Genial/Quaest: Lula lidera e Bolsonaro para de crescer

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Menos badaladas do que a Datafolha, que deve trazer sua nova pesquisa presidencial amanhã (1º), as pesquisas Genial/Quaest trazem a mesma metodologia de entrevistas presenciais, num trabalho que serve de referência aos analistas sérios. Sua nova pesquisa presidencial, divulgada hoje (31), foi feita entre a quinta (25) e o domingo (28). Não pegou o debate entre os presidenciáveis da Band, na noite de domingo, mas pegou o efeito das sabatinas dos quatro principais candidatos no Jornal Nacional: o presidente Jair Bolsonaro (PL) no dia 22, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) no dia 23, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia 25 e a senadora Simone Tebet no dia 26. A 32 dias das urnas de 2 de outubro, Lula fecha agosto com a manutenção dos seus 12 pontos de vantagem sobre Bolsonaro. Na consulta estimulada ao 1º turno, o petista vencia o capitão por 44% a 32% em 3 de agosto, por 45% a 33% em 17 de agosto e voltou a 44% a 32% neste 31 de agosto. Bem distante dos dois líderes, quem vem crescendo é Ciro, dos 5% de 3 de agosto, aos 6% de 17 de agosto aos 8% de hoje.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

SEGUNDO TURNO E REJEIÇÃO

Na projeção de 2º turno de 30 de outubro, o ex-presidente venceria o atual por 51% a 37%. Índice considerado fundamental à definição do 2º turno, a rejeição continua sendo liderada por Bolsonaro, que cresceu 1 ponto e hoje tem 56% dos eleitores que não votariam nele de maneira nenhuma. Lula caiu 1 ponto e hoje tem 43% de rejeição. A margem de erro da pesquisa Genial/Quaest é de 2 pontos para mais o menos, com a liderança de Lula fora dela no 1º e 2º turnos, assim como a liderança de Bolsonaro na rejeição. Em consulta da nova Genial/Quaest análoga à rejeição, as coisas também se mostram mais difíceis ao presidente: 47% dos eleitores têm mais medo da continuidade de Bolsonaro, contra 39% que têm mais medo da volta do PT ao poder.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

ESTABILIDADE E TETO

Após boa parte das pesquisas do final de julho em diante terem registrado um crescimento lento, mas consistente do capitão, as quatro pesquisas desta semana retrataram a estabilidade na disputa. Foi assim na BTG/FSB e na Ipec (antigo Ibope) de segunda (29), na CNT/MDA de terça (30) e na Genial/Quaest de hoje. O que parece indicar que, como Lula fez desde janeiro, oscilando de lá para cá entre 44% e 46%, Bolsonaro também pode ter encontrado agora o seu teto de intenções de voto, batendo os mesmos 32% nas pesquisas presenciais do Ipec e da Genial/Quaest desta semana. Com 65% dos eleitores dizendo que seu voto a presidente é definitivo, percentual que sobre para 76% entre os eleitores de Lula e para 75% entre os de Bolsonaro, o espaço para mudanças vai se estreitando.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

ONDE BOLSONARO VINHA CRESCENDO

O crescimento de Bolsonaro nas pesquisas a partir do final de julho vinha se operando em três faixas: 1) no voto evangélico, com fake news dizendo que Lula fecharia tempos se voltasse a ser presidente, assim como os ataques neopentecostais da primeira-dama Michelle Bolsonaro, associando o PT ao diabo; 2) no voto da classe média, a partir da sensação de diminuição do preço dos combustíveis; e 3) no voto do eleitor pobre, por conta do novo Auxílio Brasil de R$ 600,00 que começou a ser pago desde o último dia 9. E, nessas três faixas do eleitorado, o crescimento do presidente parece ter se estagnado.

 

VOTO EVANGÉLICO E DA CLASSE MÉDIA

Entre os evangélicos, Bolsonaro liderava com 48% das intenções de voto na Genial/Quaest de 3 de agosto, cresceu a 52% na de 17 de agosto e caiu para 51% na deste 31 de agosto. No mesmo período Lula registrou duas quedas de 1 ponto, dentro da margem de erro: de 29%, a 28%, aos atuais 27%. Na classe média, que tem de 2 a 5 salários mínimos como renda domiciliar mensal, o petista oscilou dentre da margem de erro nas três últimas pesquisas Genial/Quaest de agosto: de 42% a 41% mantidos, enquanto o capitão cresceu 4 pontos de 3 a 17 de agosto, fora da margem de erro, passando de 33% a 37%. Mas caiu a 35% neste dia 31 do mês. Diferente, por exemplo, do que mostrou a Datafolha da última quinta (25), Lula hoje lidera nas intenções de voto da classe média, pela Genial/Quaest.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

AUXÍLIO BRASIL NO VOTO DOS POBRES

Já entre os eleitores pobres que recebem o Auxílio Brasil, depois que ele começou a ser pago no novo valor no último dia 9, Bolsonaro, no lugar de crescer, caiu dentro da margem de erro. Passou dos 27% das intenções de voto na Genial/Quaest de 17 de agosto para 25%, no dia 31. Lula mantém sua liderança isolada nessa faixa, mas também registrou queda, e fora da margem de erro. Passou, nas duas últimas Genial/Quaest, de 57% a 54% das intenções de voto. Uma outra consulta feita pela pesquisa indica como deve ser difícil ao capitão transformar em votos o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400,00 a R$ 600,00. Sabendo desse reajuste, ele não faz diferença nas chances de votar em Bolsonaro para 41%, diminuem para 35% e só aumentam para 22%.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística no IBGE

