. Não tenho ligação com o deputado (atual secretário estadual de Governo) Rodrigo Barcellar, não caminhamos juntos no último pleito, não faço parte de seu grupo político e, na Câmara, o meu compromisso é com a população campista.

 

Atualizado às 18h15 para incluir a posição do vereador Maicon.

 

Na CPI da Covid, Witzel fala em pressão a Bacellar pelo impeachment

 

Witzel disse hoje na CPI da Covid que Rodrigo Bacellar, Cláudio Castro e André Ceciliano teriam sido pressionados pelo MPF no seu processo de impeachment (Montagem: Matheus Berriel)

 

Em depoimento hoje na CPI da Covid no Senado, o ex-governador Wilson Witzel (PSC) citou o secretário estadual de Governo Rodrigo Bacellar (SD). Quando o político de Campos exerceu a relatoria do seu pedido de impeachment, segundo Witzel, teria sido pressionado a trabalhar para consumá-lo por um pedido de busca e apreensão do Ministério Público Federal (MPF). O ex-governador disse que também seu vice e sucessor, o governador Cláudio Castro (PL), e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado André Ceciliano (PT), teriam sido pressionados da mesma maneira:

— Na medida que o Ministério Público Federal pede a busca e apreensão na casa do vice-governador, a busca e apreensão na casa do presidente da Alerj, a busca e apreensão na casa do relator do relator do meu processo de impeachment, o deputado estadual Bacellar, todos foram colocados com a corda no pescoço (…) Essas pessoas, o presidente da Assembleia Legislativa, o vice-governador, o relator do meu processo de impeachment na Alerj, todos investigados, com a corda no pescoço. E, ao final, quando eu sou cassado, isso aqui simplesmente acabou, morreu, não tem mais investigação — disse Witzel aos senadores da República.

Confira no vídeo abaixo:

 

 

Ao blog do jornalista Octavio Guedes, no G1, Cláudio Castro respondeu (confira aqui) ao ex-companheiro de chapa, que também acusou o atual governador de ter colocado em “banho-maria” a investigação do assassinato da ex-vereador Marielle Franco (Psol), executada a tiros em março de 2018 por milicanos do Escritório do Crime:

— Witzel é um coitado. Ele é inimputável pelo que fala, mas não pelo que fez — disse Castro.

 

Demandas de posição sobre o que Witzel disse hoje à CPI da Covid também geradas a Rodrigo Bacellar, André Ceciliano e ao MPF do Rio Janeiro.

 

Código Tributário — Helinho e Matoso respondem aos Garotinho

 

Helinho Nahim, Rogério Matoso e Wladimir Garotinho (Montagem: Joseli Mathias)

 

Criticados (confira aqui) pelo prefeito Wladimir Garotinho (PSD), o ex-vereador Thiago Virgílio (Pros) e o ex-governador Anthony Garotinho (sem partido), alguns ex-secretários do governo Rafael Diniz (Cidadania) e hoje vereadores contrários ao novo Código Tributário, que será votado e (confira aqui) deve ser aprovado hoje, reagiram antes da votação aos ataques:

— A pior coisa é as pessoas não admitirem que erram. E aí começam a atacar, mentindo para tentar esconder todos os erros que cometeram. Erros estes que foram mexer em gratificação de médico, deixar de pagar a insalubridade a um grande número de pessoas, retirar o vale alimentação a mais de três mil servidores e aumentar os impostos, como eles querem e vão tentar ainda hoje. Sobre o governo Rafael, eu trabalhei no Entretenimento e Lazer. Tudo que for ligado a esta pasta e que quiserem me questionar, não só o atual governo, como qualquer cidadão, têm total direito de fazer isso. Agora, querer falar sobre outras pastas do governo Rafael, não poso responder, porque não tive nenhuma participação em qualquer setor, que não o Entretenimento e Lazer — explicou o vereador Helinho Nahim (PTC), primo de Wladimir e ex-secretário de Entretenimento e Lazer de Rafael.

