Por fim, William analisará a última pesquisa presidencial Datafolha, assim como as demais, sobre a corrida ao Palácio do Planalto de outubro. Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quarta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
Lula (PT) pode fechar a fatura presidencial no primeiro turno de 2 de outubro, daqui a exatos 127 dias? Foi isso que indicou a aguardada pesquisa Datafolha, feita entre as últimas quarta (25) e quinta (26), divulgada neste mesmo dia. Nela Lula teve 48% de intenções de voto, contra 27% do presidente Jair Bolsonaro (PL), 7% do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), 2% da senadora Simone Tebet (MDB), 2% do deputado federal André Janones (Avante), 1% da socióloga Vera Lúcia (PSTU) e 1% do influenciador digital Pablo Marçal (Pros). Os presidenciáveis Felipe d’Avila (Novo), Sofia Manzano (PCB), Leonardo Péricles (UP), Eymael (DC), Luciano Bivar (União) e o General Santos Cruz (Podemos) não pontuaram. Excetuados os 7% que declararam votar branco e nulo, se a eleição fosse hoje, Lula a venceria em turno único, com 54% dos votos válidos. Bolsonaro teria 30%. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.
Em um universo eleitoral de quase 150 milhões de brasileiros aptos a votar, Lula tem hoje 21 pontos de vantagem na corrida presidencial sobre Bolsonaro, ou 31,5 milhões de eleitores. Maior colégio eleitoral do país, o estado de São Paulo tem 32,6 milhões de eleitores. Sem Lula, Bolsonaro e os demais presidenciáveis têm juntos 40% de intenções de voto. Com 48%, Lula tem sobre todos os demais somados oito pontos de vantagem, ou 12 milhões de eleitores. Segundo maior colégio eleitoral do país, o estado de Minas Gerais tem 15,6 milhões de eleitores. Lula tem quase um estado de São Paulo de vantagem sobre Bolsonaro. Como tem quase uma Minas Gerais de vantagem sobre o presidente e os demais presidenciáveis juntos.
Histórico das vitórias presidenciais no primeiro turno — Das projeções do futuro próximo do país aos seus fatos consumados, desde que a instituição do segundo turno foi adotada no Brasil, a partir da eleição presidencial de 1989, só Fernando Henrique Cardoso (PSDB) chegou ao Palácio do Planalto em turno único. A reboque da estabilização econômica do país com o Plano Real que capitaneou como ministro da Fazenda do governo Itamar Franco (então, PMDB). O tucano se elegeu presidente ao bater, em 1994 e 1998, Lula no primeiro turno. Que o sucedeu em 2002, ao bater José Serra (PSDB) no segundo. Em 2006, mesmo com o governo avaliado como ótimo ou bom por 52% da população brasileira, em pesquisa Datafolha de 13 de dezembro daquele ano, o petista teve antes que passar outra vez pelo segundo turno para se reeleger. O fez ao derrotar o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (atual PSB), seu vice em 2022. Sem colocar pesquisas em dúvida, como sempre fazem os derrotados nas urnas, a história recente do Brasil recomenda a precaução do apóstolo Tomé: ver para crer.
— Bolsonaro não cumpriu a expectativa de entregar um país melhor do que o que recebeu do Michel Temer (MDB). A segurança pública não melhorou. A economia, mesmo descontando o choque da pandemia e da aceleração inflacionária internacional, está pior. A saúde ficará marcada na história pela luta contra a máscara e a vacina, que matou centenas de milhares de brasileiros sem necessidade durante a pandemia. O resultado é a pesquisa Datafolha, de maior credibilidade no mercado, apontando 48% de intenções de voto para Lula, contra 27% para Bolsonaro. Criado em 1983, com 39 anos de existência, o Datafolha é o instituto de pesquisa com maior percentual de acertos, tendo errado em apenas 1% o resultado da eleição presidencial de 2018, se considerada a pesquisa boca de urna. O Datafolha usa a metodologia mais sofisticada, só trabalha com pesquisas presenciais, é a de maior credibilidade, e se utiliza de uma equipe permanente de entrevistadores. Por trabalharem continuamente para a empresa, também vão acumulando expertise, o que é fundamental à garantia da qualidade das respostas e, consequentemente, da credibilidade dos dados e resultados — explicou o geógrafo William Passos, com especialização doutoral em Estatísticas do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.
Simulações de segundo turno — Se a possibilidade de definição da eleição presidencial no primeiro turno não se confirmar nas urnas de 2 de outubro, as simulações da Datafolha ao segundo turno também são muito favoráveis a Lula. O ex-presidente derrotaria Bolsonaro por 58% a 33%, com 8% de brancos e nulos, mais 1% que não sabe em quem votaria. Seriam 25 pontos de vantagem do petista sobre o capitão, ou 37,5 milhões de eleitores. É mais que todo o estado de São Paulo. Na projeção de segundo turno contra o terceiro colocado em todas as pesquisas, Bolsonaro também perderia: 52% a 35% para Ciro Gomes, com 10% de brancos e nulos, mais 2% que não sabem em quem votariam. Seriam 17 pontos de vantagem do ex-governador do Ceará sobre o atual presidente, ou 25,5 milhões de eleitores. É bem mais que todas as Minas Gerais. No eventual segundo turno entre Lula e Ciro, o ex-presidente venceria por 55% a 29%, com 15% de brancos e nulos, mais 1% que não sabe em quem votaria. Seriam 26 pontos de vantagem do petista sobre o pedetista, ou 39 milhões de eleitores. É a soma dos estados de São Paulo e Ceará — este, com seus 6,4 milhões de eleitores.
