O Brasil que não viu antes, nem vê depois, no ano de Messi

 

Messi, Lula, Neymar e Bolsonaro (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Com eleições no Brasil e Copa do Mundo no Qatar, este 2022 caminhando ao epílogo não foi um ano fácil. A quem trabalha na cobertura jornalística de disputas presidenciais desde a de 1989 e, de Copas do Mundo, desde 1990, a única certeza prévia é de que seria um ano pesado. O que não dava para prever, em plano local, era o rompimento do dique do rio Paraíba do Sul em Campos, levando junto parte da avenida XV de Novembro na noite da última segunda (19).

ELEIÇÕES, COPAS E ZOOLÓGICO HUMANO — Após acompanhar profissionalmente oito eleições presidenciais e oito Copas do Mundo de futebol, a torcida pessoal chegou às nonas edições de um e outro evento devidamente domada pela razão. O que sempre favorece projeções mais claras e objetivas. Como torna a observação das torcidas alheias, escancaradas pela paixão que geralmente move a política e o futebol, muito interessante. Quase que uma visita ao zoológico da própria espécie.

NUMA JAULA — Embora tenha sido a eleição a presidente mais polarizada desde a redemocratização do Brasil em 1985, a de outubro não mostrou surpresa. Não a quem buscou analisá-la objetivamente, noves fora a paixão, pelas tendências reveladas nos números das pesquisas. Que foram pateticamente questionadas até por alguns analistas experientes, mas que envelheceram mal. No Alzheimer opcional como Cloroquina para curar Covid, reduzidos a tiozinhos do WhatsApp.

NA OUTRA — Mesmo da Campos bolsonarista, a projeção da eleição presidencial não foi tão difícil. Pelo menos a quem enxerga sem os antolhos dos muares que ainda puxam carroças na cidade. E também de uma esquerda maniqueísta, da qual se esperaria a excelentíssima produção de conhecimento científico no município e na região. Mas que, da análise de pesquisas eleitorais, saca tanto quanto um aluno birrento de creche entende de química ou engenharia mecânica.

ANTES DO 1º TURNO — Entre os delírios de um extremo e outro, a preferência foi à análise séria das pesquisas BTG/FSB, Ipec, Genial/Quaest, PoderData e Datafolha. Com base nelas, não na torcida, a matéria “A 8 dias da urna, Lula e Bolsonaro nas pesquisas da semana” foi publicada em 24 de setembro, na Folha da Manhã e no blog Opiniões. Nela, duas tendências aparentemente contraditórias, mas complementares, antecipadas. E confirmadas pela urna de 2 de outubro:

— Lula manteve-se estável na casa dos 40 e poucos % de intenções de voto todo o ano de 2022. A bem da verdade, ele liderava as pesquisas presidenciais desde 2018. Mesmo depois de preso por corrupção pela operação Lava Jato, em 7 de abril daquele ano. Até ter o registro da sua candidatura indeferido em 31 de agosto, pelo mesmo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) hoje atacado pelos bolsonaristas, o ex-presidente liderava com folga maior do que hoje as pesquisas presidenciais há quatro anos. Na Datafolha de 20 a 21 de agosto de 2018, Lula tinha 39% das intenções de voto, contra 19% de Bolsonaro. Na BTG/FSB de 25 e 26 de agosto de 2018, ele tinha 35%, contra 22% do capitão — escreveu a lembrança do que tinha acontecido entre as pesquisas, a Justiça Eleitoral e as urnas da eleição presidencial anterior.

— Para liquidar a fatura no 1º turno, um candidato precisa nele atingir o mínimo de 50% + 1 dos votos válidos, excetuados brancos e nulos. Nas consultas estimuladas ao 1º turno, Lula entra na última semana antes da urna em tendência de crescimento. Se confirmar a tendência, pode repetir o que fez com ele duas vezes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), até aqui o único presidente do Brasil eleito em turno único, em 1994 e 1998, desde que o sistema de dois turnos foi adotado no país em 1989. O feito de FHC é creditado pelos especialistas ao fato da sua eleição e reeleição presidenciais terem sido conquistadas com votação ainda em papel, mais fácil para anular o voto e reduzir o universo dos válidos. E indica o quanto a tarefa de Lula é difícil — escreveu a lembrança, além das pesquisas, dos fatos da história recente do Brasil.

ANTES DO 2º TURNO — Como projetado antes e todos hoje sabem, de fato houve o segundo turno de 30 de outubro. Um dia antes dele, com base na análise isenta da pesquisa CNT/MDA, já com o feedback de que havia sido a que mais tinha acertado o resultado do primeiro turno, foi possível afirmar em 29 de outubro, na postagem do blog Opiniões intitulada “Lula cai e Bolsonaro cresce em empate técnico no 2º turno”, com link no Folha1:

—  O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem 51,1% de intenções de votos válidos, contra 48,9% do presidente Jair Bolsonaro. Ainda numericamente à frente, a tendência de Lula, no entanto, é de queda, enquanto a de Bolsonaro é de crescimento. Entre as pesquisas MDA de 16 de outubro e hoje, o ex-presidente perdeu 2,4 pontos (53,5% a 51,1%) nos últimos 13 dias, enquanto o atual cresceu os mesmos 2,4 pontos (46,5% a 48,9%). Hoje, na véspera do voto, a diferença entre os dois é quase igual: apenas 2,2 pontos, exatamente a margem de erro — foi publicado um dia antes da urna eleger Lula mais uma vez presidente por 50,9% dos votos válidos, contra 49,1% de Bolsonaro. A diferença foi de 1,8%, 0,4% abaixo do projetado.

ANTES DA COPA DO QATAR — Encerrada a eleição, a despeito do jus esperniandi (“direito de espernear”) de mais tios e tias do WhatsApp na porta dos quartéis militares, veio em novembro e dezembro a Copa do Mundo. Publicada na Folha da Manhã e no blog Opiniões em 19 de novembro, na véspera do jogo de abertura, a análise ainda era cruzada entre política e futebol. Intitulado “O que esperar do Brasil com Lula e na Copa do Qatar?”, o artigo resumia a expectativa real do hexa no futebol:

— E o Brasil na Copa do Qatar, que se inicia neste domingo? Sem a cerveja de Lula, proibida pela teocracia islâmica como a que sonham implantar aqui alguns evangélicos cristãos, o Brasil tem chances? Tem! Basta vencer uma seleção europeia em jogo eliminatório. O que não faz em Copa do Mundo desde a final em que bateu a Alemanha por 2 a 0. Foi há 20 anos.

