Ciência política de Campos leciona decoro aos políticos

 

Hamilton Garcia, Wladimir Garotinho, Rodrigo Bacellar, Anthony Garotinho, Jefferson Manhães, Almy Junior e Campos dos Goytacazes (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Política de Campos por sua ciência política

“Nós, fazedores de opinião pública, mídia, intelectuais, professores, temos que buscar elevar o nível do debate, manter a serenidade dos políticos com poder, para melhorar a governança. Mas somos apenas um elo da cadeia de legitimação das práticas políticas. Não obstante o alcance do Grupo Folha, a importância da Uenf e da UFF na região”. Foi o que pregou na manhã de ontem (15), no Folha no Ar, o cientista político Hamilton Garcia, professor da Uenf. Que reforçou a cobrança de limites éticos na política goitacá feita no Folha no Ar da terça passada (confira aqui), por outro cientista político, George Gomes Coutinho, professor da UFF-Campos.

 

Sarrafo lá embaixo

“A partir da eleição (presidencial) de 1989, refletindo na despolitização da ditadura militar (1964/1985), aquela acusação do (Fernando) Collor de que Lula teria incentivado o aborto da própria filha, naquele debate da Rede Globo, o decoro político foi seguindo um plano inclinado que deu até o (Jair) Bolsonaro. Um elemento muito importante para a delimitação do decoro político é o comportamento do eleitorado. E vamos lembrar que Collor ganhou a eleição de 1989, como Bolsonaro a de 2018. O sarrafo, do ponto de vista do eleitor, está muito lá embaixo”, avaliou o professor da Uenf.

 

“Minha boquinha, minha vida”

“Outro elemento para entender esse quadro de exacerbação política é a confusão entre o público e o privado, numa competição sem teias pelo poder. Eu vejo aqui, em São João da Barra, quando tem eleição, às vezes as pessoas saem no tapa. Mas não porque estão discutindo os rumos da cidade. Saem no tapa pelas boquinhas, pela vaga no programa ‘minha boquinha, minha vida’. Onde os políticos e os seus acólitos querem chegar ao poder só para dele usufruir, não para servir à comunidade. Isso também enseja violência e rebaixa o decoro político”, exemplificou Hamilton, que trabalha em Campos e reside em Atafona.

 

Wladimir como estadista

“Há um conjunto de coisas que conspira contra a intenção do George, a minha e, com certeza, a do Grupo Folha. Por isso, Wladimir está agindo de maneira correta, quando tenta se colocar distante (confira aqui) desse recrudescimento da briga oligárquica. E se afirma como liderança que quer pacificar o convívio político em prol da cidade. Ele faz bem. Faz pouco tempo que Campos saiu da crise do declínio do preço do petróleo, em 2014, depois emendou na pandemia. Wladimir tem consciência do papel dele neste momento. Explica, inclusive, a expectativa sobre a reeleição dele. Porta-se como um estadista”, analisou o cientista político.

 

Flechadas trocadas

“Para usar aquela metáfora do (ex-procurador-geral da República Rodrigo) Janot, ‘se tem bambu, tem flecha’ (contra o governo Michel Temer), a gente tem que se perguntar por que tem tanto bambu, para a turma sair se flechando. É recíproco e o eleitor tem que tomar consciência disso. Porque o mesmo (ex-governador Anthony) Garotinho que está flechando o (presidente da Alerj, Rodrigo) Bacellar, por uma série de acusações que têm que ser provadas, também respondeu à Justiça. Como a gente viu vereadores governistas (confira aqui) desmancharem há poucos dias uma manifestação pública no Boulevard”, advertiu o professor da Uenf.

 

 

Onde o debate deve estar (I)

Fora do denuncismo e da simples ofensa, com que os patriarcas dos clãs Garotinho e Bacellar têm feito tremer a pacificação dos seus filhos com mandatos, o debate sobre Campos tem se dado no plano das ideias, dados técnicos e propostas por atores mais responsáveis. Reitor do IFF e provável candidato do PT a prefeito de Campos em 2024, no Folha no Ar de 28 de julho, o professor Jefferson Manhães fez a provocação: “Em dados recentes do Nuperj, núcleo de pesquisa da Uenf, Campos tem o dobro da área agricultável de São Francisco. Mas tem a produção econômica da agricultura igual à de São Francisco”.

 

 

Onde o debate deve estar (II)

Duas semanas depois, Wladimir respondeu no Folha no Ar da última sexta (11): “Jefferson disse que Campos tem o dobro da terra agricultável de São Francisco, e que São Francisco tem mais volume de negócios. Isso é uma inverdade! Só da cana-de-açúcar vai movimentar este ano R$ 700 milhões em Campos”. Na segunda (14) o petista contra-argumentou: “Os dados por mim apresentados dos setores agrícolas de Campos e de São Francisco têm como fontes o Nuperj da Uenf e o IBGE. Chama atenção é a confusão de informações econômicas do prefeito, misturando dados do setor agrícola com os do setor industrial”.

 

 

Onde o debate deve estar (III)

Ex-reitor da Uenf, secretário de Agricultura de Campos e quadro técnico muito respeitado da academia à política, o professor Almy Junior deu ontem a tréplica do governo Wladimir: “Não podemos buscar comparações com nossa região, cuja agropecuária não está entre as melhores do país. Precisamos pensar grande e buscar exemplos de municípios que fizeram da agropecuária uma alavanca para a geração de riquezas. A renda obtida pela agropecuária em Campos é maior do que a de São Francisco. Precisamos é atuar, e estamos atuando, em consonância, para sanar os gargalos que dificultam os avanços que sonhamos”.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

fb-share-icon0
Tweet 20
Pin Share20

Deixe um comentário