Em Campos, Marcelo Freixo mira o Estado do Rio

 

Por Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel

 

Pré-candidato a governador que vem até aqui liderando as pesquisas, a pouco mais de um ano das urnas de 2022, o deputado federal Marcelo Freixo deixou recentemente o Psol para ingressar no PSB. No que analistas consideram uma tentativa de contornar a rejeição que o fez perder o segundo turno da eleição a prefeito do Rio, em 2016, para Marcelo Crivella (Republicanos). A ida ao novo partido foi articulada com outros nomes de expressão nacional, como o bem avaliado governador do Maranhão, Flávio Dino, que foi do PCdoB para o PSB, na tentativa de formar um leque mais amplo de aliança. Nela, Freixo não descarta nem o PDT, que tem como pré-candidato a governador o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves.

Muito crítico à gestão estadual Cláudio Castro (PL), a quem deu nota 0, ele considera que a pré-candidatura do governador está atrelada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Falou do diálogo que pretende abrir com municípios da região, como Macaé e Campos. E foi mais generoso na avaliação do governo Wladimir Garotinho (PSD), com quem tinha programado almoçar ontem (27), em sua visita à cidade, junto do também deputado federal Alessandro Molon (PSB) e do prefeito de Maricá, Fabiano Horta (PT). Um dia antes, na quinta (26), em entrevista ao programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, Freixo deu nota 7 aos oito primeiro meses de gestão do prefeito campista.

 

Marcelo Freixo (Foto: Antonio Leudo/Folha da Manhã)

 

Folha da Manhã – Na terça, também em entrevista ao Folha no Ar, seu colega de PSB, o deputado Alessandro Molon, deu nota 7 a estes quase oito meses do governo Wladimir em Campos. De 0 a 10, que nota o senhor daria?

Marcelo Freixo – Eu daria nota 7 ao Wladimir. Vou ouvi-lo bastante sobre as suas dificuldades e sei que são grandes. O Rio passou por uma situação muito grave de decadência da economia do petróleo. Começa a se recuperar a partir de 2018, mas chegamos a uma situação de crise muito profunda. A região Norte Fluminense inteira é muito dependente dessa economia, então você tem ainda as consequências dessa crise. E, queira ou não, é um início de governo ainda na pandemia. Tem gente falando em pós-pandemia, mas a pandemia não passou. Então, é evidente que, por essas dificuldades de um reerguimento econômico ainda no início e uma situação de saúde, de crise sanitária, muito profunda, eu dou nota 7, porque é uma nota com que você passa, mas, evidentemente, ainda tem muita coisa a fazer. Não tenho dúvida de que ele acha isso também. Mas, eu vou ouvi-lo.

 

Folha – Por que saiu do Psol ao PSB? Em Campos, o Psol teve uma das revelações da eleição para prefeito de 2020: a Natália Soares, professora universitária como o senhor e o Molon, ficou em quinto lugar na eleição, quase ultrapassou o então prefeito Rafael Diniz (Cidadania). O senhor espera ter apoio dela e do Psol na sua pré-candidatura a governador?

