Brasil de 2022 na Folha FM
“Bolsonaro não é cachorro morto”. A advertência, relativa à eleição presidencial de 2022, foi feita na manhã de ontem pelo analista político Ricardo Rangel, colunista da revista Veja, na série de entrevistas com personagens nacionais feita no Folha no Ar, da Folha FM 98,3. Ex-diretor da Conspiração Filmes, Ricardo tem também sólida militância na cultura brasileira. E, ainda que não tenha sido eleito, foi bem votado a deputado federal pelo estado do Rio em 2018, pelo Novo. Que deixou pela aproximação de parte do partido com o governo Jair Bolsonaro (sem partido). Do qual é crítico, mas sem perder o pragmatismo na análise.
Terceira via: ainda é cedo?
“A terceira via ainda não decolou. Isso é um fato. Mas ainda falta bastante (mais de 10 meses) para a eleição. O eleitor médio ainda não está tão preocupado com política. O eleitor que já está preocupado com isso é o bolsonarista e o lulista. O eleitor da terceira via não está polarizado. Por todas as pesquisas, o eleitorado está dividido em três terços: um terço ou menos que vota em Bolsonaro, um terço ou mais que vota em Lula, e um terço que não vota em nenhum dos dois. Esse vai votar, lá na frente, na opção mais bem posicionada. É cedo para decretar a morte da terceira via”, também advertiu ao Folha no Ar o colunista da Veja.
“Moro é direita que não deu certo”
Ricardo também analisou criticamente a pré-candidatura a presidente do ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro (Podemos): “Ele falou muito bem, obviamente está com profissionais de media training, de fonoaudiologia. Mas não considero o Moro uma terceira via de verdade, porque é muito associado ao Bolsonaro, é um projeto de direita que não deu certo. Ele ficou um ano e meio lá e, inclusive, perseguiu os inimigos do Bolsonaro e dele mesmo. E a gente sabe o que a Vaza-Jato revelou sobre o seu comportamento como juiz. Ele tira votos do centro e da direita. Então acho que o Moro tumultua sem ajudar”.
PT e Lula sem resposta
Sobre a liderança do ex-presidente Lula em todas as pesquisas a 2022, o analista político projetou questionamentos inevitáveis. E, até aqui, sem resposta. “Até hoje, o PT nem reconheceu o que fez no poder, nem que houve erro. Mensalão, Petrolão e a nova matriz econômica, que destruiu a economia brasileira com Dilma, o PT faz de conta que não existiu. Mas isso vai ser muito discutido na campanha eleitoral. Por enquanto, o Lula não está sendo muito criticado, mas na campanha vai apanhar muito. A gente viu que o Ciro (Gomes, PDT) fez uma provocação sobre isso e ele (Lula) fingiu indignação. O fato é que ele não tem resposta”.
O inaceitável e o indesejável
Ainda assim, para Ricardo Rangel, “Bolsonaro é pior do que Lula”. “O Pedro Passos (empresário, sócio da Natura) é que disse (em entrevista a O Globo, publicada em 3 de outubro) que a gente não pode ficar obrigado a escolher entre o ‘inaceitável’ e o ‘indesejável’. O inaceitável, naturalmente, é o Bolsonaro, e o indesejável é o Lula. A rejeição ao Bolsonaro é maior do que ao Lula. Então é mais fácil tomar votos do Bolsonaro do que do Lula. E a popularidade de Bolsonaro vai cair, mesmo com esse Auxílio Brasil. Porque o cenário econômico do ano que vem é de penúria, a gente já está com 10% de inflação”.
Capitão a presidente ou senador?
Apesar do prognóstico ruim ao inquilino do Palácio do Planalto, o colunista da Veja ressaltou à Folha FM: “O presidente da República é sempre um candidato muito forte. No Brasil, é raro perder, quase sempre se reelege. Então, tem que ser levado a sério. Bolsonaro não é um cachorro morto. Quem tem a máquina sempre pode ganhar”. Mas não descartou outro destino eleitoral ao capitão em 2022: “Se, mais perto da eleição, estiver claro que vai perder, ele pode vir a senador, no que ganharia com facilidade, para manter o foro privilegiado. São vários processos contra Bolsonaro e os filhos, que só não andam porque ele é o presidente”.
Irracionalidade no governo
Para Ricardo, a falta de lógica de Bolsonaro torna difícil prever seu futuro: “A gente sempre cai numa armadilha de procurar racionalidade nas decisões de Bolsonaro. Isso que acabou de acontecer, na briga com Valdemar (da Costa Neto, condenado pelo Mensalão e presidente do PL), ele (Bolsonaro) iria se filiar na semana que vem e desistiu. Ele pode se manter até o final, mesmo com a certeza da derrota. Ele pode achar que vai tentar dar o golpe de novo e que, dessa vez, vai conseguir. No 7 de setembro, ele queria dar um golpe de estado e convocou uma greve de caminhoneiro, que se faz para derrubar o presidente, não para manter”.
“O Centrão está no poder”
Liberal que não descarta se lançar novamente a deputado federal em 2022, Ricardo também foi questionado sobre o resultado do liberal Paulo Guedes como ministro da Economia. “Não há nada de liberal na gestão econômica do governo Bolsonaro. A esquerda adora falar de (John Maynard) Keynes (economista britânico), de o Estado colocar dinheiro na economia. Fazer isso num momento de emergência é uma ideia liberal. O que não é liberal é o Estado botar dinheiro na economia sempre. A reforma da Previdência, até Lula teria que fazer. Guedes escolheu a desonra. O Centrão está no poder, gastando dinheiro como se nada houvesse”.
Confira abaixo, em três blocos, a íntegra da entrevista de Ricardo Rangel ao Folha no Ar de terça. O tratado na coluna é o terceiro:
Publicado hoje na Folha da Manhã.
O meu candidato e da minha família, continua sendo Bolsonro