O que explica a projeção de derrota para Bolsonaro no segundo turno contra Lula ou Ciro é a rejeição. O segundo turno só existe para que o candidato vencedor alcance o mínimo de 50% mais um dos votos válidos. Para passar pelo primeiro turno, valem as intenções de voto. Aos dois que chegam ao segundo turno, vale a rejeição. É ela que fixa o teto de crescimento dessas mesmas intenções de voto entre os dois turnos. Pela Datafolha, Bolsonaro tem hoje 54% de brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, contra 33% de Lula e 19% de Ciro. Para quem tem 54% de rejeição, como Bolsonaro tem, é aritmeticamente impossível alcançar 50% mais um dos votos. Entre os analistas do mundo, o limite prudencial para um candidato vencer uma eleição em dois turnos é 35% de rejeição.
Embora seja menos considerada tão perto da eleição, a pesquisa espontânea Datafolha traz dados reveladores sobre a polarização cristalizada entre Lula e Bolsonaro. Sem que sejam apresentadas as opções de candidatos ao eleitor, este, por sua própria iniciativa, dá a Lula 38% de intenções de voto, contra 22% de Bolsonaro, 2% de Ciro, 1% de Simone Tebet e 3% de todos os outros candidatos somados. Na última Datafolha de março, Lula tinha 30% na espontânea. Cresceu oito pontos nos últimos dois meses. Bolsonaro tinha 23% na espontânea de março. Na margem de erro, o capitão patinou nos últimos dois meses. Ciro tinha e manteve os mesmos 2% de intenções espontâneas de voto.
O voto de Lula — Em 2018, Bolsonaro se elegeu presidente ganhando em quatro das cinco regiões brasileiras, à exceção do Nordeste, tradicional bastião do PT. Hoje, só ganharia no Centro Oeste, tradicional bastião do agronegócio. Mas no empate técnico: 42% contra 40% de Lula. Que bate o capitão por grande vantagem no populoso Sudeste, por 42% a 29%. No ex-bolsonarista Sul, por 47% a 30%. E no Norte, por 44% a 31%. No Nordeste, a lavada de sempre: 62% do ex-presidente, contra 17% do atual. Além de nordestino, o voto majoritário de Lula fica bem definido em outros recortes: é de mulheres (49% contra os 23% de Bolsonaro), pretas (57% contra os 23% de Bolsonaro), de 16 a 24 anos (58% contra os 21% de Bolsonaro), ganham até dois salários mínimos (56% contra os 20% de Bolsonaro), têm ensino fundamental (57% contra os 21% de Bolsonaro) e são católicas (54% contra os 23% de Bolsonaro).
Entre os evangélicos, outro tradicional bastião bolsonarista, o presidente ainda continua ganhando. Mas em outro empate técnico: 39% contra 36% de Lula. Nos outros recortes, hoje o capitão está atrás do petista também entre os homens (32% a 47%), pardos (27% a 49%) e brancos (32% a 40%), todas as demais faixas etárias (com menor diferença, de 30% a 47%, entre os 60 anos ou mais), com ensino médio (30% a 46%) ou superior (30% a 40%), espíritas e kardecistas (33% a 46%) e quem ganha de 2 a 5 salários mínimos (34% a 41%). Já entre quem ganha de 5 a 10 salários mínimos, há o empate exato entre os dois líderes da corrida presidencial: 37% a 37%.
O voto e o obstáculo de Bolsonaro — Fora da margem de erro, Bolsonaro só está à frente de Lula em duas faixas: entre quem ganha mais de 10 salários mínimos (por 42% a 31%) e os empresários (por 56% a 23%). Se contassem apenas os votos dos ricos, o presidente seria reeleito. Para o país que vive sua maior inflação nos últimos 26 anos, com 1/4 da sua população, ou 52,7 milhões de brasileiros, na pobreza ou extrema pobreza, a contabilidade da reeleição do capitão se complica. Considerada sua última cartada entre os pobres, o Auxílio Brasil não surtiu até aqui o resultado esperado. Lula leva de 59% a 20%, quase o triplo, entre quem recebe o antigo Bolsa Família.
Quinta-feira, noite de 26 de abril. Já se encaminhando para dormir, o moderador de um grupo de WhatsApp conceituado em sua cidade, por manter sua diversidade em tempos em que uma simples discordância é encarada como declaração de guerra, esta parece se formar. O assunto é educação das crianças em casa — homeschooling na casa de Noca:
— VOTANDO SIM DEZ VEZES E COMPARTILHANDO! — respondeu a jornalista Anita Ohl, assessora da secretaria de educação da cidade, reenviando outra mensagem pronta de WhatsApp em que formou sua opinião.
— Sem querer ofender… quem for não? Blz. Quem for sim? Blz. Não acho legal impor uma ideia! SOCORRO MODERADOR!!! KKK — opinou o advogado conservador Adriano Saraiva, presidente de um tradicional clube social da região.
— @Adriano Saraiva, penso que esse tipo de postagem não deveria estar aqui. Difícil ignorar — entrou na discussão a professora e sindicalista Eliete Matos, cuja foto no WhatsApp é uma foice cruzada com um martelo.
