Hoje, faltam exatos 22 dias para a urna de 2 de outubro. E a semana trouxe quatro novas pesquisas presidenciais. Divulgada só na noite de ontem, depois do fechamento desta edição, a nova Datafolha não entrou neste balanço da corrida. Mas, quaisquer que tenham sido seus números, eles serão contestados pelos eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo colocado, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em todas as pesquisas, o capitão usou a comemoração os 200 anos de Independência do Brasil, em Brasília, no 7 de Setembro de quarta, para promover ato de campanha e soprar aos seus apoiadores o que se convencionou chamar nos EUA de “apito de cachorro” (mensagem com significado só ao subgrupo alvo). “Aqui não tem a ‘mentirosa’ Datafolha, aqui é o nosso ‘datapovo’”, pregou o presidente. “Dá para acreditar em pesquisa encomendada pela Globo?”, questionam em resposta seus eleitores. Surdos à lógica mais elementar: as pesquisas presidenciais semanais do Instituto FSB Pesquisa, contratadas pelo banco de investimentos BTG Pactual, fundado por Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro, revelam o mesmo quadro geral.
PESQUISAS DA SEMANA – Como nas últimas semanas, esta foi aberta na manhã de segunda (5) pela pesquisa FSB, contratada pelo BTG fundado por Guedes. Foi feita entre a sexta (2) e o domingo (4) anteriores, com 2.000 eleitores ouvidos por telefone. Na mesma segunda, à noite, saiu a Ipec (antigo Ibope). Contratada pela Globo, foi feita também entre sexta e domingo, mas com 2.512 eleitores entrevistados presencialmente, metodologia sempre mais confiável. Na quarta, dia 7 de setembro, saiu a pesquisa do Quaest Pesquisa e Consultoria. Contratada pela Genial Investimentos, foi feita da quinta (1º) ao domingo anteriores, com 2.000 eleitores também ouvidos presencialmente. Todas as três pesquisas da semana têm margem de erro de 2 pontos para mais ou menos.
1º TURNO – Na consulta estimulada ao 1º turno, na comparação entre as BTG/FSB de 29 de agosto e 5 de setembro, Lula caiu de 43% a 42% das intenções de voto, Bolsonaro caiu de 36% a 34%, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) caiu de 9% a 8% e só a senadora Simone Tebet (MDB) cresceu, de 4% a 6%. Entre as Ipec de 29 de agosto e 5 de setembro, Lula se manteve com 44%, Bolsonaro caiu de 31% a 32%, Ciro subiu de 7% a 8%, assim como Tebet cresceu, de 3% a 4%. Entre as Genial/Quaest de 31 de agosto e 7 de setembro, Lula se manteve com 44%, Bolsonaro cresceu de 32% a 34%, Ciro caiu de 8% a 7% e Tebet cresceu, de 3% a 4%.
“GLOBOLIXO” OU “POSTO IPIRANGA” – Seja a contratante a “Globolixo”, ou o banco fundado pelo “Posto Ipiranga” de Bolsonaro na economia, todas as pesquisas da semana revelaram a estabilidade da liderança de Lula, entre 43% e 44% das intenções de voto. Assim como a sua vantagem de 8 a 10 pontos para o atual presidente. Também dentro da margem de erro, as três pesquisas registraram movimentos discretos de queda de Ciro e de crescimento de Tebet.
2º TURNO – Nas projeções do 2º turno de 30 de outubro, Lula bateria Bolsonaro em todas. Na BTG/FSB, por 53% a 40%, diferença de 13 pontos que era a mesma da semana passada (52% a 39%). Na Ipec, o petista bateria o capitão no turno final por 52% a 36%, diferença de 16 pontos que cresceu dos 13 pontos (50% a 37%) da semana passada. Na Genial/Quaest, o ex-presidente bateria o atual em 30 de outubro por 51% a 39%, diferença de 12 pontos que diminuiu dos 14 pontos (51% a 37%) da semana passada. De 12 a 16 pontos, a vantagem atual de Lula sobre Bolsonaro no 2º turno variou nas três pesquisas no limite da margem de erro.
