“Cinco % (de remanejamento ao Executivo no Orçamento de Campos) é querer colocar uma situação, desculpe a franqueza, de chantagear o governo”. Apesar de admitir estar atuando como “bombeiro” para distensionar a disputa entre Garotinhos e Bacellar, foi o que disse na manhã de ontem, em entrevista ao Folha no Ar, o vice-prefeito Frederico Paes (MDB). A crítica foi à tentativa da oposição na Câmara Municipal de reduzir o remanejamento orçamentário do prefeito Wladimir Garotinho, atualmente de 30%. Ele também negou a eleição de Marquinho Bacellar (SD) a presidente do Legislativo goitacá, em 15 de fevereiro, depois anulada pela atual Mesa Diretora, o que acirrou muito a disputa entre os dois grupos políticos. Frederico também cobrou a apuração do caso Ceperj, em que nomes de 10, dos 13 vereadores, são citados por ter assessores e parentes recebendo dinheiro público estadual na boca do caixa, chamando o caso de “Rachalão” — mistura de rachadinha com Mensalão. Em relação a outubro, projetou eleições de Anthony Garotinho (União) a deputado federal e de Rodrigo Bacellar a estadual, com boas votações. Crê que Clarissa Garotinho (União) pode surpreender ao Senado e que, mais que Marcelo Freixo (PSB), Rodrigo Neves (PDT) pode dar trabalho ao governador Cláudio Castro (PL) num eventual segundo turno. A presidente, questionou pesquisas e apostou numa “economia bombando” em favor da reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Garotinhos x Bacellar – Eu sempre atuei, na minha vida pessoal e profissional, de forma a buscar o equilíbrio. Essa relação política da família Bacellar com o grupo Garotinho, acho que não faz bem ao nosso município, deveria ficar apenas nas divergências de ideias e atuação na política. Quando isso passa para o campo pessoal, aí a gente vê o que aconteceu e acontece, isso é muito ruim. E aqui eu não faço nenhum tipo de crítica a A, B ou C, mas você deixa de raciocinar para a cidade e as pessoas para se defender ou atacar as pessoas. Que benefício isso traz para a população? Zero. Que benefício isso traz para a política local ou para reivindicações e necessidades do município ou da região? Nada, muito pelo contrário. Eu cito aqui um exemplo muito clássico, que é o Nordeste. Eles brigam lá e brigam muito, brigam feio mesmo, no facão, mas quando vai para Brasília… Eu via isso, como presidente da Asflucan. Eu via inimigos políticos, entre aspas, de mãos dadas reivindicando as coisas para aquela região. Eu falei: “Esses caras não são inimigos?”. Não, ali eles são amigos. Então, acho que Campos e região pecam muito por isso. A divergência deveria ser no campo da política, no campo das ideias, e deixar a questão pessoal de lado.
Papel de “bombeiro” – Você falou que eu atuei como bombeiro, e é verdade. Conversei com o deputado Rodrigo Bacellar, conversei com o Wladimir, busquei ali um entendimento, sempre em benefício do município de Campos. Mas a situação a falta de confiança de um grupo no outro é muito grande. Isso eu afirmo aqui e fica registrado que é péssimo para a nossa cidade, é péssimo para a nossa região. E é uma oportunidade ímpar que nós temos hoje, o deputado Rodrigo Bacellar com uma força junto ao Governo do Estado muito forte. Ele foi secretário de Governo, um dos cargos mais importantes dentro de uma composição do estado. Nós temos o prefeito Wladimir com uma força incrível, não só no estado, mas no Brasil. Eu acompanho Wladimir em Brasília, vejo a capacidade e o respeito que as pessoas têm. Então, essa briga política é muito ruim para a nossa região, muito ruim. Mas, como a esperança é sempre a última que morre, quem sabe um dia a gente consegue.