ANÁLISE DO ESPECIALISTA

— A importância da pesquisa Genial/Quaest é que ela usa a mesma metodologia do IBGE, com entrevistas presenciais domiciliares, o padrão-ouro das pesquisas sobre a população. Esta metodologia também é usada pelo Ipec, ex-Ibope. O levantamento divulgado hoje confirma a estabilidade do cenário eleitoral presencial já apontado pelas pesquisas BTG/FSB, Rede Globo/Ipec e CNT/MDA. Lula e Bolsonaro mantêm exatamente os mesmos percentuais de intenção de voto de 3 de agosto, tanto no primeiro turno (44% a 32%), no caso da pesquisa estimulada, quanto no segundo turno (51% a 37%), indicando que, no eleitorado em geral, não houve alteração na decisão do voto, segundo a amostragem dos 2 mil eleitores entrevistados. Na simulação espontânea do primeiro turno (Lula caiu de 33% para 32% e Bolsonaro caiu de 27% para 25%) e na rejeição (Bolsonaro subiu de 55% para 56% e Lula caiu de 44% para 43%), os dois candidatos oscilaram dentro da margem de erro de 2 pontos. Dos eleitores ouvidos, 65% já decidiram o voto, enquanto apenas 33% declararam que ainda podem mudá-lo, caso alguma coisa aconteça até as eleições, mesmos percentuais de 3 de agosto. Outro dado importante é que a pesquisa Genial/Quaest também não mostrou efeito eleitoral do pagamento do Auxílio Brasil em favor do presidente, pelo menos neste mês de agosto. Desde o início do mês, a intenção de voto em Bolsonaro caiu abaixo da margem de erro entre os beneficiários do programa, de 29%, em 3 de agosto, para 25%, agora, no dia 31. Lula, por outro lado, oscilou dentro da margem, saindo de 52%, no início do mês, para 54%, agora no encerramento de agosto, após ter atingido 57%, na pesquisa divulgada no dia 17 pelo mesmo instituto — analisou William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

 

Debate da Band — Quem fez Bolsonaro suar foram Tebet e Ciro

 

Cientista social Luiz Felipe D’Avila (Novo), ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), senadora Simone Tebet (MDB), presidente Jair Bolsonaro (PL), senadora Soraya Thronicke (União) e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) no debate presidencial da Band na noite de ontem

 

 

Os debates presidenciais passaram a ser referência na escolha do voto do eleitor desde 23 de setembro de 1960, quando se deu o primeiro transmitido ao vivo pela TV, entre um então jovem senador democrata, John Kennedy, e o então vice-presidente republicano dos EUA, Richard Nixon. Kennedy fez Nixon, literalmente, suar. E venceu uma eleição dura para levar a Casa Branca. Passados 62 anos, os debates não têm a mesma importância na definição do voto do eleitor, sobretudo numa eleição já tão polarizada entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), e que se consumará no Brasil em 2 de outubro, daqui a apenas 34 dias. Se tivesse, o debate promovido pela Band na noite de ontem (28), a senadora Simone Tebet (MDB) estaria mais perto de ser a segunda mulher a ocupar o Palácio do Planalto. Mas é só olhar todas as pesquisas, nas quais ela figura em 4º lugar, para perceber o quanto isso está distante da realidade. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), em 3º lugar na corrida, também foi outro destaque positivo.

No confronto direto entre os dois líderes de todas as pesquisas, Bolsonaro se saiu melhor do que Lula. Não por ter chamado o ex-presidente duas vezes de “ex-presidiário”. Mas por ter feito do tema corrupção o de principal interesse dos mais de 1,5 milhão de telespectadores ao vivo, nos dois primeiros blocos do debate da Band, divididos em três. Após trazer de volta ao centro do picadeiro o assunto que lhe deu a vitória sobre o PT em 2018, sobre temas mais urgentes ao presente como a inflação e a fome, o capitão seria o vencedor real da noite, pela vitória parcial no embate particular com Lula. Mas, ao contrário da sua sabatina do Jornal Nacional (JN) na segunda-feira passada (22), Bolsonaro não conseguiu deixar de ser Bolsonaro no debate de ontem da Band. E, diante do eleitorado majoritariamente feminino do Brasil, se revelou nos seus ataques machistas de botequim contra a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, que dirigiu pergunta a ele e a Ciro no segundo bloco, sobre a pandemia da Covid-19.

LULA x BOLSONARO —  Antes de se perder, sobretudo em relação à definição no voto dos indecisos, Bolsonaro foi bafejado pela sorte. E soube aproveitá-la. Por ordem definida em sorteio, coube a ele abrir logo no primeiro bloco o confronto direto entre os candidatos. E, após dar números e fazer comparações sobre o Petrolão nos governos do PT, indagou a Lula: “O senhor quer voltar ao poder para quê? Para continuar fazendo a mesma coisa na Petrobras?”. Veterano de disputas e debates presidenciais, desde 1989, o petista pareceu ontem apático. Não repetiu o que fez no JN da quinta (25), quando foi indagado sobre o milionário Mensalão e rebateu de cara com o bilionário Orçamento Secreto de Bolsonaro e do Centrão. Na Band, Lula ontem só se defendeu, listando as medidas que os governo do PT adotaram para facilitar a investigação e a transparência.

A campanha petista quis justificar após o debate, dizendo que seu candidato não quis se mostrar agressivo para buscar o eleitor médio. Mas o Lula de outrora não teria a menor dúvida de contra-atacar, além do Orçamento Secreto, com os escândalos no Ministério da Educação e de rachadinha e evolução patrimonial dos filhos de Bolsonaro.

CIRO X BOLSONARO I — No primeiro bloco, coube a Ciro confrontar diretamente Bolsonaro. Perguntou a ele sobre declaração recente de que o Brasil não teria gente passando fome. O presidente respondeu com a redução no preço dos combustíveis, que o fez virar o voto da classe média sobre Lula nas pesquisas; e com a elevação do Auxílio Brasil, de R$ 400,00 a R$ 600,00, com o qual já começa a ganhar intenções de voto com o eleitor pobre, no qual Lula tem sua maior vantagem. Ciro contra-atacou com os números reais da miséria no Brasil, dados pela Rede Penssan: 33,1 milhões de brasileiros passando fome e 125 milhões de brasileiros que não conseguem completar as três refeições diárias. O pedetista disse querer “encerrar essa disputa de quem é mais Papai Noel em véspera de eleição”. E propôs a criação do programa de Renda Mínima na Previdência, pensado pelo petista Eduardo Suplicy e esnobado pelo PT.

