Hoje, faltam oito dias para a urna de 2 de outubro. A dois domingos do 1º turno da eleição presidencial, todas as principais pesquisas indicam a oscilação positiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na liderança da disputa, com o presidente Jair Bolsonaro (PL) estagnado nas intenções de voto em segundo lugar, bem à frente do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e da senadora Simone Tebet (MDB). Incomodado pelas tendências, Bolsonaro e seus apoiadores passaram a atacar os institutos de pesquisa. Muitos deles, os mesmos que projetaram em 2018 a vitória parcial do capitão no 1º turno, com Fernando Haddad (PT) em segundo lugar, e a eleição do hoje presidente no 2º turno. Projeções todas confirmadas há quatro anos pelo voto na urna.
CRESCIMENTOS DE BOLSONARO AO TETO — Antes de entrar na última semana da urna aparentando ter batido em seu teto, Bolsonaro teve três claros crescimentos nas pesquisas deste ano eleitoral. O primeiro entre abril e maio, quando herdou naturalmente os votos de centro-direita das desistências do seu ex-ministro Sergio Moro (União) e do ex-governador paulista João Doria (PSDB). Depois, entre o final de julho e agosto, sobretudo nos votos dos evangélicos, por conta dos ataques de toada neopentecostal ao PT; e da classe média baixa, com renda familiar mensal entre 2 a 5 salários mínimos, por conta da redução do preço dos combustíveis. E, o terceiro, a partir da sua superexposição na captura do bicentenário da Independência do Brasil, no 7 de setembro transformado em atos de campanha em Brasília e no Rio de Janeiro. Este último, marcado pelo “imbrochável”, se revelaria impotente para competir com a comoção mundial pela morte da rainha da Inglaterra Elizabeth II, aos 96 anos, em 8 de setembro.
ESTABILIDADE DE LULA DESDE 2018 — Lula, em contrapartida, manteve-se na estável na casa dos 40 e poucos % de intenções de voto todo o ano de 2022. A bem da verdade, ele liderava as pesquisas presidenciais desde 2018. Mesmo depois de preso por corrupção pela operação Lava Jato, em 7 de abril daquele ano. Até ter o registro da sua candidatura indeferido em 31 de agosto, pelo mesmo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) hoje atacado pelos bolsonaristas, o ex-presidente liderava com folga maior do que hoje as pesquisas presidenciais há quatro anos. Na Datafolha de 20 a 21 de agosto de 2018, Lula tinha 39% das intenções de voto, contra 19% de Bolsonaro. Na BTG/FSB de 25 e 26 de agosto de 2018, ele tinha 35%, contra 22% do capitão.
PESQUISAS DA SEMANA — Quatro anos depois, a penúltima semana antes da urna foi aberta na manhã de segunda (19) pela pesquisa do mesmo Instituto FSB Pesquisas, contratada pelo mesmo banco de investimentos BTG Pactual, fundado pelo mesmo Paulo Guedes, hoje ministro da Economia de Bolsonaro. Feita entre a sexta (16) e o domingo (18), a nova BTG/FSB ouviu 2.000 eleitores por telefone. Na noite de segunda, saiu a nova Ipec (antigo Ibope), contratada pelo Grupo Globo e feita de sábado (17) ao dia da sua divulgação, com 3.008 eleitores ouvidos presencialmente. Na quarta (21), saíram outras duas pesquisas: a da Quaest Pesquisa e Consultoria, contratada pela Genial Investimentos Corretora, feita de sábado a terça (20), com 2.000 eleitores ouvidos presencialmente; e a PoderData realizada com recursos próprios, feita de domingo a terça, com 3.500 eleitores ouvidos por telefone.
Por fim, na noite de quinta (22), saiu a sempre aguardada Datafolha. Contratada pelos jornais Folha de S.Paulo e O Globo, foi feita com 6.754 eleitores ouvidos presencialmente, entre terça e a própria quinta.