Encontro com Cláudio Castro – Falei para o governador há uns 15 dias (no Rio, em 1º de agosto), quando estive com ele: o Wladimir está saindo muito forte disso tudo (após a retirada da pré-candidatura do pai, Anthony Garotinho, na convenção estadual do União em 31 de julho, para apoiar a reeleição de Castro). Nós estivemos lá com o governador Cláudio Castro: eu, Wladimir e Washington Reis, que é candidato a vice-governador. Eu acompanhei o quanto Wladimir sofreu nesse período, porque a família dele não queria apoiar Castro. O Garotinho se lançou o governador, e o Wladimir com um sentimento honesto de gratidão ao que o governador fez por Campos, porque, quando nós assumimos a Prefeitura, pegamos terra arrasada, não tinha dinheiro nem para pagar salário, nem para pagar a conta de luz do mês, e quem nos socorreu foi o Governo do Estado. Isso tem que ser dito e reafirmado. Quem ajudou ao início do governo foi o governador Cláudio Castro, que estendeu a mão. E eu digo que nós não fomos de pires na mão, fomos de prato fundo, porque não tinha dinheiro para nada. Nós achamos R$ 3 milhões na Prefeitura. Com R$ 3 milhões, você não paga nada. Depois, claro que a arrecadação melhorou, royalty melhorou, arrecadação própria melhorou, mas foi depois. E Wladimir honrou isso, por isso ele sofreu, porque gratidão é inegociável. Imagina: seu pai é candidato a governador, e você está apoiando outra pessoa ou quer apoiar outra pessoa. Então, ele sofreu muito. E segurou firme. Mas pedi ao governador que também honrasse com o Wladimir essa capacidade que ele teve de resistir e segurar firme o apoio ao governador. Tanto é que toda a campanha do governador no Norte Fluminense vai ser do Wladimir e do Welberth (Rezende, Cidadania), prefeito de Macaé.
Tentativa da oposição de reduzir remanejamento do Orçamento de 30% a 5% – Isso aí, pelo Bom Senso Futebol Clube, não pode acontecer. Vamos lá: 30% é muito? Vamos colocar para 20%, 25%, o que for. Agora, tem que entender: o orçamento é uma projeção. “Ah, eu sou oposição porque tenho raiva do Frederico e do Wladimir”. Pelo amor de Deus! Imagina você iniciar o ano planejando gastar R$ 20 mil. Por alguma coisa, esse gasto vai para R$ 15 mil ou para R$ 25 mil. Ou seja, você vai ficar engessado naquilo ali? Cinco % não é nada. Cinco % é querer colocar uma situação, desculpe a franqueza, de chantagear o governo. Colocar um remanejamento desse é querer estar com a faca no pescoço de qualquer governo, seja municipal, estadual ou federal. A oposição sabe que não é possível trabalhar dessa forma. Então, há de se haver, repito, um bom senso. “Ah, não concordamos com 30%. Vamos baixar para 20%, 25%, 15%”. É negociar. Agora, ficar querendo botar a guilhotina ali, para, a hora que lhe convier, apertar o que a gente chama de garrote na roça, sufocar o boi? E a população está vendo isso. A gente vê que o governo Wladimir teve tantos avanços na área da Saúde, Educação; tem gargalos ainda no transporte que vamos melhorar. A população vê aonde a gente quer ir. A oposição verdadeira tem que criticar os erros. É muito bom, por exemplo, na área da Saúde, quando a gente vê crítica construtiva: “Está com um problema lá na UBS tal, está com um problema ali, está com um problema aqui”. Isso faz com que a gente avance. A crítica é boa. Quando a gente vê a crítica boa, faz com que você procure melhorar. Quando está tudo bem, todo mundo elogiando, você acaba se acomodando. Então, a oposição para criticar é importante, para a gente ouvir, escutar. Mas, a oposição só para ser oposição, não. E a população está enxergando quem está simplesmente criticando por criticar, quem está fazendo oposição para ter algum benefício próprio.
Eleição de Marquinho Bacellar presidente da Câmara anulada – Não foi eleito. Inclusive, saiu ontem (quinta) à noite um parecer do Ministério Público Estadual, que está lá no Tribunal, sendo julgado, favorável à anulação da eleição. Mas é fato que o vereador Nildo Cardoso (União) não votou. Isso é fato. Tem a posição dele, mas não votou. Então, isso é incontestável, tanto é que ganhou em Campos; no Rio de Janeiro agora já teve uma liminar favorável, dizendo que a eleição realmente foi anulada; teve agora um parecer ontem à noite, do Ministério Público dizendo que a eleição foi anulada. Por mais que se fala que a gente sabia que Nildo Cardoso ia votar em fulano ou beltrano, o fato real, todo mundo sabe, é que ele não votou. Portanto, a eleição está anulada e vai ter outra eleição na hora certa, até dia 31 de dezembro, porque tem que ter este ano.
