A 15 dias da urna, Lula e Bolsonaro nas pesquisas da semana

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) queria ganhar a eleição em turno único, o presidente Jair Bolsonaro (PL) queria ultrapassar Lula nas pesquisas antes do 1º turno, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) queria chegar aos dois dígitos de intenção de voto, e a ex-senadora Simone Tebet (MDB) queria ultrapassar Ciro. Hoje, a exatos 15 dias das urnas de 2 de outubro, as cinco principais pesquisas eleitorais da semana indicam que essas pretensões, dos quatro principais candidatos a presidente da República, terão dificuldade de ser alcançadas nos três domingos que ainda separam o Brasil do 1º turno.

VOO DE BEIJA FLOR – Em resumo da ópera deste ano eleitoral segundo todas as pesquisas, Lula bateu desde janeiro no seu teto de intenções de voto, na casa dos mesmos 40 e poucos % que manteve de lá para cá, sem nunca subir ou cair muito. Na boa imagem do jornalista Ocatvio Guedes, da Globo News, a evolução do petista lembra o voo do beija flor, estático no ar.

CRESCIMENTOS DE BOLSONARO – Bolsonaro teve três crescimentos claros durante o ano. O primeiro entre abril e maio, quando herdou naturalmente os votos de centro-direita das desistências do seu ex-ministro Sergio Moro (União) e do ex-governador paulista João Doria (PSDB). Depois, entre o final de julho e o início de agosto, sobretudo nos votos dos evangélicos, por conta dos ataques de toada neopentecostal ao PT; e da classe média baixa, com renda familiar mensal entre 2 a 5 salários mínimos, por conta da redução a fórceps do preço dos combustíveis. E, o terceiro e último, a partir da sua superexposição na captura do bicentenário da Independência do Brasil, no 7 de setembro travestido em atos de campanha em Brasília e no Rio de Janeiro.

TORCIDAS – Às tias do WhatsApp, por incapacidade, preguiça ou má fé, esses três movimentos de crescimento do seu “mito”, claros em todas as pesquisas, simplesmente inexistiram. Seriam só a readequação dos números, na reta final da campanha, à torcida bolsonarista. Tanto quanto alguns lulopetistas, na sua própria torcida pela “alma viva mais honesta neste país”, retorcem desonestamente os dados das pesquisas para tentar ignorar qualquer avanço de Bolsonaro.

VOOS DE POMBO E DE GALINHA – No mundo real, Ciro e Tebet tiveram alguma ascensão nas intenções de voto a partir das suas boas atuações nas sabatinas no Jornal Nacional e no debate da Band, ambos na última semana de agosto. Em outras imagens análogas do jornalista Octavio Guedes, o voo de Bolsonaro nas pesquisas seria o do pombo, por barulhento, atabalhoado, lento e construído em soluços no espaço. Que também parece ter batido em seu teto. Enquanto os voos de Ciro e Tebet, por curtos em alcance e teto, lembram o da galinha.

PESQUISAS DA SEMANA – A semana começou com duas pesquisas na segunda (12). De manhã, primeiro veio a BTG/FSB, feita entre sexta (9) e domingo (11), com 2.000 eleitores ouvidos por telefone. Na noite do mesmo dia, veio a Ipec (antigo Ibope), feita também entre sexta e domingo, com 2.512 eleitores ouvidos presencialmente. Na quarta (14), vieram outras duas pesquisas: a Genial/Quaest, feita entre sábado (10) e terça (13), com 2.000 eleitores ouvidos presencialmente; e a PoderData, feita entre domingo e terça, com 3.500 eleitores ouvidos por telefone. Finalmente, na noite de quinta (15), veio a sempre aguardada Datafolha, feita entre terça e a própria quinta, com 5.926 eleitores ouvidos presencialmente.

7 DE SETEMBRO x ELIZABETH II – Todas essas cinco pesquisas da semana tiveram margem de erro de 2 pontos para mais ou menos. E foram todas feitas depois do 7 de setembro, cuja repercussão na mídia e nas redes sociais foi sufocada, como todos os demais assuntos mundo afora, pela comoção com a morte da rainha da Inglaterra Elizabeth II, aos 96 anos, em 8 de setembro. Prova disso é que o próprio Bolsonaro vai deixar o Brasil e sua campanha para acompanhar o funeral da monarca britânica, nesta segunda (19), em Londres. Onde pode ter mais dificuldade para transformar o evento oficial em ato eleitoral.