TEBET LEMBRA COVID — De maneira indireta, Tebet também se destacou no primeiro bloco no enfrentamento a Bolsonaro. “A pandemia poderia ter sido muito melhor gerida se nós tivéssemos um presidente da República sensível à dor alheia. Lamentavelmente, no momento em que o Brasil mais precisou do presidente da República, ele virou as costas para a dor das famílias enlutadas brasileiras. E negou vacina no braço do povo brasileiro. Eu sei porque estava na CPI (da Covid no Senado), eu estudei os documentos: atraso de 45 dias na compra de vacina. Quantas famílias perderam prematuramente seus filhos, quantas mães perderam filhos, quantos filhos perderam pais? E eu não vi o presidente da República pegar a moto dele e entrar num hospital para dar um abraço a uma mãe que perdeu um filho. Eu vi mais do que isso, vi um escândalo na corrupção na compra de vacina, como se a vida pudesse custar 1 dólar”, disse Tebet, em resposta à pergunta sobre Saúde Pública da senadora Soraya Thronicke, presidenciável do União Brasil.

CIRO x BOLSONARO II — No segundo bloco, com uma pergunta para cada dois presidenciáveis, após a refrega inicial entre Bolsonaro e Lula sobre o Auxílio Brasil, veio a pergunta de Vera Magalhães sobre a demora na compra de vacina contra a Covid, já roçada no bloco anterior por Tebet. E na consequência da atitude do Governo Federal na queda de cobertura vacinal contra outras doenças. Ciro foi o primeiro a responder. E o fez após questionar com números a afirmação anterior de Bolsonaro de que “a economia está bombando”. Sobre a questão da vacinação, falou também da premiação que recebeu da ONU, quando era governador do Ceará, pelo combate à mortalidade infantil com os 100% de cobertura no estado.

BOLSONARO SENDO BOLSONARO — Quando foi responder à jornalista, Bolsonaro foi Bolsonaro: “Vera, eu não poderia esperar outra coisa de você. Eu acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim (…) Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. Ciro e Tebet intervieram em defesa da jornalista, ao que Bolsonaro respondeu novamente como Bolsonaro: “Não pedi a tua opinião”. Aos seus eleitores, a opinião de passar pano em tudo é previamente conhecida. A dos que ainda não são, mas precisará para vencer a eleição, sobretudo das mulheres, a dúvida ficou ainda maior.

LULA x CIRO — Na pergunta seguinte, feita pela jornalista Patrícia Campos Melo, da Folha de São Paulo, sobre a possibilidade de apoio do PDT a Lula, num eventual 2º turno contra Bolsonaro, feita ao petista e ao pedetista, foi melhor resumida em análise anterior do debate da Band, feito por Christiano Abreu Barbosa, diretor do Grupo Folha e blogueiro do Folha1: “(Lula) Acenou paz para Ciro, que respondeu com chumbo”. O ex-presidente respondeu primeiro, dizendo que Ciro “tem o coração mais mole do que a língua”. E foi chamado de “encantador de serpentes” pelo cearense. Que, no entanto, lembrou que dos 10 milhões de desempregados hoje no Brasil de Bolsonaro, 12 milhões foram legados pelos governos do PT.

Lula respondeu em tom mais duro, não aceitando a responsabilidade política por Bolsonaro. E alfinetou Ciro, dizendo que não foi para Paris no 2º turno de 2018, lembrando que estava preso para não vencer aquela eleição. Mas mentiu ao dizer que foi absolvido da sua condenação por corrupção pela Lava Jato. Que, na verdade, só foi anulada no Supremo Tribunal Federal (STF) por questão de foro e da parcialidade do julgamento de Sergio Moro, sem julgamento até hoje do mérito das acusações, perto da prescrição.

TEBET DESAFIA BOLSONARO — Na pergunta seguinte, a jornalista Thays Oyama, do UOL, destinou a sua sobre a questão dos direitos da mulher às candidatas Tebet e Soraya. A primeira, inicialmente frisou que a defesa da mulher não é uma pauta que possa ser capturada pela esquerda ou pela direita. E que as mulheres no Brasil recebem em média 20% a menos que os homens nos mesmos cargos, diferença que chega a até 50% se a mulher for negra. E aproveitou para criticar o PT, creditando ao partido, como Ciro, a instalação do “nós contra eles” no pensamento político brasileiro. Soraya se solidarizou com a jornalista Vera Magalhães, atacada por Bolsolnaro. E Tebet voltou para enfrentá-lo frontalmente. Após dar números da violência contra a mulher no país, ela disse que isso tem que se combater com exemplo:

— Exemplo que o presidente não dá quando desrespeita as mulheres, quando fala das jornalistas, quando agride, ataca e conta mentiras, como acabou de fazer. Eu quero dizer que eu não tenho medo, que fake news e robôs do seu governo não me amedrontam. Então, quero quero dizer para o presidente da República — disse ao se virar, com o dedo em riste, para encarar Bolsonaro, ao seu lado esquerdo —, nem é para o candidato, que fabrica fake news e que fala inverdades: Eu não tenho medo de você e dos seus ministros! — desafiou Tebet em rede nacional.

SORAYA E BOLSONARO DE TCHUTCHUCA — A pergunta seguinte foi sobre liberdade religiosa no estado laico. Feita pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, foi destinada ao cientista político Luiz Felipe d’Avila, presidenciável do Novo, e a Soraya Thronicke. Quando esta também enquadrou o presidente em rede nacional por sua postura machista. “Quando eu vejo o que aconteceu agora com a Vera (Magalhães), eu fico extremamente chateada. Quando homens são tchutchuca com outros homens (Bolsonaro foi chamado recentemente por um youtuber de “tchutchuca do Centrão”), mas vem para cima da gente (mulheres) sendo tigrão, eu fico extremamente incomodada. Nós dizíamos lá atrás que o PT nos separava para conseguir manipular. E este governo está fazendo a mesma coisa. Temos que não permitir que as pessoas fiquem na política usando o nome de Deus em vão. É vergonhoso!”.

TEBET X BOLSONARO — Se a sorte sorriu a Bolsonaro no primeiro bloco, quando soube aproveitá-la ao dirigir a Lula a sua primeira pergunta pelo critério do sorteio, não foi diferente com Tebet na abertura do terceiro bloco. Ela enumerou várias atitudes do capitão contrárias a mulher, para indagá-lo: “Candidato Bolsonaro, por que tanta raiva das mulheres?”. O presidente se preocupou em falar em tom de voz baixo e polido. Citou políticas de seu governo para a mulher, cumprimentou a primeira-dama Michelle Bolsonaro, falou de médicas bolsonaristas que teriam sido maltratadas na CPI da Covid, pregou o “chega de vitimismo” e o “não fica aqui fazendo joguinho de mi-mi-mi”, garantiu ter “certeza de que grande parte das mulheres do Brasil me amam” e engatou no discurso contra as drogas e pela família.

