Lula e Bolsonaro nas pesquisas da semana, a 43 dias da urna

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

A campanha eleitoral começou nesta semana. Para muitos, é terreno para torcida. Tanto quanto será, após as urnas de outubro, na Copa do Mundo entre novembro e dezembro. Para quem não torce para político como para time de futebol, a melhor maneira de se acompanhar objetivamente a eleição até sua consumação no voto soberano de 2 de outubro, daqui a 43 dias, é pelas pesquisas. Feitas com metodologias diferentes, mas com base na mesma ciência estatística que as difere de meras enquetes, esta semana trouxe cinco pesquisas a presidente da República, todas polarizadas entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Lula lidera em todas, fora da mesma margem de erro de 2 pontos. E dentro dela, mantém acesa a possibilidade de vencer no 1º tuno. Mas vem seguido por um Bolsonaro que algumas pesquisas mostraram em ascensão. Os motivos do seu crescimento parecem ser três: 1) os efeitos dos seus ataques religiosos ao petista sobre o eleitor evangélico, 2) a sensação de diminuição do preço dos combustíveis sobre o eleitor de classe média e, talvez, 3) já o reflexo do novo Auxílio Brasil de R$ 400,00 a R$ 600,00, pago desde o dia 9, sobre o eleitor pobre.

 

PESQUISAS DA SEMANA — A primeira pesquisa nacional da semana foi a BTG/FSB, que saiu na segunda-feira (15), feita por telefone com 2 mil eleitores entre a sexta (12) e o domingo (14) anteriores. A segunda foi a Ipec (antigo Ibope), que saiu na terça (16), feita presencialmente também com 2 mil eleitores, também entre os dias 12 e 14. A terceira foi a Genial/Quaest, que saiu na quarta (17), feita presencialmente também com 2 mil eleitores, entre a quinta (11) e o domingo anteriores. No mesmo dia, a quarta pesquisa foi a PoderData, feita por telefone com 3,5 mil eleitores entre o domingo e a terça anteriores. Por fim, na noite de quinta (18) saiu a quinta e última pesquisa da semana. A aguardada Datafolha foi feita presencialmente com 5.744 eleitores, maior universo pesquisado até aqui em 2022, entre a terça e a própria quinta.

 

BTG/FSB E IPEC — Entre as duas últimas pesquisas BTG/FSB (8 e 15 de agosto), talvez porque feitas no menor intervalo das pesquisas da semana, Lula registrou seu único crescimento fora da margem erro na consulta estimulada ao 1º turno: de 41% a 45% das intenções de voto, contra os 34% que Bolsonaro tinha e manteve. Na projeção ao 2º turno, houve aumento de diferença: de 51% a 39%, para 53% a 38% ao petista. Na rejeição, Bolsonaro subiu de 53% a 54%, enquanto Lula caiu de 45% a 44%. Já na Ipec, que não fazia pesquisa nacional desde 2021, não há como avaliar crescimento ou queda. Mas Lula apareceu no 1º turno com 44% das intenções de voto, contra 32% de Bolsonaro. Na projeção ao 2º turno, o petista venceria por 51% a 35%. Na rejeição, o capitão apareceu com 46%, contra 33% de Lula.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

GENIAL/QUAEST E PODERDATA — Entre as duas últimas Genial/Quaest (3 e 17 de agosto), Lula cresceu um ponto na estimulada ao 1º turno, de 44% a 45%; como Bolsonaro: de 32% a 33%. Na projeção do 2º turno, de 51% a 37% ao petista, a diferença diminuiu para 51% a 38%. Na rejeição, Bolsonaro e Lula tinham e mantiveram, respectivamente, 55% e 44%. Já entre as duas últimas PoderData (4 e 17 de agosto), Lula cresceu de 43% a 44% no 1º turno, mas Bolsonaro cresceu mais: de 35% a 37%. Na projeção do 2º turno, a diferença aumentou dentro da margem de erro: de 50% a 40%, para 52% a 38% ao petista. O PoderData não divulgou a rejeição dos candidatos, mas na avaliação do governo Bolsonaro, 56% desaprovam, enquanto 40% aprovam.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

