Ícaro e uma de suas paixões, Atafona, em 21 de junho de 2020 (Foto: Ícaro Barbosa)
Enquanto escrevo, na manhã de sexta à edição deste sábado da Folha, me preparo para ir mais tarde à missa de 7º dia do meu filho, o jornalista Ícaro Paes Pasco Abreu Barbosa, morto no último sábado (13), com apenas 23 anos. Mesmo antes destes serem à luz contados, desde que estava no escuro terno da barriga da sua mãe, a jornalista Dora Paula Paes, ele é a paixão da minha vida. Meu menino, meu doce príncipe, com seus questionamentos existenciais de Hamlet. E a quem, nas palavras deste, sempre amarei “do coração do meu coração”.
Não sei que vida me resta, sem poder ver, ouvir e tocar Ícaro. Cujo cheiro busco nas suas camisas e roupas de camas usadas que recolhi com suas demais coisas, sofregamente, em seu apartamento. Talvez ninguém tenha definido melhor esse vazio absoluto do que outro órfão do filho, o poeta Fagundes Varela: “Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,/ O porvir de teu pai!”
Muito além de meu filho e de Dora, Ícaro foi homem por ele mesmo. Um homem lindo para além da visão da mãe, do pai e da família. Visão que pude, entre orgulho e dor, reforçar nos vários depoimentos dados sobre ele. Inclusive de pessoas que eu não conhecia. Mas que, em sua vida breve e intensa, meu filho marcou.
Abaixo, na gratidão mais sincera de um filho e um pai por todos, alguns deles:
“Ícaro era brilhante. Tive a oportunidade de dizer isso a ele inúmeras vezes. Mesmo partindo aos 23 anos, deixou grande legado. Ao saber da partida dele, chorei como criança. Foi só então que descobri o quanto de fato eu o adorava. Poucos jornalistas tinham acesso a mim quanto ele. Um pedido dele era uma ordem, não pelo posicionamento, mas pelo carinho e cordialidade com que sempre me tratou. Sentirei muita saudade desse grande jovem e de seu brilhantismo.”
(Madeleine Dykeman, delegada de Polícia Civil)
“Conheci o Ícaro pessoalmente em abril de 2022, quando ele foi junto comigo fazer uma matéria sobre pessoas vivendo na extrema pobreza. Pude vê-lo sensível ao sofrimento alheio, pude vê-lo com um olhar além da matéria jornalística, com um olhar de amor ao próximo. Só peço a Deus na pessoa do Espírito Santo que conforte os corações sentidos neste momento.”
(Célio Marins, pastor pentecostal)
“É com profunda dor e tristeza que o PT de Campos se solidaria com a partida de Ícaro Abreu Barbosa no último dia 13 de maio. Jovem jornalista com futuro promissor em nossa cidade. Irreparável perda.”
(Odisseia Carvalho, professora e presidenta do PT de Campos)
“Lembro do Ícaro em momentos diferentes de vida, nas três passagens que tive pela Folha. Sempre sorridente, alegre, curioso e comunicativo com todos. Aparecia vez em quando com desenhos sempre bem traçados que gostava de fazer. Recordo-me que ele me entrevistou quando da morte do meu pai, em 2019. Achei que estava numa espécie de rito de passagem da vida, pois o vira tão pequeno e, de repente, estava ele a me colher informações para redigir sua matéria. Entrei para Folha às vésperas de ser pai do meu primeiro filho. Este jornal sempre me lembrará paternidade. Sempre me trará lembranças de família. A família Folha. E sou grato por isso, a Aluysio, ao seu pai, ao Ícaro, a todos.”
(Thiago Freitas, jornalista)
“Quando Ícaro tinha, acho, que 3 ou 4 anos, mandei confeccionar para ele uma marca de gado estilizada, que entreguei quando estava com a sua mãe, Dora. Um ‘i’ entre o par de asas de ferro. Ali desejava a ele não só que pudesse vir a ser um produtor rural, mas também que suas asas fossem seguras, fortes o suficiente para não derreterem. Que ingenuidade a minha, as asas de ferro também haviam sido forjadas no fogo. Não tive a oportunidade de lhe dar o primeiro livro sobre jornalismo como fiz com o seu pai, Aluysio. Quando dei por mim já estava sendo entrevistada por ele. Ícaro tinha pressa e voou com as asas que ele construiu. Pouse, menino pássaro, pouse nos ombros do grande Pai, que está te esperando com muito amor.”
(Jane Nunes, jornalista)
“Nossa amizade foi tão breve quanto marcante. Nosso último encontro foi dentro do Trianon. Conversamos sobre o espetáculo, sobre Marcelo Pirica, e fechamos nosso papo falando da minha arte. Quando ele me surpreendeu por saber tanto do que eu faço e por ter me dito que gostava. Fiquei lisonjeado, feliz. É difícil não conter as lágrimas da tristeza por sua partida. Ficou sua mensagem aqui em nosso coração. Vou sempre ligar o céu a você, meu saudoso Ícaro.”
(Ricardo Salgado, artista plástico)
“Estou estupefata! Que menino bom! Educado! Atencioso! Diferenciado, considerando a geração a que ele pertence. Tive oportunidade de conversar algumas vezes com ele, quando me procurou para falar sobre a história de vida do meu pai, via mensagens WhatsApp. Mas foi suficiente para saber que ele era especial. Descanse em Paz, Ícaro!”
(Sônia Renata Ribeiro, bancária e assistente social)
“Ícaro foi um jovem brilhante e amado por todos que o conheceram, e assim será eternamente lembrado. Que o brilho de Ícaro invada os lugares escuros e frios em que podem estar o coração dos que o amaram.”
