Lula ganha, mas 2023 já está comprometido
Por César Boynard
Quando Aluysio me pediu para escrever este artigo, logo pensei que diante da beligerância latente desta eleição eu só teria a perder em me expor publicamente. Por outro lado, penso que, como cidadão, tenho também o direito e até o dever de me manifestar de uma forma respeitosa e democrática.
Profissionalmente, o que me afeta diretamente no atual governo é o fato do Brasil ser hoje visto como pária mundial. Ou seja, deixamos de ser um país referência para sermos um país marginal, onde os investidores internacionais não têm confiança para investir. O atual governo fechou portas em todo o mundo, dos EUA a China, passando pela Europa e América Latina. Isso é péssimo para quem tem negócios com outros países. Na minha área de negócios, a prova cabal do que falo foram os fracassados leilões de blocos de exploração de óleo e gás realizados pela ANP durante o governo Bolsonaro em 2019 e 2021. Sendo que no primeiro nenhuma operadora apresentou sequer uma oferta.
Obviamente que isso se deve à total falta de credibilidade internacional deste governo. Cujas causas são a instabilidade política, derivada dos frequentes ataques à democracia, e as políticas ambientais que vão na contramão do que hoje se considera as melhores práticas de governança internacionais conhecida pela sigla ESG (“Enviromental, Social and Governance”, ou “Ambiental, Social e Governança”).
Não há como negar que o atual presidente provou, em menos de 4 anos, ser um poço de contradições, banalizando a mentira e os descalabros cometidos. Senão vejamos: Se diz cristão, mas prega o ódio e o armamento da população. Se diz a favor da vida, mas defende a ditadura, a tortura e debocha, imitando alguém com falta de ar, das centenas de milhares de brasileiros que morreram de covid. Se diz defensor da liberdade, mas ataca jornalistas e fala em extirpar e metralhar os opositores. Se diz contra a corrupção, mas se uniu ao que há de mais podre na política, que é o Centrão de Ciro Nogueira e Artur Lira. Aparelhou a PF para que as rachadinhas da família e a relação com o Queiroz não fossem investigadas. É contra a corrupção, mas não consegue explicar os 51 imóveis comprados com dinheiro vivo pela família. Tudo isso sem falar nos vários escândalos de corrupção no seu governo, nos ministérios da Educação, do Meio Ambiente e da Saúde.
Na minha opinião, a eleição será decidida pela rejeição. A depender das pesquisas até o momento Bolsonaro tem entre 50 e 56% de rejeição, enquanto Lula tem entre 35 e 40%. A discussão é se a fatura será liquidada no primeiro ou no segundo turno.
Não foi por acaso que a partir da pesquisa Ipec divulgada na última segunda feira, dia 12, na qual Lula aumentava sua vantagem no primeiro turno, que Bolsonaro mudou radicalmente seu comportamento. Passou a falar em respeitar o resultado das urnas e entregar a faixa, em caso de derrota — como se estivesse fazendo algum favor! Uma espécie de versão Jairzinho paz e amor. Acho pouco provável que em 15 dias ele consiga alterar a imagem pública de tosco, rude e agressivo que construiu durante todos seus mais de 30 anos de vida pública, inclusive e principalmente como presidente da República.
A ver vamos… Parece-me que Lula, com a sua reconhecida habilidade política, está se cercando das mais diferentes correntes políticas, inclusive ex-opositores como Geraldo Alckmin e Marina Silva, para governar o país e isolar o bolsonarismo. No entanto, tirar o poder paralelo do Centrão é um objetivo que me parece crucial para o próximo presidente e o futuro do país. Hoje, com o absurdo Orçamento Secreto que nos foi entalado por Artur Lira, o país passou a ter, de fato, um regime de governo semipresidencialista. Onde quem executa o orçamento é o Congresso e não o presidente da República. Mais um descalabro permitido no governo Bolsonaro.
Preocupa-me também como o novo presidente vai encontrar o país. Após o derrame de dinheiro público da chamada PEC kamikaze, ao custo de R$ 41,3 bilhões, aprovada há apenas três meses para tentar ganhar a eleição, em outro descalabro deste governo. Que há muito tempo transformou o tal teto de gastos em piso. Essa conta vai chegar! E terá que ser cobrada em 2023, na forma de controle da inflação, do dólar, do rebote da queda forjada da gasolina — também com efeito eleitoreiro, a partir da intervenção na Petrobras —, dos juros que já estão altíssimos, da compensação aos estados dos impostos que foram obrigados a renunciar pelo Congresso comprado Orçamento Secreto. A bomba relógio está armada! Isso para não falar no desmonte que ocorreu, principalmente, na educação pública e nos órgãos fiscalizadores ambientais. Que, como disse acima, é condição sine qua non para a reintegração do Brasil ao mercado internacional. Não vai ser tarefa fácil!
Seja como for, o que mais espero e desejo é que esse clima péssimo de beligerância que está levando inclusive a absurdas mortes por diferenças políticas seja amenizado e o país volte a ser de todos os brasileiros. Onde todos remem para o mesmo lado.
Publicado hoje na Folha da Manhã.
Parabéns pela lucidez !
Visão distorcida inimaginável por empresário ativo
Falar que o Brasil não tem investimento e não falar da economia positiva atual
Falar de não êxito de leilão ANP , pontual, e deixar de citar que não houve leilão no período Lula
Esquecer de citar como é feito o apoio a Lula nas corrupções Mensalão e Petrolão não é só opinião é desvirtuar o comentário
Opinião é pessoal e é louvável, mas discernir e descrever fatos sem ser crítico isento é polêmico e sujeito às interpelações para restaurar a visão crítica de opinião mais isenta
Excelente artigo.
Ótimo artigo, objetivo é claro: parabéns
Isso é um artigo ou panfleto de campanha?
Ler algo que uma mente lucida e esclarecida dá sempre prazer.
Ler algo que uma mente lúcida e esclarecida produziu dá sempre prazer.
Parabéns pela coragem em se expor diante de um cenário tão polarizado e violento! Suas colocações foram perfeitas, frutos de uma lucidez invejável. As críticas com certeza virão, mas faz parte do processo natural no efervescente ambiente em que estamos.