— Qual? A minha? — arguiu o conservador Adriano.
— Estou me referindo ao compartilhamento da proposta, ao meu ver, indecente —carregou no adjetivo a comunista Eliete.
— @Adriano Saraiva e @Eliete Matos, temperança — pediu um moderador convocado e sonolento.
— Essa é a questão! Dar o direito de quem deseja fazer, decidir por suas escolhas — concordou a jornalista Anita com o advogado Adriano.
— Lugar de criança é na escola. Somente isso — sentenciou a professora e sindicalista Eliete.
— Mas a escola não é onde a criança estiver? — filosofou a jornalista Anita.
— Censura? E se a educação familiar for suficiente? Discriminação? — entrou no papo o deputado estadual e delegado da Polícia Civil Hermínio Labruna, em questionamento a Eliete, já na madrugada de sexta.
— Posso fazer uma enquete? Quem é favorável é descriminalização da maconha? Vou votar contra! Vote NÃO! Posso compartilhar aqui? Só uma pergunta! — forçou na analogia o advogado conservador Adriano. Já se faziam avançados 7 minutos da meia-noite.
ZZZZZZZZZZZ…
— No reservado, @Hermínio Labruna teve a deferência de me informar que sua acusação de censura se deu ao comentário da @Eliete Matos, em debate com o @Adriano Saraiva. Aos quais, como moderador e já indo dormir, me ative a pedir moderação. Mas que trouxeram à tona, neles e em outros, opiniões reveladoras, da educação das crianças à… descriminação da maconha. Nos poucos mais de quatro meses que temos até o primeiro turno de 2 de outubro, os debates políticos se acirrarão ainda mais. Tento ter e manter neste grupo um termômetro da sociedade. Com todos os seus delírios e idiossincrasias, de lado a lado. Espero que, pelo menos neste nosso aquário virtual, não cozinhemos na ebulição — voltou o moderador ao grupo, às 10h22 da manhã de sexta, após ter dormido, acordado e indagado o deputado/delegado sobre sua acusação de censura.
— Sou totalmente a favor da regulamentação, e não da proibição, do homeschooling. Ao invés de tentarmos impor o proibicionismo absoluto, típico de um Estado altamente interventor inchado e autoritário, deveríamos pensar em critérios mínimos necessários e obrigatórios ao homeschooling e maneiras efetivas de se fiscalizar — entrou no debate o advogado criminalista Fábio Armond.
— O Brasil com a maior inflação em 26 anos, com um sem número de semelhantes catando no lixo para ter o que comer, com nossa democracia sob ameaça à luz do sol real, e estamos discutindo a questão “nórdica” da educação das crianças em casa, homeschooling na casa de Noca? É isso mesmo? Independente do resultado das urnas, o diversionismo é o grande vencedor em seus danos talvez irreparáveis ao pensamento nacional. Como disse antes, este grupo é revelador. Mas, como seu moderador, peço licença para sair um pouco dele para passear com meu cachorro. Até para observar nele um pouco de racionalidade — disse um moderador já na tampa de uma função por vezes penosa.
— Sugiro o filme “Um dia muito especial” (1977), de Ettore Scola, mostrando como o fascismo (na Itália de Benito Mussolini) entendia cada homem e mulher destinados a casar e ter filhos para contar com soldados, mesmo sem farda. Uma espécie de milícia preparada para a guerra. E como um celibatário deveria pagar uma taxa por não se casar e ter geração — indicou o historiador e ambientalista Athos Garibaldi.
— Exatamente. É uma discussão nórdica na casa de Noca. Temos muitas outras questões anteriores que precisam ser colocadas em pautas e resolvidas antes dessa. Sugere, neste momento, ser um tema que poderá encobrir outros muito mais urgentes e necessários. Democracia exige, entre tantas outras coisas, que saibamos identificar as questões mais urgentes e necessárias — dialogou com o moderador a médica Vânia Mendes. Era exatamente o meio-dia de sexta.
— O homeschooling não é uma questão de somenos importância, conecta-se com as questões da violência, da igualdade, da cidadania e da democracia, tanto que mereceu a atenção da Unicef, que vem trabalhando pela garantia dos direitos de cada criança e adolescente, concentrando seus esforços naqueles mais vulneráveis, com foco especial nos que são vítimas de formas extremas de violência — reforçou seu ponto de vista o advogado Glauber Trindade, postando no grupo um link da Unicef alertando sobre o tema.
— Mas aqui no Brasil ameaçado pelo fascismo é mais um passo na escalada de desobrigar o Estado das suas obrigações mínimas. Creio que como bem assinalou @Moderador e em posterior assunto do @João Cláudio Azevedo, o amplo diversionismo toma conta das atenções, do tempo e da energia das instituições e da sociedade. Enquanto o fundamental dos direitos dos jovens, adolescentes, idosos não está assegurado. No rumo que vamos, não haverá futuro civilizatório — projetou a produtora cultural Eliana Montinho, voltando na tarde de sexta ao grupo e ao debate que havia aberto na noite de quinta.
— No passeio breve pelas ruas da cidade, homem e cão observaram duas pessoas, em pontos diferentes, catando o que comer no lixo de condomínios de classe média alta. Creio que até ao cão ficou nítido que o Brasil tem problemas mais urgentes do que a educação das crianças em casa, homeschooling na casa de Noca — testemunhou um moderador de volta à casa e ao debate virtual.