(Maycon Morais, jornalista)
“Estou orando pelo espírito de Ícaro, com quem tive o prazer de conversar algumas vezes. Que menino especial. Fala mansa, humilde, um olhar genuíno como dos anjos, leve, energia boa! Com certeza está em um lugar de luz, amparado pelos espíritos benfeitores.”
(Fátima Castro, presidente da Associação Irmãos da Solidariedade)
“Assim como o Ícaro da mitologia, ele simbolizou a busca pela liberdade e coragem de voar alto. Que as lembranças dos momentos compartilhados tragam algum conforto neste momento difícil. Desejo força e coragem para enfrentar a tristeza e seguir em frente. Que a memória de Ícaro permaneça viva no coração de todos.”
“Sei que Ícaro era um menino bom, trabalhador, inteligente, dedicado. Acompanhei alguns textos dele e momentos que você registrou, Aluysio. Uma viagem linda de vocês. Tenho certeza de que você cumpriu sua missão com ele e terá maravilhosos momentos de recordação. Em oração constante por todos que o amam.”
(Débora Batista, jornalista)
“Conheci Ícaro na sala de aula, quando devia ter uns 10 anos de idade. Ele sempre externava a grande admiração e o amor que nutria por você, como pai, Aluysio, e pelo avô Aluysio.”
Ricardo Antônio Machado Alves (professor)
“A última vez que eu vi Ícaro Barbosa foi no show de Dodó Cunha, no cover de Cazuza. A gente nunca sabe quando vai ser a última vez. Rezemos pela alma desse grande jornalista, tão jovem e tão experiente ao mesmo tempo.”
(Érica Viana, servidora municipal de SJB)
“Ícaro, mesmo com pouca idade, deixou seu legado de carisma e competência. Lembro muito dele novo, no Auxiliadora, quando levava meu filho. E depois o acompanhava em seu crescimento profissional como jornalista.”
(Gustavo Crespo Potência, criador de conteúdo digital)
“Estava no interior de São Paulo, no fim de semana, quando recebi a notícia da partida precoce de Ícaro. Acompanhava Adriano, meu filho mais novo, em seu primeiro voo. Ele quer seguir o caminho escolhido por Nelinho, meu filho mais velho, no curso de piloto privado. Da pista, acompanhei tenso a decolagem e preferi me retirar até que ele retornasse dessa primeira experiência. Adriano voltou extasiado com a sensação de estar sobre as nuvens e da perspectiva de ‘ver o sol mais de perto’. Desde então estou procurando palavras para me dirigir a você, Aluysio. Mas só as encontrei no seu texto ‘O voo do Ícaro de um Dédalo órfão do filho único’, a melhor tradução de amor que já li em um momento como esse.”
Luiz Costa (jornalista)
“Ícaro me fez sentir pequena. Passou por mim aos 15, ou 16, por aí. Sobrevoou rapidamente minhas aulas sem encontrar razões para se demorar. E estava certo. Ele intuía muito mais do que o que eu tinha para dizer, o que eu era capaz de dizer. Entendi isso assim que o Ícaro jornalista se mostrou. Quase escrevi para ele, há um tempo atrás. Queria elogiar seu texto, dizer que, quando tive oportunidade, perdi. Eu perdi. Olhei, e não vi. Não imagino onde você encontrará algum alento, Aluysio. Mas torço muito para que nunca duvide da sua grandeza na vida desse filho.”
(Ana Beatriz Cardoso, professora)
“No último sábado um grande amigo perdeu um filho. Um rapaz de 23 anos que brilhava. Esse amigo, sua mãe, avós, tios e tias vivenciaram o antinatural. O contrassenso. O impensável. O devastador. É uma dor que é difícil pensar nela ou tentar entendê-la; buscar explicações. Hoje eu pude dar um abraço no meu menino que chegava da escola. Havia jogado futsal, e estava contente por ter marcado gol. Me contava entusiasmado seu dia, e aquilo me causou uma dor profunda, apesar do contraste da alegria de ainda poder beijá-lo e dizer que o amo, mais que qualquer coisa. Mas por me colocar, mesmo de forma impossível, na posição daquele amigo, não pude resistir ao choro que meu filho não entendia. Ícaro, na mitologia grega, tinha asas. Voou com elas para outro lugar, mas veremos sua luz por aqui sempre, pois diferente de uma estrela, ele não deixará de existir.”
(Edmundo Siqueira, servidor federal e jornalista)
“Aluysio, o seu voo de Ícaro será sempre o do maior amor do mundo! Lendo agora o que você escreveu sobre o seu único filho não consigo te dizer nada, nem posso, nem imagino. Só sei que onde você estiver Ícaro estará sempre com você.”
(Elis Regina Nuffer, jornalista)
“Você e Ícaro, Aluysio, protagonizaram uma história muito bacana. Inspiradora para muitos. Nos inevitáveis acertos e erros da vida. Mas de modo intenso, sempre.”