CIRO X BOLSONARO III — Talvez assustado com a reação das candidatas ao seu ataque contra Vera Magalhães, Bolsonaro perguntou quem faltava, quando chegou a sua vez de indagar outro candidato. Informado pela bancada que faltavam Tebet, Soraya e Ciro, escolheu o único homem para propor: “Vamos bater um papo aqui sobre mulher, Ciro”. E perguntou a opinião do pedetista sobre os programas do seu governo destinadas a mulher. Ouviu que a atitude do presidente contra a jornalista e seu crédito pelo nascimento da única filha mulher a uma “fraquejada”, jogavam por terra qualquer política pela mulher. Bolsonaro disse que já se desculpou pela “fraquejada” e lembrou a declaração de Ciro, na eleição presidencial de 2002, de que “a missão mais importante da sua esposa era dormir contigo”. O cearense admitiu o erro, disse que já se desculpou várias vezes e partiu para cima do capitão:

— Eu estou falando da sua falta de escrúpulo. Você corrompeu todas as suas ex-esposas, todas elas estão envolvidas em escândalos. Você corrompeu os seus filhos. Essa é a questão. E tendo prometido que iria combater a corrupção do PT e do Lula. Essa é a grande contradição que você tem que explicar. Eu não queria trazer esse tipo de argumento aqui, a não ser pela sua falta de caráter de trazer um assunto pessoal de 20 anos atrás de alguém que, criado em cultura machista, reproduziu cultura machista. Mas eu aprendi isso. Você é que não aprende nada, nunca. Porque você é uma pessoa que não tem coração. Simular sufocamento enquanto o povo estava morrendo por falta de oxigênio em Manaus, dizer que não é coveiro com milhares de famílias brasileiras enlutadas. O Brasil tem 3% da população do mundo e é responsável por 11% das mortes (por Covid) no mundo.

LULA x TEBET — Depois, Lula perguntou a Tebet sobre a corrupção que ela investigou no governo Bolsonaro, na CPI da Covid. A senadora confirmou que houve, na tentativa de compra superfaturada da duvidosa vacina Covaxin, mas complementou ao petista: “Este governo (o de Bolsonaro) tem esquema de corrupção, como teve o seu”. Após enumerar alguns deles, ela terminou lembrando o que já tinha dito em entrevista a Globo News de 26 de julho: “E agora talvez o maior escândalo do Brasil de corrupção, o tempo dirá, o Orçamento Secreto. A consequência do Mensalão e do Petrolão vai ser a do Orçamento Secreto”.

“EX-PRESIDIÁRIO” I — Logo depois, Bolsonaro ganhou um direito de resposta. Que aproveitou para chamar Lula de “ex-presidiário” pela primeira vez: “Bem, é do Lula: ‘Ainda bem que a natureza criou esse monstro do Coronavírus’. Que moral tu tem para falar de mim, hein, ô, ex-presidiário?”.

“EX-PRESIDIÁRIO” II — Nas considerações finais, Ciro e Tebet voltaram a se destacar, parecendo sinceros em seus apelos emocionais por uma chance ao eleitor. A presidenciável do MDB frisou: “O Brasil é muito maior que Lula e Bolsonaro”. Entre os dois, Bolsonaro repetiu seu refrão “Deus, pátria, família e liberdade”, chamou Lula de ex-presidiário pela segunda vez e disse que o vice dele, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB), “homem religioso, resolveu cantar a Internacional Socialista”.

LULA PERDEU O TEMPO — Lula já havia falado antes. Quando aproveitou suas considerações finais para também se solidarizar com a jornalista Vera Magalhães, lembrar da importância de Alckmin na sua chapa em 2022 e classificar de “golpe” o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. Mas também ganhou um direito de resposta. Que usou para falar da “irresponsabilidade de um presidente da República que me chamou duas vezes de ex-presidiário. A razão pela qual eu fui preso, foi para ele se eleger presidente da República. Eu, nesse processo todo, estou muito mais limpo do que ele ou qualquer parente dele”. Contra-atacou muito tarde na questão da corrupção, disse mais uma vez que foi julgado inocente — o que não é verdade — e ia ameaçando Bolsonaro de cortar “num decreto só todos os seus sigilos”. Mas faltou tempo para concluir a frase.

Como Kennedy com Nixon nos EUA de 1960, quem fez Bolsonaro suar nesse primeiro debate presidencial do Brasil de 2022 foram Tebet e Ciro.

 

Edvar Júnior — Pesquisas a presidente indicam 2º turno

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Edvar de Freitas Chagas Júnior, empresário, arquiteto urbanista e presidente da CDL-Campos

Pesquisas a presidente indicam 2º turno

Por Edvar de Freitas Chagas Júnior

 

Como presidente de uma entidade representativa de classe, fico muito à vontade para tecer comentários sobre as atuais pesquisas de intenção de voto, sem necessariamente declarar algum, quer para Presidência da República, governo do Estado, Senado, Câmara ou Assembleia Legislativa.

Com o foco no crescimento do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, nas recentes pesquisas, creio que como todos, que acompanham atentamente a cena política, essa performance já era esperada. E não atribuo isso apenas a consequência do aumento do valor do Auxilio Brasil.

As pesquisas, nos seus mais variados recortes, obviamente mostram o efeito do Auxílio Brasil que passou de R$ 400 para R$ 600. Mas o crescimento de Bolsonaro aconteceria de uma maneira ou de outra, como consequência do início da campanha e do inevitável acirramento entre duas correntes políticas antagônicas em agendas e discursos.

A redução do distanciamento entre Bolsonaro e Lula nas pesquisas, mostra que, à medida em que vamos nos aproximando das eleições, aumenta a pressão na panela, onde ambos prometem colocar mais comida com menos preço.