— Triste e dura realidade — endossou o historiador e museólogo Cláudio Farias, dando ponto final ao debate com um emoji de choro. Eram 14h54 de sexta.
Garotinho ainda tem muitos votos no Estado do Rio, sobretudo no Norte e Noroeste Fluminense, Região Serrana e na populosa Baixada Fluminense. Nesta, tem um aliado importante, Waguinho, prefeito de Berford Roxo e presidente estadual do União. Que foi com ele e Clarissa à reunião com Bivar em Brasília. Uma candidatura do político da Lapa a deputado federal ou estadual seria considerada pule de 10. Mas dificilmente teria condições de voltar a ser governador. E ele sabe disso. Mas pode tirar votos de Castro, talvez decisivos se o embate for apertado. E o governador candidato à reeleição também sabe disso.
Com Wladimir pressionado pelas derrotas sucessivas na Câmara, pela greve dos servidores, pela demanda de verbas estaduais e pela própria família, a Folha de sábado também lembrou o fator vice na equação do prefeito. Após colocar em risco a própria candidatura na eleição municipal de 2020, ao bancar o industrial Frederico Paes em sua chapa contra as investidas de Rodrigo Bacellar na Justiça Eleitoral, o projeto ambicioso do vice de reforma da Saúde Pública de Campos, usando sua experiência como dirigente hospitalar, foi para o estaleiro. E, no sentido oposto a Garotinho, Frederico tem buscado abrir pontes com Rodrigo e Castro.
Frederico homenageado
Como a coluna registrou em 11 de maio, dia seguinte à missa de abertura de safra da Coagro, da qual Frederico é presidente, o evento teve a participação de Castro e Wladimir. E de muito mais vereadores de Campos da oposição que da situação. Como a Folha lembrou no sábado, o vice-prefeito foi sondado pelos Bacellar como candidato a prefeito pelo grupo em 2020. Esta semana, foi anunciado que ele receberá da Firjan NF o prêmio “construtor do desenvolvimento regional”, como presidente da Coagro. Junto com o economista e produtor rural Gonçalo Meirelles. Está marcado para 8 de junho, no teatro Firjan/Sesi de Campos.
Não por acaso, a nota em que a Folha adiantou os passos e palavras do político da Lapa, já indagava desde o seu título: “Garotinho: governador ou nada?”. Embora venha cometendo sucessivos erros de avaliação desde a eleição a governador de 2014, que disputou sem conseguir ir nem ao segundo turno, quando Luiz Fernando Pezão (MDB) derrotou Marcelo Crivella (Republicanos), o conhecimento político de Garotinho não deve ser desprezado.
Garotinho avisou — Na eleição a presidente da Câmara Municipal de Campos, por exemplo, o ex-governador insistiu para que o pleito só fosse realizado com a contabilidade de 15 vereadores pró-governo. Presidente da Casa, Fábio Ribeiro (PSD) podia tentar sua reeleição até dezembro, mas resolveu marcá-la em 15 de fevereiro contando ter apenas 13 edis, maioria mínima. E, embora não se admita isso publicamente no governo, ninguém dentro ou fora dele supõe que Fábio tenha decidido algo de tamanha importância sem a anuência do prefeito Wladimir Garotinho (sem partido).
O resultado, todos já sabem. Conhecido desde suas origens atafonenses, suas duas candidaturas a vereador derrotadas em São João da Barra e sua elevação à burocracia do ensino público quando trabalhou com o ex-secretário estadual de Educação Pedro Fernandes, antes deste acabar preso, o edil Maicon Cruz (PSC) assinou um termo de compromisso com a reeleição de Fábio, orou com ele por sua reeleição, mas votou em Marquinho Bacellar (SD). E definiu a vitória deste, pelos mesmo 13 a 12 que esperava ter o governo. Que depois anulou a eleição para ganhar tempo, se a Justiça não abreviar a questão, até dezembro.
Histórico do remanejamento — Garotinho estava certo. Fábio e Wladimir, errados. No que já não é mais segredo, o prefeito se isolou após a derrota na Câmara. Ele sabe bem a conta que seu governo pagará pelo erro no biênio 2023/2024. A oposição já acena com a fatura: a diminuição do percentual de remanejamento do Orçamento, dos atuais 30%, para apenas 5%. Manobra que o vereador Igor Pereira (SD), aliado de Rodrigo Bacellar (hoje, PL) desde a eleição deste a deputado estadual em 2018, tentou no final de 2019. Ali, no comando do G-8, Igor liderou um movimento no Legislativo goitacá para tentar limitar o remanejamento do então prefeito Rafael Diniz (Cidadania), de 30% para 10%.
Dois dias depois, os bombeiros saíram de Campos ao Rio. Os edis Fábio, Álvaro Oliveira (PSD) e Juninho Virgílio (União) e os ex-vereadores Thiago Virgílio (União) e Thiago Ferrugem (União) se encontraram com Clarissa. Novamente nas redes sociais, Rosinha postou a foto. O que não tornou público foi o acordo firmado para a pacificação familiar: o grupo se comprometeu em lutar para dar 20 mil votos a Clarissa em Campos, a deputada estadual, e outros 20 mil à reeleição de Bruno Dauaire (União) à Alerj, nome de Wladimir. Como advertiria o craque Mané Garrincha ao técnico Vicente Feola na Copa de 1958: “só faltou combinar com os russos”.