1º TURNO – Do lado de cá do Equador e do oceano Atlântico, Lula continua liderando fora da margem de erro, com Bolsonaro também isolado no 2º lugar, todas as consultas estimuladas ao 1º turno. Por 41% a 35% na BTG/FSB, por 46% a 31% na Ipec, por 42% a 34% na Genial/Quaest, por 43% a 37% na PoderData, e por 45% a 33% na Datafolha. Em outras palavras e números, a 15 dias da urna, o petista hoje tem uma vantagem entre 6 (na BTG/FSB e PoderData) a 15 pontos (na Ipec) sobre o capitão.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

2º TURNO – Na projeção ao 2º turno de 30 de outubro, Lula também bateria Bolsonaro fora da margem de erro em todas as simulações. Por 51% a 38% na BTG/FSB, por 53% a 36% na Ipec, por 48% a 40% na Genial/Quaest, por 51% a 42% na PoderData, e por 54% a 38% na Datafolha. Só a Ipec manteve acesa a esperança lulopetista de definição em turno único, na margem de erro de 51% dos votos válidos. No 2º turno cada vez mais provável, daqui a 43 dias, o petista tem hoje uma vantagem entre 8 (na Genial/Quaest) a 17 pontos (na Ipec) sobre o capitão.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

REJEIÇÃO – Considerado fundamental para a definição do 2º turno, o índice negativo da rejeição é liderado fora da margem de erro por Bolsonaro em todas as pesquisas. Por 56% a 47% de Lula na BTG/FSB, por 50% a 35% na Ipec, por 52% a 47% na Genial/Quaest, por 50% a 41% na PoderData, e por 53% a 38% na Datafolha. A diferença entre os brasileiros que não votariam de maneira nenhuma em um dos dois líderes das pesquisas vai de 5 (na Genial/Quaest) a 15 pontos (na Ipec e Datafolha) desfavoráveis ao capitão.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

TENDÊNCIA? – Na comparação com as pesquisas da semana anterior de cada instituto, os números ao 1º turno revelam diminuição da vantagem de Lula sobre Bolsonaro na BTG/FSB (de 12 a 6 pontos) e na Genial/Quaest (de 12 a 8 pontos), crescimento dessa vantagem na Ipec (de 13 a 15 pontos) e Datafolha (de 11 a 12 pontos), e estabilidade da diferença na PoderData (em 6 pontos).  Na mesma comparação, as projeções ao 2º turno revelam redução da vantagem de Lula a Bolsonaro na Genial/Quaest (de 12 a 8 pontos) e na PoderData (de 12 a 9 pontos), crescimento dessa vantagem na Ipec (de 16 a 17 pontos) e na Datafolha (de 14 a 16 pontos), e de estabilidade da diferença na BTG/FSB (em 6 pontos). Qual é, então, a tendência?

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

ARTILHARIA PESADA – Na evolução dos sete dias anteriores entre as duas últimas pesquisas de cada instituto, impossível saber qual é hoje a tendência real ou a que prevalecerá nos próximos 15 dias ao 1º turno. E, tanto mais, 28 dias depois ao 2º turno. Neste, como é a rejeição que definirá o vencedor final, os veículos do Grupo Globo têm batido muito na liderança de Bolsonaro no índice negativo. Como a campanha de reeleição do presidente também já começou a bater mais pesadamente em Lula, tentando aumentar sua rejeição, a liderança do capitão nela parece assumida.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

DATAFOLHA E IPEC x QUAEST – A Globo contrata e repercute as pesquisas Datafolha e Ipec, que registraram na semana a maior diferença de Bolsonaro a Lula na rejeição: os mesmos 15 pontos a mais do capitão. Já na BTG/FSB e na PoderData, feitas por telefone, o atual presidente tem os mesmos 9 pontos a mais do que o ex-presidente no índice negativo. Feita através de entrevistas presenciais como a Datafolha e a Ipec, a Genial/Quaest registrou nesta semana sua menor diferença de Bolsonaro para Lula na rejeição: 5 pontos. Ainda a 43 dias do 2º turno, é apenas 1 ponto a mais que o limite da margem de erro.

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística pelo IBGE

ANÁLISE DO ESPECIALISTA — “A Datafolha de quinta permite a comparação entre as três pesquisas que aplicam entrevistas presenciais individuais face a face, metodologia de captação de intenção de votos com maior precisão, dentre as disponíveis. No Datafolha, Lula mantém os 45% de intenção de voto na consulta estimulada ao 1º turno. Na Ipec, divulgada segunda, o ex-presidente foi a 46%, enquanto na Quaest de ontem registrou 42%. Bolsonaro, no Datafolha, oscilou para 33%, enquanto na Ipec foi a 31% e na Quaest, seu melhor desempenho, foi a 34%. Assim, em conjunto, é possível afirmar que enquanto o Datafolha e o Ipec apontam para uma maior estabilidade do cenário eleitoral, com uma folga mais favorável a Lula, a Quaest indica um cenário mais apertado e menos desfavorável a Bolsonaro. Nos votos válidos, a Datafolha, ao contrário da pesquisa da semana passada, confirma cenário de 2º turno, ao apontar 48% destes votos para Lula, que poderia ir para 50% no limite da margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Para que uma eleição seja decidida no 1º turno, são necessários 50% mais um voto dentre os votos válidos, que excluem brancos e nulos”, concluiu William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

 

Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

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