1º TURNO — Na consulta estimulada ao 1º turno, todas essas cinco pesquisas, feitas com metodologias e em dias diferentes, registram o leve crescimento de Lula e a estagnação de Bolsonaro. Acima da margem de erro, o petista cresceu só na BTG/FSB. Onde, na comparação com a mesma pesquisa da semana anterior, ganhou 3 pontos, passando de 41% a 44% nas intenções de voto, enquanto o capitão patinou em 35%. A diferença entre os dois hoje é de 9 pontos.
Nas demais quatro pesquisas, Lula oscilou positivamente, mas dentro da margem de erro. No intervalo dos sete dias anteriores, ele subiu 1 ponto na Ipec, de 46% a 47%, enquanto Bolsonaro patinou em 31% — diferença hoje de 16 pontos. Na Quaest, o ex-presidente cresceu 2 pontos, de 42% a 44%, enquanto o atual patinou em 34% — diferença hoje de 10 pontos. Na PoderData, o petista cresceu 1 ponto, de 43% a 44%, enquanto o capitão patinou em 37% — diferença hoje de 7 pontos. Por fim, na Datafolha, Lula cresceu 2 pontos, de 45% a 47%, enquanto Bolsonaro patinou em 33% — diferença hoje de 14 pontos.
VOTOS VÁLIDOS — Para liquidar a fatura no 1º turno, um candidato precisa nele atingir o mínimo de 50% + 1 dos votos válidos, excetuados brancos e nulos. Nas consultas estimuladas ao 1º turno, Lula entra na última semana antes da urna em tendência de crescimento. E sai de 47% dos votos válidos na BTG/FSB, de 52% na Ipec, de 49% na Quaest, de 46% na PoderData e de 50% na Datafolha. Se confirmar a tendência, pode repetir o que fez com ele duas vezes o Fernando Henrique Cardoso (PSDB), até aqui o único presidente do Brasil eleito em turno único, em 1994 e 1998, desde que o sistema de dois turnos foi adotado no país em 1989.
“VOTO ÚTIL” E ABSTENÇÃO — O feito de Fernando Henrique, creditado aos especialistas ao fato da sua eleição e reeleição presidenciais terem sido conquistadas com votação ainda em cédula de papel, mais fácil para anular o voto e reduzir o universo dos válidos, indica o quanto a tarefa de Lula hoje é difícil. Como não parece aritmeticamente impossível, dois fatores são considerados fundamentais ao objetivo petista: as campanhas pelo “voto útil” em seu candidato ainda no 1º turno e pelo comparecimento do eleitor às urnas, sobretudo o mais pobre, onde o ex-presidente sempre teve sua maior vantagem sobre o atual.
ANÁLISE DO ESPECIALISTA — “Na pesquisa PoderData de quarta, a cada 10 eleitores que declararam voto em Ciro, quatro afirmaram que poderiam escolher outro candidato até 2 de outubro. Entre os eleitores de Tebet, de cada 10 entrevistados, três consideraram mudar o voto. Esses são os mais suscetíveis ao ‘voto útil’, que a campanha, sobretudo, de Lula tentará explorar nesta reta final. A ciência política utiliza duas palavras da língua inglesa para explicar a distribuição dos votos na reta final entre os dois principais líderes das pesquisas. A primeira palavra, ‘bandwagon’, se refere ao eleitor que opta pelo líder nas pesquisas, enquanto a segunda, ‘underdog’, se refere àqueles que votam para ajudar o segundo colocado. Aplicado ao caso desta eleição presidencial de 2022, muito mais marcada pela rejeição do que pela intenção, a decisão dos eleitores que optarem pelo voto útil se dará pelo combate ao antagonista rejeitado”, analisou William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.