— Estão falando coisas que não têm nexo. Fiz parte do governo Rafael e fui julgado pelas urnas, que me elegeram novamente vereador. Apoiei Bruno Calil (SD, ex-candidato a prefeito) no primeiro turno e subi no palanque de Wladimir no segundo turno, quando ele teve mais 7.400 votos na “pedra”. E torço para que seu governo dê certo. Só sou contra essa proposta de novo Código Tributário. Basta olhar o passado recente, quando Garotinho, Rosinha (Pros), Cabral (MDB) e Pezão (MDB) estavam no mesmo palanque. E, no governo, todos aumentaram tributos, quando o Estado do Rio perdeu muito investimentos. Campos é um município limítrofe do Espírito Santo, que tem metade do ICMS e estimula lá o setor produtivo, inclusive com empresas que estavam antes instaladas em território fluminense. Quando a tributação é menor, isso aumenta os investimentos, cria empregos e fluxo no caixa da Prefeitura. Aumentar os impostos, sobretudo em um momento de grave crise econômica, por conta da pandemia da Covid, aumenta a inadimplência, as portas de comércio fechadas, como já vemos em Campos — alertou o edil Rogério Matoso (DEM), ex-superintendente de Trabalho e Renda de Rafael.

Outros três outros ex-sceretários de Rafael, criticados pelos Garotinho pela posição contrária à proposta do Código Tributário, os vereadores Abdu Neme (Avante), Nildo Cardoso (DEM) e Raphael Thuin (Cidadania) não retornaram os contatos.

 

Maicon e Marcione são dúvida na votação do Código Tributário

 

(Infográfico: Joseli Mathias)

 

Os vereadores Maicon Cruz (PSC) e Marcione da Farmácia (DEM) também podem votar na sessão de hoje, da Câmara Municipal, pela aprovação do novo Código Tributário proposto pelo governo Wladimir Garotinho (PSD). Se a dúvida da posição de Marcione já era conhecida, a de Maicon passou a existir hoje. E são fruto do trabalho de articulação do presidente do Legislativo goitacá, o governista Fábio Ribeiro (PSD). Caso se confirme em votos, o projeto polêmico seria aprovado por 14 votos a 10. Marcione assinou emendas ao projeto de alteração do Código, junto aos 12 vereadores que votarão pela aprovação, mas não garantiu seu voto.

O mínimo de 12 votos à aprovação, com o desempate no voto de minerva do presidente, havia sido garantido com o vereador Thiago Rangel (Pros), como adiantou ontem aqui, em primeira mão, o Blog do Arnaldo Neto. A mudança de posição do edil se deu a partir da nomeação de nomes ligados a ele, também ontem, para a Empresa Municipal de Habitação (Emhab). No início das negociações, ele queria o Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT).

“Mordido” com a grande resistência ao novo Código por parte dos setores produtivos da cidade e dos vereadores de oposição, Fábio teria chamado para si o papel de articulador da aprovação. Wladimir precisa dela para ter mais chances de firmar, nesta quinta (17), um Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) do município com o Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Mas, Se for aprovado, é certo que o Código Tributário será questionado na Justiça pelo setor produtivo de Campos. Alguns dos melhores juristas da cidade, que já se debruçam sobre a questão, julgam ser razoáveis as chances de derrubar o Código por inconstitucionalidade.

 

Atualização às 16h53: O blog gerou demanda ao vereador Maicon às 11h36 de hoje, que não retornou. Quando sua aparente indefinição da manhã se transformou em certeza à tarde, ele anunciou (confira aqui) seu voto contrário ao Código Tributário.