ANTES DA CROÁCIA — Passada a fase inicial de pontos corridos, com as vitórias de 2 a 0 sobre a Sérvia, e de 1 a 0 sobre a Suíça, fechada com a derrota de 0 a 1 para Camarões, a Seleção Brasileira estreou na fase eliminatória nos 4 a 1 sobre a Coreia do Sul pelas oitavas. Para encarar nas quartas seu primeiro adversário europeu em jogo eliminatório: a Croácia de Luka Modric. Em 8 de dezembro, véspera do jogo, uma postagem no blog Opiniões antecipou desde o título o que determinaria o resultado: “Ritmo do jogo definirá o Brasil e Croácia desta sexta”:

— No Brasil e Croácia que abre nesta sexta (9), ao meio-dia de Brasília, as quartas de final da Copa do Mundo no Qatar, no estádio Cidade da Educação, a vaga para as semifinais será decidida pelo ritmo do jogo. Se for veloz, com seus dois jovens atacantes abertos pelas extremas (Raphinha pela direita e Vini Jr. pela esquerda) e sua maior intensidade de jogo, o Brasil tende a confirmar seu favoritismo. Se o ritmo for mais cadenciado, imposto pelo técnico e experiente meio de campo da Croácia (o volante Brozovic, o maestro Modric e Kovacic), a atual vice-campeã mundial aumenta suas chances de surpreender.

 

Após declassificar o Brasil na disputa de pênaltis, o veterano craque Modric consola o jovem atacante Rodrygo, seu companheiro de Real Madrid (Foto: Maja Hitij/Fifa/Getty Images)

 

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA — O que foi alertado por um cronista esportivo da periferia, foi aparentemente ignorado por toda uma comissão técnica regiamente paga. E que vinha da experiência de outra desclassificação no primeiro confronto contra um europeu em jogo eliminatório, no 2 a 1 da Bélgica em 2018. Pelo menos, ganharam muito dinheiro. O que não se pode dizer da torcida cujo “patriotismo” cometa só surge de quatro em quatro anos. Sem aprender nada com o que a bola leciona, doída como chute de Roberto Carlos na cara, há 20 anos.

A CINOFILIA DO FUTEBOL — Tão patéticos quanto os “patriotas” nos quartéis, são também tão desinteligentes quanto. A torcida pela contusão de Neymar, numa Copa do Mundo de futebol, por conta de política, gabarita o QI da ameba da samambaia de plástico. O oba-oba festivo e geralmente bêbado, concluído com mais uma ressaca de dor de corno, é a antítese do “complexo de vira-latas” de Nelson Rodrigues. Na cinofilia tupiniquim, é como um Fox Paulistinha que pensa ser Fila Brasileiro. Com o latido deste outrora temido cada vez mais distante. Para tentar voltar a ser cachorro grande em 2026, serão 24 anos de ganido e rabo entre as pernas.

O ANO DE UM GÊNIO — Após voltar ao poder como reação ao gol contra marcado por um antipetismo capaz de eleger alguém como Bolsonaro presidente do Brasil, Lula terá mais quatro anos para tentar reeditar acertos. E, se o PT permitir, não repetir erros graves. Mas, na América do Sul e no mundo, 2022 ficará para sempre como o ano de outra personagem e fato. Aquele em que o futebol, tão parecido com a vida por muitas vezes injusto, fez justiça ao gênio de Lionel Messi.

 

 

P.S. — Após um ano de intenso trabalho, o signatário só volta à lida, se Deus quiser, no final de fevereiro. Até lá, o espaço será preenchido na tabela quinzenal dos craques Edmundo Siqueira, servidor federal, jornalista e blogueiro; e Roberto Dutra, sociólogo, professor da Uenf e blogueiro. Feliz Natal e um 2023 de saúde, paz e realizações a todos!

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Com Messi, o mundo e um estilo na América do Sul

 

Messi e sua maior conquista (Foto: Fifa)

Histórico é um adjetivo geralmente vulgarizado para classificar fatos do presente ou passado recente. Tanto mais no futebol, quase sempre movido pela paixão. Sobretudo à maioria que supõe que o esporte passou a existir a partir do próprio nascimento e sua tomada de consciência dele. Só quando os ainda não nascidos analisarem os fatos e feitos de hoje, e quem os viveu pulsante nas veias for só nome numa lápide, se terá a perspectiva histórica. Ainda assim, talvez não haja exagero ao afirmar: a final da Copa do Mundo de 2022, no Qatar, vencida no último domingo (18) pela Argentina de Lionel Messi sobre a França de Kylian Mbappé, na disputa de pênaltis (4 a 2), após o empate de 2 a 2 no tempo normal, 3 a 3 na prorrogação, foi a maior em seus 92 anos de história.

DUELO FINAL DOS CRAQUES — Desde que a primeira final de Copa do Mundo foi sediada e vencida em 1930 pelo Uruguai, por 4 a 2, contra a mesma Argentina, muitas finais foram protagonizadas no enfrentamento entre dois grandes craques. Ali, foram o uruguaio Héctor “El Mago” Scarone e o argentino Guilhermo “El Infiltrador” Stábile. Como seriam as finais de 1974 entre a Alemanha de Franz Beckenbauer e a Holanda de Johan Cruijff, de 1994 entre o Brasil de Romário e a Itália de Roberto Baggio, ou a de 1998 entre a França de Zinédine Zidane e o Brasil de Ronaldo Fenômeno. Mas nunca o futebol tinha visto uma disputa com tanto brilho de lado a lado como a final entre Messi e Mbappé.

MESSI x MBAPPÉ — Se os camisas 10 da Argentina e da França chegaram à final empatados na artilharia, com cinco gols cada, os três que Mbappé marcou no domingo, dois de pênalti e o do belo voleio entre eles, deram a ele oito como maior goleador do Qatar. Messi marcou “só” dois gols na final, um de pênalti e outro de oportunismo dentro da área. Como, então, terminou eleito com justiça o maior craque do Mundial?

GOLS EM TODAS AS ELIMINATÓRIAS — Primeiro porque o craque francês passou em branco nas quartas contra a Inglaterra e na semifinal contra o Marrocos. E o argentino balançou as redes adversárias em todos os jogos da fase eliminatória. Na qual nunca tinha marcado, uma vez sequer, em todas as quatro Copas anteriores de que participou. Mesmo a de 2014, quando chegou à final que a Alemanha levou por 1 a 0, e foi também eleito o melhor jogador.

