Hoje, faltam exatos 29 dias para as urnas de 2 e outubro. Após a semana até aqui mais recheada de pesquisas presidenciais deste ano eleitoral, a dedicação e a capacidade para tentar analisá-las são necessárias ao jornalismo sério, que não se presta a ecoar questionamentos vazios de tiozinho do WhatsApp. Até porque se há algo que a História leciona desde a eleição presidencial de 1989, primeira pelo voto direto após 21 anos de ditadura militar (1964/1985), é que quem questiona o resultado das pesquisas quando elas se mostram contrárias à sua torcida quase sempre é o mesmo que depois chora como criança com o resultado soberano das urnas. E nem é preciso sair da região Sudeste para enxergar onde as pesquisas abrem possibilidades aos seus resultados aparentes de hoje.
CIRO, TEBET, LULA E BOLSONARO – Com suas diferentes metodologias, mas todas com base na ciência estatística que as difere de meras enquetes, as pesquisas eleitorais não são infalíveis. Mas, como fotografias do momento, revelam tendências. Com os bons desempenhos do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e da senadora Simone Tebet (MDB) nas sabatinas do Jornal Nacional (JN) da semana passada, e no debate da Band no último domingo (28), ampliando suas intenções de voto, respectivamente, no 3º e 4º lugar da corrida ao Palácio do Planalto, a tendência de hoje é que seu ocupante em 2023 só será definido no 2º turno de 30 de outubro de 2022. Provavelmente entre os dois líderes isolados: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Com a vitória final do primeiro projetada até aqui, fora da margem de erro, em todas as pesquisas.
LIDERANÇA DE LULA E 1º CRESCIMENTO DE BOLSONARO– Desde janeiro deste ano, as pesquisas registraram a liderança de Lula na corrida presidencial, mantida de lá para cá. Como foram as pesquisas que, entre abril e maio, registraram o primeiro movimento de crescimento real de Bolsonaro. Que herdou naturalmente as intenções de voto de centro-direita órfãs com as desistências do ex-ministro Sergio Moro (União) e do ex-governador paulista João Doria (PSDB). Ainda assim, muitas pesquisas até junho indicavam a possibilidade de Lula fechar a fatura em turno único.
2º CRESCIMENTO DE BOLSONARO – Foram também as pesquisas que registraram a mudança daquela tendência. Foi entre o final de julho e agosto, com o segundo movimento de crescimento real do capitão. Que se operou em três faixas de eleitor: 1) o evangélico, por conta dos ataques religiosos e fake news dos Bolsonaro contra o PT; 2) a classe média, com renda familiar mensal entre 2 e 5 salários-mínimos, por conta da sensação de redução do preço dos combustíveis; e 3) os brasileiros pobres, por conta do aumento do Auxílio Brasil de R$ 400,00 a R$ 600,00, pago desde o último dia 9, garantido só até 31 de dezembro e custeado com os R$ 41,2 bilhões da PEC Kamikaze.
CAPITÃO BATEU NO TETO? – Entre os evangélicos, Bolsonaro virou sobre Lula e abriu. Assim como virou, na maioria das pesquisas, no voto da classe média. Entre os pobres que recebem o Auxílio Brasil, embora tenha chegado a diminuir a diferença, o presidente não chegou até aqui a ameaçar onde Lula lidera com maior vantagem. Mas o fato é que esses três movimentos, entre julho e agosto, parecem ter empacado nas pesquisas desta semana, entre agosto e setembro. Indicam que o capitão bateu ou está próximo do teto. Hoje, ele tem entre 32% e 36% das intenções de voto na consulta estimulada do 1º turno, atrás de Lula, que tem entre 43% e 45%. Fora da margem de erro de 2 pontos, a vantagem do ex-presidente sobre o atual varia entre 7 e 13 pontos.
SETE PESQUISAS DA SEMANA – Entre os institutos de maior credibilidade, foram sete as pesquisas desta semana. Na segunda (29), saiu 1) a semanal BTG/FSB, feita da sexta (26) ao domingo (28) anteriores, com 2.000 eleitores ouvidos por telefone. No mesmo dia saiu 2) a Ipec (antigo Ibope), também feita de sexta a domingo, com 2.000 eleitores entrevistados pessoalmente, método sempre mais confiável. Na terça (30), saiu 3) a CNT/MDA, feita da quinta (25) ao domingo anteriores, com 2.002 eleitores ouvidos presencialmente. Na quarta (31), veio 4) a Genial/Quaest, feita de quinta a domingo, com 2.000 eleitores ouvidos presencialmente. No mesmo dia, saíram também 5) a Ipespe, feita da sexta a segunda anteriores, ouvindo 2.000 pessoas por telefone; e 6) a PoderData, feita de domingo a terça, com 3.500 eleitores por telefone.
Por fim, na noite quinta, 1º dia de setembro, saiu 7) a Datafolha, feita de terça ao mesmo dia da sua aguardada divulgação, com 5.734 eleitores ouvidos presencialmente. Todas foram feitas após o início do pagamento do novo Auxílio Brasil no dia 9, pegaram a maioria ou todas as sabatinas com os presidenciáveis no JN e, as três últimas, o debate de domingo na Band.
