Por que votarei em Lula neste domingo?

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Hoje, faltam exatos dois dias para a urna do domingo, 30 de outubro. E penso ser um bom espaço de tempo para declarar publicamente meu voto no 2º turno a presidente da República. Que se resume à minha opção enquanto cidadão em busca de representação, sem a menor interferência na minha atuação profissional enquanto jornalista, radialista e diretor do Grupo Folha de comunicação. Mas penso ser justo com quem me lê, ouve e vê, saber que tipo de indivíduo político sou.

Dada a polarização por vezes violenta desta eleição, que a distingue de todas as outras desde a redemocratização do Brasil, e habitando numa cidade que se revelou majoritariamente bolsonarista nas urnas de 2 de outubro, mais fácil seria não assumir posição contrária a esse juízo. Mas democracia, desde a sua criação na Grécia Antiga, não é ou deve ser fácil. Como o jornalismo, exige contraditório. O regime que encara a vontade do governante de plantão, ou da maioria que o levou ao poder pelo voto, como se fossem a de um imperador ungido por direito divino, é ditadura. Tenho 50 anos, nasci, passei a me entender como gente e guardo boa lembrança da nossa última, entre 1964 e 1985, à qual não quero regressar. Nem o farei passivamente.

Por isso votarei em Lula, nº 13, a presidente neste domingo. Diferente de quem o fará ou não, no delírio de eleger um imperador, meu voto não é um cheque em branco. Não nubla todas as críticas que tenho ao líder petista e, sobretudo, ao PT. Mas julgo Bolsonaro o pior governante que o Brasil já teve em seus 200 anos de país independente. Tão incompetente quanto Dilma na condução econômica, considero seu atual sucessor um ser humano muito, muito pior; abjeto mesmo. Recusaria convívio social com qualquer pessoa capaz de imitar pessoas morrendo por falta de ar, enquanto a pior pandemia dos últimos 100 anos sufoca até à morte mais de 688 mil brasileiros, 400 mil deles de maneira absolutamente desnecessária. Tanto pior quando essa pessoa deveria liderar meu povo e meu país, não ser aliado doloso do vírus.

Votarei em Lula porque ele foi a única opção a Bolsonaro oferecida neste 2º turno pela vontade soberana dos meus semelhantes em língua, cultura e nação. Votarei em Lula porque meu juízo racional é de que ele fez dois governos, sobretudo o primeiro, muito melhores do que o de Bolsonaro. Votarei em Lula porque ele é a opção que restou da Nova República, minha contemporânea, que não quero ver retroceder à República Velha, onde os patrões se sentem no direito de ditar os votos dos empregados. Votarei em Lula porque nele votarão os pais do Plano Real, a partir do qual o brasileiro pobre pôde colocar proteína animal em sua dieta, primeiro com o frango de Fernando Henrique, depois com a “picanha” de Lula. Votarei nele pelo meu irmão que hoje voltou a buscar no lixo para ter o que comer. Votarei na certeza de que meu voto, meu direito e minha fome não são superiores aos dele.

Votarei em Lula porque não acredito que quem vota em Bolsonaro seja, apenas por isto, “fascista” ou “gado”. Votarei em Lula porque enxergo uma eleição apertada no domingo, que Bolsonaro pode vencer, a depender da abstenção, da ampliação da sua vantagem na região Sudeste e do debate de hoje à noite na Globo. Votarei em Lula porque nunca vi o Brasil descer tão baixo quanto na sua representação como república amarela de bananas, no funeral da rainha Elizabeth II, em Londres; ou na comemoração da padroeira do nosso país no último dia 12, em Aparecida. Votarei em Lula porque creio na advertência de Cristo aos “falsos profetas” que hoje vejo em fariseus neopentecostais, mercadores da fé por isenção fiscal. Votarei em Lula pelo mais laico dos motivos, porque acredito que qualquer democracia se baseia no equilíbrio dos Poderes. Votarei em Lula porque a razão deve desejar um Executivo “de esquerda”, que jamais foi “comunista”, sendo nivelado pelo novo Congresso conservador eleito em 2 de outubro. Votarei em Lula contra um Orçamento Secreto que faz do Mensalão e do Petrolão uma gorjeta.

Votarei em Lula porque na única vez em que o fiz antes, no 2º turno de 1989, o vencedor foi Fernando Collor de Mello. Que hoje é aliado de Bolsonaro. Votarei em Lula porque me lembro bem da face e dos motivos de quem votou em Collor, há 33 anos. E do resultado daquele voto. Votarei em Lula porque não aceitarei que o resultado onipotente do voto popular, que a todos iguala, não seja igualmente aceito, independente de quem for eleito. Votarei em Lula para que essa história de “golpe”, tão recorrente nos últimos quatro anos, volte a ser só uma piada sem graça das “vivandeiras alvoroçadas”.

Votarei em Lula porque, mesmo que ele perca, quero ser olhado pela História não por ter estado do lado certo, mas contra aquilo que todos os meus valores humanos mais caros gritam estar errado. Votarei em Lula por compreender que a vida, o voto e os governos são muito mais complexos do que certo ou errado. Votarei em Lula porque sei que o mundo não se resume a mim.

 

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Este post tem 4 comentários

  1. Raphael

    Sou obrigado a concordar e a elogiar a sensatez dos argumentos, que fogem do padrão do bem e o mal, do certo e o errado, mesmo que assim seja!
    Votarei em Lula na certeza que esse pesadelo está perto de acabar!

  2. Arlene Geralda de Almeida

    Votarei em lula pelos 700 mil pessoas mortas na covid pelos meus irmãos negro que sofrem todo tipo de preconceito pelos gays pelo o aumento de mulheres mortas por seus companheiros pelas mulheres que apanha de homem em praça pública e ninguém faz nada por medo do sujeito tá armado pelos trabalhadores pelos aposentado pela democracia pelo meu pais

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