DATAFOLHA — Por fim, entre as duas últimas Datafolha (28 de julho e 18 de agosto), Lula tinha e manteve 47% de intenções de voto, enquanto Bolsonaro subiu fora da margem de erro de 29% a 32%. Na projeção ao 2º turno, Lula caiu 1 ponto, de 55% a 54%, enquanto Bolsonaro cresceu 2 pontos: de 35% a 37%. Na rejeição, Bolsonaro caiu de 53% a 51%, enquanto Lula cresceu: de 36% a 37%.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

TETO — Dentro da margem de erro, o petista ainda poderia ganhar no 1º tuno pela BTG/FSB, pela Ipec, pela Genial/Quaest e pela Datafolha; pela PoderData, não. Na dúvida, tudo indica que o petista bateu no seu teto de intenções de voto, o capitão ainda não. Mas o espaço vai se estreitando, com 75% dos eleitores dizendo na Datafolha já estar totalmente decididos no voto a presidente, percentual que sobe a 80% nos eleitores de Lula e Bolsonaro.

 

VOTO EVANGÉLICO — Com a pressão de pastores evangélicos ligados ao governo, fake news dizendo que Lula vai fechar templos se for eleito presidente e a retórica neopentecostal da primeira-dama Michelle Bolsonaro associando o PT ao demônio, o capitão cresceu nesse segmento, que representa 27% do eleitorado. Pela Datafolha de julho, Bolsonaro tinha 43% dos votos evangélicos, contra 33% de Lula. Essa diferença de 10 pontos chegou na Datafolha de agosto aos 17 pontos: 49% a 32% a favor do presidente. Na única pesquisa Ipec de 2022, Bolsonaro tem vantagem ainda maior, de 18 pontos, entre os evangélicos: 47% contra 29% de Lula.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

VOTO DA CLASSE MÉDIA — Com a redução do preço dos combustíveis, o presidente também assumiu na Datafolha a liderança, dentro da margem de erro, na classe média brasileira, com renda entre 2 a 5 salários mínimos. Na pesquisa de julho do instituto, Lula tinha 40% das intenções de voto desse eleitor, contra 34% de Bolsonaro. O petista caiu 2 pontos na Datafolha de agosto, para 38%, contra os 41% do capitão, que acumulou 7 pontos. A virada dentro dessa faixa já havia sido detectada pela BTG/FSB. Na sua pesquisa de 25 de julho, Bolsonaro perdia para Lula por 36% a 39%. E na de 8 de agosto, o passou por 42% a 30% no voto da classe média. Embora, na BTG/FSB de 15 de agosto, a vantagem já estivesse dentro da margem de erro: 40% a 38% para o presidente.

 

 

 

VOTO DO POBRE — Com o voto virado por Bolsonaro na classe média, o que deve definir a eleição presidencial é resposta à pergunta: o novo Auxílio Brasil de R$ 600,00 mudará ou não o voto do pobre? Pelo Datafolha, Lula cresceu entre julho e agosto com o eleitor que recebe o benefício federal, de 53% a 54%, enquanto o capitão caiu 3 pontos no mesmo período, de 26% a 23%. A BTG/FSB e a Genial/Quaest também não registraram grandes alterações. Mas o PoderData retratou diferente: entre 4 e 17 de agosto, Bolsonaro cresceu 14 pontos, de 25% a 39% das intenções de voto dessa faixa. Nela, onde sempre teve sua maior vantagem, Lula ainda lidera fora de qualquer margem de erro. Mas caiu 11 pontos, de 58% a 47%, no mesmo período.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em estatística pelo IBGE

PALAVRA DO ESPECIALISTA — “Pesquisas de intenção de voto são pesquisas de opinião. Por isso, ao contrário do que muitos pensam, pesquisas eleitorais não têm o objetivo de adivinhar o resultado eleitoral, mas de medir as preferências do eleitor em relação a cada candidato. As pesquisas trabalham com amostra porque não há necessidade de entrevistar todos os eleitores para conhecer as intenções de voto, assim como não há necessidade de tomar a sopa inteira para saber seu gosto, seu cheiro e sua temperatura”, comparou William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

 

Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

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