(Victor Queiroz, promotor de Justiça)
“Meu amigo,
Desse lado do hemisfério,
Há dor que bate forte
Mesmo tudo aqui primavera
Ambienta uma espera de morte
Sei que aí no outro lado
Ela já veio, mais do que sobressalto
Sem esperar o tempo da batida de falta
Coração na mão que nem mesmo a apatia suporta
Mas tenho certeza
A dignidade e beleza dos seus gestos
Permanecem incólumes
Seu amor e presença sempre manifestos
Enormes
Que ele voe
Que você veja
Voo de condor de cura
Sobre fosso da tristeza”
(Manuela Cordeiro, antropóloga, poeta, professora da Universidade Federal de Roraima em residência na San Diego State University, Califórnia, EUA)
Ícaro e Aluysio Abreu Barbosa no cume do Monte Sinai, na porção asiática do Egito, ao nascer do sol de 25 de janeiro de 2023 (Foto: Ícaro Barbosa)
Ícaro voador
“Ícaro e Dédalo”, óleo sobre tela de Clarles Paul Landon, 1799
Tinha uns 7 anos quando meu pai, o jornalista Aluysio Cardoso Barbosa, me presenteou com a obra completa infantil de Monteiro Lobato. Com ela tomei conhecimento da mitologia grega de Ícaro e Dédalo. Filho e pai, respectivamente, que constroem dois pares de asas com penas de pássaro e cera de abelhas. E com elas fogem do cativeiro na ilha de Creta.
Antes de saírem voando sobre o Mar Egeu, o pai aconselhou o filho que não subisse perto demais do sol, para que este não derretesse a cera das asas. Inebriado pela proximidade com o astro rei, Ícaro ignorou a advertência paterna. A opção do jovem foi ser o homem mais próximo ao sol. Pela qual morreu na queda. Em prantos, o pai seguiu voo e vida órfão do filho.
Desde feto — Desde que o menino que fui leu a história pela primeira vez, tomou sua decisão: teria um filho, o seu menino, a quem chamaria de Ícaro. Cumprida em 15 de julho de 1999, quando nasceu Ícaro Paes Pasco Abreu Barbosa, meu filho com a jornalista Dora Paula Paes. Após 20 anos de expectativa, minha interação com ele começou quando ainda era feto. Quando passou a se mexer na barriga da mãe, a partir do quarto mês de gestação.
Chegava tarde da noite, às vezes de madrugada, do trabalho puxado de editor-geral da Folha, deitava na cama e o acordava. Mexia de maneira carinhosa, mas insistente, na barriga da mãe. Até ser respondido de dentro dela, em diálogo de tato até que caíssemos ambos no sono. Desde ali, ele se fez notívago, característica que manteria em seus 23 anos de vida, encerrados precocemente na noite do último sábado (13).
O bebê — Recém-nascido, lembro de segurá-lo na cama, a nuca apoiada na palma da mão direita, com a coluna deitada até a metade do antebraço. Passava horas em contemplação e gratidão ao Divino. E indagava em mantra o pensamento: “Como pude fazer algo tão perfeito?”
Quando começou a falar, aos 2 anos, se deu o apelido com que passaria a ser chamado em família: Carô. Ainda incapaz de reproduzir o “í”, foi assim que ele primeiro se reconheceu e identificou enquanto indivíduo. Sua primeira palavra foi “mama”. Que me deu uma inveja danada de Dora.
Ele só me identificaria foneticamente meses depois. Passou a me chamar de “papagaio”. No início, foi frustrante a quem passara a vida ansiando ser chamado de pai pelo filho chamado Ícaro. Como daria saudades depois, quando ele, por volta dos 4 anos, finalmente começou a me chamar de “papai”. E aposentou, sem motivo aparente, a distinção paterna de “papagaio”.
Menino e adolescente — Aos 10 anos, Ícaro também experimentou a paternidade. Sua mãe Dora, com quem vivia, teve mais um filho. Que o meu batizou com outro nome grego: Aquiles. Mesmo que este tenha pai no exercício do papel, como nunca viveu com a mãe, coube ao meu filho ser pai cotidiano do irmão. A quem, em nome dessa relação tão bonita, tomei por afilhado.
Aquiles e Ícaro, em 16 de julho de 2014 (Foto: Facebook)
Figura paterna para Ícaro tão ou mais importante que eu, era o seu “vovô Ísio”. O velho Aluysio e ele extrapolavam em muito a relação já naturalmente especial entre avô e neto. Meu pai era carente e meu filho, uma criança muito carinhosa. A morte de Aluysio, em 2012, foi o trauma mais impactante da vida de Ícaro.
Ícaro e Zidane (Foto: Ícaro Barbosa)
O trauma só foi superado quando, a conselho de um amigo com experiência profissional com adolescentes, dei ao meu filho um filhote de buldogue francês que batizei Zidane. Além do nome, herdou o apelido do craque francês: Zizou. O que aquele pequeno cão ensinou a Ícaro em responsabilidade, dedicação e compromisso, talvez nenhum humano tenha conseguido.
O jornalismo — Ícaro cresceu muito em seus 23 anos de vida. Quatro anos antes, enquanto cursava História, decidiu ser jornalista em julho de 2019. Inicialmente, fui contra. Até porque, tinha feito a mesma opção na juventude. Para até hoje me indagar que historiador poderia ter sido.
Criança e adolescente criado dentro de uma redação de jornal, como eu também havia sido, ele tomou sua decisão. E alcançou evolução rápida na profissão. Sua boa bagagem de leitura e cultural o ajudou. Como a distinção do pai no temperamento: onde sou assertivo, ele era doce. Paradoxalmente, tinha preferência pela reportagem de polícia. Que é a melhor escola do jornalismo, embora desagradável à maioria.
Ícaro começando no jornalismo, em cobertura da enchente em Lagoa de Cima, em 30 de novembro de 2019 (Foto: Genilson Pessanha)
Com a adaptação do jornalismo às redes sociais, das quais ele era íntimo geracional, as assumiu na Folha a partir de 2021. Conferiu-lhes dinamismo e passou a integrar a diretoria. No tamanho físico, Ícaro não era alto nem baixo. Com seu 1,78m, tinha exatamente a minha altura e dos dois tios gêmeos maternos. E, tão logo passou a ter barba, deixou a sua crescer. Como a que sempre cultivei, desde a juventude.