Caso Ceperj – Precisa ser apurado se alguns desses cargos eram meramente de indicação ou deveriam ter passado por processo seletivo. Não vamos ficar de hipocrisia. Indicação, se tem cargo ali que pode ser indicado, é claro, isso faz parte da política mundial, no Brasil mais ainda: você vai indicar pessoas de sua confiança. Se é cargo de processo seletivo, precisa apurar. Acredito que o Ministério Público vai apurar se não houve processo de seleção. Agora, pior do que isso é o funcionário ou a pessoa não trabalhar. Pessoas “fantasmas” são pessoas que recebiam, a grande mídia nacional está dando nomes, e não trabalhavam. Mais grave, muito grave, é se a pessoa recebeu sem trabalhar. Eu ando muito no meio do povo, a Coagro tem 3 mil funcionários. Eu gosto de conversar com as pessoas, gosto de ouvir. E ouvi de gente que recebia R$ 1 mil e me perguntou: “Doutor, o senhor tem um advogado bom para me indicar?”. Humilde, pobre. Ficava com R$ 500 e devolvia o resto. Então, isso me deixou muito assustado. Eu ouvi isso de uma pessoa, desesperada. Falei: “Calma. Você vai ter que falar a verdade. O Ministério Público deve te chamar, você chega lá e fala o que aconteceu”. Então, isso é muito preocupante na medida do tamanho em que isso está se avolumando. Ao contrário do que muita gente está falando, a grande mídia nacional, a Globo, o UOL não está com informação de denúncia de político, não. Pegou um fio ali, uma denúncia de ex-funcionário; até próprio funcionário do Bradesco denunciou esses saques na boca do caixa. E foi puxando o fio. Essa imprensa investigativa não vai parar, porque são fatos graves, precisam ser apurados. O Ministério Público está em cima. Independente de qualquer situação, deve haver apuração, até para eximir de culpa aqueles que trabalharam. Então, não dá para ficar também generalizando, pegar uma lista e falar que é porque fulano é parente de beltrano, ligado ao vereador ou deputado tal. Se for comprovado que houve rachadinha, Rachalão como já estão chamando, o que leva isso? Qual é o raciocínio? Está na grande mídia: pessoas ganhando R$ 10 mil, R$ 20 mil, R$ 30 mil, R$ 150 mil, sacando na boca do caixa. O que leva? É a certeza da impunidade? Não dá para entender.
Vereadores citados no Ceperj cobram RPAs – Como não sou de fugir de assunto, a questão de RPA, acho que, não sei se vai dar tempo ainda no governo Wladimir ou se no próximo governo, de Wladimir ou de quem quer que seja, vai caminhar para uma solução definitiva. Qual é a solução definitiva? Ou contratação, que está na lei, de empresas terceirizadas para prestar o serviço, porteiros, faxineiros, diversos cargos que a Prefeitura precisa. Se essa contratação deve ser feita de outra forma, se tem que passar por um processo diferente. Isso tem que ser feito. Ponto. Agora, eles estão trabalhando. São pessoas que estão lá no postinho médico, estão lá na escola, varrendo, limpando, abrindo, acendendo a luz, apagando a luz na hora que sai. Pessoas humildes que estão trabalhando. E sempre teve. O governo Rafael teve, o governo da Rosinha teve, o do Arnaldo Vianna teve, Mocaiber. E agora tem no nosso governo também. Nosso querido professor Wainer tem feito um trabalho de projetos e evolução para que se dê uma solução definitiva na questão do RPA. Essa solução não é barata, porque envolve toda uma questão de contratação. As empresas que forem ser contratadas têm que ter lucro. Existe uma solução para isso. Não é fácil, não é rápida, mas vai acontecer.