Fator vice — Fora da família, mas ainda dentro do grupo, Wladimir pode ter mais motivos para preocupação. Há quem comente que o médico Paulo Hirano, que seria o vice de Rosinha como prefeita em 2008, tenha sido posto agora pelo casal no governo do filho como anteparo aos ambiciosos planos de mudança que o vice-prefeito Frederico Paes tinha para a Saúde Pública de Campos, baseado em sua experiência como gestor hospitalar.
O fato é que, antes de aceitar compor chapa com Wladimir, que bancou seu vice contra processos de Rodrigo na Justiça Eleitoral, Frederico chegou a ser sondado como possível candidato a prefeito de Campos pelo grupo dos Bacellar para 2020. Após uma troca forte de palavras com Marquinho em 2021, Frederico tem buscado criar pontes com Rodrigo. Que chegou a ser convidado pelo vice-prefeito, também presidente da Coagro, para a missa de abertura de safra da usina Sapucaia arrendada ao Grupo MPE. Rodrigo não foi. Mas Cláudio Castro esteve lá. Como oito vereadores da oposição, incluindo Marquinho. Entre os edis governistas, mas com um pé lá e um cá, foram apenas Marcione e Silvinho.
Castro garante Wladimir — Wladimir também foi ao evento na Coagro. E os presentes mais atentos notaram em certo momento as faces tensas de Wladimir e Castro, em diálogo mais reservado que mantiveram. Uma mosca que os sobrevoasse poderia ter ouvido Wladimir se queixar da influência de Rodrigo na Câmara e a confissão do receio em acabar cassado por um Legislativo dominado pela oposição. Assim como teria ouvido a palavra firme do governador ao prefeito: “Eu garanto você!”
Por isso Garotinho se lançou pré-candidato a governador. Tem conhecimento empírico de sobra para saber ter pouca ou nenhuma chance de voltar ao Palácio Guanabara. Como sabe, e Castro também, que pode tirar votos deste, sobretudo no Norte e Noroeste Fluminense, Região Serrana e na populosa Baixada Fluminense. Não por acaso, como o Ponto Final de quarta revelou, o ex-governador levou um prefeito da Baixada, Waguinho (União), de Belford Roxo, junto com a filha e deputada federal Clarissa Garotinho (União), para o encontro de terça em Brasília com o presidente nacional do União, o deputado federal Luciano Bivar. De quem teve sinal verde para se colocar como “bode na sala” de Castro.
Enquanto as convenções não vêm — Apoiador declarado da reeleição de Castro, de quem precisa em iniciativas fundamentais ao município, como a manutenção do Restaurante Popular, a conclusão da reforma do Hospital Geral de Guarus (HGG) e a retomada das obras no Parque Saraiva, Wladimir foi perguntado na noite de quinta (19) pela reportagem da Folha sobre o lançamento da pré-candidatura do pai a governador. Foi em evento no Palácio da Cultura, para marcar os 21 anos do Arquivo Público Municipal de Campos e sua reforma em parceria com a Uenf e a Alerj. Cujo presidente, André Ceciliano (PT), também esteve presente. O prefeito respondeu:
— Prefiro não comentar, até porque as convenções partidárias ainda acontecerão. Sou grato ao governador Cláudio Castro, nunca neguei isso. Mas quanto à questão de candidatura, vou esperar as convenções partidárias.
Assim como as palavras do pai na sua pré-candidatura a governador, as de Wladimir sobre ela também foram adiantadas no Ponto Final de quarta:
— Se (Garotinho) for a governador, teria pouca chance. Mas poderia dificultar a vida de Cláudio Castro. Se for a nada, Clarissa poderia vir a deputada federal, com Juninho Virgílio a estadual. Entre os edis governistas, Thiago Rangel (Podemos) e Marcos Elias (PSC) também são pré-candidatos à Alerj. O ex-governador deve anunciar hoje (na quarta, como fez) seu destino. Que, até as convenções, é sujeito a mudanças.
Dividido entre a condição de pré-candidato a deputado federal e analista político, função que desempenhará na revista Veja até o prazo legal de 30 de junho, Ricardo Rangel (Cidadania) defende a terceira via de Rodrigo Neves (PDT) a governador do Estado do Rio e da senadora Sinome Tebet (MDB) a presidente. Mas não nega as dificuldades que ambos terão em eleições até aqui polarizadas em todas as pesquisas, respectivamente, pelo governador Cláudio Castro (PL) e o deputado federal Marcelo Freixo (PSD), e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Entrevistado na manhã de ontem (20) no programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, Ricardo considera, inclusive, que a polarização fluminense é uma consequência negativa da polarização presidencial. Se elogiou Freixo como parlamentar, a despeito das diferenças ideológicas, lembrou suas dificuldades recorrentes em conquistar um cargo eletivo no Executivo. Como enxerga virtudes no desempenho de Castro como governador. Com muitas críticas a Lula e Bolsonaro, cuja disputa classifica como uma escolha entre os anos 1970 e o século XVII, ele não tem dúvida caso os dois passem pelas urnas de 2 de outubro: “No segundo turno, é preciso votar contra o Bolsonaro, seja lá qual for a alternativa”. Entre Brasil e Estado do Rio, também analisou a Campos dos Garotinho e Bacellar.