Após batalhar contra a tendência à obesidade desde a adolescência, Ícaro decidiu fazer uma cirurgia bariátrica no início da juventude. Foi outra decisão pessoal dele à qual fui inicialmente contra. Mas depois da qual passou a ter um figurino bem menos largo, embora ainda corpulento, também semelhante ao meu. O que me fez perder algumas camisas, moletons e casacos que só percebia terem outro dono, quando os via vestidos nele.
A literatura — Como roupas, levou-me vários livros. Quase todos os de Homero, Heródoto, Tucídides, Plutarco, Shakespeare, Cortez, Gibbon, Nietzsche, Twain, Kerouac, Fitzgerald e Hemingway. Este, talvez, sua maior influência. Tanto pela introdução da sua intensa vida de “porre, pesca, caça, guerra” quanto da prosa jornalística como matérias de literatura.
Por conta própria, leu outros autores, como William Faulkner e Hunter Thompson, pai do jornalismo gonzo, em que se abandonou a objetividade e “isenção” jornalística. Para o repórter se assumir como personagem da história. É o que ele, ousadamente, buscava implementar em seus textos e na Folha.
Para além do jornalismo, abarcou uma compreensão sobre a prosa modernista dos EUA, da primeira metade do século XX, em contraponto histórico e conceitual com o pós-II Guerra Mundial (1939/1945), impressionante em um autodidata tão jovem. Neste sentido, escreveu um texto (confira na íntegra aqui), que cheguei a mandar a literatos, como o historiador Arthur Soffiati e poeta Adriano Moura, sem dizer quem era o autor.
Só após os dois, sempre sem favores no juízo crítico, elogiarem a consistência do texto como minha, revelei que era de Ícaro. Destaco o trecho sobre literatura e convicções:
— Convicções fortes são difíceis para qualquer escritor preservar. Fitzgerald desmoronou quando o mundo parou de dançar seu jazz. A força das convicções de Faulkner tropeçou quando ele precisou enfrentar os negros do século XX ao invés dos símbolos negros de seus livros. Thompson vacilou quando a revolução digital da internet bateu na porta de seu rancho e ameaçou sua persona e modo de vida. Todos estes escritores ficaram atolados no que parece uma crise de convicções causada, como as de Hemingway, pela natureza cruel de um mundo que se recusa a ficar parado tempo o bastante para que o enxerguem com alguma clareza.
Aluysio, Dora e eu o influenciamos no jornalismo. Mas Hemingway e Thompson estavam uma oitava acima nas suas referências em letras e vida.
Em 7 de abril de 2020, dia do jornalista e ainda antes de tomar conhecimento de Hunter Thompson, Ícaro elencou suas influências no ofício: Ernest Hemingay, Aluysio Abreu, Dora Paula Paes e Aluysio Barbosa (Montagem: Ícaro Barbosa)
O articulista — Foi com base em Thompson que ele narrou a vida e a morte, aos 52 anos, em 10 de fevereiro de 2022, de uma figura icônica da contracultura de Campos. Marcelo Silva Martins, o Pirica, era meu amigo de infância. Que conheceu e se identificou com Ícaro ainda criança de colo, para dele se tornar amigo quando adulto, sem minha intermediação.
Além de noticiar a morte de Pirica, vítima de um atropelamento, escrevi um texto pessoal sobre ele, publicado no dia 12. E só depois fui ver que, desde o dia 10, Ícaro já havia feito antes o mesmo, publicando nas redes sociais e sem me avisar. Comparando os dois escritos, sem favor de pai, pude constatar o quanto meu filho havia crescido como jornalista. O testemunho dele (confira na íntegra aqui) descrevia Pirica melhor do que fui capaz. Destaco o trecho:
Pirica e Ícaro no “escritório” do primeiro, na calçada da Beira Valão, em plena pandemia da Covid-19 (Foto: Fernanda Toledo)
— Naquele dia, assim como quando recebi o soco que foi a notícia da sua morte, lembrei de um trecho do livro que estava lendo na época, “Medo e Delírio em Las Vegas”, do jornalista estadunidense Hunter S. Thompson: “Lá vai ele. Um dos protótipos pessoais de Deus. Uma espécie de mutante de alta potência que nunca foi considerado para fabricação em massa. Muito estranho para viver e muito raro para morrer”. Numa quinta nebulosa, pensei que nenhuma combinação de palavras ou notas musicais vai ilustrar tão bem o que foi o lendário Pirica. Seja lá o que tenha significado para si mesmo e para todos aqueles tantos campistas que conviveram com ele.
A música — Ícaro, como Pirica, adorava música, sobretudo blues e rock. De tanto ouvir desde criança, foi muito além a partir de algumas influências minhas: Robert Johnson, BB King, Aretha Franklin, Janes Joplin, Beatles, Cream, Eric Clapton, Buddy Guy, Raul Seixas, Rita Lee, Barão Vermelho, Cazuza, Legião Urbana, Lobão, Nirvana, The Doors. Vocalista e letrista desta banda, Jim Morrison seria outra grande influência ao meu filho.
Fomos juntos ao show do Pearl Jam no Maracanã, em 2018. Além de algumas edições do Festival de Blues e Jazz de Rio das Ostras e similares em Campos. Agora profundamente arrependido, estava cansado e não o acompanhei no Dia do Rock Goitacá na Praça do Liceu, no sábado do último dia 6.
A política — Vários amigos em comum me disseram que Ícaro curtiu bastante. Como sua mãe me falou que ele lhe confidenciou sua maior alegria. Em meio à música, comungou seu vinho com um morador de rua. “Ele contou que bebeu a alegria do homem que tomou vinho na tampa de uma quentinha, como se estivesse bebendo na melhor taça”, repassou Dora.