ARCO E FLECHA — Além de mais constante do que Mbappé como goleador no mata-mata, Messi se mostrou um jogador mais completo no Qatar. Que soube também ser arco, não só flecha. Com três assistências a gol, ele terminou a Copa na liderança da estatística mais altruísta do jogo, empatado com o francês Antoine Griesmann, o inglês Harry Kane, o português Bruno Fernandes e o croata Ivan Perisic.

DI MARIA — Mais solidário em seu futebol, Messi teve a retribuição dos seus companheiros na final. Cuja primeira etapa do tempo normal foi marcada pela grande atuação do veterano atacante Ángel Di Maria, que voltava do banco após contusão. E, num lance de gênio fora do campo do jovem treinador Lionel Scaloni, deixou atônita a França do técnico Didier Deschamps. Que não se preparou para escalação mais ofensiva e “invertida” da Argentina, com Di Maria caindo pela esquerda, lado oposto ao que costuma jogar.

NÓ TÁTICO E MEIO DE CAMPO — A quem já ouviu falar em nó tático, sem nunca saber o que é, foi exatamente isso que Scaloni — xará de batismo de Messi e seu conterrâneo da cidade de Rosário — fez com Deschamps no primeiro tempo da final. Cujo resultado se deu também pelo domínio argentino do meio de campo, com excelentes atuações do menino Enzo Fernández, de Rodrigo De Paul em seu melhor jogo na Copa, assim como do incansável Alexis Mac Allister.

ABERTURA DO PLACAR — Aos 20 minutos, Di Maria driblou o atacante Ousmane Dembélé na esquerda para penetrar na área e sofrer o pênalti do francês. Messi converteu com categoria, goleiro Hugo Llorris para um lado, bola para o outro. Aos 35 minutos, Mac Allister iniciou o contra-ataque em seu campo defensivo, tocou de primeira a Messi e correu para receber.

“TOCO Y ME VOY” — Messi deu dois toques de canhota e passou ao jovem atacante Julian Álvarez no meio de campo, que lançou longo e de primeira a um Mac Allister já em progressão pela direita. De primeira, ele cruzou à esquerda a Di Maria, que também de primeira fez 2 a 0. A quem já ouviu falar em “toco y me voy” (“toco e eu vou”), resumo da escola de futebol clássico e de toque de bola da Argentina, sem nunca saber direito o que é, favor rever o lance.

 

 

NUNCA ANTES NA FINAL — O impacto do domínio argentino no primeiro tempo foi tanto que, antes dele ser encerrado, Deschamps substituiu dois jogadores: Dembélé, ainda tonto do baile de Di Maria, e o centroavante Olivier Giroud, que não viu a cor da bola. A alteração tão precoce de dois jogadores também nunca havia acontecido numa final de Copa do Mundo.

FUTURO DE MBAPPÉ? — Vice-artilheiro da França no Qatar, Giroud saiu contrariado, jogando garrafa d’água com força no chão e chutando o banco de reservas. Mas serviu para observar Mbappé jogando não como extrema pela esquerda, ou pela direita, como em 2018. Mas de centroavante, posição à qual deverá migrar, como fez anos atrás e com grande sucesso o português Cristiano Ronaldo.

PRESENTE DE MBAPPÉ — Com as substituições no segundo tempo de Di Maria e De Paul, que fazia bom trabalho de marcação sobre Mbappé, foi a vez do futebol de exceção deste aparecer. Aos 33 minutos, numa infiltração pela esquerda, o atacante Kolo Muani driblou o zagueiro Nicolás Otamendi, ganhou a área a sofreu o pênalti. Mbappé cobrou no canto direito do goleiro Emiliano Martínez, que chegou a tocar na bola, antes dela entrar.

PRIMEIRO EMPATE — O camisa 10 da França buscou rapidamente a bola e correu com ela para reiniciar o jogo em busca do empate. Dois minutos depois, ele viria. Na entrada esquerda da área, ele tocou de cabeça para o atacante Marcus Thuram devolver de primeira com a destra, em bela triangulação. Que foi arrematada por Mbappé também de direita e de primeira, no voleio antes de a bola tocar ao chão.

PRORROGAÇÃO — Apesar do empate arrancado pela França na segunda etapa do tempo normal, a Argentina voltou melhor na prorrogação. E só não marcou no primeiro tempo de 15 minutos porque o atacante Lautaro Martínez saiu do banco para perder duas oportunidades claras de gol, na reedição do que o levou à reserva no decorrer da Copa.

MESSI 3 x 2 MBAPPÉ — No segundo tempo da prorrogação, logo aos dois minutos, o lançamento pelo alto do lateral direito Gonzalo Montiel encontrou Lautaro na entrada direita da área. Ele escorou a Messi, que tocou à esquerda para Enzo Fernández devolver em triangulação à direita com Lautaro. Que concluiu a outra defesa de Lloris, mas dessa vez à sobra atenta de Messi. A provar que sua perna direita não é cega como era a de Diego Maradona, ele concluiu para o lateral Jules Koundé tentar tirar já dentro do gol.

SEGUNDO EMPATE — Oito minutos depois, numa sobra de bola dentro da área da Argentina, Mbappé chutou forte da esquerda e a bola bateu no braço direito de Montiel. Pênalti marcado, o craque francês não mudou o canto da primeira cobrança, mas dessa vez deslocou Martínez ao lado oposto. Que, já nos descontos da prorrogação, fez defesa salvadora com o pé esquerdo, como goleiro de handebol, num chute forte de Kolo Muani sozinho na área.

MARTÍNEZ BRILHA — A estrela de Martínez brilharia novamente na disputa de pênaltis. Após os craques Mbappé e Messi abrirem a série e converterem, o goleiro argentino catou no seu canto direito a cobrança do atacante Kingsley Koman. Foi o mesmo lado em que, para tentar colocar fora do alcance do arqueiro, o bom volante Aurélien Tchouaméni acabou batendo para fora, após o atacante Paulo Dybala converter o seu, como depois o volante Leandro Paredes. Kolo Muani ainda anotou para os Le Bleus, mas tampa do caixão seria fechada na cobrança de Montiel.

RECORDES DE MBAPPÉ — Em 2018, na Rússia, nos 4 a 2 sobre a Croácia, Mbappé tinha 19 anos quando foi o jogador mais novo a marcar um gol em final de Mundial. Desde que Pelé, aos 17, marcou dois na decisão da Copa de 1958, nos 5 a 2 do Brasil contra a Suécia e dentro da Suécia. Já no Qatar de 2022, com 23 anos, Mbappé e seu hat-trick (quando um jogador faz três gols em um mesmo jogo) igualaram o feito do ex-centroavante inglês George Hurst na Copa de 1966. Dentro de casa e único Mundial da Inglaterra, marcou três nos 4 a 2 na final contra a Alemanha. Que também demandou prorrogação.

