A 11 dias da urna, Lula cresce e Bolsonaro patina nas pesquisas

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Bolhas a dois domingos da agulha

Hoje, faltam 11 dias para a urna de 2 de outubro. Na eleição presidencial mais polarizada desde 1989, na redemocratização do país, quando passou a ser em dois turnos, a popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) talvez seja melhor explicada pela paixão. Mas só pela razão o processo eleitoral pode ser entendido. Até os votos serem depositados e a apuração finalizada, as pesquisas eleitorais são a maneira mais objetiva não de adivinhar o resultado, mas de compreender as tendências do eleitorado para além das bolhas. Que, goste-se ou não, serão furadas daqui a apenas dois domingos.

 

Lula cresce e Bolsonaro patina (I)

Da planície goitacá, a Folha tem feito um esforço ao noticiar e analisar as principais pesquisas sobre quem governará o país do Planalto Central. Esta penúltima semana antes da urna, como de hábito, foi aberta ainda na manhã de segunda (19), pela pesquisa do Instituto FSB Pesquisa, contratada pelo BTG Pactual, banco de investimentos fundado por Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro. E a tendência nela relevada, na comparação com a BTG/FSB de sete dias antes, foi de crescimento de Lula, que passou de 41% a 44% das intenções de voto na consulta estimulada ao 1º turno, enquanto Bolsonaro ficou estagnado nos 35%.

 

Lula cresce e Bolsonaro patina (II)

Fora da margem de erro de 2 pontos, a tendência de crescimento de Lula na BTG/FSB foi confirmada pela pesquisa Ipec (antigo Ibope) divulgada na noite da mesma segunda. Nela, dentro da margem de erro, Lula oscilou 1 ponto para cima, de 46% a 47% na consulta estimulada ao 1º turno; enquanto Bolsonaro confirmou sua estagnação: tinha e manteve 31% das intenções de voto. Com 47% dos votos válidos a Lula, contra 37% de Bolsonaro, a projeção da BTG/FSB foi de 2º turno, marcado para 30 de outubro. Que poderia não existir na Ipec, onde o ex-presidente teria 52% dos votos válidos já no 1º turno, contra 34% do atual.

 

2º turno e rejeição

Como a maioria das pesquisas aponta o 2º turno, essa é a tendência mais provável. Nele, pela BTG/FSB, Lula bateria Bolsonaro por 52% a 39%. E por 52% a 34% na Ipec. Na primeira, o petista levaria do 1º turno 9 pontos de vantagem, que chegariam a 16 pontos na Ipec. Dentro da campanha de Bolsonaro se comenta que se ele sair das urnas de 2 a 30 de outubro com 10 pontos atrás de Lula, a toalha será jogada. Índice fundamental à definição do 2º turno, a rejeição é liderada por Bolsonaro. Na BTG/FSB, são 55% os que não votariam nele de maneira nenhuma, contra 45% de Lula. Na Ipec, o presidente teve 50% de rejeição, contra 33% do ex.

 

“Voto útil”?    

Com tendências semelhantes, a diferença básica entre as duas pesquisas é que Lula cresceu 3 pontos (de 41% a 44%) na consulta estimulada ao 1º turno da BTG/FSB, enquanto o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) caiu 2 pontos (de 9% a 7%) e a senadora Simone Tebet caiu outros 2 pontos (de 7% a 5%). O que pode ser reflexo da campanha petista pelo “voto útil” contra Bolsonaro na tentativa de definir a eleição em turno único. Mas essa possível migração de votos de outros candidatos a Lula não foi apareceu na Ipec, onde Ciro manteve os mesmo 7% da semana anterior, enquanto Tebet cresceu de 4% para 5%.

 

Onde Lula mais cresceu (I)

Qualquer alteração do quadro geral das pesquisas tem que ser conferida nas fatias do eleitorado, para saber onde as mudanças ocorreram. No crescimento dentro da margem de erro das intenções de voto de Lula na Ipec, ele cresceu mais na última semana em quatro faixas: 6 pontos (de 46% a 52%) entre os jovens de 16 a 24 anos, 4 pontos (de 45% a 49%) entre 35 a 44 anos, 4 pontos (de 43% a 47%) no eleitor com renda familiar mensal acima de 5 salários mínimos e 4 pontos nos sem religião (de 48% a 52%). Bolsonaro caiu ou ficou estagnado em todas essas faixas.

 

Onde Lula mais cresceu (II)

Acima da margem de erro, o crescimento de Lula na BTG/FSB foi bem mais amplo na distribuição entre as fatias do eleitorado. Ele cresceu 15 pontos (de 38% a 53%) entre 16 a 24 anos, 4 pontos (de 45% a 49%) nas mulheres, 6 pontos (de 26% a 32%) nos evangélicos, 11 pontos (de 46% a 57%) nos sem religião, 8 pontos (de 48% a 56%) entre 1 a 2 salários mínimos, 6 pontos (de 25% a 31%) no eleitor acima dos 5 salários mínimos, 6 pontos (de 56% a 62%) na região Nordeste, 5 pontos (de 34% a 39%) na região Sudeste, e 6 pontos (de 41% a 47%) no voto das capitais. Em todas essas faixas, Bolsonaro também caiu ou ficou estagnado.

 

Da mentira ao choro?

Pressionado pela tendência de crescimento de Lula na reta final do 1º turno, Bolsonaro disse ontem a um jornalista em Nova York: “Se você acredita em pesquisas, não vou falar contigo”. Entre seus apoiadores menos racionais, virou moda dizer que as pesquisas erraram em 2018. É mentira! Em 24 de setembro daquele ano, a BTG/FSB deu Bolsonaro na liderança isolada, com 33%, contra 23% de Fernando Haddad (PT). No mesmo dia, o Ibope (atual Ipec) deu o futuro presidente com 28%, contra 22% de Haddad. Como foi aos lulistas em 2018 e serve aos bolsonaristas de 2022: quem questiona pesquisas, não raro, é quem depois chora com a urna.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

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