Apesar da preocupação social latente em um coração maior que ele, Ícaro era um libertário. Dos que pretendem a junção do anarquismo com o liberalismo econômico. Que, cansei de explicar sem sucesso, são como água e óleo. No calor das discussões políticas, eu o chamava de “reacinha de sapatênis”. Por sua vez, ele me classificava de constitucionalista de centro-esquerda, sem que isso fosse um elogio. E seguíamos, ambos, com nossas convicções.
Companheiro de viagem — Da infância à sua idade adulta, Ícaro foi também meu grande companheiro de viagem. Pelo Brasil, muitas no Rio, algumas na serra do Espírito Santo, no Nordeste e nas cidades históricas de Minas. Mas, sobretudo no exterior, ao qual quase sempre viajávamos apenas nós, precisando contar muito um com o outro.
Em 2009, quando ele tinha apenas 10 anos, passamos 33 dias entre Turquia e Grécia. Em um roteiro histórico que montei junto com meu irmão, Christiano, padrinho de Ícaro, foi sedimentada a grande paixão do meu filho por História e cultura clássica. Como é pelo consumismo e o Pateta os que levam os filhos dessa idade à Disney.
Entre vários momentos marcantes, andamos nas ruínas históricas de Esparta durante todo um dia muito quente daquele vale do Peloponeso. E cruzamos apenas com outra pessoa: uma turista italiana de meia idade. Lembro de, em certo momento, ter-lhe dito: “Fizemos o que nem Alexandre conseguiu: Esparta é nossa!” Ao que ele, criança, sorriu com orgulho.
Ainda naquela viagem, estávamos na ilha de Ítaca, lar do mítico príncipe Odisseu, em seu batismo à “Odisseia” de Homero. Quando mergulhamos de máscara e snorkel na praia de Filiatro, das mais belas do mundo. Enquanto eu tinha praticado caça submarina desde a adolescência, ele nunca havia mergulhado.
Apesar da claridade da água azul turquesa, o Mar Mediterrâneo, por semiaberto, é pobre em vida marinha, comparado ao oceano Atlântico. De cujo fundo, Ícaro crescera ouvindo histórias. Para dar-lhe algo próximo, recorri a um velho truque da caça. Subimos a cabeça à superfície para lhe explicar antes. Após, peguei um ouriço e o esmaguei com uma pedra, estripando-o. E, como combinado, ficamos imóveis na superfície, a observar.
Antes escondidos nas pedras, os peixes surgiram para se refastelar do banquete oferecido. Enquanto o faziam, sem poder emitir som dentro d’água, Ícaro passou seu pequeno braço de criança em torno dos meus ombros. Foi sua maneira de agradecer “no mar que Ulisses cortou”, em versão submarina de Castro Alves, comungada por filho e pai.
Em maio de 2013, quando Ícaro tinha 12 anos, passamos seis dias pelo Uruguai, entre Montevidéu e Colônia de Sacramento. Em fevereiro de 2015, quando ele tinha 13 anos, junto também da minha mãe, Diva, passamos 9 dias na Cidade do México. Com tempo para passar um deles na grandiosa cidade pré-colombiana de Teotihuacán. Onde meu filho e eu subimos aos cumes das pirâmides do Sol e da Lua.
Aluysio e Ícaro navegando pelo rio Tigre, na cidade homônima de Tigre, nos arredores de Buenos Aires, na Argentina de junho de 2019
Em junho de 2019, quando meu filho já tinha 19 anos, cumprimos um roteiro de 17 dias entre Argentina e Chile. Desembarcamos em Buenos Aires, fomos para Bariloche e de lá atravessamos os Lagos Andinos até Santiago, onde passamos meu aniversário. Como presente, foi a primeira viagem internacional em que ele também foi meu companheiro de copo.
Subimos um dia ao Vale Nevado, onde Ícaro pôde ver neve pela primeira e única vez. E me sacanear muito pela minha incompatibilidade natural com o piso escorregadio de gelo. Na capital chilena, diante do Palácio de La Moneda, pudemos também testemunhar os protestos que sacudiram o país naquele ano.
Despedida em três continentes — A última viagem internacional, mais longa que fizemos, durou 45 dias entre janeiro e fevereiro deste ano. Nos quais conhecemos cinco países em três continentes. Foi também, vejo hoje, a nossa despedida. E a primeira em que ele, com um inglês já muito melhor do que o meu e mais afeito aos mapeamentos virtuais pelo celular, tomou de mim a função de guia.
Ícaro, no Museu Van Gogh, diante de um dos autorretratos de Van Gogh, na Amsterdã de 3 de janeiro de 2023 (Foto: Aluysio Abreu Barbosa)
Ícaro e Aluysio Abreu Barbosa nas grandes Pirâmides de Gizé, no Egito de 7 de janeiro de 2023 (Foto: Mohammad)
Na Holanda, navegamos pelos canais e as telas de Van Gogh em Amsterdã, dedicando um dia a bater pernas na capital de Haia. No Egito, conhecemos muito mais pirâmides do que as três mais famosas de Gizé, com Ícaro se aventurando sozinho dentro delas. Fomos também ao sítio pouco visitado de Tel el-Amarna, onde foi criado historicamente o conceito do Deus único.
Conhecemos a imponente Cidadela de Saladino, no Cairo. Atravessamos juntos o Egito da cidade de Alexandria ao norte, à Assuã, ao sul. Navegamos por todos os museus e o rio Nilo. Atravessamos da África à Ásia para seguirmos as pegadas de Moisés no Êxodo e vermos juntos o sol nascer no cume do Monte Sinai.