Falei em agendas e discursos antagônicos, que em comum têm um certo tempero de ocasião. Infelizmente o país vive um período de prato raso por conta de fatores extremos, como a pandemia da Covid e a Guerra da Ucrânia, dentre outros, que formam um ambiente de insegurança que os americanos chamam de tempestade perfeita.

Não tenho dúvidas de que pleitos acirrados se definem nos detalhes. O crescimento de Bolsonaro nas pesquisas apenas reforça a máxima de que o resultado final é imprevisível. Pode-se concluir que certamente, teremos eleições em dois turnos. Este é o principal recorte das pesquisas atuais.

A campanha que está em curso será rápida, mas com tempo suficiente para oscilações de intenções de votos para a presidência, com candidatos ganhando e perdendo pontos, mas observando sempre a prudência das margens de erro expostas por esses institutos de pesquisas.

Então, é possível antever que estamos diante de um teste — historicamente falando — para a jovem democracia brasileira. O crescimento do presidente Bolsonaro nessas pesquisas não é um ponto fora da curva. E o mesmo aplica-se à consolidação do eleitorado de seu adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

As ideias de ambos estão colocadas fartamente em pratos limpos. Vale destacar que os extremos muitas vezes se convergem. Volto a observar que os dois têm seus ativos políticos consolidados e vão disputar com fome de voto a fatia disponível, alimentada por promessas de uma bonança após a tempestade.

É praticamente certo que Bolsonaro e Lula irão disputar o 2º turno. Não é possível lacrar — como se diz na gíria das redes sociais — quais dos dois será o mais votado neste1º turno. A tendência é de que o resultado do 1ª turno tenha um distanciamento de dígitos curtos.

Já não se fala mais em eventual 2ª turno. As pesquisas mostram que ele é inevitável, exceto que ocorra o que se chama de um fato novo. Pelos fatos conhecidos, o eleitor prefere até o momento se colocar dividido. Esse acirramento tem sido presenciado em eleições recentes de outros países, não sendo uma reserva de mercado dos brasileiros.

Partindo da premissa que no 2ª turno são zerados os dígitos, e se parte do zero para uma nova eleição, os dois candidatos vão à cata dos votos que não tiveram no 1ª. Então, se estão sentindo a temperatura da panela, saibam que a pressão vai aumentar.

Assim como em toda empresa de capital aberto, o controlador é quem tem 50% mais 1%. Obviamente os cotistas que retém 49% terão influência na governança.

O que se espera é exatamente isso. Não só o respeito a quem tiver um capital de metade mais um, assim como não pode tornar desprezível os outros 49%. Faço essa analogia para afirmar que é possível conviver com as diferenças e isso pode fazer toda.

Os dois candidatos já sinalizaram em teoria e prática como pretende administrar a empresa. Cabem aos acionistas, neste caso os eleitores, escolherem quais dos dois. Essa escolha ultrapassa os limites da economia e se espalha por agendas diversas, mas todas regidas pela mesma regra que é a democracia.

Retomando a linha de raciocínio de que esse será um teste definitivo para a democracia brasileira, espero que ela saia maior deste pleito.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Lula e Bolsonaro nas pesquisas a 36 dias da urna

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

A semana foi marcada pelas sabatinas dos presidenciáveis no Jornal Nacional (JN), na Rede Globo, que entrevistou o presidente Jair Bolsonaro (PL) na segunda (22), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) na terça (23), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na quinta (25) e a senadora Simone Tebet (MDB), na sexta (26). Esta última, depois desta matéria ser escrita. Mas não é preciso nem ter assistido a todas para se ter certeza: os eleitores de Bolsonaro e Lula acharam que seus respectivos candidatos deram de 7 a 1 no principal adversário e na “Globolixo”. Já os eleitores Ciro e Tebet lamentarão como os seus candidatos são muito mais preparados, respectivamente, à esquerda e à direita, do que os dois líderes da corrida presidencial. Mas tudo isso sempre será subjetivo. Hoje, a exatos 36 dias das urnas de 2 de outubro, o que há de concreto está nos números de duas pesquisas presidenciais desta mesma semana. Que, na comparação com as cinco da semana anterior, confirmam a tendência de diminuição lenta da vantagem de Lula sobre Bolsonaro nas intenções de voto.

PESQUISAS DA SEMANA – A primeira pesquisa presidencial da semana foi a BTG/FSB, que saiu na segunda, feita por telefone com 2 mil eleitores entre a sexta (19) e o domingo (21) anteriores. A segunda foi a Exame/Ideia, que saiu na quinta, feita por telefone com 1.500 eleitores entre a sexta e a quarta anteriores. E a diferença entre Lula e Bolsonaro caiu nas consultas induzidas ao 1º e 2º turnos, nas duas pesquisas.

BTG/FSB – Entre as BTG/FSB de 15 e 22 de agosto, com margem de erro de 2 pontos para mais ou menos, o petista manteve os 45% de intenções de voto no 1º turno, enquanto o capitão subiu de 34% a 36%. A diferença de 11 pontos, em sete dias, caiu a 9 pontos. Na projeção de 2º turno, Lula caiu de 53% a 52%, período em que Bolsonaro cresceu de 38% a 39%. A diferença de 15 pontos, em uma semana, caiu para 13 pontos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

EXAME/IDEIA – Entre as Exame/Ideia de 21 de julho e 25 de agosto, com margem de erro de 3 pontos para mais ou menos, o petista tinha e manteve 44% de intenções de voto no 1º turno, enquanto o capitão subiu de 33% a 36%. A diferença de 11 pontos, em 35 dias, caiu a 9 pontos. Na projeção de 2º turno, Lula cresceu de 47% a 49% nos 35 dias anteriores, período em que Bolsonaro cresceu mais, de 37% a 40%. A diferença de 10 pontos, em pouco mais de um mês, caiu a 9 pontos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

PESQUISAS DA SEMANA PASSADA – Todas as mudanças estão na margem de erro das duas pesquisas presidenciais desta semana. E confirmam as cinco da semana anterior: a BTG/FSB do dia 15; a Iepc (antigo Ibope) do dia 16, a Genial/Quaest e a PoderData do dia 17, e a Datafolha do dia 18. Lula também liderou isolado as projeções do 1º e 2º turnos em todas. Mas veio seguido por um Bolsonaro em tendência lenta de crescimento. Que parece se operar em três eleitores: 1) de classe média, por conta da redução no preço dos combustíveis; 2) o evangélico, por conta dos ataques religiosos dos Bolsonaro ao PT; e 3) o pobre, por conta do Auxílio Brasil de R$ 600,00 pago desde o dia 9.