Freixo – Sem dúvida alguma. O desempenho da Natália foi extraordinário. Eu conversei bastante com ela, a apoiei. E a minha saída do Psol foi muito conversada, muito amadurecida. Sou muito grato por tudo o que eu vivi no Psol. Foram muitos anos. Ajudei a construir ali um espaço que elegeu muita gente boa, muita gente importante. Elegeu Marielle, elegeu uma bancada de sete vereadores no Rio de Janeiro, vereadores em outros municípios, elegeu uma bancada de cinco deputados estaduais, quatro deputados estaduais. Então, tenho muito orgulho do que fiz ali. Mas, na vida, os desafios vão sendo colocados, e a gente não deve ter medo da mudança. A minha ida para o PSB foi muito amadurecida, muito conversada, e, para nós superarmos a dificuldade que a gente está enfrentando hoje, o preço da gasolina, o preço do arroz, preço do feijão, dificuldade para pagar um aluguel, o desemprego, fome; nós voltamos a ter fome! Eu moro no Flamengo, não há um viaduto no Aterro do Flamengo que não tenha famílias inteiras morando embaixo. É muito triste o que a gente está vivendo hoje no Brasil, pertinho da gente, no alcance dos nossos olhos. A gente tem que encarar esse desafio. E, nesse sentido, a gente precisa disputar o governo do Rio de Janeiro. O Rio tem que ser refeito, tem que sair das mãos de uma máfia. O crime governando o Rio de Janeiro é o que a gente está assistindo hoje. Quem governa o Rio é o crime. E enfrentar isso não pode ser sozinho. Tenho certeza que a minha ida para o PSB corresponde a isso: à possibilidade da construção de uma frente que tenha bastante gente, que tenha, inclusive, o Psol. Tenho certeza que vão estar juntos com a gente nessa frente. Fiz esse movimento junto com o governador do Maranhão, Flávio Dino, quem aliás, é o melhor governador em relação ao combate à pandemia. Lá é o lugar com os melhores resultados. Então, eu e o Flávio Dino (PSB) amadurecemos muito essa decisão. O Flávio Dino saiu do PCdoB, eu saí do Psol, para a construção de uma frente que mude o destino do Brasil, que tire o Brasil do fanatismo, dessa seita que hoje governa o Brasil. E, no Rio de Janeiro, que enfrente a máfia que levou o Rio ao fundo do poço. Agora, até acordo com traficante eles fazem. Eu sempre denunciei acordo com milícia, mas, realmente, eles se superaram, estão fazendo acordo com o tráfico. A minha ida ao PSB é com muito respeito ao Psol, contando com o Psol nesse leque de aliança.

 

Folha – De 0 a 10, qual sua nota ao governo Cláudio Castro? E por quê?

Freixo – Nota 0. Eu não posso dar um décimo. E olha que fui um professor generoso na minha vida. Já dei muita aula para alunos de Campos quem iam fazer pré-vestibular em Niterói ou no Rio de Janeiro. Sempre fui um professor muito amigo dos alunos. Mas, o Cláudio Castro, como aluno da política, é 0, porque não pode ter um governo que faça acordo com milícia e acordo com o tráfico. O que aconteceu com o (ex-)secretário de Administração Penitenciária (Raphael Montenegro), a pessoa que é responsável pelas prisões, sair do Rio de Janeiro, pegar um avião, ir para outro estado, visitar líderes do Comando Vermelho para fazer acordo. Não sou eu que estou dizendo, isso foi reportagem do “Fantástico”. As gravações foram mostradas. O secretário dizendo para o líder de uma facção que ele é a pessoa mais importante do Rio de Janeiro, mais importante que o secretário de Segurança. Em que mundo vivemos? O que é isso? Eu não posso dar um décimo para uma coisa dessa? Em 2008, eu fui presidente da CPI que investigou as milícias e levou à prisão mais de 200 milicianos. Ali, eu coloquei a minha vida em risco, com muita consciência do que estava fazendo. E não me arrependo, faria novamente. Aquela CPI que virou filme, o “Tropa de Elite 2” (2010, de José Padilha). Tem que ter um governador que tenha comando, que tenha moral. Não pode ser um governador que não consegue explicar o que está dentro da mochila, não pode ser um governador que faz acordo com tráfico, com milícia. Tem que ser um governador que tenha moral para ter um plano de segurança que envolva o Governo Federal, envolva a sociedade. E que discuta um destino. O Rio precisa de segurança e desenvolvimento, e uma coisa está atrelada à outra.

 

Folha – O senhor deu nota 0 ao governo Cláudio Castro. O Molon, na terça, deu nota 3. O governador esteve aqui em Campos e na região no início do mês e assumiu uma série de compromissos: um Restaurante Popular e um posto de Detran para Guarus, um destacamento do Corpo de Bombeiros na Baixada Campista, apoio ao projeto Fênix para retomada da vocação agropecuária e, assim que o TCE liberar, retomar e concluir as obras da Ponte da Integração, entre São João da Barra e São Francisco de Itabapoana.

