Paraíba acima do transbordo
A cota de transbordo do rio Paraíba do Sul em Campos é de 10,40 metros. E, às 17h15 de ontem, bateu 10,43 metros. Se ainda não tinha passado por cima dos diques, o que só faz ao atingir 11 metros, o rio já botava água para fora pelos bueiros no Jardim Carioca, em Guarus, e no Colégio 29 de Maio, na Pecuária. Que recebeu cinco famílias desabrigadas da Ilha do Cunha e uma da Coroa. No Parque Prazeres, a água também vazou por baixo da avenida Francisco Lamego, interditada. O prefeito Wladimir Garotinho vistoriou obras emergenciais de reforço daquele dique, que é de barro, não de pedra. Ele também interditou a ponte Barcelos Martins.
Campos refém da sorte
Com as chuvas intensas nos últimos dias em Minas Gerais, no Norte e no Noroeste Fluminense, a única coisa que vai determinar se o Paraíba invadirá a área central de Campos, ou não, é a sorte — ou a falta dela. Há previsão de estiagem a partir desta quinta. Mas, mesmo que se cumpra, ainda terá que esperar a água acumulada descer pelo Paraíba, que recebe as águas de Minas pelo rio Pomba, e também do Noroeste e Norte Fluminense, pelo rio Muriaé. Também ontem, o Comitê da Bacia do Baixo Paraíba enviou uma carta, cobrando solução definitiva, ao Grupo de Assessoramento à Operação dos Sistema Hidráulico Paraíba do Sul (Gaops).
Solução definitiva (I)
O rio Paraíba corta três estados: São Paulo, Minas Gerais e o Rio de Janeiro. Mas só o primeiro está preparado para lidar com as chuvas e a estiagem. “Precisamos criar grandes cisternas em três pontos: nos rios Preto e Paraibuna, que confluem no rio Peixe, no município de Três Rios, para afluir ao Paraíba. Assim como outras duas, no Pomba e no Muriaé. Só com esses grandes reservatórios, que existem em São Paulo, poderemos ter água no tempo na seca, ou recebê-la para controlar a vazão e as cheias, no período das chuvas”, explicou João Gomes Siqueira, diretor-secretário do Comitê do Baixo Paraíba, que tem auxiliado a Prefeitura de Campos.
Solução definitiva (II)
“É a eterna repetição: as chuvas de verão engordam os rios e inundam os núcleos urbanos, provocando destruição. Terminadas as chuvas, a reconstrução. Tudo é feito como antes até que as chuvas seguintes destruam tudo novamente. A solução são canais para conduzir a água excedente para lagoas abertas nas margens e reguladas por barragens que permitissem o fluxo hídrico. As barragens para hidrelétricas e transposição não liberariam excedente rio abaixo, sem se importar com a sorte das cidades. Vias alternativas que permitissem o escoamento de excedente hídrico ao mar”, sugeriu o ambientalista e eco historiador Arthur Soffiati.
Professores no Folha no Ar
Soffiati é professor da UFF-Campos. Ele foi entrevistado do Folha no Ar da manhã de ontem, ao lado do advogado Carlos Alexandre de Azevedo Campos, professor da Uerj e Isecensa; e do cientista político Hamilton Garcia. Os três analisaram o 1º ano da invasão de militantes do ex-presidente dos EUA Donald Trump ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e a possibilidade de o mesmo acontecer no Brasil de Jair Bolsonaro, cujo governo fizeram muitas críticas. Assim como as destinaram também ao PT, que tem Lula como líder isolado em todas as pesquisas presidenciais às urnas de outubro, daqui a menos de nove meses.
Bolsonaro, PT, o ovo e a galinha
“O governo Bolsonaro foi um desastre (…) preparou o retorno do PT ao poder. Assim como a esquerda se esborrachou com o mau governo Dilma, a direita se esborrachou com o mau governo Bolsonaro”, comparou Hamilton Garcia. “O PT, através principalmente da Dilma, despertou o lado conservador e reacionário da população brasileira. O PT alimentou Bolsonaro e Bolsonaro está alimentando o PT”, seguiu Soffiati. “Bolsonaro foi eleito não só na desilusão, não só com a questão da corrupção, mas da ineficiência do governo Dilma, que também foi um desastre, por outras razões”, reforçou Carlos Alexandre.
Média de Wladimir: nota 7,16
Os três professores de universidade pública também avaliaram o 1º ano do governo Wladimir em Campos. “Sinto falta de um plano estratégico, mas ele está sendo pragmático. Dou nota 7”, ponderou Soffiati. “Dou nota 7,5, mas quero ver como ele vai se comportar com o dinheiro dos royalties chegando. Wladimir sabe, muito melhor que Rafael (Diniz), dialogar com o povo”, comparou Carlos Alexandre. “O que destaca Wladimir da gestão anterior (Rafael) é a capacidade gerencial. Mas é necessário se apontar alternativas. Ele próprio reconhece que a máquina de Campos não se sustenta com o que arrecada. Dou nota 7”, avaliou Hamilton.
Novak Djokovic e Carla Machado
Mais rigorosos do que Carlos Alexandre na análise do governo Wladimir, Soffiati e Hamilton foram mais generosos com o governo de Campos do que com o de Carla Machado (PP) em São João da Barra. Em painel de análise da Folha, publicado em 24 de dezembro, o historiador deu nota 3 à gestão da prefeita sanjoanense, que recebeu nota 4 do cientista político. Isso foi antes dela admitir à InterTV não ter se vacinado contra a Covid-19. Repete o péssimo exemplo público do nº 1 do tênis mundial, Novak Djokovic. Com uma diferença importante: o tenista sérvio vive o auge da sua carreira, enquanto Carla atravessa o pior momento dos seus quatro governos.
Publicado hoje da Folha da Manhã.