Lula e Bolsonaro nas pesquisas após Roberto Jefferson

 

Lula e Roberto Jefferson abraçado a Bolsonaro (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Lula bem ou pouco à frente?

Três das quatro pesquisas eleitorais de segunda (24) e terça (25) indicam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) largou bem nesta última semana antes da urna de 30 de outubro, daqui a apenas quatro dias. Nos votos válidos (excetuados os brancos e nulos), o petista apareceu com os mesmos 53% a 47% do presidente Jair Bolsonaro (PL), nas pesquisas AtlasIntel de segunda e na Ipespe de terça. A vantagem de 6 pontos chegou a 8 na pesquisa Ipec (antigo Ibope) de segunda: 54% a 46%. Só na pesquisa Paraná de terça, os dois candidatos apareceram com diferença desprezível: Lula 50,2% a 49,8% Bolsonaro, apenas 0,4 ponto.

 

0,4 ponto = R$ 2,7 milhões?

Pelas pesquisas AtlasIntel, Ipec e Ipespe, o favoritismo de Lula parece claro. Pela Paraná, não há favoritos. Pesa a favor da Paraná o fato de ter sido o terceiro instituto que mais acertou no 1º turno, quando errou o resultado geral da urna por 2,3 pontos. Mas ficou atrás do AtlasIntel, segundo instituto que mais acertou no 1º turno, apenas 2 pontos distante do resultado geral. E a vantagem de Lula a Bolsonaro foi a mesma na AtlasIntel e na Ipespe: 6 pontos. Ficou 2 pontos atrás dos 8 registrados da Ipec. Ademais, pesam contra a Paraná e sua diferença de 0,4 ponto os R$ 2,7 milhões que o instituto recebeu este ano do PL, partido de Bolsonaro.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Roberto Jefferson (I)

Além das pesquisas, cuja vantagem de Lula só é desprezível no instituto que fechou contrato milionário com a legenda do presidente, a campanha deste abriu a semana derradeira à urna com um fato muito negativo. A conversão do regime domiciliar ao fechado na prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) parecia certa depois que ele rompeu as proibições do Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou na sexta (21) um vídeo nas redes sociais. E nele proferiu os ataques mais sórdidos contra a ministra do STF Cármen Lúcia. Advogado criminalista, Jefferson sabia melhor que ninguém a consequência: seu retorno à cadeia.

 

Roberto Jefferson (II)

Jefferson ganhou fama nacional em 2005, quando denunciou o Mensalão do PT, do qual confessamente participou. Cassado naquele ano do seu sexto mandato de deputado federal pelo RJ, sobreviveu da função de presidente do PTB, partido protagonista do país nos anos 1940 e 1950, com o ex-presidente Getúlio Vargas. Após descobrir um câncer no pâncreas em 2012, Jefferson entrou em processo de depressão. Ressurgiu ao gravar uma live de apoio a Bolsonaro, em 2020. Desde então, representava a face mais tresloucada do bolsonarismo, em aparições virtuais armado de fuzil e estimulando abertamente a violência política.

 

Roberto Jefferson (III)

Por conta de suas violentas ameaças contra as instituições democráticas e seus representantes, Jefferson foi preso em agosto 2021, por decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, no inquérito das milícias digitais. Em 24 de janeiro deste ano, Moraes relaxou o regime em prisão domiciliar, para tratamento de saúde. Amante de ópera, Jefferson parece ter armado o seu ato final ao atacar Cármen Lúcia como ministra do STF e em sua honra de mulher na sexta. Para depois atirar três granadas e 50 tiros de fuzil contra os quatro policias federais que foram prendê-lo no domingo, ferindo dois, uma mulher entre eles.

 

Roberto Jefferson (IV)

A Polícia Federal não reagiu segundo o lema bolsonarista “bandido bom é bandido morto”. E negociou por oito horas a rendição. Para tanto, chegou a permitir a inusitada intermediação do Padre Kelmon, “padre de festa junina” na definição da senadora Soraya Thronicke (União/MS), quando substituiu Jefferson como candidato a presidente do PTB no 1º turno, em apoio a Bolsonaro. Apoiadores igualmente radicais, como os deputados federais Daniel Silveira (PTB) e Otoni de Paula (MDB), chegaram a convocar militantes bolsonaristas para apoiar como “herói” e “patriota” quem tentou matar quatro policiais federais no cumprimento do dever.

 

Roberto Jefferson (V)

Como prova de que a desvantagem do presidente nas pesquisas começa a se refletir nas redes sociais que antes monopolizava, a reprovação popular nelas fez com que o circo fosse desarmado. O sinal amarelo também viria com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL). O poderoso aliado de Bolsonaro condenou publicamente a tentativa de homicídio de quatro agentes da Polícia Federal pelo bolsonarista. Só depois de derrotado na guerra virtual e da política real, mesmo após mandar seu ministro da Justiça tentar resolver os 50 tiros pela culatra de Jefferson em sua campanha, o capitão capitulou: “Quem atira em policial é bandido”.

 

Bolsonaro em Campos, RJ, MG e SP

Pelo que ser viu nas redes sociais de Campos, o episódio Jefferson não deve tirar eleitores que já eram de Bolsonaro. Muitos estarão presentes na carreata bolsonarista na manhã de hoje pela cidade, na qual o prefeito Wladimir Garotinho (sem partido) recebe o senador Flávio Bolsonaro (PL) e o governador Cláudio Castro (PL). Este, mais Romeu Zema (Novo) em MG e Rodrigo Garcia (PSDB), em SP, receberam ontem a missão do capitão: tentar virar 1 milhão de votos em cada um dos três principais estados da União. Como cada voto virado no 2º turno vale por dois, o objetivo é neutralizar os 6 milhões de votos da vantagem de Lula no 1º turno.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

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