Aluysio e Ícaro na Mesquita de Muhammad Ali, dentro da Cidadela de Saladino, no Cairo de 23 de janeiro de 2023 (Foto: Ícaro Barbosa)
Em Israel, descemos na sua capital “ocidental” de Telavive. De onde fomos de carro a Eremos Grotto, dividindo só nós dois a gruta em que Jesus orava e meditava sozinho diante do Mar da Galileia. E seguimos ao Monte das Beatitudes, onde ele proferiu o Sermão da Montanha, base do cristianismo.
Ícaro e Aluysio na Eremos Grotto, gruta diante do Mar da Galileia, onde Jesus orava e meditava sozinho, em Emek ha-Jarden, Israeal (Foto: Ícaro Barbosa)
Depois fomos à cidade “oriental” de Jerusalém, percorremos toda a Via Dolorosa do Cristo. Na Basílica do Santo Sepulcro, oramos no Gólgota onde ele foi crucificado e entramos onde teria ressuscitado. No alto do Monte das Oliveiras, descemos às tumbas dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias, do Velho Testamento. E descemos até à base do Monte, onde Jesus chorou ao pedir que o Pai afastasse dele o cálice do suplício e da morte.
Ícaro e Aluysio, iluminados apenas pelas velas levadas nas mãos, no interior da Tumba dos Profetas Ageu, Zacarias e Malaquias, do Velho Testamento, no alto do Monte das Oliveiras, em Jerusalém (Foto: Ícaro Barbosa)
Ainda em Jerusalém, percorremos o Muro das Lamentações. E vivemos, no mesmo dia, as experiências angustiante do Museu do Holocausto e historicamente exultante do Museu de Israel. Fomos depois visitar a Palestina, até Jericó, cidade mais antiga do mundo, continuamente habitada há 10 mil anos, que vimos cercada pelo exército israelense.
Ícaro e Aluysio diante das muralhas de Jericó, cidade mais antiga do mundo, habitada continuamente há 10 mil anos, no sítio arquológico de Tell es-Sultan, na Palestina (Foto: Ícaro Barbosa)
Depois de subirmos ao Monte Gerizim, na Cisjordânia, em que os samaritanos adoram Deus segundo tradição própria, voltamos a Telavive. De onde embarcamos para Paris, para encontramos minha mãe, quase local na capital da França. Vimos os três a Catedral de Notre-Dame em reconstrução, visitamos o túmulo de Napoleão, no Les Invalides, e os Museus de Orsay e de Rodin. E, apenas Ícaro e eu, passamos um dia inteiro no Museu do Louvre.
Ícaro e Aluysio na disputa de espaço para ver a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, no Museu do Louvre, na Paris de 12 de fevereiro de 2023 (Foto: Ícaro Barbosa)
Novamente com dona Diva, saímos de Paris para visitar o Palácio de Versalhes e sua suntuosidade, ao qual Ícaro e eu fomos igualmente refratários. E seguimos até à bela comuna de Amboise, no Vale do Loire. Onde, após termos conhecido várias de suas obras, ficamos felizes ao constatar o fim de vida digno que Leonardo da Vinci teve.
Ícaro, Diva e Aluysio no atleier de Leonardo da Vinci no solar Clos Lucé, na Amboise de 10 de fevereiro de 2023 (Foto: Ícaro Barbosa)
Como ocorreu em Santiago em 2019, tivemos a chance histórica de ver neste ano de 2023, em Telavive e depois em Paris, o começo dos protestos que depois tomariam os dois países a partir das suas capitais.
Definição — Nessa grande última viagem, a melhor definição do homem que Ícaro se tornou veio do egípcio Mohammad, conhecedor profundo da cultura milenar do seu país, como dos hóspedes de todo mundo que hospedava e cujas culturas se empenhava em conhecer.
Dono de uma pousada em Saqqara, nos arredores do Cairo, após dividir algumas noites frias em seu pátio, entre a fogueira de lenha e goles de café, Mohammad formou juízo. Que dividiu apenas comigo, em inglês, apertando minha mão e olhando dentro dos meus olhos, quando nos despedimos: “You are a father blessed by God. Your son is a golden boy and a special man” (“Você é um pai abençoado por Deus. Seu filho é um menino de ouro e um homem especial”).
Amor após a morte — Troquei as primeiras fraldas de Ícaro. Como vesti seu corpo adulto e já sem vida pela última vez. Em seus 23 anos, ele foi e é muito melhor do que jamais serei. Honesto a ponto de nunca pedir dinheiro aos próprios pais, ético, inteligente, culto, alegre, atencioso, educado, generoso, amigo e humilde, sem abrir mão das suas convicções.
Como todo homem que chega muito perto do sol, para refletir mais que outros a luz, meu filho único brilhou e se foi cedo demais. Levou consigo o melhor de mim. Não compreendo a sua partida. Mas descobri que podemos amar completamente, sem entender completamente.
Fisga da entranha descobrir o que resta desse saber não poder vê-lo de novo, com seu riso fácil e sacana. Dormir, sonhar com ele vivo e acordar para lembrá-lo morto é ter pavor do acordar. Antes dele, buscava no céu noturno estrelas cadentes e variava pedidos. Depois que meu filho nasceu, só pedi uma coisa.
Meu voo mais alto, meu maior orgulho, é ser pai de Ícaro. O amei do momento em que abriu os olhos ao que eles se fecharam. Amo agora. Amarei sempre. Como a nada mais.