George Gomes Coutinho, cientista político e professor da UFF-Campos

ANÁLISE DO CIENTISTA POLÍTICO –  “Se há aumento da preferência de Bolsonaro, é discreta e não se apresenta com energia para redundar em uma virada rápida de mesa. Lula segue estável e ganharia no 2º turno, tal como nas outras pesquisas. Bolsonaro tem potencial de crescimento sim. A questão é a velocidade deste crescimento. Creio também que os dois primeiros colocados, estão fazendo um esforço além do suportável para meros mortais na meta para terem menos erros. Até porque a eleição não está ainda definida. Um erro crasso de tática pode ser o imponderável que um dos lados deseja para obter melhoria em suas intenções de voto visando: 1) atrair votos dos outros candidatos fora da polarização; 2) diminuir rejeição; e 3) captar os votos dos eleitores não ideológicos, os pragmáticos, do adversário”, analisou o cientista político George Gomes Coutinho, professor da UFF-Campos.

REJEIÇÃO – Citada pelo cientista político, a rejeição é fundamental à definição do 2º turno. Bolsonaro a lidera em todas as pesquisas, seguido na maioria por Lula. A diferença não caiu entre as BTG/FSB de 15 e 22 de agosto, nas quais o capitão passou de 54% a 55% dos brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, enquanto o petista manteve os 44%. Porém, entre as Exame/Ideia de 21 de julho e 25 de agosto, a diferença na rejeição já estava em empate técnico no limite da margem de erro. E encurtou mais: Bolsonaro caiu de 46% a 45%, enquanto Lula cresceu de 40% a 42% dos brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma. As mudanças da semana também se mantiveram dentro da margem de erro.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

VOTO EVANGÉLICO E DA CLASSE MÉDIA – Com as fake news dizendo que Lula vai fechar templos se for eleito presidente e a retórica neopentecostal da primeira-dama Michelle Bolsonaro associando o PT ao demônio, todas as pesquisas da semana passada mostraram a ascensão de Bolsonaro entre os evangélicos. Entre as Datafolha de 28 de julho e 18 de agosto, o capitão passou de 43% a 49% nessa faixa, enquanto Lula caiu de 33% a 32%. O presidente também virou o voto no eleitor de classe média, entre 2 a 5 salários mínimos. Na Datafolha de julho, Lula ganhava nessa faixa por 40% a 34% de Bolsonaro. Que apareceu liderando a Datafolha de agosto por 41% a 38%.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

AUXÍLIO BRASIL NO VOTO DO POBRE – A única dúvida da semana passada era o crescimento de Bolsonaro também entre aqueles que recebem o novo Auxílio Brasil. Apenas a PoderData registrou esse movimento. Entre as suas pesquisas de 4 e 17 de agosto, Lula caiu de 58% a 47% das intenções de voto dos que recebem o benefício federal, enquanto o capitão cresceu de 25% a 39%. Esse seu avanço no voto dos pobres, onde Lula sempre teve a maior vantagem, foi confirmada pela nova BTG/FSB desta semana. Nela, entre os que recebem o Auxílio Brasil, Bolsonaro cresceu de 24% a 31% nos últimos sete dias, enquanto o petista caiu de 61% a 52%.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

TETO – Além de confirmar o crescimento de Bolsonaro no eleitor pobre, a BTB/FSB de segunda também mostrou que sua ascensão continua na classe média e nos evangélicos. No eleitor de 2 a 5 salários mínimos, o capitão subiu de 40% a 43%, enquanto Lula caiu de 38% a 36%. Entre os evangélicos, o presidente cresceu de 49% a 56%, enquanto o petista tinha e manteve 30%. Lula patina há mais tempo na liderança da consulta estimulada ao 1º turno. Na série de 10 pesquisas BTG/FSB de 2022, de 21 de março a 22 de agosto, ele variou entre 41% e 46% das intenções de voto. Hoje tem 45%. Não cai muito há cinco meses, mas também não sobe. Lula bateu no seu teto. Bolsonaro cresce lentamente e ainda não bateu no seu.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística no IBGE

ANÁLISE DO ESTATÍSTICO – “As pesquisas da semana apontam para a possibilidade de Lula ter atingido um teto e de Bolsonaro estar diminuindo a desvantagem de intenção de voto. Considerando os dois principais institutos que divulgaram pesquisa nesta semana, a diferença entre os dois antagonistas varia de 8 pontos, no caso da Ideia (Lula 44% a 36%), a 9 pontos, no caso do FSB (Lula 45% a 36%). Basicamente, o crescimento de Bolsonaro se deu entre os evangélicos, a classe média e os mais pobres, até 2 salários mínimos. Por isso, a redução do ICMS sobre os combustíveis e o Auxílio Brasil de R$ 600 têm sido convertidos em ganhos eleitorais para Bolsonaro. Muito embora, até aqui, insuficientes para uma virada nas urnas”, concluiu William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

 

Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

Lula entre erros e acertos na sabatina do Jornal Nacional

 

O ex-presidente Lula diante dos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, na noite de hoje do Jornal Nacional

 

Se alguém realmente tinha dúvida que a bancada do Jornal Nacional (JN), formada pelos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, seria tão assertiva na sua sabatina com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na noite de hoje, quanto foi na segunda (22) com o presidente Jair Bolsonaro (PL), terá que fazer a mesma autocrítica que costuma cobrar a quem governou o país por 13 anos. Sem refresco, a entrevista de 40 minutos com o petista foi dividida em oito temas: 1) corrupção, 2) Procuradoria Geral da República (PGR), 3) economia, 4) governo Dilma Rousseff (PT), 5) Centrão, 6) Geraldo Alckmin (PSB), 7) radicalismo da militância petista e 8) política internacional e apoio a ditaduras “companheiras” na América Latina. Ao final, como foi com Bolsonaro, duas certezas: quem já votava em Lula, continuará votando; quem já votava no capitão, também.

