Lula cai, Bolsonaro cresce
Sempre questionadas pelos bolsonaristas, por registrarem em todo o ano de 2022 a liderança de Lula (PT) à corrida presidencial de outubro, as pesquisas passaram a ser a esperança real de Jair Bolsonaro (PL). Na segunda (8), foi divulgada a nova BTG/FSB, feita de sexta (5) a domingo (7). Que, comparada com a pesquisa do mesmo instituto, divulgada em 25 de julho, revelou que o capitão tirou quase metade da vantagem do petista. Na consulta estimulada ao 1º turno, Lula tinha 44% de intenções de voto e caiu a 41%. Bolsonaro tinha 31% e subiu a 35%. A diferença entre os dois era de 13 pontos. E, em apenas 14 dias, caiu para 7 pontos.
No 2º turno
A tirada de diferença de Bolsonaro para Lula está fora da margem de erro. Que foi de 2 pontos para mais ou menos, das duas últimas pesquisas BTG/FSB, de 25 de julho e 8 de agosto. E não se deu só sobre a projeção para as urnas do 1º turno de 2 de outubro, daqui a 53 dias. Em 25 de julho, na projeção ao 2º turno marcado para 30 de outubro, Lula venceria Bolsonaro por 54% a 36% das intenções de voto. Já na BTG/FSB divulgada em 8 de agosto, Lula continuaria vencendo a disputa final, mas por 51% a 39%. A diferença no 2º turno cada vez mais provável entre o petista e o capitão era de 18 pontos. E, em apenas 14 dias, caiu para 12 pontos.
Na rejeição
Fundamental para a definição do 2º turno, a rejeição também veio com diferença menor entre Bolsonaro e Lula. Nas pesquisas BTG/FSB de 25 de julho, o capitão apareceu com 58% de brasileiros que não votariam nele de jeito nenhum, contra 42% do petista. Pelo mesmo instituto, em 8 de agosto Bolsonaro reduziu a rejeição em 6 pontos, aos atuais 52%; enquanto Lula subiu a sua em três pontos, aos 45% de hoje. A diferença no índice negativo entre os dois era de 16 pontos. E, em apenas 14 dias, caiu pela metade: 8 pontos. Com a rejeição de ambos próxima aos 50%, qualquer resultado no 2º turno passa a ser aritmeticamente possível.
Por que crer na BTG/FSB?
Lula ainda é o favorito para as eleições presidenciais de outubro. Mas a possibilidade de vencer no 1º turno, retratada em várias pesquisas de junho, parece cada vez mais distante. Como os bolsonaristas que questionam as pesquisas, os lulopetistas podem lembrar que o banco de investimentos BTG Pactual, contratante do instituto FSB Pesquisa, teve entre seus fundadores Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro. Mas a verdade é que a BTG/FSB divulgada em 13 de junho também chegou a projetar a possibilidade de Lula liquidar a fatura em turno único. E, se projetou o que era a tendência de antes, também o faz agora.
Classe média migra voto
O contraste entre as BTG/FSB de 25 de julho e 8 de agosto mostrou de onde saíram as intenções de voto perdidas por Lula e achadas por Bolsonaro. Houve estabilidade entre os eleitores com renda familiar até 1 salário mínimo, de 1 até 2 mínimos e de mais de 5 mínimos. A alteração não se deu no voto dos pobres e ricos, mas da classe média. Entre os que ganham de 2 até 5 mínimos, Bolsonaro passou dos 36% de intenções de voto a 42%; enquanto Lula caiu de 39% aos 30% de hoje. O motivo? O preço dos combustíveis, que 44% dos brasileiros já achavam um pouco menores em 25 de julho. Mas, em apenas 14 dias, chegaram a 50%.
O voto dos pobres
Essa migração de votos da classe média ainda precisa ser comprovada por outras pesquisas. Mas se a diminuição no preço do combustível provocou alteração eleitoral até 8 de agosto, é sobre quem não tem carro que o impacto pode ser ainda maior. Ontem, 9 de agosto, começou a ser pago o Auxílio Brasil anabolizado de R$ 600 a 20,2 milhões de brasileiros pobres. Mais o Auxílio Gás também anabolizado de R$ 110 a 5,6 milhões de famílias igualmente pobres. E é entre os pobres que Lula tem sua maior vantagem de intenções de voto sobre Bolsonaro. São as pesquisas feitas a partir de ontem que dirão o que será a eleição presidencial de outubro.
Auxílio Bolsonaro
Ninguém mais que Bolsonaro crê em pesquisas. Ele e seu coordenador político de campanha, ministro da Casa Civil e presidente do PP, Ciro Nogueira, certamente comemoraram a BTG/FSB de segunda. Nogueira chegou a projetar em maio uma virada de Bolsonaro sobre Lula nas pesquisas em junho, com a PEC dos Precatórios. Em que a União deu beiço nas dívidas para subir o Auxílio Brasil de R$ 170 a R$ 400. Mas, no lugar da virada, as pesquisas de junho deram a vitória de Lula no 1º turno. Nogueira reagiu com a PEC Kamikaze. Que rasgou a legislação eleitoral e furou o teto orçamentário para passar o Auxílio Brasil de R$ 400 a R$ 600.
Culpa no cartório
Lula também está atento às pesquisas e à BTG/FSB de segunda, que registrou sua perda de votos na classe média. Também preocupado com o que o Auxílio Brasil ainda pode causar no eleitor pobre, o petista disse ontem, em encontro na Fiesp: “Depois de três meses, há de se perguntar se o povo aceitará pacificamente a retirada de um benefício que está recebendo por causa das eleições”. Ele está certo, pois os benefícios só vão até 31 de dezembro. Se depois disso o país convulsionar e continuar governado por Bolsonaro, será por conta também do PT e da oposição. Que votaram a favor da PEC Kamikaze no Senado e na Câmara de Deputados.
Publicado hoje na Folha da Manhã.