REJEIÇÃO – Índice fundamental à definição do 2º turno, a rejeição segue liderada por Bolsonaro. Na BTG/FSB, ele tinha e manteve os 55% de brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, enquanto Lula subiu a sua a 46% (tinha 45% na semana passada). Na Ipec, o capitão cresceu a sua rejeição para 49% (tinha 47% na semana passada), enquanto o petista tinha e manteve 36%. Na Genial/Quaest, o presidente diminuiu sua rejeição para 53% (tinha 55% da semana passada), enquanto o ex tinha e manteve 44%. De 9 a 13 pontos, a diferença entre os dois na rejeição também variou no limite da margem de erro entre as três pesquisas.
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS – Nas faixas das pesquisas, as diferenças, no entanto, se revelam por vezes bem maiores. Considerado fundamental na definição da eleição presidencial, a região Sudeste concentra a maior densidade eleitoral do país, com 42,6% dos brasileiros aptos a votar no próximo mês. Mas as pesquisas apresentam estatísticas bem diferentes entre os dois líderes
NO SUDESTE – Na BTG/FSB, Bolsonaro manteve sua liderança no limite da margem de erro no Sudeste, hoje de 38% contra 34% de Lula. Era de 39% a 35% na BTG/FSB da semana anterior, com a mesma diferença de 4 pontos, no limite da margem de erro. Na Ipec, quem hoje lidera na região é o petista, por 41% contra 30% do capitão. A diferença de 11 pontos, fora da margem de erro, era de 6 pontos na Ipec da semana anterior: 39% do ex-presidente contra 36% do atual. Já na Genial/Quaest se deu um movimento emblemático. Pela primeira vez na sua série, Bolsonaro virou numericamente sobre Lula no Sudeste, ainda que na margem de erro: 39% a 37%. O presidente inverteu quase de maneira exata os 36% a 39% desfavoráveis da Genial/Quaest da semana passada.
RESUMO DA ÓPERA – Em resumo, no Sudeste que concentra quase metade dos eleitores brasileiros, Bolsonaro está estável na liderança dentro da margem de erro sobre Lula, segundo a BTG/FSB. Já na Ipec, quem lidera fora da margem de erro e ampliando sua vantagem, é Lula. E na Genial/Quaest divulgada no 7 de setembro em que o Brasil discutia a captura da data por Bolsonaro e sua autoclassificação freudiana de “imbrochável”, ele virava dentro da margem de erro uma vantagem no Sudeste que, até então, era de Lula.
QUADRO GERAL x SUDESTE – A quatro domingos da urna de 2 de outubro, a BTG/FSB, a Ipec e a Genial/Quaest trazem os mesmos resultados gerais, com números iguais ou muito próximos: vantagem fora da margem de erro de Lula sobre Bolsonaro, nas projeções de 1º e 2º turno, e na rejeição. Mas divergem quanto à liderança da corrida presidencial na região Sudeste, onde todos os analistas afirmam que deve ser definido o presidente da República a partir de 2023.
ANÁLISE DO ESPECIALISTA – “O fato dos principais institutos de pesquisa eleitoral serem afiliados à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), de seus estatísticos serem credenciados pelos Conselhos Regionais de Estatística (Conres) e das principais empresas de pesquisa estarem em atividade há anos, atestam o reconhecimento do mercado e dos órgãos de fiscalização a confiabilidade e a veracidade das pesquisas. As pesquisas eleitorais buscam ‘fotografar’ a intenção dos eleitores na data das entrevistas, não o resultado das urnas. Por se tratarem de ‘opinião’, as intenções dos eleitores podem mudar até o momento da votação. Mas a experiência das pesquisas eleitorais acompanha os 33 anos da redemocratização brasileira, com novos ajustes a cada nova eleição, reduzem a distância entre o que os eleitores respondem nas entrevistas e a decisão do voto, quando estão diante da urna”, explicou William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.