TÃO JOVEM, SÓ PELÉ — Com a projeção de mais três Mundiais à frente, na próxima, em 2026, quando tiver 27 anos, Mbappé deve estar no seu auge físico. Pelo que mostrou nas duas últimas, sendo campeão em uma e vice na outra, ele impressiona pelos recordes já alcançados. Como por sua velocidade, explosão, visão de gol e, sobretudo, capacidade de decisão. Que, à exceção de Pelé, não se viu em alguém tão jovem nestes 92 anos de Copa do Mundo.

PARIS E BUENOS AIRES — Ainda assim, Mbappé voou do Qatar a Paris após engolir o dito em maio deste ano. Ao renovar contrato com o Paris Saint-Germain (PSG), onde é companheiro de clube de Messi e Neymar, bravateou: “Na América do Sul o futebol não está tão avançado quanto na Europa. Por isso nas últimas Copas, se você olhar, são sempre os europeus que vencem”. Na dúvida, melhor conferir a festa albiceleste ontem em Buenos Aires para receber os campões do mundo. Quando a Copa do Mundo de futebol voltou ao continente que a pariu.

E O BRASIL NO QATAR? — A arrogância de Mbappé, ao menos, tem alguma justificativa no passado recente e no presente. Aos brasileiros, essa recorrente arrogância do “comigo ninguém pode no futebol”, como cometa que passa de quatro em quatro anos, é delírio. No Qatar, a Seleção Brasileira não conseguiu fazer um jogo inteiro bom. Exceções parciais ao segundo tempo dos 2 a 0 contra a Sérvia e ao primeiro tempo dos 4 a 1 sobre a Coréia do Sul.

ESCRITA VAI A 24 ANOS? — Também na disputa de pênaltis, o Brasil parou na Croácia nas quartas de final. Como é eliminado há 20 anos em todo o primeiro jogo eliminatório contra um europeu em Copa do Mundo. Desde a última que conquistou de 2 a 0 sobre a Alemanha, na final de 2002. Até 2026, com as 48 seleções anunciadas pela Fifa com sede no Canadá, EUA e México, serão 24 anos do único pentacampeão mundial fora da elite do futebol.

DE DIEGO A LIONEL — A Argentina estava fora da elite ainda há mais tempo, há 36 anos, desde que a “mão de Deus” tocou a perna canhota de Maradona em 1986, na conquista Copa do Mundo do México, na final por 3 a 2 sobre a Alemanha. Muito embora Dom Diego ainda tenha levado sua seleção à final de 1990, na Itália, vencida pela mesma Alemanha na revanche de 1 a 0.

A ÚNICA MANEIRA — A Argentina volta ao topo do mundo agora, conduzida por outro canhoto tocado por Deus. Com o Barcelona, Messi conquistou 10 Campeonatos Espanhóis, quatro Champions da Europa e três Mundiais de Clubes. E, no PSG a partir de 2021, um Campeonato Francês. Mas, para finalmente resgatar a Copa do Mundo ao seu país, enfileirou na fase eliminatória e bateu em três europeus: a Holanda, a Croácia e a França de Mbappé.

O ESTILO E O GÊNIO — O Brasil abriu mão do tal “futebol arte” que o fez tricampeão em 1958, 1962 e 1970 com Pelé, desde a traumática eliminação de Zico, Falcão e Sócrates para a Itália na Copa de 1982, há 40 anos. Campeã em 1978 e 1986, para depois sofrer três décadas e meia, a Argentina voltou a vencer em 2022 sem nunca abrir mão do seu estilo no futebol, da expressão da sua cultura no “toco y me voy”. Venceu porque, mesmo acima de Romário e Bebeto em 1994, ou de Ronaldo e Rivaldo em 2002, tem um gênio chamado Lionel Messi.

 

Página 8 da Folha da Manhã de hoje

 

Com Mbappé, o úlltimo tango de Messi na Copa do Qatar

 

Lionel Messi e Kylian Mbappé (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Na primeira Copa do Mundo de futebol em uma teocracia islâmica do Oriente Médio, a final entre Argentina e França ao meio-dia (de Brasília) deste domingo (18), no estádio Lusail, pode decidir mais que o título. Se Lionel Messi ou Kylian Mbappé reeditarem as atuações de gala com que têm brindado ao mundo no Qatar, onde dividem até aqui a artilharia com cinco gols cada, conduzindo sua seleção à conquista, os parâmetros do futebol serão reescritos. Ao apito final na mesma Península Arábica em que o Arcanjo Gabriel revelou o Corão ao profeta Muhammad, 1.400 anos depois, outros fiéis reverenciarão um ungido pelos deuses do futebol. Feito que, neste primeiro quartel do século 21, só terá algo superior na comparação com todos os craques do século 20: Pelé.

OS CAMISAS 10 — Como o Rei brasileiro do futebol, Messi e Mbappé envergam a mítica camisa 10. Na Argentina, foi a de Diego Maradona, campeão e estrela da Copa de 1986, e vice na de 1990. Na França, foi a de Zinédine Zidane, campeão e astro da Copa de 1998, e vice na de 2006. Com suas camisas, a vantagem até aqui é de Mbappé. Messi disputou e perdeu a final da Copa do Mundo de 2014, dentro do Maracanã, com atuação individual apagada na derrota de 0 a 1 para a Alemanha. Mbappé disputou e ajudou a conquistar a última Copa do Mundo, na Rússia de 2018, na final vencida por 4 a 2 sobre a Croácia. Na qual fez o último gol francês, quando tinha 19 anos. E se tornou o jogador mais jovem a marcar numa decisão de Mundial, desde os dois que Pelé meteu, com apenas 17 anos, nos 5 a 2 em cima da Suécia, dentro da Suécia, na final da Copa de 1958.

 

 

COMO FOI EM 2018? — Com a lembrança da Copa da Rússia, a final de domingo no Qatar traz uma curiosidade. Há quatro anos, a França cruzou com a Argentina nas oitavas de final. E mesmo se classificando na fase de grupos aos trancos e barrancos, com uma vitória, um empate e uma derrota, a seleção sul-americana vendeu caro sua desclassificação à europeia que sairia dali para ser campeã. O França 4 a 3 Argentina foi o melhor jogo do Mundial de 2018. Naquele confronto, a vantagem também foi de Mbappé, que sofreu um pênalti, convertido por Griezmann, e marcou outros dois gols, enquanto Messi ficou nas assistências aos de Mercado e Agüero. Mas, na comparação, fica a dúvida: se deu tanto calor à França com uma seleção que não convencia, o que a Argentina poderá fazer agora, no embalo de uma bela campanha e com um Messi até aqui decisivo?