Lula começou visivelmente nervoso. Indagado de cara por Bonner sobre a corrupção sistêmica e comprovada nos governos do PT, o ex-presidente deu conhecidas e gastas respostas prontas: “a corrupção só aparece quando se permite que ela seja investigada”, “a Lava Jato causou prejuízos e desemprego no Brasil”, “tem que investigar os corruptos, mas não quebrar as empresas”.

Perguntado depois por Renata sobre uma questão fundamental às investigações, sobre o fato de não revelar se vai respeitar ou não a lista tríplice do Ministério Público Federal (MPF) para escolher o sucessor de Augusto Aras, escolhido por Bolsonaro fora da lista, Lula deu uma resposta tão tucana quanto o vice “socialista” da sua chapa: “tem que deixar as pessoas com uma pulguinha atrás da orelha”. Aliás, foi falando sem dizer sobre a PGR, que o ex-presidente citou pela primeira vez Geraldo Alckmin. E o faria novamente diversas vezes.

Quando Bonner voltou para falar de economia, Lula se saiu tão bem quanto, supreendentemente, se saiu Bolsonaro na segunda. Lembrou dos feitos do seu governo na área, tão comprovados quanto a corrupção, e citou um tripé. Não o macroeconômico meta de inflação/superávit fiscal/câmbio flutuante que copiou do “neoliberal” Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas outro: “credibilidade, previsibilidade e estabilidade”. E, junto ao seu bordão mais famoso, emendou um novo para acenar ao mercado: “Nunca antes na história desse país houve uma chapa, como a Lula/Alckmin, para gerar credibilidade externa e interna”.

Se lembrou dos feitos econômicos dos seus dois governos, Lula também foi confrontado pelos desacertos na área cometidos por Dilma. Da qual admitiu erros. Mas disse que, após a própria Dilma supostamente tê-los reconhecido, buscando mudanças na economia, teria sido impedida por Eduardo (a quem citou duas vezes, sem lembrar do sobrenome Cunha) na Câmara e por Aécio Neves (PSDB) no Senado. Quando Bonner perguntou por que os erros de Dilma não se repetiriam no eventual novo governo Lula, este deu sua entrada mais de sola: “Quando outro assumir o lugar de Bonner no JN, você vai descobrir que ‘rei morto é rei posto’”.

Quando foi cobrado a falar do Centrão, que apoiou o seu governo, o do FHC, o de Dilma, apoia o de Bolsonaro e apoiará qualquer outro, Lula deu sua melhor resposta após Renata lembrar do Mensalão como fórmula de negociação do PT com o Congresso. O ex-presidente lembrou do Orçamento Secreto, que classificou corretamente como “uma excrecência”. Disse nada com coisa nenhuma ao lembrar que “o Centrão não é um partido político”. Mas foi contundente ao lembrar que o Orçamento Secreto “não é moeda de troca, é usurpação de poder. Bolsonaro não governa nada, é refém do Congresso. Quem faz o orçamento é o (Artur) Lira (PP/AL)”.

Questionado por Bonner sobre a não aceitação de Alckmin por parte da militância do PT, manifesta em diversos episódios de vaias ao seu vice, Lula buscou prestigiá-lo para acenar novamente ao eleitor de centro que definirá a eleição presidencial: “O Alckmin já foi aceito de corpo e alma. A experiência dele como governador de São Paulo e vice do (falecido ex-governador paulista Mário) Covas (PSDB) vai me ajudar a governar”. Disposto a encarnar em sua chapa a reação da Nova República contra o bolsonarismo, disse uma frase que deixou saudosos os democratas de meia e terceira idade: “O Brasil era feliz com o PT x PSDB”. Não chamou os tucanos de “nazistas”, como fez na campanha de reeleição de Dilma, no Recife, em 2014.

Quando Bonner insistiu na questão da radicalidade de parte da militância petista, à qual o próprio Lula já definiu melhor como “aloprados” e que de fato criou no país o clima de “nós contra eles” espelhado no bolsonarismo, o ex-presidente apelou a metáforas com o futebol. Tão ao seu gosto como as de Bolsonaro com o casamento. O petista disse que “militância de partido é igual a torcida organizada, que não é a torcida do time”. Buscou se eximir da sua responsabilidade como líder de ambas. E, na única vez durante a sabatina, lembrou da “picanha e da cervejinha” que o povo voltaria a consumir se ele voltar ao poder.

Foi quando Renata perguntou do motivo de grande parte do agronegócio hoje apoiar Bolsonaro, que Lula cometeu sua maior gafe. Disse que era porque seu governo e o de Dilma foram rigorosos “na política em defesa da Amazônia, do Pantanal, da Mata Atlântica”. Só após ser lembrado por Renata que sua resposta transformava todo o agronegócio brasileiro em criminoso ambiental, que o petista separou o joio do trigo. E pediu que a jornalista entrevistasse as lideranças do setor para falar de como este se teria se dado bem durante os seus governos.

Na última pergunta, Bonner ainda teve tempo de perguntar sobre política internacional e do apoio pessoal do ex-presidente às ditaduras de esquerda na América Latina. Como de fato são os governos de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Ganhando a luta por pontos, Lula se esquivou do último golpe com uma finta retórica: “Cada país que cuide do seu nariz”. Em sua declaração final de um minuto, prometeu ao futuro a maior virtude do seu passado como presidente: “colocar o pobre no orçamento do país, na universidade”. E acenou a quem, até agosto, inclina ao seu lado a eleição de outubro: “vamos negociar as dívidas de 70% das famílias brasileiras, a maioria mulheres”.

 

Mauro Silva abre mão da candidatura a deputado estadual

 

Jornalista, advogado, ex-secretário estadual e de Campos, além de figura querida mesmo entre os detratores do grupo político dos Garotinho, ao qual sempre pertenceu em sua vida pública, Mauro Silva (PP) abriu mão da sua candidatura a deputado estadual em outubro. Ele anunciou sua decisão na noite de hoje, em seu perfil no Instagram.

Mauro se definiu por receio de que questões jurídicas advindas da sua candidatura a vice-prefeito de Campos, na eleição municipal de 2016, pudessem afetar sua candidatura e eventual mandato na Alerj. Abaixo a íntegra da sua decisão:

 

Mauro Silva (Foto: Instagram)

 

— “Sempre que a vida exigir, tenha a humildade de dar um passo atrás, sem entender isso como uma derrota. E, acima de tudo, nunca deixe de falar a verdade”.

