Lula e Bolsonaro nas pesquisas a 36 dias da urna

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

A semana foi marcada pelas sabatinas dos presidenciáveis no Jornal Nacional (JN), na Rede Globo, que entrevistou o presidente Jair Bolsonaro (PL) na segunda (22), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) na terça (23), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na quinta (25) e a senadora Simone Tebet (MDB), na sexta (26). Esta última, depois desta matéria ser escrita. Mas não é preciso nem ter assistido a todas para se ter certeza: os eleitores de Bolsonaro e Lula acharam que seus respectivos candidatos deram de 7 a 1 no principal adversário e na “Globolixo”. Já os eleitores Ciro e Tebet lamentarão como os seus candidatos são muito mais preparados, respectivamente, à esquerda e à direita, do que os dois líderes da corrida presidencial. Mas tudo isso sempre será subjetivo. Hoje, a exatos 36 dias das urnas de 2 de outubro, o que há de concreto está nos números de duas pesquisas presidenciais desta mesma semana. Que, na comparação com as cinco da semana anterior, confirmam a tendência de diminuição lenta da vantagem de Lula sobre Bolsonaro nas intenções de voto.

PESQUISAS DA SEMANA – A primeira pesquisa presidencial da semana foi a BTG/FSB, que saiu na segunda, feita por telefone com 2 mil eleitores entre a sexta (19) e o domingo (21) anteriores. A segunda foi a Exame/Ideia, que saiu na quinta, feita por telefone com 1.500 eleitores entre a sexta e a quarta anteriores. E a diferença entre Lula e Bolsonaro caiu nas consultas induzidas ao 1º e 2º turnos, nas duas pesquisas.

BTG/FSB – Entre as BTG/FSB de 15 e 22 de agosto, com margem de erro de 2 pontos para mais ou menos, o petista manteve os 45% de intenções de voto no 1º turno, enquanto o capitão subiu de 34% a 36%. A diferença de 11 pontos, em sete dias, caiu a 9 pontos. Na projeção de 2º turno, Lula caiu de 53% a 52%, período em que Bolsonaro cresceu de 38% a 39%. A diferença de 15 pontos, em uma semana, caiu para 13 pontos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

EXAME/IDEIA – Entre as Exame/Ideia de 21 de julho e 25 de agosto, com margem de erro de 3 pontos para mais ou menos, o petista tinha e manteve 44% de intenções de voto no 1º turno, enquanto o capitão subiu de 33% a 36%. A diferença de 11 pontos, em 35 dias, caiu a 9 pontos. Na projeção de 2º turno, Lula cresceu de 47% a 49% nos 35 dias anteriores, período em que Bolsonaro cresceu mais, de 37% a 40%. A diferença de 10 pontos, em pouco mais de um mês, caiu a 9 pontos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

PESQUISAS DA SEMANA PASSADA – Todas as mudanças estão na margem de erro das duas pesquisas presidenciais desta semana. E confirmam as cinco da semana anterior: a BTG/FSB do dia 15; a Iepc (antigo Ibope) do dia 16, a Genial/Quaest e a PoderData do dia 17, e a Datafolha do dia 18. Lula também liderou isolado as projeções do 1º e 2º turnos em todas. Mas veio seguido por um Bolsonaro em tendência lenta de crescimento. Que parece se operar em três eleitores: 1) de classe média, por conta da redução no preço dos combustíveis; 2) o evangélico, por conta dos ataques religiosos dos Bolsonaro ao PT; e 3) o pobre, por conta do Auxílio Brasil de R$ 600,00 pago desde o dia 9.

George Gomes Coutinho, cientista político e professor da UFF-Campos

ANÁLISE DO CIENTISTA POLÍTICO –  “Se há aumento da preferência de Bolsonaro, é discreta e não se apresenta com energia para redundar em uma virada rápida de mesa. Lula segue estável e ganharia no 2º turno, tal como nas outras pesquisas. Bolsonaro tem potencial de crescimento sim. A questão é a velocidade deste crescimento. Creio também que os dois primeiros colocados, estão fazendo um esforço além do suportável para meros mortais na meta para terem menos erros. Até porque a eleição não está ainda definida. Um erro crasso de tática pode ser o imponderável que um dos lados deseja para obter melhoria em suas intenções de voto visando: 1) atrair votos dos outros candidatos fora da polarização; 2) diminuir rejeição; e 3) captar os votos dos eleitores não ideológicos, os pragmáticos, do adversário”, analisou o cientista político George Gomes Coutinho, professor da UFF-Campos.