Entre o smathphone e o laptop, na mesa que herdou do avô Aluysio Cardoso Barbosa, Ícaro na redação da Folha da Manhã (Foto: Rodrigo Silveira)
Pesquisa Quaest de maio dimensionou política econômica de Lula e Haddad, além de Tarcísio e Bolsonaro, ao olhos do mercado representado no Bolsa de Valores de São Paulo (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
O mercado e Lula (I)
O mercado. Em Campos, a referência imediata é ao Mercado Municipal. Cuja revitalização do seu prédio histórico é tão cobrada quanto sonegada. Na verdade, mercado significa qualquer troca voluntária de bens e serviços, em espaço físico ou virtual. Segundo grande empregador de Campos, o comércio vive do primeiro, a Prefeitura. Esses lojistas, como os demais empresários da cidade, também compõem o mercado. Nele, é quase certo que a maioria dos 63,14% de votos válidos que Jair Bolsonaro (PL) teve dos campistas, no 2º turno presidencial de 2022 vencido por Lula (PT), tenha sido ainda maior. Provavelmente, bem maior.
O mercado e Lula (II)
Em contrapartida, entre os servidores públicos, como os da Prefeitura, também é quase certo que Lula tenha conseguido no 2º turno de 2022 bem mais do que os 36,86% dos votos válidos dos campistas. E, provavelmente, ainda mais entre os servidores de outros dois importantes empregadores do município e da região: o IFF e a Petrobras. Servidores públicos, de qualquer esfera, sempre estiveram entre os principais nichos eleitorais do PT. Como, entre os principais nichos antipetistas, sempre estiveram os empregadores da iniciativa privada. Que vão muito além do mercado financeiro, sinônimo quase exclusivo de “mercado” a Lula e ao PT.
O mercado e Lula (III)
A definição de mercado restrita ao financeiro, não é exclusiva do presidente e o PT. Prova disso foi a pesquisa do instituto Quaest Pesquisa e Consultoria, feita do dia 4 a 8 de maio, com 92 entrevistas em fundos de investimento de São Paulo e Rio, sobre as perspectivas econômicas do governo Lula. Divulgada na quarta (10), revelou cenário bem mais pessimista do que todas as pesquisas feitas em 2023 com o eleitor médio. E, em busca de equilíbrio, foi analisada para a coluna por dois campistas: o geógrafo William Passos, com especialização doutoral em estatística pelo IBGE; e o especialista em finanças Igor Franco, professor do Uniflu.
O mercado e Lula (IV)
Comparada com a pesquisa Quaest de março junto ao mesmo setor, o mercado financeiro demonstrou em maio tendência de queda na avaliação negativa do governo Lula. Ainda assim, se mantém extremamente alta: de 90% aos atuais 86% de negativo. O regular oscilou para cima, de 10% a 12%, com apenas 2% de avaliação positiva. Em contrapartida, melhorou muito a avaliação do mercado financeiro ao trabalho do ministro da Fazenda Fernando Haddad. A positiva cresceu dos 10% de março aos 26% de maio. Ainda majoritária, a negativa oscilou de 38% aos atuais 37%. É mesmo número do regular, mas que era de 52% há apenas dois meses.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
O mercado e Lula (V)
Principal motivo de ataque de Lula ao Banco Central independente, diferente do que era em seus dois primeiros governos (2003/2010), a manutenção da taxa de juros Selic em 13,75% é considerada certa para 91% do mercado financeiro. Ainda esmagadora no setor, essa aprovação mostra tendência de queda: era de 95% em março. Para 88%, os juros cairão ainda este ano. O que, para a maior fatia de 34%, deve ocorrer em agosto. Os números são parecidos na avaliação da direção econômica do país: ainda errada para 90% (eram 98% em março) e certa para 10% (eram apenas 2% há dois meses) do mercado financeiro.
(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Igor Franco, especialista em finanças e professor do Uniflu
O mercado e Lula (VI)
“Não é segredo que os agentes do mercado são, majoritariamente, antipáticos ao atual governo. A nostalgia pela postura liberal, pelo menos retórica, do ex-ministro Paulo Guedes, é combinada pela lembrança trágica da recessão do governo Dilma (2011/2016). Durante e imediatamente após o pleito eleitoral, o mercado financeiro entendeu que Lula poderia reeditar o pragmatismo, principalmente, do seu primeiro mandato. Com o início do governo e a reedição de iniciativas que fracassaram há poucos anos, hoje é realista quem qualificam o Lula 3 como uma reedição do pesadelo econômico de Dilma”, avaliou o liberal Igor Franco.
William Passos, géografo com especialização doutoral em estatística no IBGE
O mercado e Lula (VII)
“A pesquisa foi feita com representantes de fundos de investimento de São Paulo e Rio. Cuja opinião, no entendimento da Quaest, representa a visão do mercado financeiro. Em comparação a março, houve leve melhora da avaliação econômica do Lula 3. E uma importante melhora da avaliação da atuação do ministro da Fazenda Fernando Haddad, de mais 16 pontos percentuais. A maioria dos ouvidos projeta queda da taxa Selic em agosto, já no início do segundo semestre. A média da nova taxa possível apontada pelos representantes do mercado ficou em 12,47%”, destacou o nacional-desenvolvimentista William Passos.
O mercado e Bolsonaro
Da economia à política, a pesquisa Quaest também registrou que o mercado financeiro começa a admitir seu erro eleitoral em 2022. Quando naufragou junto com o então presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem apoiou majoritariamente. E viu se tornar o primeiro presidente da História do Brasil a tentar e não conseguir se reeleger. Diante dos graves problemas jurídicos do capitão e seu entorno, 48% do mercado já vê o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Rep), ex-ministro de Bolsonaro, como o principal líder da oposição nos próximos quatro anos. Papel que 34% hoje projetam no ex-presidente. O dono da banca também perde apostas.
