Figura icônica de Campos, Pirica morre aos 52 anos

Marcelo Silva Martins, o Pirica

Campos perdeu hoje uma das suas figuras mais icônicas. Pela manhã, morreu no Hospital Ferreira Machado (HFM) Marcelo Silva Martins, aos 52 anos, mais conhecido como Pirica. Ele foi atropelado na noite de ontem na rua Salvador Corrêa, em frente ao flat Jardim de Allah. O velório na Capela A do Campo da Paz atrasou, por conta da liberação do corpo no IML, e só deve começar às 19h de hoje. O enterro está programado para às 9h30 da manhã desta sexta (11). Ele deixa os filhos Naiana, Felipe e Ketlen.

 

Seguem abaixo as imagens do momento do seu atropelamento, nas ruas noturnas de Campos, nas quais nunca foi difícil se encontrar Pirica em vida:

 

 

 

 

Pirica era filho do já falecido empresário Maurício Martins, que marcou época na cidade com a malharia Big 13, cujo prédio das antigas instalações, na saída da cidade, o filho morava. O conheci no início dos anos 1980, na colônia de férias do Auxiliadora, onde ele estudou e voltaríamos a nos encontrar, como alunos do ensino médio, ainda naquela década. Filho da classe média alta goitacá, optou adulto pela vida do underground goitacá, onde era figura folclórica e conhecida de toda a boemia. Foi, sem favor, um dos grandes entendedores de blues e rock da cidade. Torcedor apaixonado do Fluminense, era também um grande conhecedor de futebol.

Nessas coisas de cidade de porte médio, mas que ainda mantém algumas das tradições do interior, Pirica se tornou também amigo do meu filho, Ícaro. A quem ele trata de “meu irmão” e “meu filho”. Em vídeo gravado por ambos em 2021, quem hoje nos deixou a todos meio órfãos talvez tenha dado a mais precisa definição da relação entre ele e esta cidade que tanto marcou: “Quem não conhece Pirica, não conhece Campos”.

 

 

Sempre contestador, deixou em outro vídeo com definição pouco lisonjeira sobre o campista médio. Após fazer sua mensagem de cobrança: “Cadê a educação e a saúde?”. A provar que loucos talvez sejam aqueles que julgam “normal” não lhe dar ouvidos:

 

 

Abaixo, o relato do músico, sociólogo, cientista político e professor da UFF-Campos, George Gomes Coutinho, sobre essa figura da nossa geração que tanto marcou a nossa cidade:

 

George Gomes Coutinho e Marcelo Pirica

 

“Este 10 de fevereiro nublado se tornou ainda mais cinza para todos que viveram e vivem o underground campista. Marcelo Pirica nos deixou. Pirica se encontrou de maneira violenta com uma das Moiras e fez seu caminho para outro plano ainda mais misterioso da existência.

O conheci ali no final da minha adolescência e início da vida adulta entre a fauna do bar Bicho André. Batemos muito papo. Pirica era um blues rocker em minha perspectiva. Sim, amava o blues. Mas, em nossos papos, demonstrava predileção pela versão eletrificada que gente como Hendrix ou Steve Ray Vaughan popularizaram.

Pirica, além de sua cultura musical, era o nosso ‘doido da tribo’. Filho das classes altas campistas, optou por fazer de sua existência algo entre o desbunde e o mais profundo ‘foda-se’ aos tradicionalismos da planície escravista. Ele debochava solenemente dos lambe botas da açucarocracia. Fazia sentido. Era filho legítimo da contracultura.

Fará falta. Descanse em paz, Marcelo. E que haja a elucidação plena do fato que causou sua passagem prematura.”

 

Atualizado às 17h56 com novas informações sobre o velório e o enterro de Pirica. 

 

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Este post tem 5 comentários

  1. Rodrigo

    Campos acaba ficando um pouco mais triste hoje… Fique em paz!

  2. Rodrigo

    Campos acaba ficando um pouco mais triste hoje… Fique em paz!

  3. Marcos Valerio

    Caiu um mestre da verdade, que esteja em paz e na luz de Deus, eu creio assim.

  4. Luciano Teles

    Estudamos na mesma época, no Auxiliadora. Continuamos nos encontrando pela cidade, esporadicamente. Depois, quando ia a Campos, para meus plantões semanais, o via pela Roberto Silveira e em Farol. Nunca, nun-ca, o vi reclamando de algo ou falando coisa que não prestasse. “Xitos”, meu apelido no Auxiliadora, “tô contigo! Bom te ver!”. Umas duas vezes, trocamos ideia sobre música. Mas a pressa da vida me fazia entrar num ônibus e pegar meu rumo. Além de todas as belas definições da matéria, acrescento uma: alma das mais puras que alguém poderia pensar em conhecer.
    Vá em paz. Vou falar “descanse em paz”, mas eu sei que você vai continuar a andar por todos os lugares, onde você estiver. Vai encontrar conhecidos , amigos e vai continuar a ser folclórico.
    Obrigado, Pirica.
    Xitos.

  5. Diogo

    Bonita homenagem!!! Va em paz pirica!!!

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