Briga entre os Garotinho – Evidentemente, tenho que falar com cuidado desse assunto, porque é a política aí de Campos, que eu não acompanho no dia a dia. Mas, é uma tragédia shakespeariana ou grega, em que membros da mesma família se ameaçam. É sempre uma coisa um pouco consternadora você ver uma mãe chamar a atenção de um filho em público, ainda mais pessoas poderosas. A Rosinha foi governadora, Wladimir é prefeito e tem, obviamente, um interesse de ascensão política. É sempre uma coisa um pouco triste, dentro de uma família, uma briga desse tipo. Não sei exatamente o que está na cabeça do Garotinho pai. Nem todo pai se envaidece do sucesso do filho. Há muita ciumeira entre pai e filho, e muita competição, especialmente se estão na mesma profissão e trilhando o mesmo caminho. Obviamente, o Wladimir quer ser governador em algum momento. O pai já foi prefeito. Agora, o Wladimir precisa governar. Então, ele não pode só ficar alimentando a briga com os Bacellar que o pai quer. Ele precisa de verba do governo. Então, ele tem que se entender com o Cláudio Castro. Agora, isso é uma coisa que político entende. Então, deveria conversar e combinar na mesa do jantar, em casa, em vez de discutir isso nas redes sociais. Agora, sei lá, vamos ver para onde é que vai, porque tem a Clarissa também, a Rosinha acha que o Wladimir não apoia, porque vai apoiar outro, essas coisas.
Garotinho a governador – Eu não acredito muito nessa pré-candidatura (a governador), acho que é uma movimentação política. Acho que é uma questão de equilíbrio de poder ali com o Cláudio Castro. Não sei exatamente o que exatamente o Garotinho pretende, mas eu acho que é uma coisa ali para deixar o Cláudio Castro um pouco na defensiva. É claro que, se o Garotinho de fato for candidato, mesmo que ele retire a candidatura depois, ele tem uma capacidade de desequilibrar o jogo um pouco. Ele ainda tem um eleitorado forte. Então, ele pode atrapalhar um pouco o jogo do Cláudio Castro. Mas eu acho que é mais uma movimentação política, um posicionamento, do que uma disposição efetiva de ser candidato. Até porque, eu não eu não acho que ele consiga vencer. Isso está acontecendo porque o Bacellar está muito forte no governo Castro. Então, eu acho que é essa a briga de poder, que, no fundo, é regional. No fundo, é uma briga dessas duas famílias pelo poder e pela capacidade de influenciar o governo.
Shakespeare na política goitacá – Wladimir está nesse problema porque a Clarissa quer deixar de ser deputada federal para ser deputada estadual, e ele não está apoiando ela ou pelo menos não está apoiando com a intensidade que a família, que a Rosinha em particular, esperaria. Então, a situação ali já está um pouco difícil. Mas, o Wladimir tem que apoiar o governador. Ele precisa das verbas do Governo do Estado. Como é que ele vai arredondar essa bola, a gente vai ter que ver, mas eu acho que ele não consegue escapar de apoiar o Cláudio Castro. Se isso acontecer, ele briga com o pai mais ainda. Ele precisa fazer essas pazes rápido, senão vira Shakespeare mesmo.
Castro, pela primeira vez, passa Freixo na pesquisa a governador – O Freixo é aquele candidato que a gente diz que tem piso alto e teto baixo. Ele sempre larga bem, mas não chega lá, ele não cresce. Eu acho que isso é claro. Ele é um bom parlamentar. Ainda que eu discorde do Freixo em muita coisa, ele é um parlamentar sério, tanto na Alerj quanto na Câmara Federal. Mas, para o Executivo, ele é um colecionador de derrotas, perdeu várias vezes. E as propostas para o Executivo que ele fez no passado, sobretudo relação à Prefeitura do Rio, eram muito equivocadas. Ele queria criar banco municipal de desenvolvimento, estatizar os transportes, uma coisa irresponsável. Ele caminhou muito para o centro e está sendo apoiado por muitos liberais. O Armínio Fraga (diretor do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso), por exemplo, veio a público apoiar o Freixo. Mas, ainda assim, ele tem essa herança de alguém um pouquinho incendiário. Ele também sempre foi muito próximo ao Lula. Ele dizia que não, mas sempre estava ali no palanque do Lula. O Cláudio Castro, primeiro, ele é o candidato do Bolsonaro na eleição. Existem duas coisas. Uma é o medo da esquerda, e outra é o bolsonarismo. São duas coisas se confundem, mas não são exatamente a mesma coisa. Outra coisa é que ele (Castro) é mais competente do que as pessoas pensam. Ele deu uma entrevista outro dia ao “O Globo” perfeita, uma coisa de competência política. Então, ele está se movendo bem. Acho que a pré-campanha vai andando, e tem uma hora em que o Freixo vai ficando pelo caminho. Não me surpreende, não. Eu acho que isso era esperado.