 

 

QUEM VEM MELHOR EM 2022? — Se a França de 2022 é considerada um time mais consistente que a Argentina, inegável que esta chega ao domingo em melhor momento. Os franceses penaram para passar pela Inglaterra nas quartas de final, que só venceram por 2 a 1 devido ao pênalti desperdiçado pelo centroavante Kane. Assim como tiveram contra o bravo Marrocos do lateral-direito Hakimi, pela semifinal, um jogo muito mais duro que o placar final de 2 a 0 pode fazer supor. Por sua vez, os argentinos bateram na disputa de pênaltis (4 a 3) a Holanda do grandalhão Weghorst, em um jogo épico nas quartas, após o empate de 2 a 2 em tempo normal e prorrogação. E passearam por 3 a 0 contra a Croácia copeira do maestro Modric na semifinal, que vinha de eliminar do Brasil. Se, quatro anos depois, los hermanos devolveram a derrota pelos mesmos 3 a 0 que sofreram dos croatas na fase de grupos em 2018, ficou a mensagem subliminar à França no domingo.

 

 

OBRAS DE ARTE — Em termos de atuação individual nas quartas e semifinais, Messi impressionou mais. Muito bem marcado pelo lateral-direito Walker, Mbappé não teve nenhuma participação decisiva contra a Inglaterra. Contra Marrocos, se os dois gols franceses nasceram de jogadas suas, foram bolas rebatidas. Por sua vez, Messi não só marcou de pênalti um gol na Holanda e outro na Croácia, como apresentou obras de arte ao mundo em assistências a gol nos dois jogos. Contra os holandeses, achou espaço no meio de cinco ao lateral-direito Molina. Para, dentro da área, abrir o placar. Contra os croatas, ao tirar para dançar o zagueiro Gvardiol, de 20 anos e o melhor da Copa, antes do passe ao gol do centroavante Álvarez, Messi não fez menos com a bola do que Michelangelo com o cinzel ou Shakespeare com a pena.

 

 

O MELHOR MBAPPÉ — Até aqui, o melhor Mbappé no Qatar se apresentou na vitória de 3 a 1 pelas oitavas contra a Polônia. Além do belo passe para o centroavante Giroud abrir o placar, os dois que o camisa 10 francês marcou depois revelam um futebol de exceção, muito além da velocidade e da explosão que o tornaram temido por qualquer defesa do mundo. Diante da atônita defesa polaca, na entrada esquerda da área, ele meteu seu primeiro gol num petardo de perna direita no ângulo esquerdo do goleiro Szczęsny, um dos melhores da Copa. E marcou seu segundo, terceiro do França, quase do mesmo lugar e da mesma forma, mas no ângulo oposto. Como se a realidade do esporte bretão pudesse ser transformada em brincadeira de futebol de videogame.

 

 

COADJUVANTES DA ARGENTINA — Futebol é um esporte coletivo. E, dos dois lados, há coadjuvantes que podem se tornar protagonistas. Na Argentina, além do já citado jovem centroavante Álvarez, com 4 gols até aqui no Qatar, há a possibilidade do veterano, mas ainda diferenciado atacante Di Maria voltar ao time, se não no começo, no decorrer da partida. Sem contar o jovem volante Enzo Fernández, que acertou o time ao ganhar a vaga de titular na vitória de 2 a 0 contra o México, na qual marcou um golaço, e os meias De Paul e Mac Allister.

 

 

COADJUVANTES DA FRANÇA — Na França, além do já citado centroavante Giroud, com quatro gols como Álvarez, talvez esteja o grande coadjuvante desta Copa: o atacante Griezmann. Que tem jogado de meia e é tão importante taticamente ao seu time quanto Mbappé é tecnicamente. Além deles, vêm de atuações convincentes o atacante Dembélé, o volante Tchouaméni e o lateral-esquerdo Theo Hernández, melhor da posição no Qatar. Mas que terá trabalho na defesa, já que Messi costuma cair pela direita. Como terá o lateral-direito argentino Molina, para tentar marcar Mbappé avançando como bólido pela esquerda.

 

 

BENZEMA E DÚVIDAS DE SCALONI — Após chegar a ir ao Qatar e ser cortado por contusão, apesar de se manter inscrito pela Fifa e de já estar aparentemente curado, chegando a disputar amistoso pelo Real Madrid na quinta (15), a possibilidade do centroavante Benzema jogar a final pela França, mesmo no decorrer da partida, é remota. Do lado argentino, a dúvida mais real é do treinador Lionel Scaloni, que se caracterizou por usar seis escalações diferentes, para se adaptar aos adversários, nos seis jogos da Copa. A definição, que só se dará neste sábado (17), é se ele escalará três zagueiros, ou um volante a mais no meio de campo, para tentar parar Mbappé e companhia.

O MESSI ESPANHOL — Aos 35 anos, na sua quinta e última Copa do Mundo, Messi faz sem sombra de dúvida a sua melhor temporada com a camisa da Argentina. Após sair aos 13 anos do seu país ao Barcelona, que bancou seu tratamento para o crescimento físico, ele cresceu com o clube catalão. Onde, ao lado dos maestros espanhóis Xavi Hernández e Andrés Iniesta, formou um time histórico nas duas primeiras décadas do milênio. Que conquistou 10 Campeonatos Espanhóis, quatro Champions da Europa e três Mundiais de Clubes. Mas sempre foi cobrado por não reeditar o mesmo protagonismo pela seleção albiceleste.

 

 

O MESSI ARGENTINO — Após se transferir ao Paris Saint-Germain (PSG) em 2021, ao lado de Mbappé e Neymar, a história de Messi com a seleção do seu país começou a mudar com a conquista da Copa América em 10 de julho daquele ano. Seu primeiro título pela Argentina veio na vitória de 1 a 0 sobre o Brasil no Maracanã. De lá para cá, não é incorreto dizer que o menino introvertido e criado na Espanha, onde ganhou sete vezes o título de melhor jogador de futebol da Terra, esperou seu último tango para se “maradonizar”. Não no caráter bem distinto dos dois gênios do futebol. Mas na identificação visceral de cada novo espetáculo da torcida argentina no Qatar com quem conduz a dança de dentro do campo.