REJEIÇÃO – Citada pelo cientista político, a rejeição é fundamental à definição do 2º turno. Bolsonaro a lidera em todas as pesquisas, seguido na maioria por Lula. A diferença não caiu entre as BTG/FSB de 15 e 22 de agosto, nas quais o capitão passou de 54% a 55% dos brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, enquanto o petista manteve os 44%. Porém, entre as Exame/Ideia de 21 de julho e 25 de agosto, a diferença na rejeição já estava em empate técnico no limite da margem de erro. E encurtou mais: Bolsonaro caiu de 46% a 45%, enquanto Lula cresceu de 40% a 42% dos brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma. As mudanças da semana também se mantiveram dentro da margem de erro.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

VOTO EVANGÉLICO E DA CLASSE MÉDIA – Com as fake news dizendo que Lula vai fechar templos se for eleito presidente e a retórica neopentecostal da primeira-dama Michelle Bolsonaro associando o PT ao demônio, todas as pesquisas da semana passada mostraram a ascensão de Bolsonaro entre os evangélicos. Entre as Datafolha de 28 de julho e 18 de agosto, o capitão passou de 43% a 49% nessa faixa, enquanto Lula caiu de 33% a 32%. O presidente também virou o voto no eleitor de classe média, entre 2 a 5 salários mínimos. Na Datafolha de julho, Lula ganhava nessa faixa por 40% a 34% de Bolsonaro. Que apareceu liderando a Datafolha de agosto por 41% a 38%.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

AUXÍLIO BRASIL NO VOTO DO POBRE – A única dúvida da semana passada era o crescimento de Bolsonaro também entre aqueles que recebem o novo Auxílio Brasil. Apenas a PoderData registrou esse movimento. Entre as suas pesquisas de 4 e 17 de agosto, Lula caiu de 58% a 47% das intenções de voto dos que recebem o benefício federal, enquanto o capitão cresceu de 25% a 39%. Esse seu avanço no voto dos pobres, onde Lula sempre teve a maior vantagem, foi confirmada pela nova BTG/FSB desta semana. Nela, entre os que recebem o Auxílio Brasil, Bolsonaro cresceu de 24% a 31% nos últimos sete dias, enquanto o petista caiu de 61% a 52%.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

TETO – Além de confirmar o crescimento de Bolsonaro no eleitor pobre, a BTB/FSB de segunda também mostrou que sua ascensão continua na classe média e nos evangélicos. No eleitor de 2 a 5 salários mínimos, o capitão subiu de 40% a 43%, enquanto Lula caiu de 38% a 36%. Entre os evangélicos, o presidente cresceu de 49% a 56%, enquanto o petista tinha e manteve 30%. Lula patina há mais tempo na liderança da consulta estimulada ao 1º turno. Na série de 10 pesquisas BTG/FSB de 2022, de 21 de março a 22 de agosto, ele variou entre 41% e 46% das intenções de voto. Hoje tem 45%. Não cai muito há cinco meses, mas também não sobe. Lula bateu no seu teto. Bolsonaro cresce lentamente e ainda não bateu no seu.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística no IBGE

ANÁLISE DO ESTATÍSTICO – “As pesquisas da semana apontam para a possibilidade de Lula ter atingido um teto e de Bolsonaro estar diminuindo a desvantagem de intenção de voto. Considerando os dois principais institutos que divulgaram pesquisa nesta semana, a diferença entre os dois antagonistas varia de 8 pontos, no caso da Ideia (Lula 44% a 36%), a 9 pontos, no caso do FSB (Lula 45% a 36%). Basicamente, o crescimento de Bolsonaro se deu entre os evangélicos, a classe média e os mais pobres, até 2 salários mínimos. Por isso, a redução do ICMS sobre os combustíveis e o Auxílio Brasil de R$ 600 têm sido convertidos em ganhos eleitorais para Bolsonaro. Muito embora, até aqui, insuficientes para uma virada nas urnas”, concluiu William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

 

Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

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