Por Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel
“A gente tem que parar de tratar criminosos, esses traficantes fortemente armados, como cidadãos. Eles não são cidadãos; eles enfrentam a polícia, eles enfrentam o Estado, eles tentam matar os policiais que te protegem”. No início da manhã de ontem (14), ao microfone da Folha FM 98,3, a declaração foi feita pelo delegado e ex-secretário estadual de Polícia Civil, Alan Turnovsky (PL), pré-candidato a deputado federal. Para ele a operação policial na comunidade do Jacarezinho, que autorizou contra a maior facção criminosa do Rio e acabou em 28 mortes, foi “cirúrgica”: “os 27 mortos (sem contar o policial civil morto em serviço) todos eram traficantes, sem exceção. Não tinha nenhum inocente ali, nenhum morador”. Assim como a operação policial da Vila Cruzeiro, em maio deste ano, que acabou com 23 mortos: “A polícia não está lá para matar, mas está lá para não morrer. Policial bom é o policial que não morre. Ele não pode dar a vida porque não pode atirar no traficante que não para de atirar nele (…) Volto a repetir: se eles fazem isso com a polícia, imagina o que eles não fazem com a população local”. Turnovsky elogiou políticos de Campos, como o deputado estadual Rodrigo Bacellar (PL), o prefeito Wladimir Garotinho (sem partido) e o ex-governador Anthony Garotinho (União). Também apostou na reeleição de Cláudio Castro (PL) a governador e numa “reviravolta”, com base nas abstenções, para reeleger o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segurança Pública – Tenho 27 anos como delegado de polícia. Em minha carreira, atuei na área operacional praticamente toda ela. Às vezes em que eu não estava na área operacional, fui chefe de Polícia Civil de 2009 a 2011 (no governo Sérgio Cabral) e, agora, com o governador Cláudio Castro, fui secretário estadual da Polícia Civil. Em Segurança Pública, eu acho que, para início, a pessoa tem que saber que quando comete um crime, ela tem que ter punição; ela tem que ser presa. Isso vem desde os primórdios da civilização. Penso que segurança é o feijão com arroz: tem os crimes previstos; você comete o crime e é preso. Se você, a partir daí, começar a trabalhar a sua política de Segurança, acho que você não vai ter grandes dificuldades de resultado. O problema é quando você começa a confundir o criminoso com a população de bem. Muitas vezes falam que o Rio de Janeiro é violento, tem muitas comunidades. Mas 99% das pessoas das comunidades ou até mais um pouco são pessoas de bem, trabalhadoras, que querem uma oportunidade, buscam seu trabalho, seu emprego, seu estudo. O problema é aquele 1%, até menos de 1% em muitas vezes. A gente pode dar um exemplo da comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. Você vai ter 120 mil pessoas lá, pelo último Censo, sendo mais de 119 mil pessoas do bem. Então, confundir essas 119 mil com aqueles criminosos que fazem barulho, mas são minoria, faz com que a população fique meio descrente na Segurança Pública. Eu não vejo grande dificuldade se a gente não confundir criminoso com trabalhador. De criminoso, a polícia cuida, e de trabalhador, todos nós cuidamos.