Polarização nacional a governador e terceira via – O Cláudio Castro é o candidato do bolsonarismo, e o Freixo é o candidato do Lula. Mesmo que isso não seja exatamente verdade, é essa a percepção do eleitorado. Eu acho isso muito ruim. A polarização é muito ruim. Até porque, são dois movimentos muito diferentes que estão em oposição, mas que não trazem propostas para o Brasil; é só uma briga de que “você deve ficar comigo porque eu sou melhor do que ele”. Isso acontecer aqui no Rio é muito ruim para nós. Agora, eu acho que é inescapável. Isso está acontecendo. E, da mesma maneira em que há uma tentativa de fazer uma terceira via no plano nacional, que é, finalmente, a Simone Tebet (MDB), eu acho que aqui também há uma tendência. O Rodrigo Neves (PDT) é alguém que foi bom prefeito em Niterói, fala coisa com coisa, não está associado a essa briga de foice entre direita e esquerda, entre duas coisas que que já foram. O petismo, o Lula, já foi, a gente viu o que aconteceu. O que o Bolsonaro representa, o que ele gostaria de fazer, a gente também sabe, já foi: é a ditadura militar (1964/1985). Então, a gente precisava de alguma coisa mais nova, e o Rodrigo Neves se propõe a ser isso e é quem tem a maior chance. Tem que ver o que o Eduardo Paes (PSD) vai fazer, porque por enquanto está apoiando o Felipe Santa Cruz, que é um candidato com menos perspectivas eleitorais. Mas, de que essa polarização está acontecendo no Rio de Janeiro, não tenho dúvida. Volto a falar aqui como como pré-candidato: o Cidadania, que é o meu partido, decidiu, na executiva estadual, apoiar o Rodrigo Neves, como no plano nacional está apoiando a Simone Tebet e foi um dos principais articuladores pela candidatura da Simone. O Cidadania está se colocando muito claramente como a favor de uma terceira via, tanto no plano nacional quanto aqui no Rio, neste caso com Rodrigo Neves.
Eleição presidencial entre os anos 1970 e o século XVII – Eu acho que está muito polarizado e, como eu disse, não é bom para o Brasil. E são dois projetos antigos. O Lula parece que quer nos levar de volta para os anos 1970. E o Bolsonaro às vezes dá a impressão de que vai nos levar de volta para o século XVII. São dois projetos não vitoriosos. São projetos que não são para o futuro, que não têm proposta para levar o Brasil a algum lugar bom. E essa questão da polarização é muito difícil, porque ninguém constrói nada com ódio. E o próximo presidente, seja quem for, vai herdar a verdadeira herança maldita: crise econômica, inflação, desemprego, recessão. A gente precisa reconstruir o Brasil e reconstruir as instituições também, que estão sendo muito atacadas. Então, a gente precisa ter alguém que una o país. Houve um tempo em que a gente discutia sem brigar. O meu partido foi uma peça muito importante na negociação da candidatura da terceira via, que é a Simone Tebet. A polarização entre Lula e Bolsonaro está muito forte, mas há muita gente que não quer nenhum dos dois. Por volta de 30% da população, talvez mais, não querem nenhum dos dois, querem alguém diferente. Então, ainda que falte pouco para a eleição, a gente precisa estimular isso, precisa fazer com que isso ande para frente e dê certo. Eu espero que essa briga com João Doria (PSDB) se acerte e que todo mundo apoie a Simone como a terceira via, a figura que não é nem Lula nem Bolsonaro. Essa é a posição clara do meu partido, que foi muito importante para fazer essa aliança, e a minha, pessoal, há muito tempo, inclusive como analista. Eu acho que esse desenho que a gente tem de polarização é muito ruim para o Brasil, já digo isso desde 2018. Então, como pré-candidato, obviamente vou fazer parte desse esforço. E, estando na Câmara (Federal), vou ajudar o próximo presidente a reconstruir o país.
E Ciro Gomes? – O Moro foi muito inábil, o Doria tem as circunstâncias dele, pelas quais nunca conseguiu se viabilizar, e o Ciro nunca foi uma hipótese de terceira via real, pois é muito identificado com a esquerda. O centro e os liberais não votam no Ciro, porque ele é nacional desenvolvimentista e tem uma proposta de política econômica imprudente. E o cara que é de esquerda vota logo no Lula. Por que vai votar no Ciro? Então, o Ciro é identificado com a esquerda demais para ser essa terceira via. Tanto é que ele não se mexe. Ele está parado ali, ele é o terceiro. Não sai da terceira da terceira colocação, mas não se mexe. Com a Simone aparecendo, se ela crescer como eu espero que cresça, o Ciro fica numa situação muito difícil, porque fica claro que ele não vai. E o PDT, o partido dele, vai gastar uma fortuna num candidato a presidente que não tem a menor chance? Não é melhor gastar esse dinheiro nos deputados? Ele vai começar a sentir uma pressão para abandonar a candidatura, o que, provavelmente, é a coisa mais inteligente que ele pode fazer. Se ele abandonar a candidatura e for ser ministro da Simone, dentro de um quadro que inclua o fim da reeleição, que é uma coisa que seria benéfica e ajudaria muito a fazer uma aliança. Então, você pega um cara como o Ciro, por exemplo, com o histórico de sucesso na educação. Se ele for ministro da Educação, com alta visibilidade, ele pode ser um candidato a presidente daqui a quatro anos. A mesma coisa com o Doria. Se o Doria ficar brigando, ele vai fracassar e vai ter um desgaste tal que vai cair numa espécie de limbo, que pode destruir a carreira dele. Vamos ver se vai haver essa gravidade que atraia todo mundo para o barco da Simone. Eu acho que ela deveria anunciar logo que ela vai ser a favor do fim da reeleição.
