Campos fatiada?
“Como a Folha tem noticiado, é uma disputa de poder (na Câmara de Campos). Parece um feudo, com dois grupos tentando fatiar a cidade. O que está por trás disso, a gente vê na exoneração dos cargos, em quem é nomeado. Os equipamentos públicos estão sendo fatiados por conta de interesses políticos e promoção pessoal”. Foi o que a professora Natália Soares denunciou no Folha no Ar da manhã de segunda (02), na Folha FM 98,3. Pré-candidata do Psol de Campos a deputada federal, ela foi a grande revelação da eleição a prefeito em 2020, numa campanha sem recursos que ficou em 5º lugar no primeiro turno, com 11.622 votos.
Feudo entre Garotinhos e Bacellar?
“O que hoje aparece como crise da Câmara é, na verdade, o fatiamento da coisa pública visando as eleições de 2022 e 2024, pelo grupo dos Bacellar e o grupo dos Garotinhos. E é horrível! Como é que a gente pode deixar que a nossa cidade fique entregue a esses grupos, como se Campos fosse um feudo, ou o quintal da sua casa? O que está por trás disso é o que na verdade nos indigna mais. São os trabalhos legislativos paralisados. Mas quais são as intenções?”, indagou Natália, sem nenhuma resposta concreta dos 25 vereadores desde que a crise na Câmara estourou de vez, na eleição a presidente da Casa de 15 de fevereiro.
Cidade refém de dois grupos?
“A gente tem o Fábio (Ribeiro, PSD, presidente da Câmara) que coloca a votação (da eleição a presidente no próximo biênio), mesmo podendo fazer até o final do ano, porque ele acredita que tem uma base, que vai ganhar. No final das contas, perde e judicializa a questão, tentando impugnar o processo que ele próprio disse que havia perdido. A res publica (em latim, “coisa pública”, origem da palavra república) se transforma no quintal da casa, ao bel prazer daqueles que ocupam cargo público. Isso é muito triste! E muito sintomático de uma cidade que fica refém na mão desses grupos. E não consegue escapar!”, lamentou a psolista.
Ingovernabilidade?
Natália fez a historiografia da crise da Câmara e do governo: “Desde maio de ano passado, no Código Tributário que Wladimir (Garotinho, hoje sem partido) tentou aprovar na Câmara, teve o racha. Agora (em 15 de fevereiro), quando Maicon Cruz (PSC), que era da base e estava cotado para votar em Fábio, mas votou em Marquinho Bacellar (SD), isso foi a derrocada. O governo, que tinha (até maio de 2021) uma base forte, de 22 vereadores, hoje não consegue ter nem uma maioria simples (13 vereadores). É uma situação de ingovernabilidade. Isso atrapalhou o salário dos professores, que poderia ser reajustado antes e só foi agora”.
Poder pelo poder?
“Quem está ali (na disputa pelo poder na Câmara), não está pensando na população, não está pensando no bem comum. E quando você percebe que o que está acontecendo é espúrio, isso causa muita revolta. Na verdade, é patrimonialismo, é clientelismo, os equipamentos fatiados entre os vereadores. Você percebe uma enxurrada de gente que vai ser demitida porque uma decisão não foi acatada, ou porque um grupo se colocou diferente. Que autonomia para representar os interesses do povo que essas pessoas têm? Não têm! Está cada um ali pensando em si, no cargo político, no poder que quer alcançar. É poder!”, definiu Natália.
Erros gigantescos dos dois lados
Para a pré-candidata a deputada federal pelo Psol, entre os grupos dos Garotinho e dos Bacellar que enfrentou na eleição a prefeito, não há lado sem erros na crise da Câmara: “Ambos os grupos são patrimonialistas. Ambos os grupos utilizam o que deveria ser público para promoção pessoal, se utilizam da própria população. Que está sofrendo com as mazelas do que não anda na Câmara, porque não há pensamento coletivo. O tempo inteiro são os seus próprios interesses (dos vereadores). Os equívocos dos dois grupos, que disputam como feudos, são gigantescos. Se pensassem na população, não agiriam como agem”.
A presidente e governador
Na política nacional, Natália fez crítica à chapa do ex-presidente Lula com o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB). Mas defendeu o voto a presidente no petista, que terá apoio do Psol, na contraposição entre civilização e a barbárie que vê representada no presidente Jair Bolsonaro (PL). Na eleição ao Palácio Guanabara, ela projetou outro afunilamento, entre o governador Cláudio Castro (PL), com apoio de Bolsonaro, dos Bacellar e dos Garotinho, e o ex-psolita Marcelo Freixo, que migrou ao PSB na mesma tentativa de Lula de se aproximar do centro. O apoio formal do Psol a governador do RJ, que tende a Freixo, será definido em 14 de maio.
Carla Machado e Elaine Leão
Ex-prefeita de São João da Barra, Carla Machado foi a convidada de ontem na semana feminina do Folha no Ar. Que segue na manhã de hoje com a presidente do Siprosep, Elaine Leão, para falar das reivindicações do servidor municipal e do pedido de informação ignorado pelo governo Wladimir. Sobre a política de SJB e sua pré-candidatura de deputada estadual, o que Carla falou está na reprodução da sua entrevista nas páginas 2 e 3 desta edição. Na eleição presidencial, quis evitar polêmica com o bolsonarismo, mas admitiu “o coração vermelho” no voto em Lula. Certeza que não teve a governador, admitindo não ser próxima a Freixo.
Publicado hoje na Folha da Manhã.