Vice-prefeito, industrial do açúcar e do álcool e engenheiro agrônomo, Frederico Paes (MDB) é o convidado para fechar a semana do Folha no Ar nesta sexta (12), ao vivo, das 7h às 9h da manhã. Ele falará sobre a retomada agropecuária do município, o início da moagem de cana com a reativação da usina Paraíso, o projeto de reabertura do antigo Ceasa, o interesse de empresários chineses por Campos e o Porto do Açu.
Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta sexta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.
Natália e Renata também falarão das dificuldades e oportunidades à mulher no rock, na música e na cultura. E analisarão os reincidentes casos de agressão contra mulheres e feminicídios (confira aqui) em Campos, município cuja Câmara Municipal tem suas 25 cadeiras preenchidas apenas por homens.
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Antes da internet, se conhecia o jornalismo responsável, em noticiário e opinião, por sua capacidade de distinguir entre o interesse público e o interesse do público. Assim, um problema de ordem pessoal era geralmente ignorado. Podia ser do interesse do público, mas não era de interesse público. Com as redes sociais, essa distinção acabou. Prova disso, ontem, um fato de ordem pessoal, envolvendo um pretenso homem público de Campos, viralizou imediatamente nas redes sociais goitacá. E chegou até à cidade do Rio de Janeiro, onde o atual padrinho carioca do político campista ficou sabendo. E não gostou.
Viralizou na rede (II)
Todas homens e mulheres têm seus problemas pessoais. Como direito à privacidade sobre eles. Desde que, mesmo na desavença, o limite do respeito seja preservado. E que não se deixe esses problemas se desenrolarem fisicamente também na rua. Tanto pior quando isso acontece com pessoas públicas. Cuja vida pessoal sempre foi e será do interesse do público. Mas pode ser também do interesse público. Quando se pede voto, no discurso bem ensaiado, para governar ou legislar pela sociedade. E a prática, filmada e viralizada nas redes sociais, sugere falta de empatia até com o lar de quem deveria ser o mais próximo a qualquer pai.
Viralizou na rede (III)
A Folha da Manhã seguirá seus 45 anos na peneira entre o interesse público e o interesse do público. Mas o estrago, independente das distinções do jornalismo profissional, já foi feito no imediatismo sem qualquer filtro das redes sociais. E, certo como o político que só aparece para pedir voto em eleição, nesta surgirão as imagens produzidas na segunda. Numa cidade que tem 25 vereadores e nenhuma mulher, é preciso muito mais do que pedir votos para Lula no segundo turno presidencial de 2022, para se dizer progressista, ter empatia com os pobres, as mulheres e as crianças. É preciso antes dar exemplo, pelo menos, junto aos seus.
Rita Lee (I)
Se a segunda-feira serviu à revolta das mulheres de Campos com as imagens viralizadas nas redes, a terça enlutou todos os gêneros do Brasil pela perda de uma grande mulher. Divulgada só ontem, consumada na noite anterior, a morte da cantora e compositora Rita Lee, aos 75 anos, gerou tanto tristeza por sua perda quanto gratidão por sua vida e obra. Que desde a estreia com a banda Os Mutantes, em 1966, passando depois pela Tutti Frutti, antes de abrir carreira solo em 1978, embalou seis gerações com seus sucessos. Desse “tal de rock and roll” às baladas românticas, impossível ser brasileiro e não saber de cor versos das suas músicas.
Rita Lee (II)
Ao contrário de homens públicos que pregam uma mudança e fazem outra, Rita Lee mudou o mundo com sua música e atitude. Transgressora sem levantar bandeiras, seu feminismo era o de se permitir viver e cantar o amor e a sexualidade com uma naturalidade que, antes dela, só era permitida aos homens. Nunca se engajou politicamente como um Chico Buarque ou um Caetano Veloso, que a traduziu como a sua São Paulo. Ainda assim, foi a compositora com mais músicas censuradas pela nossa última ditadura militar (1964/1985). Por essa mulher e seu legado, esta coluna abre uma exceção em 45 anos, para ser encerrada em versos:
Arquiteto e ex-presidente do IMTT, Renato Siqueira é o convidado desta quarta (10) do Folha no Ar, ao vivo, a partir das 7h às 9h, na Folha FM 98,3. Ele falará sobre as obras realizadas em Campos, em parceria do Governo do Estado com a Prefeitura. Sobretudo da intervenção na av. 28 de Março, principal artéria viária da cidade, com seus equívocos e acertos.
Renato falará também da questão da mobilidade urbana e do transporte público no município. Como ex-integrante do governo Rafael Diniz (Cidadania), analisará este e o atual, de Wladimir Garotinho (sem partido). E da perspectiva do eleitor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), majoritário na cidade, dirá como enxerga os quatro meses do governo Lula (PT).
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Ex-vereador, autor da Lei da Ficha Limpa e bacharel em Direito, Jorginho Virgílio (DC) é o convidado desta terça (09) do Folha no Ar, ao vivo, das 7h às 9h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele falará sobre a redução do afastamento da Lei da Ficha Limpa municipal de oito para quatro anos pela atual Legislatura, à qual também analisará.
Jorginho falará também sobre o caso Ceperj, da pacificação entre os Garotinho e os Bacellar e Rodrigo (PL) na presidência da Alerj. Por fim, ele tentará projetar as eleições a prefeito e vereador de Campos em outubro de 2024, analisará o governo Cláudio Castro no RJ e o Brasil do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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