Pesquisas: 100 dias de Lula e Campos entre direita e esquerda

Lula, Bolsonaro e Campos entre o eleitor de direita, centro e esquerda

 

 

Campos é de direita?

Campos é uma cidade de direita? Sim, a julgar pelas urnas do segundo turno presidencial de 30 de outubro de 2022. Quando deu 63,15% dos seus votos válidos a Jair Bolsonaro (PL), contra 36,86% de Lula (PT). Mas, a julgar pela pesquisa do Núcleo Norte Fluminense do Observatório das Metrópoles, nem tanto. Feita entre fevereiro e março de 2022, em 392 domicílios do município, ela revelou que 66,7%, ou 2/3 dos campistas, não se se interessam por política. Em relação ao posicionamento político/ideológico, 21,7% não souberam responder. Dos que responderam, 39,7% se disseram de direita, 31,6% de centro e 28,7%, de esquerda.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Vê-se uma coisa e vota outra?

“A pesquisa mostra que o eleitor campista não é tão de direita assim. Pelo menos ideologicamente, quando ele se autodeclara, se vê uma proporção equilibrada, nada diferente do que acontece no resto do Brasil. Ficou um pouco mais à direita do que à esquerda, com bastante no centro. Mas, na hora de urna, nas últimas eleições, o campista tem votado muito à direita. Isso é interessante: ele não se declara ideologicamente tão à direita assim, mas vota muito à direita”, analisou William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística pelo IBGE. A consulta foi feita por pesquisadores da Uenf, UFF-Campos, IFF e Cândido Mendes.

 

O eleitor de centro

Talvez a explicação esteja na diferença entre como o eleitor goitacá se vê e se se declara ideologicamente, e como ele de fato vota. Mas pode haver também outra: competência na comunicação política. A direita ou extrema direita se mostrou mais competente do que a esquerda para ganhar, nas duas últimas eleições presidenciais, o voto do campista de centro. É consenso entre os analistas que foi o pêndulo desse eleitor de centro, em todo o Brasil, que definiu a vitória de Bolsonaro em 2018. E a de Lula, em 2022. Em Campos, o eleitor de centro balançou para o mesmo lado em 2018, mas diferente do resto do país em 2022.

 

Esquerda x direita em Campos

Outra aparente contradição? O ótimo desempenho de Bolsonaro em Campos, nos pleitos presidenciais de 2018 (se elegeu com 64,87% dos votos válidos do município, contra 35,13% de Fernando Haddad) e 2022, não se reflete na eleição a prefeito da cidade. No primeiro turno de 2020, com Bolsonaro no poder, a estreante Professora Natália (Psol) teve 4,68% dos votos. Foi quase o dobro dos 2,68% dos dois candidatos bolsonaristas somados: 2,17% de Tadeu Tô Contigo (Rep) e 0,51%, de Jonathan Paes (PMB). Somados aos votos de Natália os de Odisséia (PT), com 1,88%, a coça eleitoral da esquerda na direita em Campos foi ainda maior.

 

Popularidade e apoio de Wladimir

Eleito prefeito no segundo turno daquele pleito de 2020, ao bater Caio Vianna (hoje, PSD) por 52,4% a 47,6% dos votos válidos, Wladimir Garotinho (hoje, sem partido) pode ter sido outra causa. Para o eleitor campista de centro ter pendido a Bolsonaro em 2022. Pressionado pela irmã Clarissa Garotinho (União) e pelo governador Cláudio Castro (PL), o prefeito revelou seu voto ao capitão na reta final do segundo turno, em 21 de outubro. No dia 26, organizou para ele uma grande carreata na cidade. E a popularidade de Wladimir foi atestada na pesquisa GPP de março: sua gestão é considerada ótima (21,7%) ou boa (33,8%) por 55,5% dos campistas.

 

Pesquisa dos 100 dias de Lula

Situação menos confortável que a de Wladimir vive Lula. Na segunda (10), ele usou quase metade do seu discurso de 100 dias de governo para espelhar Bolsonaro. Na terça, viu a divulgação da nova pesquisa Ipec (antigo Ibope), feita de 1 a 5 de abril. Comparada à de março, o presidente oscilou negativamente, na margem de erro de 2 pontos para mais ou menos. De 41% aos 39% dos brasileiros que hoje consideram seu governo ótimo ou bom. E de 24% aos atuais 26% de ruim ou péssimo. Só o regular manteve os 30%. O melhor dado a Lula foram os 54% que aprovam sua maneira de governar. Mas, há menos de um mês, eram 57%.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

“Simetria perversa”

Na manhã de ontem, em entrevista ao Folha no Ar, na Folha FM 98,3, o historiador Alberto Aggio deu o alerta ao Lula 3: “Um governo que obriga a uma reescritura da História, com essa história do ‘golpe’, não tem muito futuro. A sua ‘virtude’ não está numa resposta à sociedade, está numa resposta aos seus. Nesse sentido, há uma simetria perversa do lulismo com o bolsonarismo. O Bolsonaro se confrontava com tudo aquilo que emergiu da superação da ditadura (1964/1985). Agora, o Lula se coloca não só contra Bolsonaro, mas contra tudo que surgiu no pós-Dilma Rousseff (PT)”. Parte da entrevista se encontra na página 2 desta edição.

 

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