Vacinação infantil e volta às aulas
Vacinação infantil contra a Covid-19 na expansão rápida da pandemia com a nova variante Ômicron, o negacionismo da prefeita sanjoanense Carla Machado (PP) contra a vida das crianças e o recuo do governo Wladimir Garotinho (PSD) em Campos na cobrança do passaporte vacinal dos alunos, na volta às aulas anunciada para 7 de fevereiro, cuja preparação é alvo de críticas do Conselho Tutelar do município. Estes foram, em resumo, os fatos que mais atraíram a atenção da região nas duas últimas semanas. Que, no caso dos delírios de Carla, chegaram a alcançar a mídia e o repúdio nacional.
O STF e a “garrafada”
No dia 19, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu que os Ministérios Públicos estaduais devem fiscalizar a vacinação infantil contra a Covid. Assim como responsabilizar, cível e criminalmente, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), quem interferir contra a preservação da vida das crianças brasileiras. No mesmo dia 19, a prefeita de SJB afirmou num live: “Se eu tivesse um filho, não vacinaria”. Virou notícia nacional e meme nas redes sociais. Onde seu suposto remédio fitoterápico para “substituir” a vacina infantil contra a Covid foi chamado como pelo que de fato é: a “garrafada de Carla”.
Recuos de Carla e Wladimir
Na segunda (24), Carla gravou nova live. Ao voltar a falar da vacinação infantil, não pediu desculpas e disser “adorar uma briga”. Nem que seja a favor de uma doença que já matou 2.626 crianças no Brasil, na média de uma a cada dois dias. Após bravatear coragem e gargalhar, a prefeita encerrou abruptamente sua live, com o rabo entre as pernas, após seus delírios receberem uma enxurrada de comentários críticos em tempo real. Na mesma segunda, foi a vez do governo Wladimir anunciar para o próximo dia 7 o retorno às aulas. Mas não disse se, neste, seria cobrado aos pais o passaporte vacinal dos alunos, como Wladimir havia anunciado que exigiria, em entrevista ao Folha no Ar, na Folha FM, em 17 de dezembro.
Promessas de Charbell e Hirano
Na entrevista à Folha FM, Wladimir só confirmou as palavras do médico Charbell Kury, subsecretário de Atenção Básica. Que, no Folha no Ar do dia anterior (16/12), já havia batido o martelo do retorno às aulas em fevereiro e da exigência da vacinação contra Covid dos alunos da rede pública municipal. Depois, no Folha no Ar de 6 de janeiro, a mesma promessa de volta às aulas e cobrança do passaporte vacinal foi feito pelo médico Paulo Hirano, secretário de Saúde. Que sofreu ataque na sessão extraordinária do dia 11 na Câmara pelo vereador e pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), Anderson de Matos (Republicanos).
Púlpito da Cloroquina
Bola da vez no rodízio da cadeira cativa da Iurd no Legislativo goitacá, Anderson é o protótipo do negacionista. No Folha no Ar de 10 de maio de 2021, não corou a face ao defender o uso da Cloroquina no “tratamento” da Covid. Que tantas vidas tirou no Brasil, como evidenciou o escabroso caso Prevent Senior. Em 11 de janeiro, o dublê de edil e pastor usou a tribuna da Câmara para chamar a cobrança vacinal de “ditadura sanitária”. Se ninguém medianamente informado levou a estultice mais a sério do que a “garrafada de Carla”, pode ter achado eco em parcela evangélica do eleitorado campista, que Wladimir herdou do seu pai.
Professores sem vacina?
A pregação negacionista parece ter causado efeito — com consequência não muito diferente do que teve a Cloroquina na abertura de jazigos. Após anunciar a volta às aulas em 7 de fevereiro, a superintendência de Comunicação (Supcom) foi cobrada diversas, pela reportagem da Folha, das promessas de Wladimir, Charbell e Hirano pela exigência da vacinação das crianças. Não só a resposta oficial foi que não seria mais bem assim, como, no Folha no Ar da quarta (26), o professor Marcelo Feres, secretário de Educação, revelou coisa pior. A cobrança vacinal não seria feita sequer aos professores e demais servidores do ensino municipal.
MP contra o negacionismo
Na prática, Feres revelou que até uma criança vacinada contra a Covid pode ser infectada em Campos por um professor ou servidor a quem foi permitido trabalhar sem ter sido imunizado. Felizmente, na mesma quarta, o Ministério Público dominou a bola, rolada pelo STF, em defesa da vida das crianças brasileiras. Em nota técnica, o Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG) determinou: “As escolas de todo o país, públicas ou privadas, devem exigir no ato da matrícula ou rematrícula, e para a frequência do estudante em sala de aula, a carteira de vacinação completa, incluindo contra a Covid”.
“Vacina é vida, pai!”
A nota do Ministério Público brasileiro completou: “o descumprimento desse dever familiar (vacinar suas crianças) deve ensejar a notificação aos órgãos competentes, em especial o Conselho Tutelar”. Não por coincidência, a entrevistada do Folha no Ar de sexta (28) foi a conselheira tutelar de Campos Geovana Almeida. Além de criticar o tempo perdido pelo governo na recuperação das 234 unidades de ensino do município, denunciado o abandono em muitas delas, a conselheira deu um sábio conselho: “Precisamos unir forças para convencer esses pais, que ainda estão em dúvida, a vacinar nossas crianças. Vacina é vida, pai!”.
Publicado hoje na Folha da Manhã.
Muito boa essa matéria do nosso infectologista Nélio Artiles sobre a vacinação nas crianças de cinco a onze de idade,agora eu me sinto mais seguro em vacinar os meus dois filhos menores. Parabéns a folha por essa matéria.