“Pessoas de bem”? – Comecei falando da comunidade porque é onde você tem mais violência, fuzis, armamentos mais pesados. A delegacia de bairro é responsável por dar segurança à localidade. Com a Polícia Militar fazendo preventiva, e a delegacia fazendo as investigações. Depois, você vai ter as delegacias especializadas, também da Polícia Civil, que trabalham o crime organizado. E, por último, você tem, a partir de 2001, desde o atentado das Torres Gêmeas (de Nova York, em 11 de setembro aquele ano), todas as polícias do mundo trabalhando corrupção e lavagem de dinheiro. É o “follow the money”, seguindo o dinheiro das grandes quadrilhas. E para isso a gente tem um departamento hoje de lavagem e corrupção da polícia, também fortíssimo, que ocupa dois andares do nosso prédio da secretaria e, junto com a inteligência, faz um grande trabalho de rastreamento desse dinheiro desviado. E a gente consegue, no meio de 2022, agora, quando eu me afastei (da secretaria de Polícia Civil para ser pré-candidato a deputado federal), ter mais de R$ 150 milhões de investimento em equipamentos de investigação, de inteligência, busca em internet, cruzamento de dados. Ou seja, a polícia investiu não só no crime mais beligerante, que é o crime onde usam armas de guerra, mas também naqueles que desviam dinheiro público, perseguindo o dinheiro das grandes organizações criminosas: seja tráfico, seja desvio de dinheiro público. A gente teve, logo de cara, duas grandes operações contra milicianos no Rio de Janeiro, em que a gente, primeiro, neutralizou cinco milicianos. Depois, numa troca de tiro em Itaguaí, outros 12 também acabaram morrendo no confronto com a polícia. As investigações contra milícia começam numa força-tarefa solicitada pelo TRE, para que as eleições fossem livres, as pessoas pudessem votar em quem elas quisessem. E, a partir daí, a gente desenvolveu toda uma mecânica de investigação contra as milícias. A gente tem mais de 1.200 milicianos presos nessa gestão. As pessoas que estou falando são as pessoas do mal. E todas as outras que não cometeram nenhum tipo de crime nesses três segmentos são as pessoas do bem.
Operação no Jacarezinho com 28 mortos – Em primeiro lugar, eu era o secretário de Polícia Civil e autorizei a operação do Jacarezinho. Ninguém vai a uma operação para matar outras pessoas. Quando a gente faz uma operação, vai para busca e apreensão de armas e drogas, e prisões de traficantes. Naquele dia, a polícia, num beco em que ela demoraria 30 segundos para passar, ela demorou uma hora e meia. A violência da ação dos criminosos era tamanha, que já tinha um policial morto e a gente não conseguia progredir. Ele toma um tiro na cabeça numa barricada. Já tinha quase uma hora e meia, a gente não conseguia entrar, até que um policial conseguiu penetrar na primeira barreira e a gente conseguiu, depois de uma hora e meia, entrar no Jacarezinho. A triste coincidência é que esse policial (que conseguiu entrar) não morreu de tiro nessa incursão. Ele foi heroico naquele momento inicial para entrar, e morreu duas, três semanas depois, da Covid. Ele até se arriscou jogando uma granada de luz e som. Naquela em que os bandidos se assustaram, ele conseguiu entrar sozinho pelo beco, e foi ele quem furou o bloqueio. A operação do Jacarezinho era a luta do Estado contra a maior facção criminosa do Estado do Rio de Janeiro. Essa facção foi a mesma que tinha matado três crianças na Baixada, que furtavam passarinho. A facção que enfrentou a gente no Jacarezinho foi a mesma que, quando uma menina terminou o namoro com um traficante, esquartejou a menina. E por que eles querem sempre o enfrentamento? Porque cada vez que tiver mortes, cada vez que eles conseguirem essa discussão na sociedade sobre as nossas operações, eles não estão mais preocupados com aquela operação do dia; estão preocupados em não ter a próxima. Então, no Jacarezinho, primeiro lugar: os 27 mortos, todos eram traficantes, sem exceção. Não tinha nenhum inocente ali, nenhum morador. Comprovadamente, todos eram envolvidos com tráfico. A quantidade de armas e drogas apreendidas lá foi um número absurdo. Dezenas de fuzis, pistolas, granadas. Foi uma hora e meia de tiro em cima da entrada da polícia, enfrentando o Estado, sim. Eu fico imaginando como é a vida do cidadão tendo que conviver com traficantes que enfrentam o estado dessa forma. O dia a dia desse cidadão deve ser muito penoso, com certeza é. É neles que a gente tem que pensar, e não nos 27 traficantes que enfrentaram o estado e acabaram, numa operação legítima da Polícia Civil, morrendo.