1º TURNO – Na consulta induzida ao 1º turno, na comparação entre as BTG/FSB de 22 e 29 de agosto, Lula caiu de 45% a 43% das intenções de voto, Bolsonaro se manteve com 36% (7 pontos atrás do petista, menor diferença entre as sete pesquisas da semana), Ciro cresceu de 6% a 9%, e Tebet cresceu de 3% a 4%. Entre as Ipec de 15 e 29 de agosto, Lula manteve 44%, Bolsonaro manteve 32% (12 pontos atrás do petista), Ciro cresceu de 6% a 7%, e Tebet cresceu de 2% a 3%. Entre as CNT/MDA de 9 de meio e 30 de agosto (maior intervalo de tempo entre as sete pesquisas da semana), Lula cresceu de 41% a 42%, Bolsonaro cresceu de 32% a 34% (12 pontos atrás do petista), Ciro se manteve com 7% e Tebet, com os mesmos 2%. Entre as Genial/Quaest de 17 e 31 de agosto, Lula caiu de 45% a 44%, Bolsonaro caiu de 33% a 32% (12 pontos atrás do petista), Ciro cresceu de 6% a 8%, e Tebet se manteve com 3%.
PÓS-DEBATE DA BAND – Nas três pesquisas que pegaram melhor o efeito do debate da Band do último domingo, na comparação das pesquisas Ipespe de 25 de julho e 31 de agosto, Lula caiu de 44% a 43% das intenções de voto na consulta induzida ao 1º turno, Bolsonaro se manteve com 35% (8 pontos a menos que o petista), Ciro se manteve com 9%, e Tebet cresceu de 4% a 5%. Entre as PoderData de 17 e 31 de agosto, Lula se manteve com 44%, Bolsonaro caiu de 37% a 36% (8 pontos atrás do petista), Ciro cresceu de 6% a 8%, e Tebet se manteve com 4%. Entre as Datafolha de 18 de agosto e 1º setembro, Lula caiu de 47% a 45%, Bolsonaro se manteve com 32% (13 pontos atrás do petista, maior diferença entre as sete pesquisas da semana), Ciro cresceu de 7% a 9%, e Tebet mais que dobrou: de 2% a 5%.
2º TURNO – Na simulação ao 2º turno cada vez mais provável entre os dois líderes de todas as pesquisas, Lula bateria Bolsonaro em todas. Na BTG/FSB, por 52% a 39% (13 pontos); na Ipec, por 50% a 37% (13 pontos); na CNT/MDA, por 50% a 39% (11 pontos); na Genial/Quaest, por 51% a 37% (14 pontos); na Ipespe, por 53% a 38% (15 pontos); na PoderData, por 50% a 41% (9 pontos, menor diferença, ainda que fora da margem de erro, entre as sete pesquisas da semana); e na Datafolha, por 53% a 38%, como a Ipespe, nos mesmos 15 pontos da maior diferença entre as pesquisas da semana.
REJEIÇÃO – Índice considerado fundamental para a definição do 2º turno, a rejeição permanece sendo o maior obstáculo real para Bolsonaro se reeleger presidente. Ele lidera o índice negativo em todas as pesquisas, sendo seguido sempre fora da margem de erro por Lula. Na BTG/FSB, o capitão tem 55% de brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, contra 45% do petista; na Ipec, o atual presidente tem 47% de rejeição, contra 36% do ex; na CNT/MDA, Bolsonaro tem 56% de rejeição, contra 45% de Lula; na Genial/Quaest, o capitão tem 56% de rejeição, contra 43% do petista; na Ipespe, o atual presidente tem 55% de rejeição, contra 44% do ex; na PoderData, Bolsonaro tem 51% de rejeição, contra 36% de Lula; e na Datafolha, o capitão tem 52% dos brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, contra 39% de Lula. A diferença entre os dois no índice negativo hoje é de 10 a 15 pontos.
SUDESTE NA MIRA – Bolsonaro está ou deveria estar preocupado com a sua rejeição. E Lula preocupado com o Sudeste, região com a maior densidade eleitoral do país. É onde o capitão pode tirar proveito do crescimento do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), encurtando a diferença ao líder petista Fernando Haddad nas pesquisas a governador de São Paulo. Além do bolsonarista acanhado Cláudio Castro (PL), que começa a se descolar do lulista Marcelo Freixo (PSB) nas pesquisas a governador do Rio de Janeiro. Se Romeu Zema (Novo), que caminha para se reeleger governador de Minas Gerais no 1º turno, apoiasse Bolsonaro como em 2018, seria um Deus nos acuda na campanha petista. Mas o mineiro talvez só nade de braçada por não carregar o peso de nenhuma rejeição presidencial em sua raia.
ANÁLISE DO ESPECIALISTA – “Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, com 22% dos brasileiros habilitados a votar ou 34,7 milhões de eleitores, Haddad caiu para 35% e viu sua distância diminuir para Tarcísio, candidato de Bolsonaro, que subiu de 16% para 21%, apesar do crescimento nas intenções também do governador Rodrigo Garcia (PSDB), de 11% para 15%. Tarcísio avançou em todos os segmentos populacionais. Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, com 16,2 milhões de habilitados a votar ou 10% do eleitorado nacional, onde venceram todos os presidentes eleitos democraticamente, menos Getúlio Vargas, em 1950, o governador Romeu Zema abriu 30 pontos de vantagem sobre Alexandre Kalil (PSD) na consulta estimulada (52% a 22%), somando 62% dos votos válidos. A depender da redução da desvantagem para Lula no 1º turno, especialmente nos dois maiores colégios eleitorais do país, os palanques de Zema, Tarcísio e, possivelmente, Rodrigo Garcia, poderão se tornar um arsenal poderoso na tentativa de virada de Bolsonaro na reta final”, avaliou William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.