Na leitura da edição de hoje de O Globo, que faço questão de conferir sempre no impresso, dois recados importantes para setores politicamente antagônicos da sociedade brasileira. Que se refletem também em Campos e Norte Fluminense. O primeiro é para nossa intrépida turma da esquerda festiva. Que uma pesquisa da USP revela como de fato é: branca, burguesa, escolarizada, ensimesmada e dogmaticamente preconceituosa quanto ao conservador religioso. Cujo perfil, ironicamente mais democrático em sua distribuição, representa muito melhor o Brasil real.
Destaco um trecho da necessária matéria da jornalista Elisa Martins e do filósofo Pablo Ortellado, que merece ser conferida na íntegra:
“A pesquisa revelou que, em comparação com os outros grupos, os progressistas apresentaram um perfil distante da realidade da maioria da população brasileira: mais branco, rico e escolarizado.
— O mesmo não acontece com os outros grupos, principalmente os conservadores religiosos. Eles representam muito melhor o conjunto da população — diz o professor e pesquisador da USP Marcio Moretto.
Os dados chamam a atenção para outra característica das guerras culturais nos últimos anos: como elas assumiram, também, um caráter de luta de classes. A concentração de progressistas nos setores mais escolarizados e de renda os afastou da base popular. E não só: levou a que os progressistas traçassem um retrato deturpado da classe trabalhadora, associado a uma religiosidade fanática ou a uma sexualidade reprimida. Isso não passou despercebido no front político. Tanto que, hoje, são os conservadores que se apresentam como defensores dos valores morais dos trabalhadores”.
O segundo recado importante da edição de hoje de O Globo foi dado à nossa indefectível elite sócio econômica, bolsonarista em sua maioria. Cujos representantes em Campos e no Norte Fluminense não se diferem muito dos empresários bolsonaristas flagrados em grupo de WhatsApp tramando um golpe contra a democracia no país, em caso de vitória de Lula. Esses herdeiros da nossa Casa Grande escravagista, em sua estupidez muar, parecem surpresos que o brasileiro mais pobre, muito mais pragmático politicamente, não esteja até aqui vendendo seu voto pelos R$ 600,00 do Auxílio Brasil, só até 31 de dezembro.
Sobre o tema, segue a última nota da coluna de hoje do Elio Gaspari, que já disse e escrevi mais de uma vez considerar o maior jornalista brasileiro entre os vivos:
“Demofobia
Aqui e ali aparecem comentários que especulam sobre a adesão dos brasileiros mais pobres a Bolsonaro por causa do dinheiro do Auxílio Brasil.
É um raciocínio lógico, contaminado por uma pitada de demofobia.
Lula ganhou prestígio popular com o Bolsa Família, mas em seus oito anos de governo aumentou o salário mínimo, alavancou as cotas nas universidades, fez o Prouni e estimulou a agricultura familiar”.