 

https://www.youtube.com/watch?v=nRPuDEutrOg

 

LIÇÃO DO TANGO — Em 24 de maio deste ano, ao renovar seu contrato com o PSG até 2025, Mbappé declarou: “Quando chegamos à Copa do Mundo, estamos preparados. Brasil e Argentina não têm esse nível, na América do Sul o futebol não está tão avançado quanto na Europa. Por isso nas últimas Copas, se você olhar, são sempre os europeus que vencem”. Filho de um camaronês e uma argelina, com uma Copa do Mundo já conquistada e mais três ainda pela frente, o jovem gênio francês parece tentar o drible do colonizador. Talvez por ignorar os versos do tango mais conhecido do mundo, “La Cumparsita”, de Carlos Gardel: “Volviendo a tu passado/ Te acordarás de mí” (“Voltando ao seu passado/ Você se lembra de mim”).

 

 

(Página 12 da edição de hoje da Folh da Manhã)

 

Antes da final, campista no Qatar no Folha no Ar desta 6ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Torcedor brasileiro de Campos presente na Copa do Mundo do Qatar, o advogado Fábio Bastos é o convidado para encerrar a semana do Folha no Ar nesta sexta (16), ao vivo a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele analisará a desclassificação do Brasil em outra quarta de final contra uma seleção europeia, escrita que agora vai para 24 anos. Na última sexta (9), foi na disputa de pênaltis (2 a 4) contra a Croácia do maestro Modric, após o empate de 1 a 1 na prorrogação, que Fábio testemunhou das arquibancadas do estádio Cidade da Educação.

O torcedor brasileiro de Campos no Qatar também tentará projetar a disputa do terceiro lugar entre a Croácia e o surpreendente Marrocos, ao meio-dia deste sábado (17). Além da final do meio-dia deste domingo (18), onde não só será definida a campeã do mundo entre a Argentina e a França, como a história do futebol será escrita na disputa particular entre dois gênios. Que envergam a mítica camisa 10 dos seus times — herdada de outras lendas, como Diego Maradona e Zinédine Zidane — e disputam a artilharia desta Copa, cada um com 5 gols marcados até aqui: Lionel Messi e Kylian Mbappé.

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta sexta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Glaucenir Oliveira reassume 3ª Vara Criminal de Campos

 

Juiz Glaucenir Silva de Oliveira (Foto: Folha da Manhã)

 

Magistrado que marcou a comarca goitacá por sua atitude firme e corajosa, Glaucenir de Oliveira reassume hoje como titular a 3ª Vara Criminal de Campos. Seu retorno às funções foi aprovado por unanimidade no Órgão Especial (cúpula) do TJ-RJ, por decisão do Ministro Corregedor Nacional do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Glaucenir foi temporariamente suspenso do exercício da magistratura em decisão do CNJ de 3 de dezembro de 2019. Ele fez declarações polêmicas em um grupo de WhatsApp contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, em decisão favorável ao ex-governador Anthony Garotinho (hoje, União). Na época, o caso ganhou projeção nacional, com o juiz recebendo amplo apoio de seus pares, promotores e da população em geral.

Ao blog, Glaucenir disse sobre sua retomada das funções na magistratura: “Creio não ter nada a acrescentar, exceto o desejo de continuar fazendo o trabalho que sempre fiz em atenção ao jurisdicionado e à sociedade campista!”

 

Gênios do futebol — Argentina é Messi e Croácia é Modric

 

Lionel Messi e Luka Modric, gênios do futebol (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Às 16h de Brasília desta terça, no estádio Lusail, o Argentina e Croácia, pela semifinal da Copa do Mundo do Qatar, haverá mais em disputa do que uma vaga à final de domingo (18). Será também um confronto entre dois fora de série do futebol. De características diferentes, ambos envergam a mítica camisa 10 das seleções dos seus países. E encantam fãs de todo o planeta por suas técnicas refinadas, capazes de achar espaços no campo invisíveis aos meros mortais. O meia atacante argentino Lionel Messi foi eleito sete vezes o melhor jogador de futebol do mundo. O meia armador croata Luka Modric levou a Bola de Ouro da Fifa em 2018, quando foi o primeiro em uma década a quebrar a hegemonia entre Messi e o atacante português Cristiano Ronaldo. Diferente deste, que foi primeiro ao banco de reservas e depois para casa, Messi e Modric, respectivamente, são a Argentina e a Croácia com mais 10.

COADJUVANTES DE ARGENTINA E CROÁCIA — O futebol é, no entanto, um esporte coletivo. A Messi, sempre será mais fácil brilhar individualmente com o apoio do futuroso volante Enzo Fernández (Benfica), dos meias De Paul (Atlético de Madrid) e Mac Allister (Brighton), do goleiro Martínez (Aston Villa), que pegou dois pênaltis na classificação contra a Holanda nas quartas de final de sexta (9), e com o possível retorno de Di Maria (Juventus) ao ataque, onde Álvarez (Manchester City) tem dado conta do recado. Por sua vez, Modric é o solista de um meio de campo onde não desafinam o volante Brozovic (Inter de Milão) e o meia Kovacic (Chelsea), tendo na frente o perigoso atacante Perisic (Tottenham) e atrás a segurança na zaga da jovem revelação Gvardiol (RB Leipzig) e do bom lateral-direito Juranovic (Celtics), destaque contra o Brasil, como foi o goleiro Livakovic (Dínamo Zagreb), que catou o pênalti de Rodrygo.

CANTO DO CISNE — Com 35 anos, Messi joga sua quinta Copa do Mundo. Com 37 anos, Modric disputa seu quarto Mundial, após a Croácia tão ter se classificado ao de 2010, na África do Sul. Coincidência ou não, ambos estrearam como jovens promessas na Copa de 2006, na Alemanha, na qual se aposentaria como jogador o grande craque de então, o meia francês Zinédine Zidane. Como é quase certo que, 16 anos de muito bom futebol depois, o deserto do Qatar tem a honra de servir de palco ao canto do cisne de Messi e Modric, independente de quem disputar o terceiro lugar no sábado, ou o título, no domingo. Que deve fazer do seu grande craque o melhor do mundo em 2022.

 

Modric e Messi (Arte: Fifa)

 

MAIS UMA FINAL — A Bola de Ouro da Fifa seria, no entanto, um prêmio menor. O craque argentino e o croata querem mesmo é a Copa do Mundo. Messi teve a sua chance, quando disputou e perdeu de 0 a 1 a final para a Alemanha do hoje ex-craque Bastian Schweinsteiger, dentro do Maracanã, a final da Copa de 2014, no Brasil. A chance desperdiçada por Modric foi mais recente. Na final do Mundial de 2018, na Rússia, a Croácia foi atropelada por 2 a 4 pela França do craque Kylian Mbappé, então com 19 anos. Quando foi o jogador mais novo a marcar gol numa final de Copa, desde que Pelé marcou dois, com apenas 17 anos, na final contra a Suécia, dentro da Suécia, em 1958.

O ESTILO DE MESSI — Hoje com 23 anos e artilheiro do Qatar, com cinco gols, Mbappé lidera a França na semifinal desta quarta (14), contra o surpreendente Marrocos. Se passar, o francês fará na final um clássico confronto de leão novo contra leão velho, seja este Messi ou Modric. Na comparação entre estilos, a explosão e a velocidade são as grandes armas de Mbappé. Aos 35 anos, a idade cassou essas características de Messi. Mas, sem as arrancadas de outrora, ele continua mortífero quando perto da área, com provam os quatro gols que já marcou no Qatar, sobretudo com a canhota de exceção que herdou de Maradona. Com a qual tem sobre qualquer outro jogador da história, mesmo Pelé, uma virtude única: a condução da bola colada ao pé, sem jamais olhar para ela, em disparada.

O ESTILO DO MODRIC — Modric é um caso à parte. Baixinho como Messi, mas bem mais franzino, nunca teve força física, explosão ou velocidade. Ainda assim, só com base na técnica e na inteligência, continua sendo um dos maiores meias da história do futebol. Após ser o maestro do Real Madrid na conquista de mais uma Champions este ano, ele foi aos 37 anos o jogador que mais correu no Brasil 1 a 1 Croácia de segunda. Onipresente entre tempo normal e prorrogação, percorreu naquele jogo nada menos que 16,6 km. Menos goleador que Messi ou Mbappé, é ambidestro e tem um chute mortal de fora da área. Como o do golaço que marcou contra a Argentina, segundo dos 3 a 0 da vitória da Croácia na fase de grupos da Copa do Mundo de 2018.

 

Em seus últimos jogos nas quartas de final do Qatar, Messi deixa marcadores holandeses para trás, como Modric a brasileiros (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

DRIBLES DE MESSI — Além dos narizes avantajados, da baixa estatura e do futebol gigantesco, Messi e Modric têm na capacidade de driblar as dificuldades da vida, desde a infância, outra característica comum. Por precisar de um tratamento para o seu crescimento físico, Messi saiu ainda criança da Argentina, aos 13 anos, para o gigante Barcelona. Onde brilhou no maior time de clube das duas primeiras décadas do novo milênio. Curiosamente, o argentino o faria ao lado do talento dos espanhóis Xavi Hernández e Andrés Iniesta, maestros de futebol semelhante ao de Modric. Com a decadência do Barça, o argentino foi para o milionário Paris Saint Germain (PSG), ao lado de Mbappé e Neymar, onde vem de uma boa temporada.

DRIBLES DE MODRIC — Já Modric teve que abandonar aos 7 anos a fazenda do avô, de quem herdou o nome Luka e que morreria executado por soldados sérvios, para se tornar uma criança refugiada com sua família da guerra sangrenta que se seguiu ao fim da antiga Iugoslávia, no início dos anos 1990. Revelado ao futebol pelo Dínamo Zagreb, o maior craque da história da Croácia brilhou em quatro temporadas no inglês Tottenham, antes de se tornar há 10 anos o grande mastro do Real Madrid, maior clube de futebol do mundo. Pelo qual artilheiros como Cristiano Ronaldo e o francês Benzema, cortado do Qatar por contusão, devem muitos dos seus gols.

DILÚVIO DE BOLA NO DESERTO — Messi e Modric são gois gênios do futebol. Não apenas o praticado hoje, mas de todos os tempos. Por ora, a aposentadoria anunciada de ambos em Copas do Mundo, quer a conquistem ou não, será a de dois verdadeiros campeões: aqueles que sabem ainda ter mais um ou dois rounds para lutar no mais alto nível. Do pé canhoto do argentino, ou dos dois do croata, a bola pode fazer chover no deserto do Qatar.

 

Brasil eliminado e semifinais do Qatar no Folha no Ar de 2ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Nesta segunda-feira (12), a partir das 7h da manhã, os jornalistas Matheus Berriel, editor de esporte da Folha da Manhã, e Aluysio Abreu Barbosa, além do radialista Cláudio Nogueira, encerram a semana do Folha no Ar, na Folha FM 98,3. Eles analisarão a desclassificação do Brasil em mais uma quarta de final de Copa do Mundo diante de uma seleção europeia, o que se repete sucessivamente, de quatro em quatro anos, desde o Mundial de 2006.

Matheus, Aluysio e Cláudio também tentarão projetar as semifinais da Copa do Mundo do Qatar, entre a Argentina de Messi e a Croácia de Modric, às 16h (de Brasília) desta terça (13); e entre a França de Mbappé e o Marrocos de Hakimi, às 16h de quarta (14). Assim como a final ao meio-dia de domingo (18).

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta segunda poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Croácia de Modric elimina o Brasil e escrita vai a 24 anos

 

Após desperdiçar o primeiro pênalti do Brasil, o jovem Rodrygo é consolado na derrota pelo vencedor Modric, seu companheiro do Real Madrid e craque da Croácia (Foto: Maja Hitij/FIFA/Getty Images)

 

O sonho do hexa acabou em 2022 nas quartas de final da Copa do Mundo do Qatar, no primeiro confronto eliminatório do Brasil contra uma seleção europeia. Foi exatamente o mesmo destino que o futebol brasileiro cumpriu diante da França de Zidane em 2006, da Holanda de Sneijder em 2010, da Alemanha de Schweinsteiger em 2014 e da Bélgica de De Bruyne em 2018. Ontem (9), na disputa de pênaltis (2 a 4) após o 0 a 0 no tempo normal e de 1 a 1 na prorrogação, foi outra vez a mesma coisa diante da Croácia de Modric. Que agora disputa a semifinal às 16h desta terça (13), contra a Argentina do gênio Messi. Esta, também classificada ontem nos pênaltis, após o empate de 2 a 2 de um jogo épico contra a Holanda.

SURPRESA? — Desde a noite da véspera do jogo, a matéria do Folha1 adiantava o que seria a principal alternativa do favorito Brasil e da Croácia para tentarem vencer o jogo de abertura das quartas de final no Qatar. “Se o ritmo do jogo for veloz, com seus dois jovens atacantes abertos pelas extremas e sua maior intensidade de jogo, o Brasil tende a confirmar seu favoritismo. Se o ritmo for mais cadenciado, imposto pelo técnico e experiente meio de campo da Croácia, a atual vice-campeã mundial aumenta suas chances de surpreender”.

SEM SUPRESA — Sem nenhuma surpresa, os croatas repetiram exatamente o que fizeram em 2018 para chegar à final daquela Copa, após levarem à prorrogação todos os jogos eliminatórios. Como voltaram a fazer nas oitavas de 2022, contra o Japão, na última segunda (5). E novamente ontem, quando impuseram seu ritmo cadenciado de toque de bola. Com ele, equilibraram taticamente a velocidade e o potencial ofensivo superior do Brasil, para superá-lo na disputa de pênaltis. Onde demonstraram maior frieza e capacidade de decisão. Diante de jogadores brasileiros que sentiram o baque, após cederem o empate a 4 minutos do fim da prorrogação.

MODRIC, QUALIDADES E LIMITAÇÕES CROATAS —  A Croácia tem um time de grande qualidade na defesa e meio de campo. Onde Modric, mesmo aos 37 anos, brilhou ontem com sua inteligência e passes precisos durante o tempo normal e a prorrogação, achando espaços aparentemente inexistentes em todos os lugares do campo. Mas os croatas também têm um ataque fraco. Ciente das suas qualidades e limitações, eles fizeram a única coisa que poderiam fazer para conquistar a vaga à semifinal da Copa do Mundo do Qatar. Que roubaram do sonho sul-americano por um inédito Brasil e Argentina.

PRIMEIRO TEMPO — Apesar das limitações do seu ataque, a primeira chance de gol foi da Croácia. Um dos destaques individuais do jogo, apoiando o ataque, mesmo tendo que marcar Vini Jr, o lateral-direito Juranovic avançou pelo campo brasileiro aos 12 minutos do primeiro tempo e abriu na ponta a Pasalic, atacante que entrou para jogar mais recuado e ganhar o meio de campo. Ele cruzou e a bola passou diante do atacante Perisic, dentro da área, que não a alcançou.

Aos 19 minutos, Vini Jr. fez a primeira jogada ofensiva com base nas tabelas rápidas que caracterizaram os melhores momentos do Brasil no Qatar. Lançado por Neymar pela esquerda, o jovem atacante driblou duas vezes o mesmo marcador para triangular com Richarlison na área, de quem recebeu de volta, mas concluiu em cima de um zagueiro croata. O primeiro tempo ficaria basicamente nisso.

SEGUNDO TEMPO — No segundo tempo, logo ao 1º minuto, Lucas Paquetá retomou uma bola que abriu na direita Raphinha. Ele avançou passou a Éder Militão, zagueiro adaptado de lateral-direito, que entrou pela área em um dos seus raros apoios ao ataque, e cruzou a bola rasteira. O bom zagueiro Gvardiol tirou antes que Richarlison arrematasse.

PAREDÃO LIVAKOVIC — Aos 9 minutos, uma bola dividida sobrou para Richarlison. Mesmo marcado, ele dominou e girou sobre dois adversários, para achar Neymar desmarcado em penetração pela esquerda da área, que bateu de perna esquerda para a boa defesa com os pés do goleiro Livakovic. Foi a primeira com algum grau de dificuldade que ele faria.

Aos 20 minutos, após entrar no lugar de Vini Jr, Rodrygo serviu da quina esquerda da área a Paquetá. Que, após um bate e rebate da zaga, pegou a sobra e bateu da entrada da pequena área para outra providencial defesa do goleiro croata, dessa vez com as mãos. Aos 34 minutos, após tabela rápida entre Rodrygo e Richarlison, este serviu a Neymar, que chutou em nova penetração na esquerda da área, para outra boa defesa com os pés em saída de Livakovic.

PRORROGAÇÃO E GOL DO BRASIL — Com o 0 a 0, veio a prorrogação, pela qual a Croácia jogava sem nenhum constrangimento, mesmo vinda de outra com o Japão. Aos 15 minutos, já nos descontos do primeiro tempo, Neymar avançou pelo centro do campo croata, tocou para Rodrygo e recebeu na frente, tocou a Paquetá e voltou a receber em progressão pela área, driblou um marcador, o goleiro e bateu para finalmente abrir o placar. E se igualar a Pelé com 77 gols marcados pela Seleção Brasileira.

GOL DA CROÁCIA — O jogo parecia resolvido. Mas esqueceram de combinar com a Croácia. A quatro minutos do fim, Modric driblou Casemiro e iniciou o contra-ataque rápido. Tocou a Vlasic, que avançou ao campo brasileiro e lançou Orsic na ponta esquerda. De onde cruzou para Petkovic — o croata, não o craque sérvio que marcou o futebol brasileiro — empatar o jogo de perna direita, quase da marca do pênalti, numa bola desviada no joelho do zagueiro Marquinhos.

 

 

ÚLTIMA CHANCE E DISPUTA DE PÊNALTIS — Segundos antes do apito final do jogo corrido, após cobrança de falta de Neymar pela direita, o goleiro Livakovic fez outra defesa salvadora, espalmando o chute de canhota de Casemiro, que aproveitou dentro da área uma bola rebatida. Veio a disputa de pênaltis, com Livakovic catando a primeira cobrança de Rodrygo e com Marquinhos carimbando a trave na quarta e última. Como Vlasic, Majer, Modric e Orsic converteram todos os seus, pouco importou que Casemiro e Pedro também o tenham feito. O caixão brasileiro foi fechado em 2 a 4.

A LIÇÃO — Comparada com a França de Zidane em 2006, com a Holanda de Sneijder em 2010, a Alemanha de Schweinsteiger em 2014 e a Bélgica de De Bruyne em 2018, a Croácia de Modric é o time, em tese, menos temível. E ainda assim cumpriu a sina de todas essas seleções da Europa: mandar mais cedo para casa o único pentacampeão mundial de futebol. Desde que conquistou este título, na vitória de 2 a 0 sobre a Alemanha em 2002, a Seleção Brasileira não vence uma europeia em jogo eliminatório de Copa do Mundo. E quem não o faz, não pode voltar a ser campeão. Até a próxima chance em 2026, essa incômoda escrita vai a 24 anos. Que, pelo menos lá, sirva de lição a quem a ignorou ontem e nos 20 anos anteriores.

 

Página 12 da edição de hoje da Folha da Manhã