Eu aprendi isso com meus pais e esses conselhos têm me acompanhado ao longo da minha trajetória. São valores que deixo para os meus filhos.

Ser candidato a deputado estadual, buscando a oportunidade de servir ao povo do estado do Rio de Janeiro, foi uma grande honra e alegria.

No entanto, questões judiciais relacionadas às Eleições de 2016, nas quais fui candidato a vice-prefeito de Campos, poderiam causar incertezas na regularidade de minha candidatura.

Tenho a consciência tranquila de sempre ter agido de forma limpa e honesta, mas não considero justo, principalmente com os eleitores que me honrariam com seu voto, manter uma candidatura que, mesmo deferida pela Justiça Eleitoral, poderia vir a sofrer uma impugnação no futuro.

Isso eu não poderia admitir. Porque, acima de tudo, nossa relação é de confiança.

Assim sendo, tomei a decisão que me parece a mais acertada neste momento, ainda que dolorosa: abrir mão da minha candidatura a deputado estadual nestas eleições de 2022.

A todos que me acompanharam ao longo da campanha, deixo meu agradecimento carinhoso. E uma mensagem: mesmo que não sejam concluídos nas urnas, nossos laços continuam mais fortes do que nunca, assim como o meu desejo de contribuir por um estado do Rio de Janeiro melhor para todos.

Juntos, somos mais fortes e, independentemente de cargos ou posições, podemos fazer muito!

Um forte abraço e até breve!

 

Semana política de Campos, RJ e Brasil no Folha no Ar desta 6ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

A semana do Folha no Ar será encerrada a partir das 7h da manhã desta sexta (26), a 37 dias das urnas de 2 de outubro, com a análise político/eleitoral dos planos de Campos, Norte Fluminense, estado do Rio e Brasil pela bancada do programa. Que virá completa com os jornalistas Arnaldo Neto e Aluysio Abreu Barbosa, sob comando do radialista Cláudio Nogueira.

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta sexta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Exame/Ideia: Lula lidera, mas patina, enquanto Bolsonaro cresce

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

A 38 dias das urnas de 2 de outubro, a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) na corrida eleitoral continua caindo. Foi o que confirmou a pesquisa Exame/Ideia feita de sexta (19) a quarta (24) e divulgada hoje (25), cuja consulta estimulada ao 1º turno deu 44% das intenções de voto ao petista, contra 36% do capitão. A diferença atual de 8 pontos era de 11 pontos (44% a 33%) na Exame/Ideia de 21 de julho. Indica que o ex-presidente bateu em seu teto e patina, enquanto o atual cresce. Lula continua vencendo a projeção ao 2% turno de 30 de outubro, no qual hoje bateria Bolsonaro por 49% a 40%, fora da margem de erro de 3 pontos para mais ou menos. A pesquisa foi feita por telefone com 1.500 eleitores.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Índice considerado fundamental à definição do 2º turno, a rejeição também vem se encurtando entre Lula e Bolsonaro. Hoje há empate técnico entre os 45% dos brasileiros que não votariam de maneira nenhuma no capitão, contra os 42% do petista. A diferença na rejeição, que era de 6 pontos em julho, caiu pela metade, para apenas 3 pontos em agosto. Mês que confirmou a cristalização da polarização da eleição entre o ex-presidente e o atual. Na consulta espontânea, sem apresentação dos nomes dos candidatos, Lula teve 33% das intenções de voto, em outro empate técnico com os 30% de Bolsonaro. A diferença atual de 3 pontos entre os dois também caiu pela metade, em relação aos 6 pontos (36% a 30%) na espontânea de julho. Para 83% dos eleitores, o voto a presidente já está definido. Para cobiçados 13% dos brasileiros, o voto ainda pode mudar.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística pelo IBGE

— A vantagem de Lula para Bolsonaro diminuiu dentro da margem de erro, o que pode indicar leve redução da diferença ou manutenção da distância. No levantamento anterior, divulgado em 21 de julho, a diferença era de 11 pontos (44% a 33%). Na pesquisa divulgada hoje, caiu para 8 pontos (44% a 36%). O crescimento de 3 pontos para cima, dentro da margem de erro, pode indicar ganho de intenção de Bolsonaro. Ciro Gomes (PDT) oscilou 1 ponto para cima, passando a 9%. Simone Tebet (MDB) mantém os 4% da sondagem anterior. Na pesquisa espontânea, Lula e Bolsonaro empatam dentro da margem de erro, com o primeiro numericamente à frente (33% a 30%). Refletindo o grau de consolidação e de definição do voto, 83% dos eleitores entrevistados declararam que o voto para presidente já está definido, contra apenas 13% que disseram que ainda podem mudá-lo — concluiu William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

Diferente de outras pesquisas recentes, como a BTG/FSB de segunda (22), ou a aguardada Datafolha da quinta anterior (18), a Exame/Ideia de hoje não divulgou os números das intenções de voto por fatias. Assim, é impossível confirmar se o crescimento de Bolsonaro se deu no voto dos evangélicos e da classe média, como indicam todas as pesquisas das duas últimas semanas. Assim como no voto dos pobres que recebem o novo Auxílio Brasil pago desde o dia 9, como indicaram a PoderData do dia 17 e a BTG desta semana. Sobre esse eleitor que recebe o benefício federal, a Exame/Ideia se limitou a projetar que representa 18% dos brasileiros.

— Para Maurício Moura, fundador do Ideia, que realizou a pesquisa, a definição do voto está acontecendo cada vez mais cedo. Ou seja, há pouco espaço de convencimento de eleitores que podem mudar de voto”. Ele acrescenta que, entre os que poderiam mudar de voto, um dos grupos mais relevantes é o de jovens, de 16 a 24 anos. “Talvez eles tenham um grau de desencanto maior com as alternativas que estão na corrida eleitoral. É um grupo que vai ser fundamental nesta reta final. Além disso, existe a classe C, de pessoas que ganham entre três e seis salários-mínimos e que votaram no Bolsonaro (em 2018). Atualmente, essa parcela não vota mais nele no mesmo grau de intensidade” — complementou William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística pelo IBGE.