 

Código Tributário será votado hoje com ataques a Rafael e vereadores

 

 

Código Tributário hoje na Câmara

A proposta do governo Wladimir Garotinho (PSD) do novo Código Tributário de Campos será votada hoje (16) na Câmara Municipal. E, tudo indica, aprovado pela maioria mínima, caso as nomeações ontem (15) de seus cabos eleitorais à Empresa Municipal de Habitação (Emhab) se confirmem no voto favorável do vereador Thiago Rangel (Pros). Com ele, o placar ficaria em 12 a 12 e seria desempatado pelo voto de minerva do presidente do Legislativo, o governista Fábio Ribeiro (PSD). Mas este pode nem ser necessário, caso as negociações de bastidores consigam também garantir o voto de Marcione da Farmácia (DEM).

 

Na Justiça e no TCE

Se passar na Câmara, o Código Tributário será questionado na Justiça pelo setor produtivo de Campos. Alguns dos melhores juristas da comarca já se encontram debruçados sobre a questão. E julgam razoáveis as chances de conseguir derrubá-lo por inconstitucionalidade. Por sua vez, como Wladimir revelou ao programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, na última sexta (11), que seu objetivo é sinalizar o esforço para diminuir despesas e aumentar receita ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), para firmar um Termo de Ajustamento de Gestão (TAG). O que ele tentará nesta quinta (17), independente do resultado da votação na Câmara.

 

Histórico

O Código Tributário seria votado em 26 de maio, outra quarta-feira. Foi o dia seguinte à sessão em que o governo aprovou, na terça (25), 12 dos 13 projetos do pacote de austeridade de Wladimir, três deles com cortes a benefícios de servidores. Com seus 11 vereadores mais fiéis, entre eles os três do PDT que ignoram as diretrizes em contrário de Caio Vianna, presidente do partido em Campos, o governo contou também com os votos dos edis Raphael Thuin (PTB), Fred Machado (Cidadania) e Bruno Vianna (PSL). Mas os três anunciaram que não votariam contra o setor produtivo, fazendo com que o Código Tributário fosse retirado de pauta.

 

Wladimir, Garotinho, Rodrigo, Marcos Bacellar e a Câmara de Campos, que vota hoje a proposta do novo Código Tributário (Montagem: Joseli Mathias)

 

Garotinho ataca Rodrigo

Aquela semana de maio tinha sido o momento mais tenso dos cinco primeiros meses do governo Wladimir. Esta também prometia, após o ex-governador Anthony Garotinho apontar na quinta (10) sua velha metralhadora giratória a Rodrigo Bacellar (SD), novo secretário estadual de Governo. E, sem nominá-lo, disparou: “Tem um deputado que está tentando armar para o meu filho, para tentar me atingir, e atingir o meu filho, que ainda não tem a experiência que eu tenho (…) Eu sei que você está armando aí, com essa turma de canalhas e ladrões da política, se escorando em gente grande, para tentar prejudicar meu filho”.

 

Paz de Castro

Pai de Rodrigo, conhecido pelo espírito combativo, com o qual já confrontou Garotinho no auge, chamando-o de “pilantra” em programa de rádio ao vivo no qual entrou incógnito, o ex-vereador Marcos Bacellar (SD) ficou sabendo dos ataques do ex-governador ao seu filho. E consta que teve que ser contido pelos mais próximos para não usar suas redes sociais na quinta, em uma resposta a Garotinho no estilo Bacellar. Mais sensato que o pai, Wladimir baixou a corda no Folha no Ar do dia seguinte, revelando que o governador Cláudio Castro (PL) pediu a ele e a Rodrigo, ambos seus aliados, que pacificassem sua relação em Campos.

 

 

Hora de desacelerar

Chamado de inexperiente pelo pai na quinta, Wladimir falou de Garotinho na sexta. E disse ao microfone da Folha FM: “Meus pais estão em outra fase de vida, fizeram muito pelo Estado, por Campos, sofreram muita coisa. Meu pai é um cara de muito embate, muito confronto. Meu pai está com 61 anos, está na hora de dar uma desacelerada. Ele não é candidato a governador (em 2022). Meu pai, se for candidato, é a deputado, ou estadual, ou federal. Eu até prefiro que seja a federal, para ele poder me ajudar em Brasília, porque ele é uma pessoa que tem muito acesso e influência lá. É uma decisão política e familiar também”.

