O futuro da região
Por Arthur Soffiati
Os tempos mudaram. A economia de marcado cresceu à base de minerais fósseis carbônicos, como carvão mineral, petróleo e gás natural. O otimismo foi grande. O mundo todo foi arrastado pelo capitalismo, de municípios a países. Mas, aos poucos, foram se avolumando problemas. Durante quase dois séculos, empresários, governantes e a população em geral mostraram-se alheios aos problemas derivados desse tipo de desenvolvimento, seja negando-os, ignorando-os ou minimizando-os. A ficha demorou a cair. Ainda não caiu. Ela ficou encalacrada na fenda.
Levanto alguns pontos que poderiam ser comuns a todos os municípios do Norte-Noroeste Fluminense, visando um outro desenvolvimento ao sair da crise sanitária:
1 – Aplicação de recursos em fundo financeiro: entrando recursos dos royalties ou das participações especiais, pergunto se não seria adequado contar com um grupo de especialistas para indicar os caminhos para seu rendimento antes de serem aplicados. Desperdiçamos recursos financeiros derivados da exploração petrolífera. Cabe agora mais responsabilidade com eles. Além do mais, sugere-se que tais recursos sejam aplicados em atividades que busquem zerar as emissões de carbono que o geraram;
2 – Plano de longo prazo: o presidente da Câmara de Campos sente falta de um plano de longo prazo. As pessoas ajuizadas também. Estamos no quinto ou sexto plano diretor do município. Nenhum foi levado a sério pelos governantes. Cada prefeito que entra diz que seguirá o seu plano de governo, que dura apenas quatro anos. Sugestão para a Câmara: rever o Plano Diretor de 2008. Ele foi revisto em 2019 e encaminhado à Câmara completamente desalinhavado. Coloquemos os pingos nos is e pensemos num plano regional;
3 – Distribuição de renda: levantou-se também a questão da pobreza da maior parte da população do município. Ela afeta a região. Em Macaé, vive-se a extrema riqueza ao lado da extrema pobreza. Um plano social de geração de emprego, saúde preventiva, educação e transporte, pelo menos, vem se fazendo necessário há muito tempo. Não há de ser a Azul, ligando Campos ao mundo por linha aérea, que há de resolver esses problemas;
4 – Energias renováveis: os entrevistados tocaram nas formas novas e limpas de gerar energia, mas concordaram que o petróleo ainda dominará a economia por muito tempo. Não sei se tal concordância expressa otimismo ou resignação. Entendo que petróleo, carvão e gás não serão descartados tão cedo. Vejo que nenhum país produtor dessas fontes de energia renunciará a elas antes que se esgotem. Quando chegar esse momento, a atmosfera estará saturada de CO2. A máquina capitalista estacionará. As mudanças precisam ser feitas agora. Segundo um atlas antigo sobre o potencial eólico do Brasil, editado pela PUC-Rio em 1988, a combinação da planície com o mar, no Norte Fluminense, apresenta uma reserva apreciável de ventos. Pode-se dizer o mesmo sobre o potencial solar e marinho. Todas essas três fontes não são aproveitadas ou são minimamente aproveitadas;
5 – Agricultura familiar: fala-se muito na recuperação da agropecuária regional depois do fim do otimismo causado pelos royalties. O ufanismo e o otimismo têm sido postura constante entre empresários e políticos. Nada de realismo. Podemos recorrer ao pessimismo quando convém. Os ruralistas choram bastante quando lhes interessa. O poder público dos municípios faria bem se estimulasse a agropecuária de pequeno porte voltada para a produção de alimentos. Ninguém vive de caldo de cana;
6 – Reflorestamento: bato nessa tecla há 40 anos. O som saído do piano sempre pareceu desafinado aos poderosos. Sem reflorestamento de pontos críticos, não se pode pensar em recuperação da agricultura;
7 – Proteção de lagoas: não se pode também pensar na recuperação agropecuária sem água. Florestas e água, eis o segredo de um bom desenvolvimento. Além de proteger as lagoas que restaram, cabe pensar em recuperar o que for possível em termos de água, além de se evitar a poluição;
8 – Estímulo à pesca: a atividade pesqueira foi a primeira fonte de recursos alimentares e econômicos da região. Ela entrou em declínio com a agropecuária, que tem uma dívida secular com a pesca;
9 – Integração regional: já houve tentativa de integrar a região. Tenta-se novamente. Ela vingará dessa vez? Como disse Aurelio Peccei no seu último livro, deixo essas palavras para o futuro na condição de ativista sênior.