Bolsonaro no Jornal Nacional
Desde a noite de segunda (22), do Planalto Central à planície goitacá, uma questão dominou as redes sociais e rodas de conversa: o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi bem ou mal na sua entrevista de 40 minutos, ao vivo, no Jornal Nacional (JN)? E os jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, titulares do principal telejornal da TV aberta brasileira, escolhidos como em 2018 para fazerem as sabatinas presidenciais da Rede Globo? Em análise ainda na noite de segunda, o blog Opiniões, hospedado no Folha 1, arriscou uma análise: “Bolsonaro não deve ter perdido ou ganho nenhum eleitor com sua entrevista no Jornal Nacional”.
Nova pesquisa da semana
Primeira pesquisa presidencial da semana, feita entre sexta (19) e domingo (21), também na segunda foi divulgada a nova BTG/FSB. Ela revelou que, para 79% dos brasileiros, a decisão do voto já está tomada e não há como mudar. O número sobe a 81% nos que votarão no ex-presidente Lula (PT), sem chance de mudar. E sobe mais, a 89%, nos que votarão em Bolsonaro sem chance de mudar. Aos 81% de eleitores irredutíveis de Lula, Bolsonaro foi um fiasco no JN. Aos 89% do capitão, ele “mitou” a “Globolixo”. Nenhum desses dois eleitores mudou, nem mudaria, por conta da entrevista. Mas são os 20% que podem mudar o voto que interessam.
Pesquisas da semana passada
Na edição de sábado (20), a Folha trouxe o resumo das cinco pesquisas presidenciais da semana passada: a BTG/FSB anterior, do dia 15; a Iepc (antigo Ibope) do dia 16, a Genial/Quaest e a Poder Data do dia 17, e a Datafolha do dia 18. Lula lidera isolado as projeções do 1º e 2º turnos em todas. Mas vem seguido por um Bolsonaro que algumas pesquisas mostraram em crescimento. Que se opera em três eleitores: 1) de classe média, por conta da redução no preço dos combustíveis; 2) o evangélico, por conta dos ataques religiosos dos Bolsonaro a Lula; e 3) o pobre, por conta do Auxílio Brasil de R$ 600,00 pago desde o dia 9.
Evangélicos e classe média
Com as fake news dizendo que Lula vai fechar templos se for eleito presidente e a retórica neopentecostal da primeira-dama Michelle Bolsonaro associando o PT ao demônio, todas as pesquisas da semana passada mostraram a ascensão de Bolsonaro entre os evangélicos. Na Datafolha de 18 de agosto, comparada com a de 28 de julho, o capitão passou de 43% a 49% nessa faixa, enquanto Lula caiu de 33% a 32%. O presidente também virou o voto no eleitor de classe média, entre 2 a 5 salários mínimos. Na Datafolha de julho, Lula ganhava nessa faixa por 40% a 34% de Bolsonaro, onde apareceu liderando a Datafolha de agosto por 41% a 38%.
Auxílio Brasil
A única dúvida da semana passada era o crescimento de Bolsonaro também entre aqueles que recebem o novo Auxílio Brasil. Apenas a PoderData registrou esse movimento. Na sua pesquisa de 17 de agosto, comparada com a de 4 de agosto, Lula caiu de 58% a 47% das intenções de voto dos que recebem o benefício federal, enquanto o capitão cresceu de 25% a 39%. Esse seu avanço no voto dos pobres, onde Lula sempre teve a maior vantagem, foi confirmada pela nova BTG/FSB desta semana. Nela, entre os que recebem o Auxílio Brasil, Bolsonaro cresceu de 24% a 31% nos últimos sete dias, enquanto o petista caiu de 61% a 52%.
Bolsonaro cresce, Lula patina
Além de confirmar o crescimento de Bolsonaro no eleitor pobre, a BTB/FSB semanal de segunda também mostrou que sua ascensão continua na classe média e nos evangélicos. No eleitor de 2 a 5 salários mínimos, o capitão subiu de 40% a 43%, enquanto Lula caiu de 38% a 36%. Entre os evangélicos, o presidente cresceu de 49% a 56%, enquanto o petista tinha e manteve 30%. Lula patina há muito mais tempo na liderança da consulta estimulada ao 1º turno. Na série de 10 pesquisas BTG/FSB de 2022, de 21 de março a 22 de agosto, ele variou entre 41% e 46% das intenções de voto. Hoje tem 45%. Não cai muito há cinco meses, mas também não sobe.
Teto, 2º turno e rejeição
Lula claramente bateu no seu teto. Bolsonaro cresce lentamente e ainda não bateu no seu. Ele passou de 34% a 36% das intenções de voto na estimulada BTG/FSB ao 1º turno. A não ser que as próximas pesquisas mostrem aceleração dessa ascensão, sobretudo no voto mais numeroso dos pobres, é improvável que candidato favorito destes seja ultrapassado nos 39 dias que hoje separam o eleitor das urnas de 2 de outubro. Mas a projeção mais provável hoje é o 2º turno de 30 de outubro. Que será definido pela rejeição, onde o capitão apareceu na BTG/FSB com 55% de brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, contra 44% de Lula.
Mudanças
Entre as bolhas dos que acham que Bolsonaro foi um fiasco, ou que “mitou” no JN de segunda, até as pesquisas fazem pouca diferença. Só fará o que furar uma dessas bolhas nos 20% da BTG/FSB que dizem poder mudar o voto. O capitão tem que ficar atento para que a repercussão não pare ou reverta seu crescimento recente, sobretudo entre os pobres. As consultas no Google dos seus dois vídeos de 2021 imitando doentes terminais de Covid sufocando, que negou na Globo ter feito, cresceram 4.700% nos últimos dois dias. O que não deveria mudar é a toda inquisitória do JN com Bolsonaro, bem mais amena na noite de ontem com Ciro Gomes (PDT).
Publicado hoje na Folha da Manhã.