Simone Tebet atrás de André Janones nas pesquisas presidenciais – Ninguém disse que é fácil. Mas, eu acho que o fato de não ser fácil não significa que deva ser abandonada, até porque é a única hipótese de não ser nem Lula nem Bolsonaro. Mas, dito isso, a Simone, diferentemente de todos esses outros, Moro, Daria, Ciro, ela está jogando parada e calada. Ela praticamente não fez declarações. Há pequenos avanços. Teve um momento em que o machismo da política brasileira tentou relegá-la para a vaga de vice do Eduardo Leite (PSDB). Aí, ela apareceu assim: “Não serei vice de ninguém”. Mas, ela falou muito pouco, ela apareceu muito pouco, enquanto os outros estão na mídia, em geral brigando, em geral fazendo confusão. Doria brigou muito com o seu próprio partido. O Moro, com seu próprio partido, depois brigou um pouco com o União Brasil. E a Simone, não. Nas próximas pesquisas, talvez o nome do Doria não vá aparecer. A gente vai ver o que que vai acontecer. Da mesma maneira que o Moro saiu da pesquisa e esses votos migraram para o Bolsonaro, como era esperado, o Doria saindo na pesquisa, os votos migram pra Simone. É o esperado, pelo menos. Ou é ela ou é essa polarização de Lula e Bolsonaro mesmo.
MDB de Sinome já dividido entre Lula e Bolsonaro – Em grande medida, está. E, na verdade, a gente tem que dizer que a terceira via até hoje não se viabilizou de uma maneira concreta, não é por acaso, é porque ninguém quis. O MDB tem uma parte que é Lula e a outra parte é Bolsonaro; o União Brasil, é em geral, Bolsonaro; o PSDB está cheio de Bolsonaro, a começar pelo Aécio. O PSDB é bolsonarista em vários estados brasileiros. É a questão da gravidade que o presidente exerce. É muito poder. Ele atrai para a sua órbita. Especialmente num país como o Brasil, que tem um pacto federativo em que você precisa de dinheiro, de verba federal. E, se você tem um presidente que, ainda por cima, está jogando dinheiro na mão dos políticos, orçamento secreto. A qualidade da representação política no Brasil é muito precária. É preciso melhorar. Muita gente fala: “Eu quero ficar com o Bolsonaro” ou “Se eu sou contra o Bolsonaro, vou ficar com o Lula”. Então, essa terceira via até hoje não aconteceu. Doutor Ulysses (Guimarães) tinha uma frase boa para os tempos de hoje: “Política não se faz com ódio, porque não é função hepática”. Fica todo mundo se xingando, não chegam a lugar nenhum. Precisa conversar.
Segundo turno e rejeição – Haverá segundo turno, com toda certeza, aconteça o que acontecer. A rejeição aos dois principais candidatos, Lula e Bolsonaro, é fortíssima. O Lula não ganhou no primeiro turno nem quando ele tinha 85% de aprovação. Agora, que ele tem 45% de rejeição, é que não será. E, ainda por cima, o Lula tem feito um discurso muito estranho, muito radicalizado, que não o ajuda. Ele vai continuar no mesmo lugar para as pessoas que não querem votar nele. O Bolsonaro hoje tem uma rejeição de 60%, muitíssimo maior do que tinha na última eleição. Nem Lula nem Bolsonaro tem condições de vencer no primeiro turno. A Simone, por mais espetacular que seja a arrancada dela, não tem a menor hipótese de ganhar no primeiro turno. Então, haverá um segundo turno.
Voto no segundo turno entre Lula e Bolsonaro? – Acho que tanto o Bolsonaro como o Lula são atrasos significativos para o Brasil. Agora, eu acredito que o Cidadania, assim como eu, acredita que é preciso tirar o Bolsonaro do poder. Ele está causando uma destruição institucional muito forte. Nós sabemos pela experiência de outros países. Na Hungria, em Israel, na Polônia, nas Filipinas, quando há um presidente autocrático, antidemocrático, como é o caso do Bolsonaro, é no segundo mandato que eles quebram a espinha dorsal da democracia. No começo, você tem todos esses ataques. Se ele ganha, ninguém consegue mais resistir, as pessoas não têm mais ânimo. Aí aumenta o número de ministros no Supremo, dilui, controla. O Bolsonaro já controla a Procuradoria Geral da República, já controla em grande medida a Polícia Federal, controla o Centrão, que é a metade do Congresso. Se ele controlar o Supremo também… A democracia está sob risco, está sob ataque. Então, é preciso tirar o Bolsonaro do poder. No segundo turno, é preciso votar contra o Bolsonaro, seja lá qual for a alternativa. E aí, a alternativa, depois a gente vê o que faz. Mas, é preciso impedir que o Bolsonaro tenha mais quatro anos. Oito anos disso seria muito ruim para o Brasil.
Confira abaixo, em vídeo, os três blocos com a íntegra da entrevista de Ricardo Rangel ao Folha no Ar de ontem (20):
Colunista da revista Veja e pré-candidato a deputado federal, Ricardo Rangel (Cidadania) é o convidado para fechar a semana do Folha no Ar nesta sexta (20), ao vivo a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele falará da importância de Campos e do Norte Fluminense para um pré-candidato a deputado federal da capital, bem como da sua bandeira liberal abrigada no Cidadania, nome atual do secular Partido Comunista Brasileiro.
Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta sexta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.