 

 

Rafael e vereadores viram alvo

Se Wladimir deu a ordem de cessar o fogo aberta pelo pai contra os Bacellar, o grupo dos Garotinho não poupou munição contra outros adversários. Incomodado com a força da campanha contra o Código Tributário, graças à mobilização dos comerciantes e dos vereadores contrários, os ataques foram dirigidos a estes e ao ex-prefeito Rafael Diniz (Cidadania). Em suas redes sociais, o ex-vereador Thiago Virgílio disparou na segunda (15): “Estão dizendo aí que Wladimir enviou um projeto de lei para aumentar IPTU e taxa de iluminação pública. Quem fez isso foi o ex-prefeito Rafael Diniz. E os que foram seus secretários hoje querem posar como arautos da moralidade”.

 

 

Ironia rafaelista

Na noite de segunda, o próprio Wladimir disse em suas redes sociais: “Estão fazendo um movimento, alegando que a Prefeitura quer aumentar abusivamente os impostos. Isso não é verdade. Quem está por trás são pessoas que participaram ativamente do governo Rafael”. O prefeito e Thiago não nominaram, mas se referiram aos edis Adbu Neme (Avante), Rogério Matoso (DEM), Helinho Nahim (PTC), Nildo Cardoso (PSL) e Thuin, todos ex-secretários de Rafael. Este, ouvido pela coluna, preferiu não comentar. Mas um seu ex-assessor ironizou: “Eles não faziam o que a gente queria nem quando eram secretários. Por que fariam agora?”

 

 

Publicado hoje (16) na Folha da Manhã

 

Da filosofia à política, Deus é clamado por bispo contra Bolsonaro

 

O homem e Deus se tocam em afresco de Michelangelo no teto da Capela Sistina, pintado entre 1508 e 1512, no Vaticano

 

“Assim falou Zaratustra” foi lançado pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche em 1883. De lá para cá, a sentença “Deus está morto”, proferida no livro, foi tirada de contexto para ser muito mal usada e interpretada, inclusive pela maioria que nunca leu a obra. Quem, embora de filosofia, foi escrita em linguagem profética.

Antes de terminar a vida falando com cavalo, Nietzsche retomou a figura do profeta persa Zaratustra. Que viveu no séc. VII a.C. e foi primeiro a fundamentar um sistema de valores e crença baseado nos conceitos bem e mal. Sendo por isso chamado pelo grego Platão de “o primeiro filósofo”.

Primeiro império do mundo, a influência da Pérsia se enraizou na religião judaica e, depois, em suas variações cristã e islâmica. O filósofo alemão reconhecia essa contribuição à humanidade. Mas pregou que só a partir da superação do bem e do mal, o homem se faria super-homem, indivíduo adequado às novas prerrogativas morais da civilização industrial.

 

Atentado às Torre Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2001

 

Após o 11 de setembro de 2001, em que militantes islâmicos da Al Qaeda sequestraram e atiraram jatos comerciais contra as Torres Gêmeas do World Trade Center, levando-as abaixo, e o Pentágono, o cineasta e jornalista Arnaldo Jabor escreveu, em diálogo com o Zaratustra de Nietzsche: “Deus está vivo. E se chama Alá”.

Curiosamente, o presidente dos EUA naquele episódio era George W. Bush. Que trazia o apoio político dos neopentecostais, outro grupo fundamentalista religioso. E liderou uma suposta nova Cruzada entre Ocidente e Oriente, cristianismo x islamismo, com as invasões do Iraque e do Afeganistão.

 

Acossado na Casa Branca pelos protestos do “Black Lives Matter”, o então presidente dos EUA Donald Trump saiu às ruas de Washington, em 1º de junho de 2020, para posar uma Bíblia de cabeça para baixo nas mãos, em frente a Igreja Episcopal St. John (Foto: Tom Brenner/Reuters)

 

Donald Trump nunca foi religioso. Mas também soube apostar no fundamentalismo cristão dos neopentecostais para fazer deles importantes aliados políticos nos EUA. E, em nova roupagem à Cruzada entre Ocidente e Oriente, deixou o fundamentalismo islâmico em segundo plano para eleger como novo “Grande Satã” o capitalismo de Estado ateu da China.

 

Patriarca Cirilo I, líder da Igreja Ortodoxa Russa, com Vladimir Putin, ex-agente da KGB na União Soviética comunista e ateia

 

Católico praticante, Joe Biden também assumiu o antagonismo com Pequim. Mas, em moldes laicos, o fez resgatando os laços entre EUA e Europa na Organização do Atlântico Norte (Otan). Que tinham sido abandonados por Trump, a mando do presidente vitalício da Rússia, Vladimir Putin. Este, popular em seu país pela reaproximação do Kremlin com a Igreja Ortodoxa Russa.

 

 

No Brasil, Jair Bolsonaro trocou sua formação católica pelo filão eleitoral neopentecostal, ao ser batizado no rio Jordão, em 2016, pelo Pastor Everaldo, preso por corrupção em agosto de 2020. No meio do caminho, o batizado se elegeu presidente em 2018, reduzindo Deus a slogan de campanha: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

Com apoio da irmã de Nietzsche, o nazismo chegou ao poder pelo voto na Alemanha e, depois, pelas armas na Europa, nos anos 30 e 40 do séc. 20. E corrompeu racialmente o conceito de super-homem do filósofo morto em 1900, creditando-o ao ariano puro. Mesmo que a maioria dos alemães se mantivesse luterana e católica romana.

 

Soldados alemães da SS, que exterminaram 6 milhões de judeus em campos de concentração na Europa, levavam incrito na fivela dos seus cintos: “Gott mit uns” (“Deus conosco”)

 

Eram, portanto, cristãos todos os nazistas que mataram 6 milhões de judeus em campos de extermínio durante a II Guerra (1939/1945). Sufocando-os com gás e depois queimando seus corpos em fornos. Semelhante ao slogan bolsonarista, os soldados da SS que praticaram o Holocausto levavam escrito nas fivelas do seu cinto: “Gott mit uns” (“Deus conosco”).

ׅ“Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” é um conselho de Cristo presente em três dos quatro Evangelhos: Marcos 12:13-17, Mateus 22:15-22 e Lucas 20:20-26. Que pareceu ser seguido pelo bispo católico auxiliar de Belo Horizonte, Dom Vicente de Paula Ferreira. No domingo (13), dia santo aos cristãos, ele usou sua conta no Twitter para clamar a Deus:

— Senhor, tu que fugiste de jegue para o Egito, mostra-nos um meio de nos livrar desse fascista brasileiro. Tu que entraste em Jerusalém montado num jumento, dá-nos a coragem de enfrentar o tirano que mata nossa gente. Livra-nos, Senhor, do desgoverno da morte. Está pesado demais.

 

 

Castro Alves

Conhecido pelo seu trabalho em Brumadinho, Dom Vicente é doutor em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com estágio pós-doutoral em Teologia, na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). É graduado em Filosofia pela UFJF e em Teologia pela FAJE e integrante da Sociedade de Estudos Psicanalíticos de Juiz de Fora.

Poeta maior do nosso Romantismo, não é difícil supor como o baiano Castro Alves seria hoje tratado ao escrever: “Quebre-se o cetro do Papa./ Faça-se dele — uma cruz!/ A púrpura sirva ao povo/ P’ra cobrir os ombros nus”. Ou nos versos ecoados por Dom Vicente: “Senhor Deus dos desgraçados!/ Dizei-me vós, Senhor Deus!/ Se é loucura… se é verdade/ Tanto horror perante os céus…”