Freixo – Se forem compromissos que a economia local, a sociedade e os prefeitos considerem prioridades, ótimo. Quando se fala de posto do Detran, eu sempre fico preocupado. Acho ótimo que tenha um posto do Detran em Guarus. Precisa saber se ele vai entregar o posto do Detran para algum aliado político, como eles fazem sempre, o que, aliás, gerou a prisão de muitos aliados do Cláudio Castro. A investigação Furna da Onça, na Alerj, era justamente isso. Está certo em atender a demanda de prefeito e da economia local. Mas, por exemplo, me estranha ele não falar sobre a Ferrovia Centro-Atlântica. São 650 quilômetros de ferrovia, houve uma concessão para o Governo Federal, o investimento não foi feito. O Rio tem que ser indenizado, inclusive. Há uma indenização pelo não investimento. O governo Bolsonaro está anunciando que o valor dessa indenização vai ser usado para construir o metrô de Belo Horizonte. Tem um trecho dela, inclusive, que passa por Campos, Vitória. Por que esse dinheiro não vem para o Rio de Janeiro? É um dinheiro que tinha que ser investido aqui. Aí você vai ter que enfrentar o Governo Federal. E me parece que o governo Cláudio Castro não consegue muito ter coragem para falar um pouco mais alto com o Governo Federal na hora de defender o Rio de Janeiro, é muito submisso ao governo Bolsonaro.

 

Folha – Perguntado sobre os compromissos do Cláudio Castro, o Molon disse que não poderia ficar contra, mas que resta saber se vão ser cumpridos. Mas ele, que também é pre-candidato ao Senado, também falou que quando chegar o momento do PSB fazerem as propostas, Campos e o Norte Fluminense poderiam se surpreender. O que o senhor e Molon pensam para o município e a região?

Freixo – Primeiro, é uma região estratégica, muito importante pela economia do petróleo e pela necessidade de superar a dependência da economia do petróleo. A primeira coisa que eu acho que um governador tem que fazer é chamar o prefeito de Maricá, que, aliás, vai me acompanhar nessa visita a Campos. O Fabiano Horta é um extraordinário prefeito, morador de Maricá não paga passagem de ônibus, tem um hospital público e uma rede de educação de grande qualidade. Isso é com dinheiro público, com política pública. Uma moeda local que aqueceu a economia, o Mumbuca, que eles criaram em Maricá. Quero chamar o prefeito de Maricá, chamar o prefeito de Macaé e o prefeito de Campos e criar um grupo de trabalho em cima das questões dos royalties, para atingir com investimento toda uma região. As estradas estaduais que ligam os municípios da região estão abandonadas há muito tempo. Com investimento nessas estradas, você atinge mais de 900 mil pessoas. Você tem, hoje, uma quantidade enorme de caminhões, por causa da BR 101, que cruzam por dentro de Campos todos os dias, provocando um inferno na cidade. Quando você fala que vai chamar três prefeitos e dizer que o Governo do Estado quer, junto com eles, dar um destino para os royalties que atinja a uma quantidade enorme de municípios e qualifique, melhore a vida das pessoas de toda uma região. Quantas vezes os prefeitos de Campos, Macaé e Maricá sentaram para o governador com um projeto para uma região mais extensa? Não falo só da região Norte, estou falando de um projeto que possa ser mais amplo e possa ser de estado, com políticas públicas de estado. Porque governador passa, você tem que criar políticas públicas que vão ficar ali. Então, acho que esse é um caminho importante a se pensar.

 

Folha – Pesquisas apontam que, no estado do Rio, o antibolsonarismo é menor, como o antipetismo maior do que as médias nacionais. Em 2016, o senhor perdeu a eleição de segundo turno a prefeito do Rio para Marcelo Crivella. E é considerado um candidato de piso alto, o que é bom no primeiro turno, mas de teto baixo, por conta da rejeição, o que é ruim no segundo turno. Como encara essas condições eleitorais?