Operação na Vila Cruzeiro com 23 mortos – Na Vila Cruzeiro eu já não era mais secretário. (Como especialista na área) eu vejo que a polícia não pode ir lá recuperar carga. Você liga para a gente, aí você fala: eu só posso fazer operações hoje se eu preencher um questionário com 50 perguntas para poder justificar a excepcionalidade da minha operação. Então, sem essas operações no dia a dia, proibidas pela Justiça, a tendência é que o traficante vá se fortalecendo. E aí, quando eles se fortalecem, eles passam a acreditar que aquele território ali é impenetrável. Na semana da operação na Vila Cruzeiro, que foi uma operação da Polícia Militar, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, eles tinham atirado num helicóptero que passava em cima daquela comunidade. Um helicóptero civil, passageiros normais, sem nenhum ataque a eles, nenhum tiro efetuado. Eles tentaram derrubar um helicóptero e postaram isso na rede, como se aquilo fosse uma área deles no Rio de Janeiro, impenetrável. Aí a Polícia Militar, Polícia Federal e Polícia Rodoviária vão lá. E você deve ter visto a imagem da forma que eles atiravam na equipe de perícia que estava perto da mata e feriram o papiloscopista no rosto. Os policiais civis que foram lá fazer perícia sendo alvejados. Então, a gente tem que parar de tratar criminosos, esses traficantes fortemente armados, como cidadãos. Eles não são cidadãos; eles enfrentam a polícia, eles enfrentam o Estado, eles tentam matar os policiais que te protegem. Então, enquanto eles continuarem com esse tipo de atitude, a polícia é mais preparada, o Estado é mais forte, e eles vão continuar sendo neutralizados nas operações. Qual é a solução? A solução melhor era eles pararem de traficar. Repito: a reação da polícia depende da ação deles. Se a ação é violenta, a polícia tem que atirar para se defender. A polícia não está lá para matar, mas está lá para não morrer. Policial bom é o policial que não morre. Ele não pode dar a vida porque não pode atirar no traficante que não para de atirar nele. É muito simples. Quando você tem 27 mortes sem nenhum inocente, é que a polícia foi cirúrgica. E se eles morreram foi porque eles enfrentaram a polícia. Volto a repetir: se eles fazem isso com a polícia, imagina o que eles não fazem com a população local.
Liberação da maconha – Eu estava acompanhando a Marcha da Maconha. E vamos deixar uma coisa bem clara, eles usam a maconha para pedir a liberação da droga, mas quando você vai ver a leis que eles querem criar, é a liberação das drogas para gerar recursos. Todas as drogas. Então, essa história do romantismo da maconha é uma armadilha para a liberação das drogas. Quando você for ver as leis que eles propõem, eles falam de liberação de drogas. Inclusive, tinha um documentário, já de 2007, 2009, com o Fernando Henrique (Cardoso, PSDB), ex-presidente, em que eles falam abertamente isso: na produção de impostos para gerar riqueza. E aí, com relação a liberação das drogas, é óbvio que eu sou contra isso. De todas.
Pré-candidatura de Rodrigo Bacellar, ex-secretário estadual, à Alerj – Quando fui chamado, em setembro de 2020, pelo governador Cláudio Castro para assumir a secretaria de Polícia Civil, ele me disse: “Delegado, talvez a gente não tenha dinheiro para pagar o salário no segundo semestre, porque a gente tem que renegociar a nossa dívida e está difícil. Eu queria você nesse momento difícil, com a sua experiência, para me ajudar a tocar o governo”. E eu topei. E, para minha agradável surpresa e de todo o Estado do Rio de Janeiro, o governador e a equipe econômica dele conseguiram reverter a situação financeira, conseguiram gerar recursos com a venda da Cedae, os royalties subiram, renegociaram a dívida (do Estado do Rio com a União). Ele conseguiu colocar novamente o estado financeiramente viável, e aí o governador Cláudio Castro passou a poder investir também nas prefeituras parte dessa verba, ajudando o Rio de Janeiro a sair de uma grande estagnação. Como eu falei, só na Polícia Civil foram quase R$ 200 milhões de investimento. Com isso, a base do governo, quando sai para candidatura na Alerj, sai muito forte, porque, efetivamente, conseguiram fazer um grande trabalho. O secretário, que agora é pré-candidato a deputado, Rodrigo Bacellar, também fez parte desse núcleo duro do governo, na Segov; fez um grande trabalho liderado pelo governador Cláudio Castro e é um nome de força dentro do governo, que saiu da teoria e conseguiu aplicar, na prática, uma melhoria para o Rio de Janeiro. Então, tem todo o seu valor.