Eleição a deputado federal e estadual – Dei uma entrevista aqui, no início do ano, em que falei da questão do voto no representante regional. Mantenho essa afirmação. Nós temos que eleger o maior número possível de deputados que se identificam com a nossa região. Pode não ser de Campos, mas que representa a gente. Faço um apelo à população que votem nos deputados estaduais e federais da nossa região. Não podemos votar em gente que só vem aqui de quatro em quatro anos e não sabe o problema da dona Maria, do seu José lá de Tocos. Falando em capacidade de votos: o Garotinho, se ele não sair de casa, se não fizer campanha, vai fazer mais de 100 mil votos. Pode escrever. Ele tem o eleitorado dele, tem um grupo; é um político que não é só de Campos. Estive lá na Baixada (Fluminense) com nosso querido Washington Reis e fiquei impressionado em como o Garotinho é querido lá. E a Baixada tem milhões de pessoas. Não estou aqui pedindo votos para A, B ou C. Estou pedindo votos, sim, para os deputados, seja lá qual for, da região. O Garotinho vai ser, provavelmente, o candidato a deputado federal mais votado do estado do Rio. O Rodrigo Bacellar, como candidato a deputado estadual, deve também ter também muito voto. Acho que Campos deve fazer três deputados estaduais e um ou dois federais. Muita gente perguntou se eu viria. Estou muito feliz em ajudar o Wladimir na Saúde e na Agricultura.
Senado – O Romário (PL) é político dele mesmo, não tem grupo político. Ele fez algumas coisas, mas a gente precisa de renovada nesse segmento. Senador é um cargo muito importante, com um poder de trazer benefícios para o estado e para a região muito forte. Eu acho, sinceramente, que a Clarissa (União) pode surpreender, principalmente se Bolsonaro der um apoio mais forte. O André Ceciliano (PT) é um bom nome, mas acho que está ainda patinando. E o (Alessandro) Molon (PSB) está dividindo a esquerda. A sua candidatura, acho que beneficia a Clarissa. Enfim, acho que pode ter uma surpresa grande aí na frente.
Governador – A preocupação do Castro deveria ser com Rodrigo Neves (PDT). Eu faço um desafio: nós vamos sair daqui, vamos caminhar, sair daqui pelo Centro, vamos caminhar no Mercado Municipal, no Centro da cidade e vamos perguntar: quem é Freixo? Não tem voto. Vamos caminhar na Baixada, como eu faço com Washington Reis. Não tem voto. Eu não sei de onde vêm esses votos do Freixo que estão na pesquisa. É na Zona Sul do Rio de Janeiro? Já o Rodrigo Neves, ele pode crescer. Aí, sim, se tiver um segundo turno entre Castro e Neves, acho que vai dar um trabalho. Se for com Freixo, o segundo turno é pule de 10 (para Castro).
Presidente – Muita gente fala: “Ah, as pesquisas estão erradas”, às vezes na emoção, no coração. Eu acho que as pesquisas, não é que elas estejam tendenciosas ou equivocadas. Eu acho que a pesquisa está, agora (com o crescimento do presidente Jair Bolsonaro), começando a mostrar uma realidade. Acho que os dois candidatos que se apresentam, apesar da posição distinta, têm muita coisa em comum. Quem falar que Bolsonaro, por exemplo, não apoia o social, e o que está sendo feito (com o novo Auxílio Brasil)? Quem falar que o Lula tem apoio de banqueiro, os bancos estão mostrando aí que estão com Lula. Nós não temos alternativas. O Ciro Gomes (PDT) não se mostrou ainda um candidato viável. Nem a da (Simone) Tebet, que é do meu partido, MDB. É lamentável que a gente não tenha uma opção viável eleitoralmente. Então, você vai ter que escolher. Vai ser um plebiscito: concordo com isso, discordo daquilo.
“Economia bombando” – Eu acho que não é só o fato de você dar dinheiro a quem precisa. É o fato de a economia do país estar bombando. Nós saímos de uma pandemia, tivemos uma recessão violenta pela parada da produção mundial, e ainda veio a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que impactou no preço do petróleo a nível mundial. Então, por mais que se tenha uma resistência, é fato que a economia brasileira está tendo uma reação forte, e isso é muito importante para nós. Independente de posição, o desemprego está diminuindo, as indústrias estão crescendo, a agricultura está crescendo no país, geração de emprego. A popularidade vai subindo, e a rejeição, diminuindo. Então, aí vem essa injeção de recursos agora, que, por mais que se fale em quem vai pagar essa conta, esse dinheiro vai para o comércio. A pessoa que tem direito a receber esse auxílio emergencial vai pegar o dinheirinho dele e comprar comida, roupa, remédio. Agora, sinceramente, eu acho que, na legislação eleitoral, deveria ser proibido. Isso tem que ser feito antes (do ano eleitoral). É uma opinião.
Confira abaixo, em dois blocos, a íntegra da entrevista do vice-prefeito Frederico Paes ao Folha no Ar da manhã de ontem: