Às 16h de Brasília desta terça, no estádio Lusail, o Argentina e Croácia, pela semifinal da Copa do Mundo do Qatar, haverá mais em disputa do que uma vaga à final de domingo (18). Será também um confronto entre dois fora de série do futebol. De características diferentes, ambos envergam a mítica camisa 10 das seleções dos seus países. E encantam fãs de todo o planeta por suas técnicas refinadas, capazes de achar espaços no campo invisíveis aos meros mortais. O meia atacante argentino Lionel Messi foi eleito sete vezes o melhor jogador de futebol do mundo. O meia armador croata Luka Modric levou a Bola de Ouro da Fifa em 2018, quando foi o primeiro em uma década a quebrar a hegemonia entre Messi e o atacante português Cristiano Ronaldo. Diferente deste, que foi primeiro ao banco de reservas e depois para casa, Messi e Modric, respectivamente, são a Argentina e a Croácia com mais 10.
COADJUVANTES DE ARGENTINA E CROÁCIA — O futebol é, no entanto, um esporte coletivo. A Messi, sempre será mais fácil brilhar individualmente com o apoio do futuroso volante Enzo Fernández (Benfica), dos meias De Paul (Atlético de Madrid) e Mac Allister (Brighton), do goleiro Martínez (Aston Villa), que pegou dois pênaltis na classificação contra a Holanda nas quartas de final de sexta (9), e com o possível retorno de Di Maria (Juventus) ao ataque, onde Álvarez (Manchester City) tem dado conta do recado. Por sua vez, Modric é o solista de um meio de campo onde não desafinam o volante Brozovic (Inter de Milão) e o meia Kovacic (Chelsea), tendo na frente o perigoso atacante Perisic (Tottenham) e atrás a segurança na zaga da jovem revelação Gvardiol (RB Leipzig) e do bom lateral-direito Juranovic (Celtics), destaque contra o Brasil, como foi o goleiro Livakovic (Dínamo Zagreb), que catou o pênalti de Rodrygo.
CANTO DO CISNE — Com 35 anos, Messi joga sua quinta Copa do Mundo. Com 37 anos, Modric disputa seu quarto Mundial, após a Croácia tão ter se classificado ao de 2010, na África do Sul. Coincidência ou não, ambos estrearam como jovens promessas na Copa de 2006, na Alemanha, na qual se aposentaria como jogador o grande craque de então, o meia francês Zinédine Zidane. Como é quase certo que, 16 anos de muito bom futebol depois, o deserto do Qatar tem a honra de servir de palco ao canto do cisne de Messi e Modric, independente de quem disputar o terceiro lugar no sábado, ou o título, no domingo. Que deve fazer do seu grande craque o melhor do mundo em 2022.
MAIS UMA FINAL — A Bola de Ouro da Fifa seria, no entanto, um prêmio menor. O craque argentino e o croata querem mesmo é a Copa do Mundo. Messi teve a sua chance, quando disputou e perdeu de 0 a 1 a final para a Alemanha do hoje ex-craque Bastian Schweinsteiger, dentro do Maracanã, a final da Copa de 2014, no Brasil. A chance desperdiçada por Modric foi mais recente. Na final do Mundial de 2018, na Rússia, a Croácia foi atropelada por 2 a 4 pela França do craque Kylian Mbappé, então com 19 anos. Quando foi o jogador mais novo a marcar gol numa final de Copa, desde que Pelé marcou dois, com apenas 17 anos, na final contra a Suécia, dentro da Suécia, em 1958.
O ESTILO DE MESSI — Hoje com 23 anos e artilheiro do Qatar, com cinco gols, Mbappé lidera a França na semifinal desta quarta (14), contra o surpreendente Marrocos. Se passar, o francês fará na final um clássico confronto de leão novo contra leão velho, seja este Messi ou Modric. Na comparação entre estilos, a explosão e a velocidade são as grandes armas de Mbappé. Aos 35 anos, a idade cassou essas características de Messi. Mas, sem as arrancadas de outrora, ele continua mortífero quando perto da área, com provam os quatro gols que já marcou no Qatar, sobretudo com a canhota de exceção que herdou de Maradona. Com a qual tem sobre qualquer outro jogador da história, mesmo Pelé, uma virtude única: a condução da bola colada ao pé, sem jamais olhar para ela, em disparada.
O ESTILO DO MODRIC — Modric é um caso à parte. Baixinho como Messi, mas bem mais franzino, nunca teve força física, explosão ou velocidade. Ainda assim, só com base na técnica e na inteligência, continua sendo um dos maiores meias da história do futebol. Após ser o maestro do Real Madrid na conquista de mais uma Champions este ano, ele foi aos 37 anos o jogador que mais correu no Brasil 1 a 1 Croácia de segunda. Onipresente entre tempo normal e prorrogação, percorreu naquele jogo nada menos que 16,6 km. Menos goleador que Messi ou Mbappé, é ambidestro e tem um chute mortal de fora da área. Como o do golaço que marcou contra a Argentina, segundo dos 3 a 0 da vitória da Croácia na fase de grupos da Copa do Mundo de 2018.
DRIBLES DE MESSI — Além dos narizes avantajados, da baixa estatura e do futebol gigantesco, Messi e Modric têm na capacidade de driblar as dificuldades da vida, desde a infância, outra característica comum. Por precisar de um tratamento para o seu crescimento físico, Messi saiu ainda criança da Argentina, aos 13 anos, para o gigante Barcelona. Onde brilhou no maior time de clube das duas primeiras décadas do novo milênio. Curiosamente, o argentino o faria ao lado do talento dos espanhóis Xavi Hernández e Andrés Iniesta, maestros de futebol semelhante ao de Modric. Com a decadência do Barça, o argentino foi para o milionário Paris Saint Germain (PSG), ao lado de Mbappé e Neymar, onde vem de uma boa temporada.
DRIBLES DE MODRIC — Já Modric teve que abandonar aos 7 anos a fazenda do avô, de quem herdou o nome Luka e que morreria executado por soldados sérvios, para se tornar uma criança refugiada com sua família da guerra sangrenta que se seguiu ao fim da antiga Iugoslávia, no início dos anos 1990. Revelado ao futebol pelo Dínamo Zagreb, o maior craque da história da Croácia brilhou em quatro temporadas no inglês Tottenham, antes de se tornar há 10 anos o grande mastro do Real Madrid, maior clube de futebol do mundo. Pelo qual artilheiros como Cristiano Ronaldo e o francês Benzema, cortado do Qatar por contusão, devem muitos dos seus gols.
DILÚVIO DE BOLA NO DESERTO — Messi e Modric são gois gênios do futebol. Não apenas o praticado hoje, mas de todos os tempos. Por ora, a aposentadoria anunciada de ambos em Copas do Mundo, quer a conquistem ou não, será a de dois verdadeiros campeões: aqueles que sabem ainda ter mais um ou dois rounds para lutar no mais alto nível. Do pé canhoto do argentino, ou dos dois do croata, a bola pode fazer chover no deserto do Qatar.