Freixo – Os números das pesquisas, hoje, não mostram isso. Mostram o contrário. E 2016 não pode ser comparado com 2022. Em 2016, nós tínhamos o pior momento possível da política para qualquer candidato do campo progressista. Eu fui um dos poucos que cheguei ao segundo turno. Dos candidatos progressistas, todos perderam no Brasil inteiro. Foi o pior momento. Tinha uma conjuntura em 2016, que era a conjuntura de ascensão do bolsonarismo, uma conjuntura de uma extrema direita e um momento muito crítico de toda uma esquerda, de todo um pensamento progressista. O que a gente tem, hoje, é uma outra situação. Hoje, o governo Bolsonaro está derretendo e a extrema direita precisa ser superada. A rejeição maior no Brasil, hoje, é ao Bolsonaro. O governador do Rio, hoje, é um candidato do Bolsonaro. Ele só tem vida do lado do Bolsonaro, todas as pesquisas indicam isso. A gente está fazendo uma aliança, como não fizemos em 2016. A gente vai ter uma possibilidade de disputar o Governo do Estado junto com o Governo Federal. Eu não tenho nenhuma denúncia contra mim, em tantos anos de vida pública. Hoje, a gente está na frente de qualquer pesquisa e consegue chegar ao segundo turno. Mas, nós vamos ter uma realidade de segundo turno muito mais favorável do que em qualquer eleição anterior. Não dá para pensar em 2022 à luz do que aconteceu em 2016. E, mesmo assim, em 2016 eu cheguei a 42% dos votos. Eu acho que, agora, a chance de a gente chegar ao segundo turno e vencer a eleição é muito maior.

 

Folha – Outros pré-candidatos a governador, Castro e Rodrigo Neves (PDT), ex-prefeito de Niterói e também do campo progressista, parecem apostar na sua rejeição, caso um ou outro dispute com o senhor o segundo turno. É aposta equivocada? Por quê?

Freixo – A gente tem uma vantagem de ser muito mais conhecidos do que outros candidatos. A eleição é curta, a lei mudou. É uma eleição de 45 dias. Então, quem tem rede social e capacidade de comunicação mais fortes antes da eleição, cresce e chega numa eleição mais forte. Hoje, nós temos o PSB, o PT, o PCdoB, Psol e a Rede muito próximos dessa aliança. E eu estou conversando com outros setores, outros partidos fora desse campo, com conversas já bastante avançadas, mas que ainda não posso dizer. Mas, a gente pode ir com um leque de aliança grande. Ou seja, nós temos uma capacidade de comunicação na pré-campanha que é grande. A gente tem 3 milhões de seguidores somando todas as redes, uma visibilidade grande, e a gente vai ter uma campanha estruturada, com tempo de televisão. Eu quero muito contar com o PDT com a gente. Quero muito. Sempre converso com o (Carlos) Lupi (presidente nacional do PDT), e a porta está aberta. Em 2022, há o cenário de Bolsonaro de um lado, e quem quer derrotar Bolsonaro, do outro. Esse é o leque de aliança. Eu vejo o PDT, hoje, muito isolado. E tem uma questão muito séria. Em todas as pesquisas que estou fazendo, e estou fazendo muitas, pesa muito no Rio a questão da corrupção. Mais do que em qualquer outro estado. Corrupção e violência. E a gente entende, por ter governadores presos, enfim. O fato de o Rodrigo Neves já ter tido muitos problemas é um peso contra ele, e o fato de ele não conseguir fazer uma aliança ampla também dificulta muito. Mas, eu tenho muito respeito pelo PDT e quero muito o PDT com a gente. O Rio vai exigir um governador que seja ficha limpa, não tenha dúvida disso. O Rio já teve um monte de governador preso, não quer mais um.

 

Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

Confira nos três blocos abaixo, em vídeo, a íntegra da entrevista de Marcelo Freixo ao Folha no Ar, na manhã de quinta (26):

 

 

 

 

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