Eleição a governador – Eu vejo o governador Cláudio Castro numa crescente. O governador chegou como vice-governador desconhecido, e foi o trabalho dele apresentado que está o tornando um candidato viável. Na área da segurança, foi o governador que enfrentou a milícia, enfrentou o tráfico e enfrentou a lavagem de capitais. Ele me chamou e me disse que os crimes de bairro, crime do interior, crime dos municípios, deveriam ter o mesmo valor que as organizações criminosas. Então, ele acerta área de segurança. Eu acho que quando o governador acerta área de segurança, é o primeiro passo para ter credibilidade junto à população. Você pode ser rico, você pode ser pobre, mas todos nós precisamos de Segurança Pública. Você talvez você possa pagar um plano de saúde, talvez você possa pagar um bom lugar para você dormir, para você jogar futebol, fazer um esporte. Mas, em Segurança Pública, todos são iguais, todos precisam que o Estado forneça. Então, com os menores índices de criminalidade desde 2011 na sua gestão, eu acho que ele sai na frente, porque ele deixa de ser algum teórico para ser um cara que acerta na prática. E quando ele acerta na área econômica, conseguindo tirar o estado do buraco, distribuir riqueza para os prefeitos e distribuir desenvolvimento econômico para o estado, eu acho que ele passa a ser um candidato muito forte, um candidato que faz, um candidato que está testado. Essa, para mim, é a grande diferença. Então, esse fato de ele não ter disparado numa pesquisa eu acho ótimo, porque quer dizer que as pessoas estão analisando a essência do governo dele. Acho que até o final deste governo, as pessoas vão ter a consciência de saber o que funciona na prática e o que funciona na teoria. E o governador funcionou na prática. Eu aprendi muito com o governador Cláudio Castro. Ele tem uma habilidade de lidar com as pessoas muito grande.
Wladimir – Você vê grandes confusões no estado e o governador consegue atender a todos. Eu já vi lá no Palácio várias vezes diversos prefeitos. O próprio prefeito de Campos, que eu conheço a família, já trabalhei com o pai dele. O Wladimir lá, a gente se encontrava nos bastidores, sempre muito bem atendido pelo governador. Então, ele atende a todos os prefeitos. Ele procura fazer o bem para todo mundo, independente da bandeira, se a bandeira é do lado de direita ou de esquerda. Essa foi uma das qualidades muito fortes do governador Cláudio Castro. É um homem de diálogo e que faz.
Pré-candidatura de Garotinho a governador – Primeiro, quero mandar um abraço para o ex-governador Garotinho. Trabalhei com ele. Eu era diretor de Polícia Especializada, foi um governador me deu uma função de fazer várias prisões no Rio de Janeiro, e a gente fez. Sabe que cumpri minha missão com ele, tenho meus créditos da missão cumprida. Como eu falei do Wladimir, o prefeito, também me dou bem.
Eleição a presidente – As pessoas reclamam muito das pesquisas, mas tem um fator que leva todas essas pesquisas a serem problemáticas, que é a abstenção. Na última eleição para a Prefeitura do Rio, a abstenção foi maior que os votos dos candidatos. Então, essa questão da abstenção é que vai definir a eleição. Evidentemente, eu estou no Partido Liberal, eu acredito nos conceitos defendidos pelo presidente Bolsonaro e pelo governador Cláudio Castro: é dureza com a criminalidade, que é a minha área; investimento em tecnologia, investigação; supremacia do Estado perante o crime organizado. Então, isso tudo na minha área me faz, obviamente, optar por Cláudio Castro e Jair Bolsonaro. Porém, o que eu vejo hoje é que votos válidos, isso tem que ser analisado. O fato é que está polarizado, e quem vai decidir são aqueles que agora, hoje, dizem que não vão votar em nenhum dos dois. Se essas pessoas votarem, eu acho que a decisão ainda está muito aberta, e tanto o presidente Jair Bolsonaro, que na vez passada teve essa abstenção a seu favor, pode muito bem fazer uma reviravolta nessas pesquisas e sair vencedor. Eu acho que está totalmente indefinido.