FHC E MEIRELLES — Aos 91 anos, FHC se posicionou na quinta e convocou no Twitter o voto a presidente em defesa da democracia. Excluiu veladamente Bolsonaro, mas não nominou Lula, por conta da aliança do seu partido com a chapa de Tebet, que tem a também senadora Mara Gabrilli (PSDB) como vice. Outro aceno da semana favorável ao petista, este explícito, veio de um ex-tucano: o banqueiro Henrique Meirelles (hoje, União), ex-presidente do Banco Central nos dois governos Lula e ex-ministro da Fazenda do governo “golpista” Michel Temer (MDB). Pode não ter trazido votos, mas sinalizou ao mercado, que respondeu imediatamente. Após o apoio de Meirelles ao favorito nas pesquisas presidenciais, junto a sete outros ex-presidenciáveis, o Ibovespa subiu 2,3% e o dólar caiu 1,8% em relação ao Real.
O PLANALTO E O PIAUÍ — Na contagem regressiva dos oito dias que restam à urna, o momento favorável a Lula se reflete na sua vantagem sobre Bolsonaro no 1º turno. Que vai de 7 pontos, na PoderData, a 16 pontos, na Ipec. Se confirmada na casa dos 10 pontos, integrantes da campanha de reeleição admitem que só restará jogar a toalha no 2º turno. Líder do Centrão e coordenador eleitoral do presidente, seu ministro da Casa Civil, o senador Ciro Nogueira (PP), chegou a pedir férias na quinta. O motivo? Deixar a disputa ao Palácio do Planalto para se dedicar à campanha eleitoral dos aliados no… Piauí. Com o clima de “barata voa” instalado em Brasília, Nogueira voltou ontem (23) ao governo e à campanha do capitão.
2º TURNO — Na penúltima semana antes do 1º turno, Lula venceria Bolsonaro fora da margem de erro em todas as projeções de todas as principais pesquisas ao 2º turno, marcado para 30 de outubro. Por 52% a 39% na BTG/FSB, por 54% a 35% na Ipec, por 50% a 40% na Quaest, por 52% a 39% na PoderData, e por 54% a 38% na Datafolha. A vantagem do ex-presidente sobre o atual hoje seria de 10 pontos, na Quaest, a 19 pontos, na Ipec.
REJEIÇÃO — Índice fundamental à definição do 2º turno, a rejeição é liderada por Bolsonaro em todas as principais pesquisas. Entre os brasileiros que não votariam em um ou no outro de maneira nenhuma, o capitão tem hoje 55% a 45% do petista na BTG/FSB, 50% a 33% na Ipec, 54% a 46% na Quaest, 51% a 38% na PoderData, e 52% a 39% na Datafolha. A desvantagem no índice negativo do atual presidente ao ex vai de 8 pontos, na Quaest, a 17 pontos, na Ipec.
DE MINAS A LONDRES — Sábio político das Minas Gerais, o ex-presidente Tancredo Neves advertia: “Eleição e mineração, só depois da apuração”. O motivo real do abandono de 24h de Ciro Nogueira da campanha do capitão teria sido o racha dentro dela entre os pragmáticos do Centrão e os radicais bolsonaristas. Cujo discurso golpista, que cresce a rejeição do eleitor médio, foi retomado por Bolsonaro desde o domingo anterior, em Londres, em entrevista ao SBT: “se não ganharmos no 1º turno, com mais de 60% dos votos, algo de anormal aconteceu dentro do TSE”. No mesmo dia, ele usou a sacada da embaixada brasileira na capital inglesa para fazer um ato de campanha, cujos apoiadores foram repreendidos por cidadãos britânicos indignados pelo desrespeito de república amarela de bananas com o funeral da sua rainha. No Brasil, o eco foi a estagnação de velório nas pesquisas da semana, em que Lula apresentou leve crescimento.
LOGO ALI — Questionar previamente a apuração, quando se está atrás na disputa e com cerca de metade dos eleitores que se diz ter, talvez não fosse considerado por Tancredo como sinal de quem ainda ache possível virar no voto. Isso numa eleição até aqui mais marcada pela estabilidade do que por alterações. O resultado, saberemos daqui a apenas oito dias.